Billy Corgan num mar de incertezas

por Tomaz de Alvarenga

O Smashing Pumpkins trilhou um caminho peculiar nas últimas décadas. Tão peculiar como a cabeça genial e imprevisível de seu líder, Billy Corgan. A história é acidentada e tortuosa, já refletiu em outros álbuns e não seria diferente agora.

A banda, que no início era formada por Corgan (voz e guitarra), James Iha (guitarra), D’Arcy (baixo) e Jimmy Chamberlain (bateria), encerrou as atividades em 2000. Na discografia, um disco medíocre (“Gish”, 1991), um álbum que os apresentou para o mundo (“Siamese Dream”, 1993), um clássico absoluto, não apenas da sua discografia, mas de toda uma década (“Mellon Collie and the Infinite Sadness”, 1995), o CD que sempre será subestimado (“Adore”, 1998) e dois trabalhos dignos encerrando as atividades (“Machina: the Machines of God”, de 2000 e “Machina II: the Friends and Enemies of Modern Music”, lançado no mesmo ano, só na internet).

Então, Corgan acabou com o Smashing Pumpkins e montou o Zwan, que lançou um disco razoável e encerrou as atividades depois. Fez turnê com o New Order. Lançou um álbum solo sofrível (“The Future Embrace”, 2005) que não fez nenhum sucesso e reativou o Smashing Pumpkins, apenas com Jimmy Chamberlain da formação original. Logo depois saia o fraquíssimo “Zeitgeist” (2007). Parecia o fim, mas Billy Corgan é surpreendente.

Em 2010, pouco antes de voltar ao Brasil para um show controverso, um novo Smashing Pumpkins (Billy Corgan e mais três) distribuia na internet (e em vinil) o EP “Teargarden for Kaledyscope”, um sopro de vida neste agonizante retorno. Lançado em três partes, Teargarden for Kaledyscope” revelava uma banda revigorada, com uma sonoridade diferente de épocas anteriores, porém com qualidade. Esta sonoridade é amplificada em “Oceania”, mais recente álbum do grupo.

Billy Corgan (voz, guitarra e teclados), Jeff Schroeder (guitarra), Nicole Fiorentino (baixo) e Mike Byrne (bateria) em alguns momentos até empolgam, mas também erram a mão, mostrando uma banda insegura, navegando em um mar revolto, preenchido por incertezas, apesar de um tom surpreendente positivo das canções. O baterista, mais uma vez demonstra que é bom de serviço (aliás, foi o que salvou o show da banda no Planeta Terra de 2010, de ser um desastre total) e a baixista também surpreende.

“Quasar” e “Panocoption” dão esperanças de que “Oceania” poderia ser um grande álbum. “Violet Rays’ é candidata a hit e flerta com os melhores momentos do grupo. Porém, “The Celestials” é bonitinha, mas esquecível.

Um tecladinho esquisito tenta avacalhar a bela “My Love Is Winter”, mas felizmente não consegue. “One Diamond, One Heart” é brega e chatinha, apesar de ser apaixonada. Sim, você leu “apaixonada”. Billy Corgan agora sorri, os tempos nublados são parte do passado.

Se você conseguir sobreviver aos dois minutos iniciais de “Pinwheels”, irá acabar gostando dela, mas não é fácil, apesar do bom refrão. A faixa-título é um prato cheio para todos falarem mal. São cinco partes, cinco atos distintos, porém interligados, resultando em 9 minutos, ora de beleza marcada pelo folk pop, ora de chatice em uma Jam session de rock progressivo. “The Chimera” é o último bom momento do álbum.

“Pale Horse”, “Glissandra” , “Inkless” e “Wildflower” são outras que tentam engrenar, mas ficam no quase. É a síntese desta nova fase: em algumas músicas, a banda não consegue soar tão pop como no auge e também não consegue ser tão obscura ou “alternativa” para entreter o fã.

Billy Corgan parece mais feliz, mas vai ter que navegar contra a maré, pois Oceania não está para peixe. Muito menos para abóbora.

Preço em média: R$ 50 (importado)
Nota: 6

– Tomaz de Alvarenga (@tomazalvarenga) é colaborador do jornal Estado de Minas e escreve para o blog Contratempo

Leia também:
– Smashing Pumpkins, “Zeitgeist” e a volta do rock burro, por Marcelo Costa (aqui)
– As deluxe editions de “Gish” e “Siamese Dream”, Smashing Pumpkins, por Mac (aqui)
– Planeta Terra: não há mais espaço para os solos de bateria do Smashing Pumpkins (aqui)

28 thoughts on “Billy Corgan num mar de incertezas

  1. Gish não é mediocre mesmo! Belo disco. Acho que o Oceania também é um belo disco, me pareceu um apanhado de todas as fases da banda. E não consigo parar de ouvir “My love is Winter”. Mas já vi muita gente em revistas e blogs descendo a lenha.

  2. Oceania é um belo disco, com momentos irregulares mais também com momentos grandiosos. O disco é o reflexo do Billy Corgan atualmente, um cara incomodado com o que se transformou o mundo da música pop atualmente. Tanta coisa descartável sendo venerada por aí que eu acho que Oceania merece a atenção de todos.

  3. Po, nossos gostos são bem diferentes mesmos, acho o gish um dos melhores albuns do SP e The celestial uma das melhores do novo cd. Esse cdzinho novo a cada audição parece ficar mais interessante. A coisa que mais me incomodou no Oceania foram as batidas… a diferença entre o Jimmy e essa garoto novo é monstruosa! Eu senti falta daquelas viradas monstruosas de antigamente…

  4. Eu acho que há duas coisas em Oceania que a média dos críticos de rock de hoje não gosta/não entende: megalomania e progressivo. Tomaz, por favor, não falo de ti, falo do que leio por aí, gente que não entende os conceitos básicos da coisa e que espera que o artista fique parado no tempo.
    A única coisa que eu discordo é sobre o Gish ser medíocre. Não tivesse sido ele lançado no mesmíssimo dia de Nevermind, teria mais reconhecimento de todos. É um discaço, torto, estranho, grunge e diferente ao mesmo tempo.

  5. Nem ouvi o disco com calma ainda (trouxe tanta coisa da viagem que a fila aqui está grande), mas vou dizer que essas duas palavras me causam arrepios, CEL: megalomania e progressivo.

    Tudo bem que o próprio Corgan já provou que é possível tirar leite de pedra da megalomania (se não fosse esse ingrediente, provável que Mellon Collie não fosse tão sensacional), e que um texto seu mesmo aqui no Scream mostrou que progressivo não é o bicho de sete cabeças que pintam por ai.

    A questão é que tanto megalomania quanto progressivo são caminhos escorregadios que, caso o cara não saiba trilhar, é fácil demais de escorregar. É preciso conhecer bem essas estradas para que o produto final não entorne, e Billy Corgan já se provou bastante maluco nos últimos 10 anos… Tenho os dois pés atrás com esse cara :~

  6. Adorei os comentários! Sobre o Gish, bom, gosto pessoal é aquela coisa, né? Não acho o disco ruim, está longe disso, mas acho que Siamese Dream já demonstrou uma maturidade na sonoridade da banda, uma evolução de encher os olhos ops, ouvidos. Gish é cru, grunge em estado bruto, tem boas canções sim, mas no geral, não me apetece.

    Sobre o progressivo, caríssimo CEL, entendo seus argumentos. Só acho que Billy Corgan pode explorá-los nos shows, quando faz(ia) isso muito bem. Tenho um bootleg de 96, e a versão que a banda fazia para “Porcelina of Vast Oceans” de sei lá, mais de 12 minutos, me arrepia até hoje. “Arrepiar” para o lado bom, não o “arrepio’ que o Mac escreveu rs.

    Sobre os bateristas, acho o Jimmy mais criativo no estúdio, sabe variar mais nos arranjos (aí afirmo como um baterista medíocre/ruim, mas que já tocou, em tempos remotos). Mas esse moleque (é um moleque ainda) é promissor e pode se tornar um ícone, só rodar mais pelas estradas e quebrar mais baquetas.

    O mais engraçado é que pensei que todos fossem questionar o porquê de eu admirar o “Adore”, mas todos focaram no “Gish” hahahaha.

  7. “Adore”, para o Eduardo Palandi, é uma das obras-primas dos anos 90…

    Eu gosto bastante, mas Mellon Collie, pra mim, é a obra-prima.

  8. Gish é mediocre??? O disco tem Tristessa, pelamordedeus!!! E Siva!!! Mas o melhor mesmo é sem dúvidas Pisces Iscariote. Haters gonna hate.

  9. O Eduardo Palandi não conta… KKKKKKK. Escreve texto pra dizer que Arctic Monkeys salvou o rock e que a obra-prima do Radiohead é o Pablo Honey… é a cara dele achar Adore (que não é um disco ruim) uma “clássico” dos anos noventa… No mais, to contigo Mac, Mellon Collie é um dos poucos exemplos recentes no rock (ainda mais em se tratando do abóbora careca) de megalomania que deu certo… Quanto ao disco novo, acho que não tenho mais paciência pros pumpkins não…

  10. Eu gosto muito da quadra Gish-Siamese-Mellon-Adore. Poucas bandas nos anos 90 – e em muitas décadas – foram capazes de produzir tanta música boa. Claro que o Corgan pisou na bola muitas vezes depois disso, a redenção vem nesse Oceania. Mas, sim, há megalomania, progressivices e tal, mas, do contrário, não seria o Corgan, né?

  11. Concordo, CEL. A megalomania e o egocentrismo fazem parte da personalidade do Corgan. Mas acho que nem sempre ele acerta. Em “Adore”, ele acertou em cheio, é um disco praticamente dele. E que cada dia, vão dar mais valor, é candidato fortíssimo a uma futura aclamação, quiçá unanimidade. E “Mellon Collie”, é obra-prima, um dos 10 álbuns fundamentais dos anos 90, álbum de referência e ponto final.

    Acho que o recente álbum solo do James Iha, “Look to the Sky” reforça a discussão sobre o que acho que “faltou” em “Oceania”. Não que ele fosse fundamental aos Pumpkins, mas era um bom “contraponto” a tudo o que Corgan fazia. É o que percebo do ‘Machina’ pra cá. A banda perdeu, digamos na “amplitude da composição”.

    Até escrevi, bem brevemente, pro meu empoeirado blog a respeito: http://www.dzai.com.br/contratempo/blog/contratempo?tv_pos_id=104832

  12. Tb concordo com o Carlos Eduardo em relação a quadra, que teve, na minha opinião, uma qualidade crescente, mas que porém decaiu em adore, que apesar de eu achar bom, eu acho pior que o Gish. Eu tenho um carinho muito grande pelo Machina, pois foi o primeiro cd do SP que eu comprei qnd tinha 15 anos em 2000. Mas eu acho que desde do adore a banda parou de ser uma BANDA para ser só as vontades do vocalista . Prefiro aquele SP com um corgan cabeludo, com roupas listradas berrando igual um louco, do que um corgan careca de sobretudo preto e visual gótico e sombra nos olhos… A verdade é que a banda nunca mais será a mesma dos três primeiros discos enquanto o Corgan for um egocentrico que se acha

  13. É, também acho que o Gish é um ótimo disco. Gosto muito de todos até o Machina, inclusive aquele de lados B.

  14. Bem bacana esse texto e reflete o que realmente é o Samshing Pumpkins: uma banda em dois momentos e gosto do momento atual. “Oceania” está longe de ser uma obra prima, mas aos meus ouvidos parece ser uma banda (mesmo que de um homem só) que tá tentando se reiventar, e corre riscos… o mesmo risco que correu com o “Mellon Collie” que desaguou no “Adore” que eu também acho subestimado. Aos meus ouvidos, dessa nova fase, já é o melhor disco deles… Hehehehehehehehehehe

  15. Ainda nem ouvi o novo, mas depois dos dois ultimos nem sei se dou uma chance, o Zeitergeist é horrivel, e o Machina sofre dessa sindrome megalomaniaca do SP de que tudo tem que ser epico, longo, progressivo… o disco é cansativo demais.

    Mellon Colie sempre sera o classico deles, mostra varias facetas da banda, de rocks pesados ate simples e belas baladas, o Siamese tbm não fica atras.

    O Gish é bom, mas apenas isso, o disco é monotono e arrastado as vezes, mas tem Rinocerous pra salvar, o mesmo pode se dizer um do Adore.

  16. Ainda não ouvi Oceania, mas discordo completamente quanto a “Gish”, pois acho o mesmo um baita disco…

  17. Parabéns pela audácia, Alvarenga: Gish é realmente um disco medíocre. É um exemplo de cd que foi elogiado na antiga Bizz/Showbizz, provavelmente por um freela (neste caso, por uma garota, se não me falha a memória) e que, talvez por isso, muita gente o idolatre até hoje, vai saber…

    Sobre os SP, só posso endossar o que já foi dito: Mellon Collie é o melhor disco da banda e um dos melhores discos da história do pop/rock. Ponto final e bola pra frente.

  18. Cara, Adore é um dos discos do SP que mais gosto, concordo que Zeitgest é fraco, mas o Gish pra mim é espetacular… ainda não ouvi o novo, tô louco pra sacar, espero que saia no Brasi l…

  19. Junto-me a todos aqueles que não acham Gish um disco medíocre – ele passa muito longe da mediocridade. Junto-me também àqueles que gostam do Adore; se ele não tivesse vindo logo após o Mellon Collie, talvez não tivesse sido dissecado por olhares – ops!, ouvidos, tão críticos.

  20. Ah! Uma das participações especiais em Os Simpsons de que mais gosto é a dos Pumpkins no Hommerpalooza. O domínio que a banda exerce sobre a platéia é incrível.

  21. Gish medíocre, Zeitgeist fraquíssimo e Teargardem com qualidade? Discordo de todas. Mas quanto ao Oceania, concordo, apesar de ter excelentes momentos as vezes ele tenta equilibrar aquela elementos demais e cai no exagero.

  22. Após escutar o disco algumas vezes, posso dizer que eu gostei, está bem longe do Smashing Pumpkins já foi mas não é disco ruim.

  23. Gish – Nota 8
    Siamese Dream – Nota 9
    Pisces Iscariots – Nota 7
    Mellon Collie – Deeeeezzzzz, Nota Deeeeezzzz
    Adore – Nota 8
    Machina – Nota 7
    Zeitgeist – Nota 7 (Eu gosto bastante desse disco!!!)
    Teagarden – Não ouvi esses, apesar de ter baixado os dois
    Oceania – Nota 8
    O disco solo do Corgan não é digno de nota!!!!
    Os do James Iha são nota 8.
    E o Jimmy Chamberlin Complex merece um 7.

  24. Gish? Essa é a obra-prima incompreendida do SM que teve apenas dois grandes álbuns, incompreensiveis, Siamese Dream e Mellon Collie, o primeiro um grande álbum e o segundo uma obra-prima, obras julgadas na velocidade da luz.

  25. Ouvi com calma o “Oceania” e gostei bastante da maior parte do álbum (assim como vinha gostando de muita coisa do “Teargarden for Kaledyscope”. Ainda assim espero nunca presenciar “Oceania”, a faixa título, ao vivo. Mas o disco tem coisas muito boas e de maneira alguma mancha a história da banda.

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