por Marcos Paulino
O sonho de Fabio Brazza era ser jogador de futebol. Depois de passar pelas categorias de base do Palmeiras, conseguiu uma bolsa de estudos para jogar bola nos Estados Unidos. Mas carregava consigo o gosto pela poesia, herdado do avô, Ronaldo Azeredo, que também lhe apresentou o samba de Noel Rosa e Cartola. Porém, Fabio também curtia rap e, após vencer uma “batalha” na estação Santa Cruz do metrô paulistano, resolveu levar as rimas mais a sério.
Assim, foi meio que inevitável que samba e rap se misturassem nas composições de Fabio, como se pode notar em “Filho da Pátria”, disco virtual que ele lançou, não por acaso, em 22 de abril, dia do descobrimento do Brasil. Disponível no iTunes e também para download gratuito no site do cantor (www.fabiobrazza.com), o álbum tem a participação do rapper Chali 2na em uma das músicas. Abaixo, Fabio fala sobre o disco e da experiência de ensinar inglês para crianças no Camboja, entre outras coisas,
Seu disco está sendo lançado de forma digital. Não está previsto o CD físico?
Lancei de forma digital porque estou nos Estados Unidos e o meu público está no Brasil. Por isso, senti a urgência de lançar dessa forma por hora. Mas assim que eu voltar para o Brasil, em junho, vou lançar o CD físico também.
Suas letras retratam muitas das mazelas brasileiras, com críticas bastante atuais aos nossos problemas políticos e socioeconômicos. Morar fora do Brasil facilita essa visão?
Acho que facilita muito, e posso dizer que virei mais patriota assim que comecei a morar fora. Aprendi a enxergar as falhas do Brasil com mais clareza, mas principalmente a valorizar as coisas boas que poucos de nós, brasileiros, conseguimos. Temos a mania de reclamar e só enxergar o lado ruim do nosso Brasil, mas, a exemplo dos americanos, creio que o país só irá pra frente quando aprendermos a valorizar o lado bom também.
Você foi criado ouvindo clássicos do samba. Como se deu sua identificação com o rap?
Foi meu avô, Ronaldo Azeredo, que é poeta concreto, que me apresentou aos clássicos de samba, que cresci escutando. Aos 11 anos, ganhei do meu irmão mais velho um CD dos Racionais MCs. O que me pegou no rap foi esse tom destemido e de manifesto. Eu sempre prestava atenção nas letras, e no rap a letra é uma forma de discurso. Desde então, comecei a fazer rap, até fui campeão, aos 14 anos, num campeonato de música da minha escola com uma letra de rap. Mas mesmo assim o samba sempre foi e era, até então, meu amor primeiro.
Você estudou em faculdade particular em São Paulo e também nos EUA, o que te distancia do perfil clássico dos músicos do rap. Já sentiu alguma rejeição ao seu trabalho por conta disso?
Assim que comecei a participar de batalhas de improviso de rap, eu sofria um pouco com isso. O argumento usado para me zoar era o de que eu era playboy e não devia fazer rap. Cresci ouvindo o rap que veio da rua e amo isso, mas, como não vim da rua, escrevo sobre o que vivi ou aprendi. O rap da rua é muito legal e preserva as raízes, mas se o rap quiser evoluir e atingir mais pessoas, não pode se limitar a um assunto só, precisa abordar assuntos mais abrangentes. Acho que meu rap traz uma variedade de assuntos interessantes, que têm o tom do protesto da rua, mas também misturam um pouco com o deboche do samba em algumas músicas.
Como se deu a participação do rapper Chali 2na no disco?
Eu tinha escrito uma música com um tema mais global e o refrão em inglês, então achei que combinava colocar uma participação de um americano. O meu irmão, que está estudando music businnes em Los Angeles, conseguiu o contato do Chali 2na e mandou a música. Prontamente ele respondeu: “Espero que gostem”. Quando escutei, quase chorei de emoção. O Chali 2na é um ídolo de moleque e muito respeitado na cena do rap mundial. Considero esse o maior feito do meu CD.
Por que você resolveu homenagear Anderson Silva? Como recebeu a reação dele, que postou a música nas suas redes sociais?
Eu já tinha escrito essa música há dois anos, mas não tinha interesse de gravar, porque achava que tinha outras canções com assuntos mais relevantes, e também não queria soar oportunista. Porém, quando o Anderson perdeu sua luta, escutei todo mundo falando mal dele e vi ele postar no Twitter: “Fácil falar, o difícil é ser eu”. Aí pensei: “Poxa, esse é o refrão da minha música pra ele”. Pensei que esse era o momento de apoiar o meu ídolo, porque era o momento em que todos estavam contra e eu queria mostrar que estava com ele. Quando o Anderson postou no seu Twiter minha música dizendo que estava emocionado, fiquei muito feliz e pra mim ali todo trabalho valeu a pena.
O que você trouxe de influências do período em que realizou trabalhos voluntários na Ásia?
Na Ásia, tive um choque de cultura muito grande e presenciei muita pobreza, porém também muita gente humilde e feliz. Comecei a me questionar o quão pouco a gente precisa pra ser feliz. Ao fazer trabalho voluntário para ensinar inglês para as crianças no Camboja, foram eles que me ensinaram outra língua, a linguagem do amor, que é universal e mais rica que qualquer outra moeda. Levei minha câmera e gravei muitas imagens legais, que vão ser usadas no meu videoclipe para a música “Time to love”, com o rapper Chali 2na. A parte dele foi gravada na favela do Capão Redondo, em São Paulo.
Vai haver uma turnê de lançamento do disco?
Tenho muitos convites para shows já, mas não tenho datas. Assim que voltar para o Brasil, vou mergulhar na divulgação do meu álbum através de shows e da produção do CD físico. Também tenho a ambição de começar a gravar outras músicas que compus. Quem sabe já podem ficar pro próximo álbum.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira.
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– Documentário sobre a relação do rap com a mídia (assista aqui)
Esse cara é bom. Muto top são seus raps, que falam sobre a vida da população hoje em dia.