por Marcelo Costa
Billy Wilder é um dos maiores diretores do período de ouro de Hollywood. Nascido em 1906 em Sucha Beskidzka, que então pertencia ao reinado Austro-húngaro (hoje a cidade faz parte da Polônia), Wilder mudou-se para Berlim a fim de trabalhar como jornalista, e foi na capital alemã que se envolveu com cinema, tendo trabalhado como roteirista em cerca de 20 produções. Após a ascensão do partido nazista, Wilder, que era judeu, partiu para Paris, onde ele fez sua estreia na direção, embora tenha partido para os Estados Unidos (e Hollywood) antes que o filme chegasse às telas.
Em Hollywood, Billy Wilder começou escrevendo roteiros e se destacou em duas parcerias com o diretor Ernst Lubitsch: “A Oitava Esposa do Barba Azul” (1938) e “Ninotchka” (1939), que foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro – ele ainda seria indicado na categoria por “A Porta de Ouro” e também por “Bola de Fogo” (ambos de 1941). Sua estreia oficial como diretor acontece no ano seguinte, quando “A Incrível Suzana” chega aos cinemas, e faz um grande sucesso, fato que se repete com “Cinco Covas do Egito”, que ainda recebe três indicações (em categorias técnicas) ao Oscar.
Billy Wilder alcançou o auge em seu terceiro filme, a obra-prima “Pacto de Sangue” (1944), que foi indicado a 7 Oscars, e foi atropelado por “O Bom Pastor”, de Leo McCarey, que dos 10 prêmios a que fora indicado, levou nada menos que 7. Sem problema, o Oscar de Melhor Filme e Diretor viria no ano seguinte, com “Farrapo Humano” (que ainda foi premiado nas categorias de Melhor Ator e Melhor Roteiro). “O filme mereceu o Oscar”, conta o diretor na autobiografia “E o Resto é Loucura”, “mas teriam me dado o prêmio de qualquer maneira – só por causa da culpa por terem me preterido em “Pacto de Sangue””.
Eis uma façanha que se repete na carreira de Billy Wilder, que não ganhou prêmios por seus apontados melhores filmes – “Pacto de Sangue”, “Crepúsculo dos Deuses” e “Quanto Mais Quente Melhor” – mas por obras que o próprio diretor considera excelentes, mas ainda assim menores, como “Farrapo Humano” e “Se Meu Apartamento Falasse” (que derrotou “Psicose”, de Alfred Hitchcock, em 1961). Foram oito indicações como Melhor Diretor e doze como Melhor Roteirista (ganhou por “Farrapo Humano”, “Crepúsculo dos Deuses” e “Uma Loura Por Um Milhão”).
Falecido em 2002 aos 95 anos (sem filmar desde 1981), Wilder deixou uma cinematografia que, incluindo seu filme de estreia rodado em Paris, soma 26 obras, muitas delas impecáveis e várias contendo cenas que se tornariam clássicas na história do cinema. Ele fez musicais, filmes de guerra, comédias românticas, aventuras, dramas e, no final da década de 50, começou a provocar os Estados Unidos com filmes que desafiavam os costumes da sociedade, e que, de certa forma, foram responsáveis pelo declínio da fama do diretor nos anos 60 e 70. Porém, entre “Semente do Mal” (1934) a “Amigos, Amigos, Negócios a Parte” (1981), há muita coisa boa. Vamos a elas.
Titulo original: “Mauvaise Graine”, 1934
Titulo nacional: “Semente do Mal”
Quando chegou a Paris em 1933, fugindo do exército de Hitler que ameaçava invadir a Áustria, Billy Wilder já havia trabalhado no roteiro de mais de uma dúzia de filmes na Europa, e “Semente do Mal” acabaria sendo sua estreia na posição de diretor, dividida com o investidor Alexander Esway, que conseguiu a grana para bancar o filme, mas não apareceu nas filmagens. “Dirigi mais por necessidade e sem nenhuma experiência”, conta o diretor em sua autobiografia “E o Resto é Loucura”. O roteiro, assinando a oito mãos (incluindo as de Wilder), foca em um grupo de ladrões. “Há 500 mil carros em Paris”, diz o texto de abertura, e a gangue trata de se apossar de alguns, repinta-los, trocar a placa e coloca-los no mercado novamente. É começo dos anos 30, e o maior valor de ”Mauvaise Graine” é mostrar como a sociedade pouco mudou de lá pra cá: um filhinho tem seu carro tomado pelo pai, e, ao invés de trabalhar, se revolta, abandona a casa e cai no crime. É o começo do cinema, e é tudo tão 2013 que impressiona. Só não necessitava de um final feliz (a realidade seria mais impactante), mas, ainda assim, é uma boa estreia.
Titulo original: “The Major and the Minor”, 1942
Titulo nacional: “A Incrível Suzana”
A estreia cinematográfica de Billy Wilder em Hollywood é uma tradicionalíssima screwball comedy, em que uma mulher resoluta sofre uns bons bocados, mas conquista o homem que ama. Roteiro farsesco que relembra as comédias de Shakespeare (principalmente “Comédia dos Erros”, de 1623), “A Incrível Suzana” flagra uma mulher que, após anos tentando a sorte em Nova York, decide abandonar a cidade, mas sem o dinheiro todo para pagar o trem de volta para sua terra natal, veste-se como uma menina de 12 anos para pagar meia passagem, o que, claro, acaba causando um bom número de situações cômicas. No papel principal, Ginger Rogers brilha e fica difícil saber se ela é mais encantadora como menina de 12 anos, como mulher ou como senhora (outro de seus disfarces). O roteiro de Billy Wilder e Charles Brackett sacaneia (em uma das piadas mais deliciosas do filme) Veronica Lake e também Greta Garbo (para convencer os bilheteiros de que ela tem 12 anos, Suzana diz que é alta porque é de família sueca. “Diga algo em sueco então?”, eles pedem. E Ginger Rogers capricha na imitação: “I vant to be alone”). Uma comédia graciosa.
Titulo original: “Five Graves to Cairo”, 1942
Titulo nacional: “Cinco Covas no Egito”
Segundo filme de Billy Wilder em Hollywood, “Cinco Covas no Egito” é uma atualização da peça teatral “Színmü Negy Felvonásban”, de 1917, do escritor húngaro Lajos Bíró, e se passa no deserto do norte da África – a fotografia dura e sublime, principalmente no trecho inicial do filme, recebeu uma indicação merecida ao Oscar – flagrando o soldado britânico John Bramble (Franchot Tone), que sobreviveu ao ataque violento do exército alemão comandado pelo temível General Erwin Rommel, comandante admirado por seus soldados e pelos adversários (e que foi forçado por Hitler a cometer suicídio em 1944) interpretado com força por Erich von Stroheim. Após dias vagando pelo deserto, o soldado encontra um hotel, e é acolhido pelo dono Farid (Akim Tamiroff), sob o olhar suspeito da camareira Mouche (Anne Baxter). Logo depois, o hotel é tomado pelo exército alemão, e o soldado se disfarça de garçom para tentar se aproximar do general. O clima de suspense de guerra move “Cinco Covas no Egito”, e sob a penumbra Billy Wilder elogia a estratégia alemã de guerrilha ao mesmo tempo em que desenha os oficiais nazistas como estúpidos que podiam ser enganados facilmente (é bom lembrar que o filme estreou no quarto ano da Segunda Grande Guerra, que acabaria com a derrota dos nazistas em 1945). Um filme denso, de ótimo roteiro e fotografia impecável.
Titulo original: “Double Indemnity”, 1944
Titulo nacional: “Pacto de Sangue”
Uma obra prima. Baseado em uma história real acontecida em 1929, em que uma esposa planeja o assassinato do marido após ter comprado uma apólice de seguro com cláusula de indenização em dobro, Billy Wilder e Raymond Chandler escreveram um roteiro brilhante em que o vendedor de seguros Walter Neff (Fred MacMurray) se vê seduzido pela loura Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck) e, por ela, decide cometer um crime. Um dos primeiros grandes filmes noir da história, e um dos melhores (não só noir, mas da história do cinema), “Pacto de Sangue” distribui diálogos geniais (a cena do primeiro encontro entre Walter e Phyllis é sensacional) e destaca algumas curiosidades como a cena em que Phyllis se esconde atrás da porta da casa de Walter (uma porta que abre pra fora, truque esperto para aumentar a tensão em uma passagem clássica). Indicado a sete Oscars, Billy Wilder saiu de mãos abanando e foi atropelado por “O Bom Pastor”, de Leo McCarey, que dos 10 prêmios a que fora indicado, levou nada menos que 7. Em sua biografia, Billy Wilder relembra o primeiro encontro que teve com o escritor Raymond Chandler: “Foi ódio à primeira vista”. O resultado improvável da parceria foi um dos melhores filmes da carreira de Billy Wilder.
Titulo original: “The Lost Weekend”, 1945
Titulo nacional: “Farrapo Humano”
Doze anos após a revogação da Lei Seca nos Estados Unidos, Billy Wilder provoca os chefões de Hollywood ao querer filmar uma história em que um bêbado não era apresentado com comicidade, pretendendo fazer a plateia rir. Muito pelo contrário. Don Birnam (Ray Milland, numa atuação consagradora que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator) é um daqueles viciados que precisam manter o vício a qualquer custo. Billy Wilder não sentimentaliza o pobre homem, que engana namorada e irmão e passa um fim de semana aterrorizante em Nova York – sem dinheiro, ele desejar penhorar sua máquina de escrever (Birnam é escritor), mas todas as lojas estão fechadas devido ao feriado judeu, o que faz nosso homem quase enlouquecer. As cenas na ala dos alcoólatras do Belleuvue Hospital revoltaram a direção do hospital, que esperava um olhar romântico com enfermeiras sexys e médicos paternais, mas Wilder queria ser o mais verossímil possível, e consegue retratar o inferno do vício de maneira exemplar. “Um único drinque é demais, e cem não são suficientes”, diz o personagem em certo momento. O final é enigmático, ainda que esperançoso. Rendeu a Billy Wilder o Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro.
Titulo original: “The Emperor Waltz”, 1948
Titulo nacional: “A Valsa do Imperador”
O sucesso de “Farrapo Humano” em 1945 fez com Billy Wilder planejasse com cuidado seu próximo passo. A ideia inicial era filmar em Berlim uma história sobre os problemas enfrentados pelos militares norte-americanos após o fim da Segunda Guerra, mas depois de visitar campos de concentração, o diretor não se sentiu tão à vontade para tocar o projeto em frente, preferindo focar em um conto de fadas musical hollywoodiano chamado “A Valsa do Imperador” (“A Mundana”, o tal filme sobre Berlim, acabou saindo no mesmo ano), que recebeu mais atenção por ter Bing Crosby no papel principal do que Billy Wilder como diretor (e colaborador no roteiro, um dos seus pontos fortes). A história é bonitinha (e só isso): um caixeiro viajante quer vender um gramofone para o Rei da Áustria, e acaba se apaixonando por uma condessa. Não só ele, mas seu cão também se apaixona pela cadela da Condessa, que está prometida (a cadela) para o cão do Rei. Parece bocejante (e é difícil discordar nas partes cantadas), mas o roteiro cuidadoso consegue dar certo valor ao filme, que se não impressiona, também não é uma total perda de tempo.
Titulo original: “A Foreign Affair”, 1948
Titulo nacional: “A Mundana”
Tendo como pano de fundo uma Berlim absolutamente devastada após o fim da Segunda Guerra Mundial (boa parte das fortes cenas mostrando a cidade totalmente destruída foi filmada por Billy Wilder meses após a vitória dos aliados), “A Mundana” não fez feliz nem aliados, muito menos alemães, exatamente por ser um filme que pontua com sábia ironia os deslizes da ocupação aliada do território alemão. A trama conta a história de um grupo de congressistas norte-americano que visita Berlim para conferir se a tropa está se portando corretamente. Phoebe Frost (a loirinha Jean Arthur), congressista do Iowa, se escandaliza (com razão) com o mercado negro próximo às ruinas do Reichstag, com soldados norte-americanos se aproveitando de jovens alemãs, e, principalmente, do caso de um alto oficial do exército dos Estados Unidos (John Lund) com uma dançarina e cantora que frequentava o círculo de amigos de Hitler (Marlene Dietrich, excepcional). Há dezenas de subtextos na trama, e algumas frases antológicas, como uma que define a ajuda econômica dos EUA aos países europeus devastados pela guerra: “Quando damos de comer a eles, isso é democracia; Quando colocamos uma etiqueta em cima, é imperialismo”. A ironia afiada do tour comandado pelo coronel sobre as áreas devastadas de Berlim fica em segundo plano, debaixo de uma doce história de amor, exemplo de um filme de Billy Wilder que é uma aula de cinema. Obrigatório.
Titulo original: ““Sunset Boulevard”, 1950
Titulo nacional: “Crepúsculo dos Deuses”
A obra prima de Billy Wilder, “Crepúsculo dos Deuses” é um olhar macabro de um integrante da cidade dos sonhos sobre aquela que traz fama, mas pode cobrar um preço bastante caro – orgulho, honestidade e, quem sabe, a vida. Billy Wilder é impiedoso em seu cruel retrato de Hollywood. A trama gira em torno de um roteirista falido, Joe Gills (William Holden), que não consegue cravar uma história, e está prestes a perder o carro por falta de pagamento. Ao tentar fugir de homens da financeira, ele acaba entrando numa mansão que julgava abandonada, mas, na verdade, é a casa de Norma Desmond (Gloria Swanson, espetacular), uma atriz que fora imensamente famosa na era do cinema mudo, mas que agora, mesmo milionária, vive reclusa e esquecida, e planeja uma volta. O envolvimento é inevitável e os diálogos, mordazes. Tanto a abertura quanto a cena final estão entre as melhores coisas que o cinema já produziu em cento e tantos anos, mas não pense, com isso, que o restante do filme é menor: “Crepúsculo dos Deuses” é um daqueles filmes absolutamente impecáveis nos detalhes. Uma obra prima crítica que, ainda hoje, é atualíssima. Porém, de suas 11 indicações ao Oscar, o filme levou apenas três: Direção de Arte, Trilha Sonora e Roteiro. Merecia muito mais.
Titulo original: “Aces in The Hole”, 1951
Titulo nacional: “A Montanha dos Sete Abutres”
Em 1951, Billy Wilder já contava com um Oscar de Melhor Diretor e dois de Melhor Roteiro na prateleira, mas ainda tinha muito que mostrar para o público. Em qualquer lista possível, suceder uma obra-prima como “Crepúsculo dos Deuses” é uma tarefa bastante inglória, mas Billy Wilder conseguiu surpreender com “A Montanha dos Sete Abutres”, uma fábula intensa sobre jornalismo e ética. Chuck Tatum (Kirk Douglas em atuação impecável) é um jornalista que aprontou todas nos maiores jornais dos Estados Unidos, o que lhe custou seu emprego em todos eles. Para recomeçar a vida, Tatum acaba optando por um pequeno jornal da cidade de Albuquerque, no Novo México, esperando que a grande reportagem bata à sua porta. Demora cerca de um ano para que o “bilhete premiado” caia no colo do jornalista: um homem está preso em uma caverna prestes a desabar, em uma montanha, segundo o tal homem, assombrada pelo espírito de velhos índios. Chuck Tatum arma um circo ao redor da montanha, e ganha a atenção de todo o país tentando estender o resgate ao máximo, para ter mais publicidade. O desfecho trágico diz muita sobre a profissão (principalmente hoje em dia) e é uma enorme aula de cinema e jornalismo. Daqueles filmes obrigatórios. E que cena final…
Titulo original: “Stalag 17”, 1953
Titulo nacional: “Inferno 17”
Dois anos depois, lá estava Billy Wider novamente com uma história densa, mas, neste caso, com pitadas cômicas que já antecipam o caminho que o diretor irá tomar nos filmes seguintes. Fruto das visitas de Wilder a campos de concentração (e, também, de “A Grande Ilusão“, clássico de Jean Renoir), “Inferno 17” conta a história de um campo de sargentos prisioneiros de guerra. O elenco traz o diretor Otto Preminger como o Coronel Von Scherbach e William Holden como Sefton, o malandro da turma, que aposta (e ganha) cigarros, os troca por alguns momentos com as prisioneiras russas, e todo mundo acredita ser um espião. Aliás, o gancho do roteiro é uma história de gato e rato. Em um dos quartos de prisioneiros há um informante que está delatando companheiros para os alemães. “Um americano entregando outro americano?”, se perguntam os sargentos, mas a história se repete diversas vezes até que o grupo todo decide culpar o folgado Sefton, mas será ele o dedo-duro? William Holden levou o Oscar de Melhor Ator por seu papel em “Inferno 17” (Wilder foi indicado a Melhor Diretor, mas perdeu para Fred Zinnemann, por “A Um Passo da Eternidade”), um filme em que Billy Wilder dosa – com distinta sabedoria – tensão e comicidade num roteiro simples e funcional.
Titulo original: “Sabrina”, 1954
Titulo nacional: “Sabrina”
A volta de Billy Wilder às comédias românticas após uma sequencia matadora de filmes tensos (“A Mundana”, “Crepúsculo dos Deuses”, “A Montanha dos Sete Abutres” e “Inferno 17”) não poderia ter sido melhor. E o motivo principal é a escolha acertada da bela e segura Audrey Hepburn para o papel principal. A atriz tinha despertado a atenção em 1952 com seu primeiro papel principal, em “Monte Carlo Baby”, e no ano seguinte já colocava na estante um Oscar de Melhor Atriz por sua atuação em “A Princesa e o Plebeu”. Com “Sabrina”, Audrey recebeu outra indicação ao Oscar, mas perdeu para Grace Kelly (em “Amar é Sofrer”), o que não desmerece o fato de Hepburn carregar “Sabrina” nas costas. No filme, Audrey faz o papel da filha do chofer de uma família rica. Desde criança, Sabrina é apaixonada por David (William Holden, hilário), mas, assim que retorna de uma temporada em Paris, também conquista o coração do irmão, Linus (Humphrey Bogart, não muito à vontade no papel), o que resulta em dois irmãos apaixonados pela mesma garota. Audrey está absolutamente encantadora no papel principal, e o roteiro, de Billy Wilder e Ernest Lehman, fica em segundo plano, deixando a atriz brilhar. Outro clássico.
Titulo original: “The Seven Year Itch”, 1955
Titulo nacional: “O Pecado Mora ao Lado”
Outra cena clássica: a que Marilyn para sobre um túnel de vento do metrô e seu vestido branco flutua. Se não fosse essa cena espetacular (que provavelmente custou seu casamento com Joe DiMaggio – ou foi a gota d’agua), talvez “O Pecado Mora ao Lado” passasse despercebido frente a verve cômica afiada dos filmes que Wilder iria escrever com I. A. L. Diamond na virada desta década. Não que o filme não tenha seu charme, mas a insistência no recurso de Richard Sherman (Tom Ewell, perfeito) conversar/confessar suas neuroses em voz alta o filme todo acaba cansando. E falta um pouco da sacanagem que Billy Wilder iria imprimir nos filmes posteriores (cujo auge, em “Kiss Me, Stupid”, de 1964, lhe custaria um pouco da sanidade cinematográfica). O roteiro de George Axelrod e Billy Wilder defende a premissa de que, desde o começo dos tempos, basta a esposa virar as costas para que o homem saia à caça. Sherman é o exemplo, mas o roteiro não concretiza a traição, e termina, por fim, com nosso amigo deixando Marilyn (ou “The Girl”) em casa (mesmo com ela dando em cima dele) e partindo para a esposa. Não que todo homem deva trair, nem mesmo com Marilyn, mas o roteiro defende essa questão, e não a conclui, exibindo certa falta de coragem de desafiar a censura. Ainda assim, um filme ótimo, mas menor.
Titulo original: “Love in the Afternoon”, 1957
Titulo nacional: “Amor na Tarde”
Três anos antes, em 1954, Billy Wilder havia feito “Sabrina” com Audrey Hepburn, um filme que já antecipava a queda do diretor pela inocência da atriz (dividida, no filme, por dois galãs, William Holden e Humphrey Bogart). Em “Amor na Tarde”, Wilder vai ainda mais longe em uma comédia romântica que só podia ter como pano de fundo… Paris. É na capital romântica do amor (os minutos iniciais são irresistivelmente deliciosos) que um milionário conquistador é salvo de um marido ciumento por uma jovem violoncelista. Ariane (Audrey), a violoncelista, é filha de um detetive, e fuçando nas fichas de casos solucionados pelo pai, se interessa pelo ‘Don Juan’ Frank Flannagan (Gary Cooper), e arquiteta um plano para fisgar o homem – que é bem mais velho que ela. Audrey é a típica heroína que valida vários temas de Billy Wilder: a esperteza do jovem contra a experiência da idade; o amor que consegue vencer o vício e a mulher (aparentemente inocente) que, usando de esperteza, conquista o homem. Outras duas cenas memoráveis: Audrey procurando sapato rastejando-se no chão, e a comovente cena final, na estação de trem credenciam “Amor na Tarde”, uma comédia romântica menor, mas ainda assim muito boa. E tem “Fascinação” na trilha (impossível esquecer a música no filme)…
Titulo original: “The Spirit of St. Louis”, 1957
Titulo nacional: “Águia Solitária”
Em 1927, um piloto que levava correspondências do correio entrou para a história dos Estados Unidos ao se transformar no primeiro homem a atravessar o Atlântico em um avião num voo sem escalas. “Águia Solitária” é a cinebiografia do piloto Charles Lindbergh, baseada na autobiografia de mesmo nome – “The Spirit of St. Louis” –, que, lançado em 1953, ganhou o Prêmio Pulitzer. Para o papel principal, por exigência do estúdio, Billy Wilder escalou James Stewart, que tinha 47 anos na época – 22 anos mais velho do que Charles Lindbergh, que tinha 25 anos quando alcançou o feito) – e o ator consegue dar conta do papel, mas o filme não decola. O grande problema, na verdade, é o roteiro, que não consegue aprofundar o personagem nem as situações que ele vive. Movido por flashbacks, “Águia Solitária” é correto, mas pouco ágil. Billy Wilder optou por um personagem sério, de piadas secas e pouco sedutor. A saga, por fim, acaba sendo mais interessante que Charles Lindbergh – o filme intercala cenas do passado enquanto o piloto está cumprindo seu voo de 30 horas –, o que de certa forma explica o fracasso comercial do filme, que precisou do dobro de tempo para ser filmado, e ainda assim parece mal-acabado.
Titulo original: “Witness for the Prosecution”, 1957
Titulo nacional: “Testemunha de Acusação”
O ano mais frutífero da carreira de Billy Wilder assistiu a três estreias do diretor: o romance “Um Amor na Tarde” (com Audrey encantadora), o drama “Águia Solitária” e o filme de tribunal “Testemunha de Acusação”, baseado em um conto de Agatha Christie, que lhe rendeu seis indicações ao Oscar (perdeu a estatueta de Melhor Diretor para David Lean, por “A Ponte do Rio Kwai”) e o elogio eterno dos fãs da escritora, que até hoje têm “Testemunha de Acusação” como a melhor adaptação para o cinema de um texto de Agatha Christie. A curiosidade, porém, é que como se tratava de um conto, o trio de roteiristas precisou estender o texto, e todas as cenas de acento (deliciosamente) cômico do advogado Sir Wilfrid Robarts (Charles Laughton, esplendido num papel que lhe valeu uma indicação ao Oscar) com a enfermeira Miss Plimsoll (Elsa Lanchester, também indicada), são responsabilidade e grande mérito de Larry Marcus, Billy Wilder e Harry Kurnitz. A história sobre um crime é a típica sala repleta de espelhos desenhada por Agatha Christie, e, comandados por Laughton, o grupo de atores arrebata: Tyrone Power brilha no papel do acusado Leonard Vole, Francis Compton está hilário como juiz da corte britânica, e a beleza fria de Marlene Dietrich (que não sorri em nenhum segundo do filme) arrebata em outro grande filme de Billy Wilder, entre os melhores.
Titulo original: “Some Like It Hot”, 1959
Titulo nacional: “Quanto Mais Quente Melhor”
Dos finais clássicos de toda história do cinema, o de “Quanto Mais Quente Melhor” integra uma listinha top five eterna, da qual também faz parte os últimos segundos matadores de “Casablanca”. Mas não é só isso, claro. “Some Like It Hot”, que conta a história de dois músicos que se disfarçam de mulheres para fugir de gangsteres, é daqueles roteiros absolutamente perfeitos, tão bem construídos que mesmo as cenas avulsas são milimetricamente pensadas para compor o todo (algo cada vez mais raro na Hollywood dos dias de hoje). E não é só isso! Jack Lemmon está absurdamente sensacional (o que é a cena do tango???), Tony Curtis acompanha no mesmo nível, e Marilyn Monroe, acima do peso, com a vida pessoal em cacos e tendo que refazer 40 vezes uma cena estúpida, encanta pela fragilidade, pela sensualidade e simplesmente por ser Marilyn. O filme ficou fora da categoria principal no Oscar de 1960, vencido por “Ben Hur”, mas recebeu seis indicações vencendo apenas em Melhor Figurino P&B. Porém, esqueça a Academia. Para o próprio Billy Wilder, “Some Like It Hot” é sua obra prima. Ninguém é perfeito, muito menos a Academia.
Titulo original: “The Apartament”, 1960
Titulo nacional: “Se Meu Apartamento Falasse”
De todas as arid comedy de Billy Wilder, “Se Meu Apartamento Falasse” deve ser a menos cômica e uma das mais áridas. Um amigo sempre exemplificava “The Apartament” como a versão cinema da “Teoria de Alison”. Outro comentou no Twitter: “É basicamente Mad Men, só que feito no tempo presente”. Acho que soa um daqueles filmes inocentes, em que um personagem boboca que se dá bem no final esconde uma história crítica com uma baita profundidade. Deve ter causado uma enorme repercussão na época, com suas 10 indicações ao Oscar, e as 5 estatuetas que Billy Wilder levou pra casa (Filme, Diretor, Roteiro, Edição e Direção de Arte – Academia fazendo um mea-culpa por ter ignorado “Quanto Mais Quente Melhor”?) ao contar a história de um funcionário que emprestava seu apartamento para que os chefes tivessem casos extraconjugais. Em seu melhor momento da carreira, com três filmes sensacionais em sequencia, Billy Wilder faz de Jack Lemmon um daqueles patetas que a gente torce para que se de bem. O charme (e o drama) de Shirley MacLaine, com cabelo curtinho e apaixonada pelo homem (casado) errado é um perfeito complemento para um grande filme, que esconde por trás das risadas uma tristeza com o mundo moderno. E isso em 1960…
Titulo original: “One, Two, Three”, 1961
Titulo nacional: “Cupido Não Tem Bandeira”
Um ano após ter levado cinco Oscars pra casa por “The Apartment”, Billy Wilder conhecia certo fracasso comercial por um filme absolutamente genial, mas talvez provocativo demais para a época. Enquanto filmava “Cupido Não Tem Bandeira” em Berlim, um Muro subia e dividia a cidade, e era o mote para uma história que desmoralizava comunistas, capitalistas, nazistas, socialistas e outros istas. Isso 52 anos atrás. O roteiro, que parece ter uma gag por minuto, não perdoa ninguém, e é absolutamente memorável. A trama apresenta um executivo da Coca-Cola (James Cagney absolutamente impressionante) trabalhando em Berlim Ocidental, e tendo como sonho colocar a marca mais capitalista da América em território socialista – a reunião do diretor com um trio inenarrável de russos é hilária, destacando uma piada de charutos: “Cuba nos manda charutos em troca de mísseis”. O executivo acaba encarregado de cuidar da filha do chefão (e ela se apaixona por um comunista). Marca Wilder/Diamond de qualidade em um dos melhores roteiros da dupla. A cena em que um comunista é torturado com a audição de “Itsy Bitsy Teeny Weenie Yellow Polkadot Bikini” é absolutamente impagável. Assista. Duas vezes.
Titulo original: “Irma La Douce”, 1961
Titulo nacional: “Irma La Douce”
Nove anos separam a inocência de Sabrina da provocação de Irma, e muita coisa aconteceu entre um filme e outro, principalmente na virada da década anterior, com “Some Like It Hot” (1959) e o premiadíssimo “The Apartment” (1960), dois filmes que começam a balançar as estruturas da TFP existente em Hollywood. O auge da provocação aconteceria em “Kiss Me, Idiot” (1964), mas “Irma La Douce” (1963) já adianta um pouco da confusão. A personagem principal é uma prostituta parisiense chamada Irma (Shirley MacLaine, apaixonante) e o cenário é uma rua ao lado do antigo Mercado Municipal de Paris (demolido em 1971). Billy Wilder é tão didático quanto Godard em “Viver a Vida” (1962) ao explicar o que é uma prostituta, um cafetão e um policial corrupto. Porém, certo dia, um policial honesto (Jack Lemmon) aparece na área, prende todo mundo e se apaixona por Irma. A história segue seu rumo óbvio até certo ponto, quando Billy Wilder e I.A.L. Diamond piram na batatinha, e psicodelizam quase meia hora de filme, o que valoriza o excelente papel coadjuvante de Lou Jacobi, o Senhor Bigode. Sucesso de bilheteria, “Irma La Douce” deu a Shirley MacLaine sua terceira indicação ao Oscar (a primeira foi em 1958 com “Deus Sabe Quanto Amei” e a segunda em 1960 com “The Apartment”). Um filme leve, mas carola (a prostituta abandona a rua para se tornar esposa). Deve ter sido um verão em que as vendas de meias calças verdes fizeram sucesso…
Titulo original: “Kiss Me, Idiot”, 1964
Titulo nacional: “Beije-Me, Idiota”
O clímax da carreira de Billy Wilder aconteceu no começo dos anos 1960, quando “Se Meu Apartamento Falasse” bateu “Psicose”, de Hitchcock, no Oscar saindo da cerimônia com cinco estatuetas (um ano antes, é bom lembrar, ele havia feito “Quanto Mais Quente Melhor”). “Irma la Douce”, de 1963, foi seu último grande sucesso, e as coisas começam a complicar no ousado “Kiss Me, Stupid” (1964), que envolve uma troca de casais em que a esposa se passa por prostituta, e vice-versa. Condenado pela Igreja, “Kiss Me, Stupid” fracassou nos cinemas, mas não dá para culpar apenas os padres – a maioria nem viu o filme. A trama é esperta, mas falta agilidade: dois músicos amadores tem a chance de mostrar suas composições para um cantor de sucesso, Dino (Dean Martin), que também é um conquistador voraz. Para proteger sua esposa, o músico Orville (Ray Walston) força uma briga e manda a esposa para a casa da sogra. Com o ambiente livre, entra em cena a prostituta Polly, The Pistol (Kim Novak), que irá se passar pela esposa de Orville e tentar conquistar Dino fazendo com que ele compre alguma canção da dupla. A maioria das piadas não funciona a contento e Dean Martin parece desconfortável no papel. Já a dupla Kim Novak e Felicia Farr brilham (principalmente a última, esposa de Jack Lemmon de 1962 a 2001, quando o ator morreu) em um filme que parece longo demais e pouco inspirado, mas que carrega algum charme.
Titulo original: “The Fortune Cookie”, 1966
Titulo nacional: “Uma Loura Por Um Milhão”
Um câmera de TV que vai parar no hospital após ser atropelado por um jogador de futebol americano em pleno jogo é convencido por seu cunhado, um advogado sem escrúpulos, a fingir ter lesões muito maiores, para assim dividirem uma rica indenização. O ponto de partida desta comédia esperta estrelada por Jack Lemmon e Walter Matthau (Judi West, a loura do título, apesar de bonita é deixada de lado na trama tamanha a química dos dois atores), que rendeu um Oscar (merecido) de ator coadjuvante para o segundo, é uma análise séria da indústria de charlatões (ainda que apoiada na deliciosa verve cômica da dupla de atores) tanto quanto uma valorização da amizade e da responsabilidade (na relação do jogador Luther “Boom Boom” Jackson com Harry Hinkle, o personagem vivido por Lemmon). Com roteiro assinado por Billy Wilder em parceria com I.A.L. Diamond (os dois também são responsáveis por “Amor na Tarde”, “Seu Meu Apartamento Falasse”, “Quanto Mais Quente Melhor” e “A Primeira Página”), “Uma Loura Por Um Milhão” é dividido em capítulos e poderia ser um pouco mais ágil e curto (assim como “Um Amor na Tarde”, que também ultrapassa duas horas de duração), mas ainda assim diverte.
Titulo original: “The Private Life of Sherlock Holmes”, 1970
Titulo nacional: “A Vida Íntima de Sherlock Holmes”
Após colocar a carreira nos eixos com “Uma Loura Por Um Milhão” (1966), Billy Wilder tirou férias. A ideia de filmar uma história sobre Sherlock Holmes, no entanto, o acompanhava desde as filmagens de “Irma La Douce”, em 1963, e o projeto só começou a tomar forma no final dos anos 60. O ótimo roteiro de Wilder e I. A. L. Diamond brinca sabiamente e respeitosamente com os personagens clássicos de Conan Doyle, imaginando um baú contendo histórias secretas, assinadas pelo Dr. Watson, da vida do detetive (mas aberto 50 anos após a morte do braço direito do Dr. Holmes). A trama, inclusive, foi filmada com a ideia de episódios, mas duas histórias e um flashback foram cortados da edição final, que ainda assim chegou ao cinema com 125 minutos e centrava foco em um interessante suspense de espionagem (um destes trechos deletados foi recuperado e entrou como extra na reedição norte-americana do filme em DVD). Billy Wilder lança um olhar carinhoso e romântico sobre o personagem mostrando um detetive afeito à cocaína, esnobe com as mulheres e ciente de uma tentativa de homicídio: “Querem me matar, Watson”, ele diz ao receber um par de convites. “É um plano para me matar de tédio. Odeio ballet”, completa. Subestimado, “A Vida Íntima de Sherlock Holmes” é um filme ótimo que fracassou nos cinemas, mas merecia sorte maior.
Titulo original: “Avanti”, 1972
Titulo nacional: “Avanti – Amantes À Italiana”
Dois anos após o fracasso de “Beije-Me, Idiota”, Billy Wilder conseguiu dar um Oscar de Ator Coadjuvante para Walter Matthau com o mediano “Uma Loura por um Milhão” (1966), mas “A Vida Íntima de Sherlock Holmes” (1970) passou batido por todos. Foi então que decidiu filmar sua próxima história na Itália e, novamente, a trama se supera: o filho (Jack Lemmon) de um milionário precisa ir para a Costa Amalfitana, na Itália, buscar o corpo do pai, que sofreu um acidente fatal de carro. O mesmo destino leva uma pobre garota inglesa, “baixinha e gordinha” (embora Juliet Mills não fosse gordinha nem em um desfile da Victoria Secret), a ir enterrar a mãe. Billy Wilder e IAL Diamond desfilam um número delicioso de piadas sobre costumes (a siesta italiana, o sol raro na Inglaterra) enquanto o fotógrafo Luigi Kuveiller enquadra belíssimas paisagens da baia de Sorrento, cidadezinha próxima a Nápoles que serviu de locação (embora a história seja situada na ilha de Ischia, poucas cenas, como a do necrotério, foram filmadas na ilha), mas 2h20 de filme soa um exagero para uma leve comédia romântica (mesmo de Billy Wilder). Com 40 minutos a menos (sem, por favor, cortar a cena de Juliet Mills na rocha), “Avanti” poderia ter tido melhor sorte, mas merece atenção pela brincadeira com sotaques (o inglês americano de Lemmon, o britânico de Mills e o inglês italiano de Clive Revill, excelente como o gerente de hotel Carlo Carlucci).
Titulo original: “The Front Page”, 1974
Titulo nacional: “A Primeira Página”
Dois anos após “Avanti”, Billy Wilder acatou uma sugestão de seu produtor Paul Monash aceitando refilmar “The Front Page”, uma antiga peça da Broadway que ganhou sua primeira versão para o cinema em 1931 através de Howard Hughes e depois foi recontada (de forma mais brilhante) por Howard Hawks em 1940 em “His Girl Friday” (no Brasil, “Jejum de Amor”). A grande sacada de Hawks foi transformar o personagem masculino Hildy, um jornalista, em Hildy, uma jornalista, e colocar pitadas de comédia romântica na história. Billy Wilder, no entanto, ignorou essa escolha e voltou à trama original escalando dois atores brilhantes para o papel de Hildy (Jack Lemmon) e do diretor de jornal Walter Burns (Walter Matthau) e transformando a história em um retrato não muito lisonjeiro do jornalismo. Seguindo o caminho provocativo de seus filmes anteriores, Billy Wilder recheia a trama de palavrões, reúne em cena um casal gay e ataca políticos e policiais sem aliviar para jornalistas e prostitutas. Ou seja, Wilder desfere socos de direita em praticamente todo mundo em uma comédia que Woody Allen deve ter amado devido aos longos, mordazes e acelerados diálogos. A química entre os atores é excepcional, mas, ainda assim, “The Front Page” escorrega na teatralidade excessiva (de atuação e cenário) e num certo exagero que, ainda assim, não põe o filme a perder, mas o impede de brilhar ao lado dos melhores filmes do diretor.
Titulo original: “Fedora”, 1978
Titulo nacional: “Fedora”
Quase 30 anos após filmar sua obra prima, “Crepúsculo dos Deuses” (1950), Billy Wilder praticamente tenta produzir uma revisão do filme a partir da história fantasiosa (e absolutamente possível – em Hollywood) de “Crowned Heads” (1976), de Tom Tryon. “Fedora” é um filme sobre envelhecer em Hollywood, onde é proibido envelhecer. Para o papel principal, Wilder escalou novamente William Holden, que havia brilhado em “Crepúsculo dos Deuses”, e aqui faz o papel de um produtor de Hollywood que parte até Corfu, na Grécia, para tentar convencer uma atriz que se retirou de cena a atuar em seu filme, uma adaptação de “Anna Karenina”. Há mais na história que, de forma melodramática, traça um retrato macabro não só de Hollywood, mas de uma própria sociedade refém da beleza e da juventude. O grande tema e uma direção correta não impediram que o filme fracassasse nos cinemas, e Wilder enumera em sua autobiografia uma série de fatores que levaram o filme ao fracasso, entre eles o fato de nenhuma atriz assumir o papel principal com a força de Gloria Swanson (Marlene Dietrich não só recusou o papel, como se sentiu ofendida em Wilder pensar nela como uma idosa em Hollywood). Ainda assim, “Fedora” tem seu valor e merece ser visto. É uma bela tentativa, que escorrega (principalmente no formato explicativo), mas também tem grandes momentos.
Titulo original: “Buddy Buddy”, 1981
Titulo nacional: “Amigos, Amigos, Negócios a Parte”
“A melhor coisa para mim sobre ‘Amigos, Amigos, Negócios a Parte’ é que poucas pessoas o viram”, comentou Billy Wilder posteriormente sobre aquele que seria a sua despedida da indústria cinematográfica, um fracasso de público e crítica. Em “E o Resto é Loucura”, autobiografia assinada por Hellmuth Karasck, Billy Wilder diz que, talvez, I. A. L. Diamond não tenha sido o parceiro perfeito para o roteiro. “Ele estava acostumado a escrever no período da censura rígida, e não conseguiu desenvolver muito bem as falas sobre sexo e palavrões neste filme”, diz Wilder. Pode até ser, mas na verdade falta ritmo para “Amigos, Amigos, Negócios a Parte”, uma refilmagem proposta a Wilder pela MGM de um filme franco-italiano de 1973, “L’emmerdeur”. Em sua versão, Billy Wilder inclui uma hilária clinica de sexo com um guru mais hilário ainda, mas a história do assassino de aluguel Trabucco (Walter Matthau, excelente) que é atrapalhado por um suicida (Jack Lemmon, não tão à vontade) não deslancha, embora aqui e ali possamos encontrar a marca do cinema de Billy Wilder, o que definitivamente é muito pouco para encerrar a carreira de um dos maiores diretores da história. Vale ver por completismo, ou seja, após todos os clássicos.
Billy Wilder, de 01 a 26, por Marcelo Costa
01) Crepúsculo dos Deuses, 1950
02) Pacto de Sangue, 1944
03) Quanto Mais Quente Melhor, 1959
04) Se Meu Apartamento Falasse, 1960
05) A Mundana, 1948
06) Testemunha de Acusação, 1957
07) A Montanha dos Sete Abutres, 1951
08) Cupido Não Tem Bandeira, 1961
09) Farrapo Humano, 1945
10) Inferno 17, 1953
11) Cinco Covas no Egito, 1943
12) Sabrina, 1954
13) Um Amor na Tarde, 1957
14) O Pecado Mora ao Lado, 1955
15) A Vida Secreta de Sherlock Holmes, 1970
16) A Primeira Página, 1974
17) Fedora, 1978
18) Beije Me, Idiota, 1964
19) A Incrível Suzana, 1942
20) Irma La Douce, 1963
21) Águia Solitária, 1957
22) A Valsa do Imperador, 1948
23) Avanti!, 1972
24) Uma Loura Por Um Milhão, 1966
25) Amigos, Amigos, Negócios a Parte, 1981
26) Semente do Mal, 1934
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– O (último) beijo hollywoodiano de Billy (Wilder), por Marco Antonio Bart, em 2002 (aqui)
– Uma estranha reunião de fantasmas, por Luis Buñuel (aqui)
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