por Leonardo Vinhas
“Romantisismico”, Babasónicos (RCA)
Crença no próprio mito, preguiça criativa ou a ausência irreparável do baixista Gabo Manelli, arquiteto musical da banda? Difícil saber exatamente qual o problema que aflige a sonoridade babasónica desde “A Propósito”, disco de 2011 que aproximou a banda de um pop perigosamente pueril, relação que este “Romantisismico” torna ainda mais estreita. A própria banda está vendendo o álbum como uma “volta às raízes”, mas não estão aqui a perversidade lírica, os riffs encorpados ou a lisergia que oscila entre melodia e bad trip. Pelo contrário, predomina um romantismo clichê, frouxo em letra e música. O primeiro single, “La Lanza”, enganou bem – parecia, de fato, uma recuperação dos dias de “Jéssico” (2001), disco que fez a banda explodir para o mercado latino, com um tímido passinho à frente. Mas a bela estranheza do refrão desconjuntado e da poesia esperta não continua nas outras 11 faixas, que, quando “boas”, revisitam com menos brilho ideias que já foram melhor executadas (vide “Los Burócratas del Amor”, “Uso” e “Uno Dos Tres”). Ok, “Run Run”, ainda que mais convencional, é um hit imediato. De resto, parece um Miranda! pouco inspirado brincando de ser Babasónicos. Audível, mas muito inferior ao padrão que eles mesmos estabeleceram.
Preço: R$ 60 (importado)
Nota: 5
“Outsides”, John Frusciante (Record Collection)
É tentador cair na armadilha de categorizar o ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers como “gênio louco”. Afinal, os infernos químicos que John Frusciante atravessou foram contrabalançados com uma espiritualidade profunda. E tanto um como o outro são tratados com rara sensibilidade em suas composições, que podem ir do pop épico ao ruído instrumental incompreensível. O EP “Outsides” (recém-lançado em vinil, CD e… cassete) não frequenta nenhum destes extremos, mas está longe de ser acessível. Prova, entretanto, que Frusciante é lúcido demais para ser taxado de louco. Quanto a ser gênio… “Same” é um solo de guitarra de dez minutos, amparado por programações e sintetizadores que ajudam a criar uma peça à qual é imprescindível atenção total ao ouvi-la. Já “Shell” se vale do atonalismo para criar uma espécie de free jazz espacial. “Breathiac”, por sua vez, parece uma trilha de filme alemão dos anos 1930 atualizada eletronicamente (quase um Walter Carlos moderno), e é a que melhor traduz as intenções “orquestrais” de seu criador – Frusciante declarou que começou a compor pensando em orquestras, Quem estiver disposto a superar o imediatismo que a experiência musical parece ter nos dias atuais vai encontrar uma música pouco comum, bonita e chapante ao mesmo tempo.
Preço em média: US$ 9 (CD importado) / US$ 14 (vinil importado)
Nota: 7
“Made Up Mind”, Tedeschi Trucks Band (Masterworks)
Na banda que mantém com a esposa Susan Tedeschi, Derek Trucks parece conseguir todos os resultados que almejou com sua The Derek Trucks Band, e o que já era bom em “Revelator” (2011) ficou ótimo neste “Made Up Mind”. Se o disco de estreia e o ao vivo “Everybody’s Talkin’” (2012) eram mais pautados por soul e gospel, o atual traz mais funk e blues – o que não é nenhuma surpresa para quem viu o show deles no SWU de 2011, que conteve uma versão demolidora de “I Want To Take You Higher”, do Sly & The Family Stone. Há até acenos explícitos ao pop em “All That I Need” e na excelente “Part of Me”, que remete aos melhores momentos da Joss Stone. Quando o volume e o groove diminuem, a pungência toma conta com igual eficiência, seja nas inflexões country de “Idle Wind” e “Calling Out to You”, ou nas baladas soul “It’s So Heavy”, “Sweet and Low” e a poderosa “Do I Look Worried?”. Um dos melhores discos do ano.
Preço: R$ 80 (importado)
Nota: 9
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.
Leia também:
– “A Proposito”, do Babasónicos, equilibra dança e introspecção, por Leonardo Vinhas (aqui)
– Faixa a Faixa: “Anoche”, do Babasónicos, por Leonardo Vinhas (aqui)
– “Mucho”, Babasónicos: abraçando o pop perfeito, por Marcelo Costa (aqui)