texto por Shirley Ribeiro
fotos por Fabricio Zucoloto
Quem conhece Vitória, capital capixaba, sabe que é muito difícil encontrar boas atrações musicais por aqui. Mas, acredite, existem algumas pérolas. Uma delas é a Big Bat Blues Band, que há quase 20 anos faz um blues cheio de guitarras e gaitas, com letras cantadas por um vocalista rouco na medida.
No final de junho, a Big Bat lançou um novo CD (“Haze Hot Blues”) com um show no Teatro do Sesi. Cheguei cedo, a tempo de ver a passagem de som e conversar com os caras. De cara, fiquei muito feliz em ver a minha banda capixaba preferida em um palco de verdade, com um cenário inspirado e um monte de gente nova. Para vocês entenderem melhor essas impressões, vou falar um pouco da história da BBBB.
Tudo começou em 1993 quando Cláudio França (guitarra) e Eugênio Goulart (vocalista) resolveram dar a cara a tapa tocando blues em dupla nos barzinhos da chamada Rua da Lama (uma espécie de baixo Vitória). O arranjo improvisado caiu no gosto do público, formado por uma mistura de estudantes da Ufes (a universidade federal que é pertinho da Lama), intelectuais, artistas, revolucionários (ou seja, todos que não frequentam o Triangulo – área de balada restrita ao público, digamos, coxinha da cidade).
O tempo passou e a Big Bat ganhou novos componentes e relevância na cena musical da cidade. Em 2003 gravaram um CD reunindo as melhores músicas que haviam produzido nos dez anos de atividade. Nos shows, o repertório misturava músicas próprias com clássicos do blues tradicional e pérolas desconhecidas do grande público, como Billy Boy Arnold.
“A experiência de gravar o CD nos deu ainda mais vontade de cair na estrada, de participar de festivais em outros Estados, ou seja, ampliar e profissionalizar a Big Bat”, conta Eugênio. Outro marco da trajetória do grupo foi a participação não oficial no Festival de Blues de Rio das Ostras, em 2005. “Nós queríamos sentir o gosto de fazer parte de um festival, mesmo que somente em apresentações paralelas à programação. Juntamos dinheiro fazendo shows e vendendo CDs e camisetas para poder pagar a viagem. Deu certo e isso balançou a banda. Vimos que podíamos fazer mais e que, para isso, teríamos que nos profissionalizar”, acrescenta o vocalista.
Nem todos os componentes da banda concordavam com os novos rumos, então foram feitas algumas alterações até chegar à atual composição formada pelos veteranos Cláudio e Eugênio com o guitarrista Marcelo Maia, na banda desde 2004, e o baterista Bruno Zanetti, que entrou na turma em 2007. “Conseguimos atrair o mestre Paulo Sodré para o projeto e o baixo acústico dele, assim como sua experiência internacional, foram acréscimos valiosos”, ressalta Cláudio.
O toque final foi acrescentar as Melody Girls, um trio de backing vocals afiado com a proposta, formado pelas cantoras Larissa Pacheco, Kessy Borges e Sabrina Cordeiro. “Elas suavizam a nossa rudeza, mas não são delicadas. Estão alinhadas com o estilo de blues vibrante que gostamos. É alegre, mas um tanto melancólico”, explica o guitarrista. No disco e em alguns shows, como neste de lançamento, a banda ganha, ainda, a sonoridade da harmônica de Jefferson Gonçalves (http://www.myspace.com/jeffersongonalvesbanda).
O CD é bem produzido, mas é no palco que o resultado da nova formação e do projeto “Haze Hot Blues” ganha razão de ser. E é sensacional. Feche os olhos e você é transportado para um final de tarde, quase noite, o céu vermelho matizado pela fumaça de uma cidade que, depois de um dia de trabalho, se entrega à música. “A gente se inspirou mesmo numa New Orleans que imaginamos perniciosa, quente, cheia de sacanagem no ar. Um porto livre da lei onde as pessoas podem ser sentimentais sem perder a alegria”, revela Cláudio.
O set list traz todas as faixas do novo CD entremeadas com músicas do repertório mais antigo como “Look at Yourself” e “Destino América”. Há, ainda, homenagens a clássicos (como “Mojo Working” e “Mannish Boy”, ambas de Muddy Waters, uma das grandes influências da banda). Lá pelo meio do show, a cantora Sabrina Cordeiro toma o lugar do Eugênio e manda “Chain of Fools” (imortalizada por Aretha Franklin). Pra fechar os trabalhos, as guitarras de Cláudio e Marcelo disputam solos com a gaita de Jefferson numa versão debochada de “Long Gray Mare”, do Fleetwood Mac.
O show é uma clara homenagem ao blues dos anos 30 e sua evolução. Há uma forte presença do rock, principalmente nos solos de guitarra. Para Cláudio isso é natural. “Se você procurar direitinho, vai encontrar influência até do AC/DC neste show. Isso depende muito da bagagem de quem está ouvindo. Nossa base é o blues de raiz, sem desprezar a mistura de tendências que já faz parte do nosso estilo”. Enquanto eles não aparecem na sua cidade para um show, ouça o álbum “Haze Hot Blues”. Como diz uma das músicas do disco: “Go, Go, Go”.
– Shirley Ribeiro (siga @poptals) é jornalista e assina o Poptals (http://popetals.blogspot.com/)
Que maravilha de banda e que maravilha de matéria. Parabéns aos dois (banda e jornalista).
Sucesso aos batalhadores incansáveis da Big Bat que nos apresentam essas maravilhas. Adorei
Que delícia de banda. Ficarei na torcida pelo merecido reconhecimento. Parabéns mana, pela excelente matéria.
Obrigada, queridas Carla, Angela e Ana. Queria acrescentar que, este ano, eles se apresentaram como convidados no Festival de Blues de Rio das Ostras e, no segundo semestre, vão fazer shows em várias cidades. Ficarei de olho nas datas!
Que dica fantástica. Adorei! Quando tiver outras, estou às ordens.
Valeu muito a matéria e a divulgação.
Boa música é bom que esteja sempre à mão.
Só uma coisa: coloquei no FB e parte do pessoal de Vitória interessado e imerso nesse universo achou engraçado – e impreciso, mas ‘na boa’ – o modo como Vitória aparece na matéria. Há uma concordância generalizada de que opções CULTURAIS aqui são poucas, fracas e há que sair garimpando por elas, mas em termos MUSICAIS não é bem por onde anda essa grande falha. Nesses termos aí, até que há boas e diversas coisas… na dependência de lugares decentes para apresentar, divulgação condizente e principalmente – principalmente! – produção, isto é: maquinária, “som” (que não seja de velhas mesas, fiação traiçoeira e caixas taquaras, além de um ‘técnico’ duvidoso). Fora isso, Vitória até que tem opções musicais legais 🙂
A Big Bat é do caramba! Muito bom ver a boa música feita no ES por aqui. Ótima matéria!
Concordo Alexandre. Eu também acho que tem muita gente fazendo excelente música em Vitória e na região toda…o problema é você descobrir. Por esses motivos que você colocou: não há divulgação, não há bons lugares para as apresentações, não há interesse por parte da população…
A Big Bat, por exemplo, é uma banda incrível. Mas eu conheci num barzinho, palco apertado, etc. Mas eles mandam tão bem que eu me apaixonei na hora. E fiquei muito feliz ao vê-los no Sesi, que é um dos poucos bons lugares para shows em Vitória.
Um domingo lindo no RJ, um Whisky ao som da Big Bat, td de bom.