por Paulo Terron
fotos por Marcelo Rossi
Antes de qualquer coisa, é preciso tirar algo do caminho: sim, Axl Rose envelheceu. Ele é um senhor de 52 anos porque, basicamente, não estamos mais em 1992. É até aceitável que se questione o modo como ele canta hoje, mas não dá para dizer que é inesperado. Cantores de vocal agudo não resistem ao passar dos anos, é uma verdade que o mundo já deveria ter aceitado faz tempo. Robert Plant perdeu a voz (e baixou os tons das músicas). Chris Cornell perdeu a voz (e fez uma bem-sucedida cirurgia que lhe deu mais alguns anos). Axl Rose tem seus momentos, mas, no geral, ainda consegue fazer um show competente.
E mais: o cara é cobrado por tantas coisas que seria impossível que ele cumprisse tudo. Ele tem de ser o bad boy, mas tem de cantar bem e não pode se atrasar para os shows. É natural que envelheça, mas tem de ficar magro e ser o mesmo sex symbol de 20 anos atrás. O nível de cobrança com o vocalista do Guns N’Roses é surreal e injusto, típico de uma sociedade vingativa e obcecada com celebridades. E nostálgica, sempre apontando para “quando era bom de verdade, com X e X na banda”.
No Anhembi, em São Paulo, na última sexta-feira (28), Axl e o Guns N’Roses trouxeram mais uma fase da turnê de “Chinese Democracy” (2008) para o Brasil. Desta vez com 7 apresentações, mas com pouquíssimas diferenças de repertório em relação às outras passagens por aqui.
Depois de tema da abertura da série “True Detective” e mais ou menos 1 hora de atraso, o grupo subiu ao palco para a já tradicional dobradinha “Chinese Democracy” e “Welcome to the Jungle”, que seguiu acelerada com “It’s So Easy” e “Mr. Brownstone”. E reforçou, exatamente por ser intensa, a quantidade de vezes que Axl sai do palco durante os shows. Para fazer o quê? Ninguém tem certeza. Ele troca de camiseta, jaqueta e chapéu várias, como se a noite fosse um desfile da coleção nova de John Varvatos. Mas não é só. Na faixa seguinte, “Estranged”, ele chegou a deixar os colegas tocando sozinhos 3 ou 4 vezes. O problema não é o motivo das saídas, mas é incômodo demais para quem assiste. Se Paul McCartney adota a regra de nem beber água no palco porque acha que pode distrair, imagine alguém simplesmente dando um rolê durante o show. Várias vezes.
Outra coisa perturbadora: a quantidade de pessoas nas laterais do palco, todas olhando fixamente para seus celulares e trabalhando a sério na #selfie o tempo todo. É como se existisse uma área SuperHiperVIP no palco, cheia de gente que não tem pudor em mostrar que não dá a mínima de estar ali.
Em “Better”, o show começou a esquentar de verdade. Axl já sorria – eventualmente, com grandes óculos escondendo os olhos e metade do rosto. E a banda parecia estar 100% dedicada a entreter, nenhum dos músicos tocando meramente para cumprir tabela, mas sim como se fosse o momento mais importante das carreiras deles. Logo depois, alguém jogou uma camiseta com Charles Manson estampado nela, e o cantor a recebeu sorrindo (longe do tempo da polêmica de “Look at Your Game, Girl”, composta pelo famoso assassino e gravada pelo Guns em “The Spaghetti Incident?”).
Após “Rocket Queen”, foi a hora das jams e versões começarem a aparecer, com altos e baixos. As partes do tecladista Dizzy Reed e do guitarrista Richard Fortus foram esquecíveis, mas o guitarrista DJ Ashba (com um solo misturando influências românticas ao tipo de rock que formou o estilo dele, de artistas como Mötley Crüe), o baixista Tommy Stinson (com uma versão básica de “Holidays in the Sun”, do Sex Pistols) e o guitarrista Bumblefoot (e sua “Abnormal”, uma mescla de punk com extremismo metaleiro de guitarra que funciona apesar da estranheza) mostraram que sabem entreter a plateia. Bumblefoot, que já tinha tocado o Hino Nacional brasileiro no Rio de Janeiro, puxou uma homenagem a Ayrton Senna tocando o “Tema da Vitória”. Saiu vitorioso.
Ainda nas covers, as tradicionais “Live and Let Die” (Paul McCartney & Wings) e “Knockin’ on Heaven’s Door” (Bob Dylan) ganharam a companhia de “The Seeker” (The Who) – fechando um ciclo perfeito, com sua letra que cita Dylan e os Beatles. E “Patience” ainda teve uma introdução prolongada, com citação instrumental a “You Can’t Always Get What You Want” (Rolling Stones, cantada pela plateia).
Mas a essência do Guns N’Roses, as músicas que têm o poder de fazer uma plateia de milhares ir para outro estado mental automaticamente, é clara: “You Could Be Mine”, “November Rain”, “Don’t Cry” e “Patience”. Com menção honrosa a “Civil War” – que não se encaixa na definição de “hit”, mas que parece dar um prazer especial a Axl, o que se reflete no público. Quantos artistas têm um arsenal desses no repertório? Não muitos. E em uma noite boa, a banda não decepcionou – apesar da constante torcida contrária. Tem coisas que parecem não mudar: o Guns N’Roses continua tendo o talento de transformar energia negativa em música.
– Paulo Terron (@pterron) é jornalista. Assina o blog With Lasers (withlasers.blogspot.com.br/)
Leia também:
– Guns n’ Roses em Paris: “É meio vergonha alheia, mas ele (acha que) pode” (aqui)
Vi a banda em 2010 e esse ano no Rio. Apesar da voz potente/aguda do Axl já ter ido embora há tempos, o GNR ainda consegue entregar um bom show pra quem espera apenas isso.
Como os músicos que o acompanham são todos seus empregados, e não sócios ou companheiros de banda, o uso do nome ‘Guns & Roses’ é extremamente desonesto, porém — como tantas outras coisas no mundo —, tremendamente viável, porque 90 por cento das pessoas simplesmente não se importa, inclusive nos meios profissionais (jornalistas, que em sua maioria mencionam a banda como se ela ainda existisse).
Isso aí foi Axl Rose solo, e olhe lá.
cara… achei o show aqui de Brasília bem honesto, um bom espetáculo.
Particularmente acho a preocupação sobre o nome do ato que será apresentado ao publico uma necessidade exclusiva do artista, pois isso o ajudará a se promover.
É tão sem número a coleção de bandas e artistas que utilizam, evocam, registram, se apropriam daquele nome que os consagrou que isso sequer vale a penas ser pensado.
Axl Rose solo manteve a essência de outrora, tá ali nos riffs, nos timbres, na seleção de músicas e músicos desse GNR Mark VIII, acho que isso é o que importa pra criançada de 14 anos que nunca sequer pode imaginar ver o GNR’91, pro fã saudosista que viu e quis ver 20 anos depois e pros órfãos daquela ~banda mais perigosa do mundo~ heheheh
“Cantores de vocal agudo não resistem ao passar dos anos” – tem uma grande exceção aí, Ney Matogrosso, que com mais de 70 anos ainda mantém o mesmo tom (altíssimo) de músicas de 40 anos atrás. Mas realmente ele é ponto fora da curva, a grande maioria dos cantores de vocal agudo com vários anos de carreira já não tem a mesma voz e se apresentam cantando vários tons abaixo, vide o Bon Jovi.
vcs ainda perdem tempo com essa banda?? hahhaha nem respeito o cara tem por vcs que curtem atrasa horas o show e vcs perdendo tempo.