por Tiago Faria
Nos anos 90, o Imperial Teen se tornou relativamente conhecido graças a dois motivos que nunca foram lá muito importantes: num primeiro momento, as revistas de música pareciam todas curiosas para conhecer o “projeto do tecladista do Faith No More”; e, além disso, se falava sobre uma certa (hum) “sensibilidade gay” da banda — já que o tecladista do Faith No More, Roddy Bottum, escrevia com naturalidade sobre sexo, mais ou menos como quem relembra as atividades do primeiro dia de aula, ou de uma sessão de cinema particularmente marcante.
Acontece que, com o passar do tempo, o Imperial Teen deixou de ser tratado como uma banda “sui generis” para ser encarado simplesmente como um quarteto de rock. O que pode ser um golpe dolorido, um trauma profundo, se você é daqueles que entram em parafuso quando passam algum tempo sem sair na capa da Spin (revista que, aliás, incluiu o primeiro disco do grupo na lista de 50 melhores discos de TODOS OS TEMPOS).
Mas (ufa), o Imperial Teen não se deixou esmorecer pela ideia de desaparecer lenta e completamente na mídia, e seguiu gravando discos cada vez menos “quirky” e mais (apararentemente) diretos & retos. Hoje, a maior ambição da banda talvez seja criar álbuns de power pop e new wave como os mais recentes do New Pornographers: polidos porém vívidos, profissionais e inofensivos SIM, ainda que não automáticos; disquinhos que nos iludem com artifícios banais para, após repetidas audições, mostrar que contêm canções perenes, sérias, por vezes tristes, falsamente juvenis, feitas para durar mais de um verão.
“Feel the Sound” (noves fora o título pretensioooso) é o mais próximo que o Imperial Teen chegou desse modelo de álbum. As faixas centrais são as que nos conquistam de primeira (“Last to Know”, “Out from Inside” e o lindo encerramento “Overtaken’), mas é aos poucos, sutilmente, que os temas do disco vão subindo à areia — e a trama que ele narra, after all, é sobre uma banda não tão inocente, com 16 anos de carreira, talvez em crise, talvez preocupada, tentando sobreviver ao pop. “Várias canções que cantamos ainda não são cantadas. Outro sonho que não foi escrito: o disco está pronto”, e eles resumem tudo, em “It’s You”.
O risco desse formato de álbum é que ele facilita a confusão entre ser profissional, “sofisticado”, e repetir fórmulas banais. O Imperial Teen às vezes comete esses erros (que nota-se também nos mais recentes do New Pornographers), mas consegue o que outros velhos “teen” (Teenage Fanclub, Sonic Youth) andam devendo: fazem um disco ainda cheio de aflições, engenhoso (novamente: uma obra de adultos), o oposto do que se espera de uma banda que se acomodou. Este som ainda é uma boa (e digna) ideia de diversão.
– Tiago Faria (siga @superoito) é jornalista e escreve no http://superoito.com