por Bruno Capelas
“Time”, Rod Stewart (EMI)
O século XXI está começando agora para Rod Stewart. Depois de passar os últimos dez anos revisitando standards, canções de natal e clássicos do rock em versões cheias de glicose para conquistar cinquentões e sessentões, o antigo vocalista dos Faces chega a 2013 com “Time”, um trabalho quase todo autoral – das doze faixas, apenas uma não é assinada pelo escocês (“Picture In a Frame”, de Tom Waits). O esforço até compensa nas primeiras faixas: as balançadas “She Makes Me Happy” e “Can’t Stop Me Now” bem que caberiam na safra de “A Night On The Town” (1976), e a balada nostálgica “Brighton Beach” consegue conquistar corações desavisados. A voz de Rod, por sua vez, se já não exibe aquela rouquidão charmosa de outrora, ainda consegue momentos interessantes, especialmente quando se impõe em momentos pouco agitados. Entretanto, a graça deste álbum para por aqui: a maior parte do disco conta com uma produção exagerada que valoriza demasiadamente arranjos de cordas, metais e backing vocals superlativos. Além disso, a estratégia de repetir refrões em muitas músicas transforma “Time” em um disco repetitivo, fazendo com que doçura se transforme em gordura. Pelo sim, pelo não, fica a lição: você pode até tirar o songbook do homem, mas não pode mais tirar do homem o que o songbook lhe ensinou.
Nota: 5,5
Preço em média: R$ 30 (nacional)
“Old Sock”, Eric Clapton (Universal)
Prestes a chegar aos 68 anos, e percorrendo o mundo com aquela que sempre pode ser sua última turnê, Eric Clapton lançou recentemente “Old Sock”, seu vigésimo primeiro álbum de estúdio em carreira solo. Não peça muito do velho Slowhand. A capa, um autorretrato do guitarrista em férias em Antígua, deixa clara que a marca desse disco é a descontração. Seguindo a onda de “Clapton”, de 2010, “Old Sock” mostra um homem que vê a velhice chegar em paz consigo mesmo, depois de ter exorcizado seus fantasmas em uma autobiografia comovente. A abertura “Further On Down The Road”, com a participação de Taj Mahal, estabelece no disco o clima de “churrasco de domingo”, intensificado pela presença de meia dúzia de antigos parceiros. Chaka Khan ajuda no balanço de “Gotta Get Over”, J. J. Cale dá uma mão na sua “Angel” e Sir Paul McCartney se diverte com o standard “All Of Me”. Sozinho, Clapton também apronta das suas, fazendo um belo tributo a Gary Moore (“Still Got the Blues”) e regravando Gerswhin (“Our Love Is Here to Stay”) e Peter Tosh (“Till Your Well Runs Dry”). Ao final de 54 minutos, não dá pra fugir do clichê. “Old Sock” passa longe de ser um domingo memorável, a ser lembrado por anos e anos em mesas de bar, mas serve para matar a saudade de uma boa amizade: Eric Clapton e a guitarra.
Nota: 6,5
Preço em média: R$ 30 (nacional)
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“Condição Humana (Sobre o Tempo)”, Guilherme Arantes (Tratore)
Pode parecer mentira, mas já houve um tempo no qual o Brasil brigava com a inflação, a Playboy exibia coelhinhas com pelos pubianos e Guilherme Arantes era rei nas paradas de sucesso. Se, a julgar pelos dois primeiros, 2013 parece ser o ano perfeito para o revival daqueles dias, a terceira condição pode ser satisfeita com a existência de “Condição Humana”, primeiro disco de inéditas de Guilherme em quase uma década. Lançado pelo selo do próprio artista e distribuído pela Tratore, o álbum não deixa de lado o romantismo que fez sua fama. “Tudo que eu só fiz por você” e “Oceano de Amor”, por exemplo, entrariam facilmente na trilha de qualquer novela global. Entretanto, os anos de retiro na Bahia e o esquecimento do mercado deixaram marcas em Guilherme, que volta crítico aos holofotes, tentando entender a velhice (“Olhar Estrangeiro”) e disparando contra aqueles que o abandonaram (“Onde Estava Você”, com a participação de Edgard Scandurra e um coral “indie” do circuito SESC-Baixo Augusta que inclui nomes como Tulipa Ruiz, Thiago Pethit, Tiê, Marcelo Jeneci e Adriano Cintra, entre outros). O melhor momento do disco, porém, é o balanço ingênuo, mas sincero, das mudanças do país nos últimos 30 anos, na boa “Moldura do Quadro Roubado”, com belas guitarras de Luiz Sérgio Carlini. Seja como for, o saldo é positivo: “Condição Humana” pode não ser o comeback que Guilherme Arantes merece, mas é o que ele precisa agora.
Nota: 8
Preço em média: R$ 25(nacional)
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– Guilherme Arantes: “Hoje sou exatamente o que sonhei ser” (aqui)
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.