por Bruno Capelas
“Kiss”, Carly Rae Jepsen (Universal)
Cinderela do pop de 2012, Carly Rae Jepsen, 26, foi descoberta por acidente pela fada-madrinha Justin Bieber. De férias em sua terra natal, o astro canadense ouvia uma rádio local e se encantou uma canção chamada “Call Me Maybe”. Dias depois, Justin gravou um vídeo dançando a música, que se reproduziu pela web em inúmeros virais. Foi o que bastou para que Carly Rae deixasse de ser uma semidesconhecida para se tornar famosa no mundo todo. Grudento até a medula, sustentado por um arranjo de cordas marcante (como desde “Bittersweet Symphony” ou “A Thousand Miles” não se ouvia), “Call Me Maybe” é o carro-chefe e a melhor faixa de “Kiss”, segundo disco da cantora, todo regravado após o estouro da canção. Além do reforço da internet, o sucesso de “Call Me Maybe” é explicável por seu refrão forte, que retrata uma mudança na dinâmica dos xavecos, pouco retratada até então na música pop: ainda que timidamente (e de maneira conservadora), é a garota quem toma a iniciativa de oferecer seu telefone ao rapaz. Para além do mega hit, “Kiss” é um disco bastante regulamentar para uma cantora pop ‘estreante’. Em pouco mais de 40 minutos (na edição normal: há uma edição deluxe com três faixas bônus e 56 minutos de música), Carly Rae supera um ex-namorado na pista de dança (“Tonight I’m Getting Over You”), não sabe se deve se declarar para um amigo (“Turn Me Up”), farreia muito (“Good Time”) e divide uma balada mela-cueca com o padrinho Justin Bieber (“Beautiful”). De bacana mesmo, vale prestar atenção na divertida prova de carinho de “Guitar String/Wedding Ring”, na qual a cantora sonha usar uma aliança feita com a corda de uma guitarra.
Lançamento nacional: R$ 25 (edição simples), R$ 33 (edição deluxe nacional)
Nota: 5,5
“The Sound of the Life of the Mind”, Ben Folds Five (Sony)
Depois de 13 anos sem gravar um disco completo, o trio norte-americano Ben Folds Five volta à ativa com “The Sound of the Life of the Mind”. Mas que não se engane o ouvinte: apesar da união renovada de Ben Folds (piano e voz), Darren Jessee (bateria) e Robert Sledge (baixo), dos corais inspirados em Beach Boys e do piano empolgado do vocalista, esse é um trabalho para dias de chuva e pessoas melancólicas. Tal noção se torna clara só ao se ler os títulos de canções como “Erase Me” (com condução que remete ao Supertramp) e “Thank You For Breaking My Heart”, por exemplo. As piores porradas, porém, vem de “On Being Frank” (“Eu tinha um sonho / mas os sonhos tinham outros planos pra mim”) e “Away When You Were Here” (“Você podia ter feito meu dia de casamento / Salvo minha juventude / Me ajudado com os meus problemas / Mas você estava longe, mesmo quando estava aqui”). “Do It Anyway”, o primeiro single, contemporiza: “Você pode colocar o seu amor e a sua confiança em jogo / É arriscado, as pessoas adoram destruir isso / Deixe-as tentar” . Entretanto, caro leitor, se a melancolia não for o seu forte, dá pra curtir “The Sound…” sem problemas. É só prestar atenção no domínio vocal de Folds na balançada “Draw a Crowd”, com seu arranjo digno de Jeff Lynne; no baixo distorcido de Sledge, que faz até esquecer a ausência das guitarras na banda; na beleza de “Sky High”, escrita pelo baterista Jessee, e no primeiro single, “Do It Anyway”, com . Nick Hornby, que escreveu as letras do último disco solo de Folds, “Lonely Avenue”, de 2010, aparece aqui com a bonita faixa-título. Em cerca de 45 minutos, com um disco cheio de canções pop sessentistas, Ben Folds e seus asseclas garantem o resultado numa boa – mas fica a curiosidade se vão levar o jogo para um eventual segundo tempo.
Lançamento importado: R$ 40 (incluindo prováveis taxas)
Nota: 8
Leia também:
– “The Best Imitation of Myself: A Retrospective”, Ben Folds (aqui)
– “Lonely Avenue”, Ben Folds & Nick Hornby: o encontro de dois nerds (aqui)
“Home Again”, Michael Kiwanuka (Interscope)
Primeira faixa do disco de estreia do inglês filho de ugandenses Michael Kiwanuka, “Tell Me a Tale” deixa claro em seus vinte segundos iniciais as matizes que se ouvirão no trabalho do cantor. O arranjo intrincado da canção, com cordas e sopros, e sua letra cheia de significados poéticos tramados de maneira (aparentemente) simples ecoam o pop sofisticado de Van Morrison e Nick Drake, enquanto a voz de Kiwanuka traz à tona o bom charme de crooners como Sam Cooke e Otis Redding. Tais influências perpassam as dez faixas de “Home Again”, seja em um momento mais balançado, como o doo-wop “Bones”; alegre, como na folk-song “I’ll Get Along”, que não destoaria em um disco como “Moondance”; ou ainda nas introspectivas baladas “Rest” e “I Won’t Lie”, capazes de arrepiar até o último fio de cabelo do corpo. Conhecido por ter aberto shows para Adele em 2011, Kiwanuka compartilha com a cantora de “Someone Like You” a sensação de fazer música deslocada de seu tempo, mas que tem seu apelo junto aos ouvintes justamente por ir contra a maré do hoje. Entretanto, ao contrário de Adele, Kiwanuka parece ser capaz de colocar voz própria em suas canções sem apelar para floreios e exageros (nem para uma imagem muito bem construída e polida), compondo um disco em que pouquíssimas coisas parecem fora de sintonia. Em “I’m Getting Ready”, outro ponto alto de “Home Again”, o cantor diz que ainda está ficando pronto para acreditar em algo maior, mas, depois de ouvir “Home Again” por inteiro, é difícil que o ouvinte não se sinta em casa com por suas canções.
Lançamento importado: R$ 40 (incluindo prováveis taxas)
Nota: 9
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.
Carly Rae Jepsen , achei a musica dela adoravel e chicletuda. Ben Folds Five achei chatinho com todo o respeito.
Michael Kiwanuka, encantador, assombrosamente lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Demorei a escutar esse novo do Ben Folds Five. Belo disco. “Sky High” é uma das grandes músicas de 2012 para mim.