por Adriano Costa
“A música jazz é uma inquietação acelerada”, assim definiu a falecida escritora francesa Françoise Sagan, de “Bom Dia Tristeza” (Bonjour Tristesse, 1954). Essa inquietude é presente não somente na formatação dos improvisos feitos em cima de cada frase de um instrumento ou na construção de arranjos sofisticados e únicos, como também pode ser transferida para a vida da maioria dos músicos que criaram e consolidaram o gênero em suas vertentes mais ricas e poderosas.
O romancista, jornalista e ensaísta inglês Geoff Dyer é um dos muitos amantes do estilo e em 1991 lançou um livro sobre o tema chamado “But Beatiful: A Book About Jazz”, obra que ganhou reimpressão em terras nacionais em 2013 como “Todo Aquele Jazz”, via Companhia das Letras, com 240 páginas e tradução de Donald M. Garschagen. O autor, que tem livros sobre diversas outras áreas como fotografia e viagens, exibe aqui amplo conhecimento e uma paixão expressiva sobre o tema.
“Todo Aquele Jazz” é um livro de ficção que toma como embasamento de criação de sua trama alguns fatos reais da vida dos músicos retratados, utilizando como matéria-prima inicial fotografias antigas que o autor teve acesso ou já conhecia, e a partir disso imaginando aspectos mais extensos. Ícones do jazz são retratados em cada capítulo – Thelonious Monk, Charles Mingus, Chet Baker, Lester Young, Bud Powell, Art Pepper e Ben Webster, além do extraordinário Duke Ellington – permeando o livro em passagens curtas.
As histórias que Geoff Dyer fabrica são permeadas por dores, decepções, passividade e uma melancolia diretamente vinculada aos tempos áureos em que o brilhantismo e a energia ainda eram a moeda corrente dessas vidas. Não obstante, esse reflexo espelhado que ele exibe na trama vem justamente depois da absorção das inovações do ritmo, assim como tudo aquilo que circundou o jazz em sua fase áurea – o álcool, as drogas e as mulheres.
A viagem de Dyer invade os anos 20 e alcança, de modo sucinto, o período em que alguns dos baluartes do estilo mantiveram sua existência se apegando ou ao momento de declínio físico, mental e criativo, ou ao ostracismo em algum país longe da América. Essa viagem, mesmo sendo pesarosa e triste em determinadas situações, não deixa de ser idílica e poética em diversas outras passagens, devido principalmente ao conhecimento do autor e a maneira como escreve.
De todos os capítulos de “Todo Aquele Jazz”, aqueles que focam em Thelonious Monk, Charles Mingus e Art Pepper são os mais exuberantes. Magia, loucura e incompreensão andam de mãos dadas nesses pequenos contos. Para envolver ainda mais o leitor, as fotos comentadas pelo autor poderiam estar presentes e seriam um belo acréscimo ao todo. Porém, isso é mero detalhe e “Todo Aquele Jazz” ainda encerra com um ensaio formidável justamente sobre o estilo de vida que os músicos levavam (por opção própria ou não) e sua contraposição na criação de pequenos clássicos, além de uma estupenda discografia selecionada para correr atrás depois. Uma aula.
Clique na imagem para ler as 25 primeiras páginas do livro
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop