Texto, vídeos e fotos por Bruno Capelas
No Brasil dos anos 2000, existiu uma banda que juntou a raiva e os riffs do Pavement ao lirismo do Clube da Esquina e a dor e a beleza de se saber paulistano na melhor tradição do Ira!. Em quatro discos e dois EPs, cantando em inglês (no belíssimo “Riding Lessons”, de 2002, um dos maiores discos feitos em língua inglesa no Brasil) ou em português (no derradeiro “Tudo Que Eu Sempre Sonhei”, de 2009, o grande disco nacional da última década para este autor), o Pullovers nunca chegou a ser um sucesso de audiência entre os independentes (embora, em 2013, uma canção da banda tenha ido parar numa trilha sonora de novela da Globo), mas marcou seu lugar entre os grandes de uma cena anônima, encerrando suas atividades em 2010.
Três anos depois, no mesmo dia em que Lou Reed morreu, Luiz Venâncio, o homem por trás das grandes letras do Pullovers, voltou aos palcos com seu novo projeto, O Cantor Mudo e a Sonora Vaia, em uma apresentação no Beco 203, na rua Augusta, em São Paulo. O grupo, que já havia lançado um EP no primeiro semestre de 2013, conta com alguns dos ex-integrantes da última formação do Pullovers, como Rodrigo Lorenzetti (teclado) e Habacuque Lima (guitarra, este também integrante do Ludov, banda que também contribuiu com a Sonora Vaia com a presença do baterista Paulo Chapolim).
Para quem se acostumou com a graciosidade de “Tudo Que Eu Sempre Sonhei”, a primeira impressão não poderia ser mais chocante ao ver O Cantor Mudo (que não dá entrevistas nem fala com a plateia, apenas canta e usa placas) entrar no palco acompanhado de três dançarinos com collants, perucas e muita maquiagem – muito próximo à androginia e aos transsexuais do espírito daquele que pairava pela noite, mr. Reed.
O repertório, entretanto, é mais próximo ao mundo do Pullovers do que parece: se sai a paixão pela cidade de São Paulo e o amor romântico em sua forma mais bonita, as melodias bonitas, os rocks empolgantes e o flerte com a música brasileira (seja no quase samba “Não Quero Nada”, seja nas covers espertíssimas de “Como Dois e Dois”, de Roberto & Caetano, e “Todos os Olhos”, de Tom Zé) ainda estão lá.
Liricamente, foi difícil absorver em apenas um show afinal a que veio o Cantor Mudo – entre “Chocar a Mamãe”, dizer que “Não Sei” ou cantar uma balada triste para seu “Pai” – mas é fácil perceber em sua proposta uma recusa ao stardom, ao sistema no qual frases ditas em entrevistas valem (e vendem) mais que melodias e versos, e um questionamento ao que é normal e o que não é no mundo das celebridades.
Pode parecer pretensioso, e em alguns momentos até é, mas na maior parte do tempo a proposta ambiciosa se torna uma boa realidade – especialmente quando, paradoxalmente, se aproxima do pop, nas já citadas “Chocar a Mamãe” e na homônima “O Cantor Mudo”. Talvez seja cedo para dizer: fato que este é um repertório que se encaixa bem como espetáculo cênico, e merece ser revisto (e gravado e reescutado). Que venham as próximas apresentações, para saciar o falatório todo em volta deste cantor que não fala. Seja como for, em algum canto do éter, Lou Reed podia sorrir em paz, pois sua tarefa nesta bola azul continuava a ser cumprida por bons discípulos.
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.
Leia também:
– Entrevista: Pullovers, por Murilo Basso (aqui)
– “Tudo Que Eu Sempre Sonhei”, do Pullovers, por Marcelo Costa (aqui)
– Pullovers ao vivo no Sesc Pompéia, por Marcelo Costa (aqui)
Isso que ia dizer.Agora que a ex-banda dele tem musica na novela(sim,inclusive vai entrar no cd oficial da mesma)chega a ser engraçado a proposta dele.E agora,como vai ser?Eu acho que vale muito mais como espetáculo teatral do que como musica.Gostava mais do Pullovers
Pela foto da chamada achei que era o cara do Crepúsculo.
É o cara do crepúsculo on burgers and diet coke.