por Marcelo Costa
“Hotel Sessions”, The Lemonheads” (Hall of Records)
“Eu sempre quis lançar um álbum de 53 dólares: 50 dólares do walkman e 3 da fita cassete”, explica Evan Dando no encarte de “Hotel Sessions”, disco que reúne 14 canções tocadas por ele ao violão e gravadas por amigos via walkman em um hotel da Austrália numa manhã de dezembro de 1992 (ou fevereiro de 1993 – ele não se lembra). Soa meio picareta, mas tem lá seu atrativo. Desta forma, tudo que caracteriza um bom bootleg (e um pouco mais) está aqui: o chiado da fita, o barulho dos carros/motos na rua, a simplicidade do arranjo acústico, a conversa do músico com os amigos. O repertório é praticamente composto pelo que viria a ser “Come On Feel The Lemonheads”, o belo disco que a banda lançaria em outubro de 1993. Estão aqui “Big Gay Heart” (“Ela necessariamente não representa todo o (novo) disco”, apressa-se em explicar), “The Great Big No” (“É sobre desapontamento e morte”), “Its About Time” (“Essa foi escrita para Juliana Hatfield”), “Down About It” e, claro, “Into Your Arms”, que Dando declarou preferir essa versão à gravada no álbum (bobagem, claro). Tem seu charme, mas é um rascunho de caderno de um grande quadro exposto em museu.
Nota: 6
Preço em média: R$ 50 (importando – incluindo possíveis taxas)
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“False Beats and True Hearts”, Damon & Naomi (Hinote)
Uma guitarra áspera apita durante quase 15 segundos deixando a impressão de que o álbum errado foi colocado para tocar, mas então surge a voz inconfundível de Damon Krukowski acompanhada do backing suave de Naomi Yang, e “Walking Backwards”, a primeira faixa, começa a fazer sentido. Damon & Naomi retornam acompanhados outra vez do guitarrista Michio Kurihara (que continuará infernizando com belos riffs a melodia da faixa de abertura e de outras canções, como “What She Brings”) e ainda sax, piano e trompete, para nove elegias musicais que parecem lágrimas batendo na janela num dia de chuva. Em “How Do I Say Goodbye”, piano, violão e trompete fazem a cama para que Naomi tente descobrir a melhor maneira de dizer adeus. O clima intenso de “Shadow Boxing” fala em peixes que se afogam enquanto Naomi questiona memórias em “And You Are There”. Em “Ophelia” é a vez de Damon lamentar: “O que é passado para você é arrependimento para mim”. Os anos passam e Damon & Naomi continuam imbatíveis na categoria de trilha sonora para melancolia.
Nota: 7,5
Preço em média: R$ 50 (importando – incluindo possíveis taxas)
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“Anatomy”, Drugstore (Rocket Girl)
Em 2002, pouco após o lançamento de seu terceiro álbum, “Songs for the Jet Set”, o Drugstore anunciou uma pausa, que se estendeu durante “sete anos sombrios”, segundo Isabel Monteiro, com a brasileira tendo de enfrentar do fim de um romance à perda de seu próprio apartamento, em Londres, onde vive desde 1990. As coisas começaram a clarear em 2009, quando em uma nova casa, e de posse de um gravador portátil, ela começou a gravar as bases deste “Anatomy”, acompanhada de “café, pão, vinho e dois pacotes extras de Marlboro Lights”. E, depois, por uma guitarra ofertada por um fã num ato de bondade. O resultado desta dramática epopeia pessoal é um disco intimista, recheado de baladas emocionais ao violão. Não espere então riffs sujos. Embora a guitarra (de Tito Cordeiro, do Blemish) marque presença em boas faixas como “Sweet Chili Girl” e “Standing Still”, o clima é “dolorosamente íntimo, desavergonhadamente simples, devastadoramente triste”, nas palavras da cantora. As belas “Lights Out”,” Sinner’s Descent”, “Aquamarine” e “Blackholes & Broken Hearts” confirmam: há esperança e beleza na tristeza (e na vida).
Nota: 8,5
Preço em média: R$ 50 (importando – incluindo possíveis taxas)
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– Drugstore ao vivo em Londres, maio de 2010, por André Fiori (aqui)
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Agora escute esta: o Marcelo Silva Costa (Taubaté, SP) conta que, inspirado pela coluna sobre o festival inglês V’97, resolveu mandar um e-mail para um brotinho de quem ele gosta, mas não cruzava fazia um tempo. Espero que tenha rolado.
Rolou Mac? hehehe
Rolou uma história longuíssima… risos
Achei esse disco do Evan Dando chatísssimo…ehehe. E olha que o Lemonheads é uma das prediletas da casa.