por Pedro Salgado, de Lisboa
No seu sexto álbum, The Legendary Tigerman segue os passos do disco de platina “Femina” (um trabalho com várias intérpretes femininas), ocupando a liderança do top português de vendas discográficas durante três semanas consecutivas. No entanto, para além da forma, “True” (2014) encerra ainda uma expressividade cinematográfica que o difere dos cinco registos anteriores. O músico Paulo Furtado concorda com a apreciação: “Muitas vezes há imagens que me surgem na cabeça que dão origem a canções e é natural que o contrário também aconteça, que a música evoque imagens e cinema”.
“True” é também um álbum onde o músico surge acompanhado na bateria por Paulo Segadães em alguns temas, possibilitando uma maior libertação artística do formato one man band e abrindo novas direções ao seu projeto. Outro aspeto importante do trabalho (do qual resultou um documentário da autoria de Segadães) é o inegável tom catártico que se evidencia em faixas como “Dance Craze”, contrariando os tempos de crise econômica. “Acho que todo o rock n’roll e toda a dança devem ser momentos de libertação de tudo. Tem que ser uma coisa animal, carnal, senão não faz sentido”, diz Furtado.
A turnê promocional do disco (que passará por Espanha, França e Suiça e Portugal), contemplará o Brasil com shows em Goiânia (no Bananada, 18/05), Brasilia (no Primavera Sound Gig Brasil, 22/05) e Paraty (no Bourbon Festival, 24/05). O novo momento feliz para The Legendary Tigerman é encarado com a serenidade e habituação comum aos altos e baixos da vida artística: “É só mais uma parte da viagem”, conclui. De Lisboa para o Brasil, Paulo Furtado conversou com o Scream & Yell sobre o seu novo trabalho. Confira:
Você sente que conseguiu exprimir uma maior autenticidade musical em “True”?
Espero que sim. No fundo, cada disco é para mim uma espécie de fotografia do momento em que me encontro…Um instante de cristalização da música, que depois será novamente alterado nos concertos ao vivo. O que tento em cada álbum é ser fiel a mim mesmo. E no “True” o desafio talvez tenha sido maior, porque desde o “Femina” (o meu trabalho anterior), que já tinha sido um disco em que tinha escrito para várias pessoas, tenho colaborado e composto com muitos músicos, feito inúmeras trilhas sonoras… Por isso, precisei me isolar para perceber o que era a minha voz interior, neste momento.
Em parte, o novo trabalho marca um regresso ao rock and roll das suas origens. Foi uma necessidade natural ou a música falou por si?
Ambas, creio… Julgo que voltei ao rock mais cru naturalmente, por necessidade, mas ao mesmo tempo não me parece que tenha sido um caminho para trás, acredito que acrescentei algo ao que tinha feito antes, há uma espécie de harmonia dentro do caos.
O disco apresenta também um lado sombrio, como nos blues de “Wild Beast”. Qual foi o seu motivo de inspiração para a canção?
Essa música é quase uma curta metragem, a mutação da mente e corpo de um homem, um pouco como Jeckyl & Hide, neste caso causado pelo amor, por ter o coração partido. Torna-se num animal, vai à procura de presas nos subúrbios, avisa que as pessoas se devem manter afastadas de um bicho ferido. Como todos os filmes, é também uma metáfora, um homem com o coração partido é um animal perigoso no que diz respeito ao amor.
Em algumas canções, você utilizou arranjos de cordas e sopros. Recorreu a esta solução para aliviar o peso associado à sua figura de one man band?
Não. Na realidade, as canções pediram-me isso. Pela primeira vez senti que devia incorporar algo totalmente novo na minha música, algo que lhe desse outro tipo de harmonias que contrastassem com a acidez da guitarra. Daí ter pedido ao Filipe Melo e à Rita Redshoes, que considero dois gênios da música portuguesa atual, para fazerem os arranjos de cordas, e ao João Cabrita para fazer os arranjos de sopros. Mais uma vez fico devedor do talento dos outros.
Você tocou no Festival Canto da Primavera 2013, em Goiás. Que recordações guarda do evento e da reação do público brasileiro à sua música?
Foi incrível tocar para tanta gente no Brasil, e ver a reação das pessoas. Muita gente me veio dar os parabéns no final do show, fiquei muito feliz com essa noite. Para ser sincero, não tinha a certeza se a apresentação iria correr assim tão bem, era um palco tão grande e para tanta gente.
Que projeto ou objetivo artístico lhe falta concretizar?
Não sei bem. Quero muito continuar a fazer trilhas sonoras, de teatro e cinema, são coisas que me interessam bastante. E, claro, realizar o meu primeioa longa metragem, que estou escrevendo agora.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui
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