CDs: Green, Shapiro, Woomble e Yo La Tengo

por Adriano Costa

“Adam Green & Binki Shapiro”, Adam Green & Binki Shapiro (Rounder)
O amor não anda correspondendo? A vida amorosa está repleta de frustrações? O romance acabou? “Adam Green & Binki Shapiro” não trará o seu amor de volta, mas é uma boa trilha sonora para curtir a fossa. O disquinho reúne o músico que ficou conhecido com “Anyone Else But You”, canção do filme “Juno” (quando Adam ainda fazia parte do Moldy Peaches), e a vocalista do Little Joy, banda-projeto de Fabrizio Moretti (The Strokes) e Rodrigo Amarante (Los Hermanos), que lançou disco em 2008 e causou certo furor. Com 10 canções agradáveis em menos de 30 minutos, a sonoridade é claramente inspirada nos anos 60, mas também apresenta uma boa porção de indie pop da última década. Algumas músicas remetem aos duetos de Alun Woodward e Emma Pollock da banda escocesa Delgados e, guardada as devidas proporções, as participações de Nico no Velvet Underground. O casamento entre um vocal mais forte e outro mais delicado e terno oferece ao ouvinte bons resultados, apesar da repetição temática nas letras, que falam sobre o amor estar escondido no lugar errado (“Here I Am”), de um amor que não era para a pessoa (“Just To Make Me Feel Good”), assim como em traição (“Pity Love”) e desperdício de tempo (“Don’t Ask For More”). Com tom calmo e tranquilo, a única passagem agitada surge “What’s the Reward”, uma canção de fundo do poço. As melhores faixas são a irritada e desiludida “Casanova” e “If You Want Me To”, onde Binki faz um desafio ao amado. É só ligar o som e deixar a melancolia tomar o seu lugar.
Nota: 7
Preço em média: R$ 45 (importado)

Leia também:
– “Juno”: precocemente madura e exageradamente espirituosa, por Marcelo Costa (aqui)
– Little Joy ao vivo: Diversão, descompromisso e pontos nos ís, por Marcelo Costa (aqui)

“Listen To Keep” – Roddy Woomble (Reveal Records)
Roddy Woomble parece ter uma missão na vida: compor canções admiráveis. É assim nos discos do Idlewild, banda escocesa que comanda junto com o amigo Rod Jones, mas que está dando um tempo (o último disco, “Post Electric Blues”, é de 2009) tanto quanto em sua carreira solo, que foi aberta com o álbum “My Secret is My Silence”, de 2006. “Listen To Keep”, que sucede o primoroso “The Impossible Song & Other Songs” (2011), é a mais recente coleção de canções admiráveis do músico escocês. Woomble se permite arriscar um pouco mais no lirismo em seu terceiro trabalho solo incluindo um violino aqui (na faixa título), um cello ali (em “The Universe Is On My Side”) ou um acordeão acolá (em “Treacle & Tabacco”). A leve incursão nos ritmos tradicionais escoceses, marca dos dois primeiros trabalhos, também reaparece em “The Last One Of My Kind” e “Trouble Your Door”, permitindo ainda um pequeno flerte com o country nessa última, umas das grandes faixas do registro, e que conta com Hannah Fisher compartilhando os vocais no refrão. O pop bate ponto em “Traveling Light”, e “I Know Where I Went Wrong” seria quase um rock rápido se, no lugar dos violões, fossem guitarras. O melhor momento fica com a perfeição de “Build It To Break”, que tem a ajuda do piano e dos vocais de Natalie Farmer, assim como a guitarra e os vocais de Sebastian Brice em uma canção prodigiosa. “Listen To Keep” é um álbum arrebatador que mostra que Roddy Woomble pode ultrapassar a carreira prévia com o Idlewild em qualidade e inspiração. Fique atento.

Nota: 8,5
Preço em média: R$ 45 (importado)

Leia também:
– Tranquilidade percorre “The Impossible Song & Other Songs”, por Adriano Costa (aqui)
– “My Secret Is My Silence”, Roddy Woomble: obra prima de delicadeza, por Mac (aqui)

“Fade”, Yo La Tengo (Matador Records)
“Às vezes os bandidos saem por cima, às vezes os bons perdem. Nós tentamos não perder nossos corações para não perder nossas mentes”. Com esse tom de desânimo e um pouco de descrença é que se inicia o 13º disco da carreira dos norte-americanos do Yo La Tengo. “Fade” sucede “Popular Songs” (2009), uma espécie de brincadeira séria onde a banda flertava com vários estilos e que, apesar de mostrar bons momentos como “Nothing To Hide” e “More Stars Than There Are In Heaven”, era bastante inconsistente. Esse defeito não aflige “Fade”, que traz John McEntire (do Tortoise) na produção e soa como um resumo de todas as fases da banda (e lá se vão quase 30 anos) e é um daqueles raros álbuns atuais que podem ser escutados completamente e depois repetidos. Após os quase sete minutos de abertura da quase extraordinária “Ohm”, o disco flui para a doce e amorosa “Is That Enough” onde Ira Kaplan despeja a melodia conversando suavemente com o ouvinte, para depois, com direito a orquestrações, levar a canção rumo aos anos 60. A distorção de “Paddle Forward” remete ao trabalho de estreia do grupo, “Ride The Tiger” (1986), enquanto faixas como “Cornelia and Jane” e “Two Trains” se aproximam do repertório calmo de “And Then Nothing Turned Itself Inside-Out” (2000). Há ainda leves toques de Sonic Youth na melodia de “Stupid Things” e o medo e fuga de “Before We Run”, que fecha absurdamente bem um registro que está no nível dos melhores trabalhos de um trio que continua forte e parece longe de enfraquecer.

Nota: 9
Preço em média: R$ 45 (importado)

Leia também:
– Entrevista: Yo La Tento, 2003, por Dagoberto Donato (aqui)
– Apaixonando-se por “And the nothing turned itself inside-out”, por Marcelo Costa (aqui)

Nota: 8
Preço: R$ 45 (importado)

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– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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