1000 toques por Marcelo Costa
“El Camino”, The Black Keys (Nonesuch/Warner)
Com o número 1 na Billboard e o posto de headliner do Coachella 2012, o Black Keys alcançou o primeiro escalão do rock mundial, conquista que começou a ser planejada quando o duo convocou Danger Mouse para produzir seu quinto álbum, o ótimo “Attack & Release”, de 2008. Na sequencia veio o brilhante “Brothers” (2010), que preparou o terreno com maestria para “El Camino”, tal qual uma bela troca de passes que termina em gol. Porém, “El Camino” é um belo gol, mas não um gol de placa. Danger Mouse conseguiu aparar todas as arestas da dupla e, junto ao duo, entregou um disco atlético, vigoroso e dançante que mostra como o rock pode ser básico, primário e divertido, o que bastou para colocar o grupo no panteão dos grandes grupos da atualidade, mas Dan Auerbach e Patrick Carney vão ter que suar a camisa no próximo disco para manterem-se relevantes, afinal sucesso não confirma qualidade/criatividade – o primeiro escalão está repleto de figuras como o inexpressivo Kings of Leon, o inofensivo Coldplay e o divertido Foo Fighters. O Black Keys pode mais e por enquanto basta cantar e dançar “Lonely Boy”, “Dead and Gone”, a zepelliana “Little Black Submarines”, “Run Right Back” e… o disco todo. Mas eles vão precisar se reinventar…
Nota: 8,5
Preço em média: R$ 30 (lançamento nacional)
Leia também:
– “Attack and Release” eleva o blues rock aos céus, por Marcelo Costa (aqui)
– Som baixo frustra show do Black Keys no Coachella 2011, por Marcelo Costa (aqui)
“Rave On”, tributo a Buddy Holly (Fantasy/Concord)
Um dos grandes nomes do início do rock and roll, morto aos 22 anos em um acidente de avião em 1959 que também vitimou Richie Valens (do clássico “La Bamba”), Buddy Holly é responsável por um repertório de clássicos incontestes. Dono do catálogo do músico, Paul McCartney costuma realizar anualmente um Buddy Holly Day, e esse sensacional “Rave On” tem a benção do ex-beatle, que faz uma versão sujona para “It’s So Easy”, um dos vários grandes momentos de um tributo que ainda tem Fionna Apple fofinha com a doce “Everyday”, Florence Welsh tentando estragar “Not fade Away” (que prova ser uma canção resistente), Patti Smith numa versão pastoral de “Worlds of Love”, Lou Reed (com a esposa Laurie Anderson no violino) colocando uma tonelada de peso sem delicadeza em “Peggy Sue”, She & Him voltando aos fifties com “Oh Boy!”, Karen Elson (com o ex-marido Jack White na bateria) posando de musa country em “Crying, Waiting, Hoping” e Julian Casablancas ass(ass)inando a faixa título (mas ela também sobrevive). Acabou? Não. Ainda tem Black Keys (sem Danger Mouse), Modest Mouse, Cee Lo Green, My Morning Jacket (com a linda “True Love Ways”), Graham Nash, Nick Lowe, The Detroit Cobras e mais em um tributo intimidador.
Nota: 8,5
Preço em média: R$ 45 (lançamento importado)
Leia também:
– “Vou Tirar Você Desse Lugar”, Tributo a Odair José, por André Fiori (aqui)
– Tributos ao R.E.M., aos Beatles e à América Latina, por Marcelo Costa (aqui)
“Long Live The King”, The Decemberists (Capitol)
Após o grande sucesso de “The King is Dead”, Colin Meloy anunciou que o Decemberists estava entrando em férias: ele iria se dedicar a escrever livros enquanto os outros membros se dedicariam a projetos paralelos e a multi-instrumentista Jenny Conlee se recuperaria do tratamento do câncer de mama (já curado). Os fãs receberam com receio o anúncio, e Colin Meloy trata de acalentá-los com este EP de sobras e b-sides, que abre com “E. Watson”, canção de narrativa densa baseada no personagem do livro “Killing Mister Watson”, de Peter Matthiessen, segue com a disfarçadamente suave “Foregone” (cujo refrão alerta: derramar sangue é inevitável), passa pela pesada “Burying Davy” (não só a música, que revisita a fase folk progressiva de “The Hazards of Love”, mas também a letra com parentes enterrando o tal Davy do título) e pela demo crua, acelerada e festeira de “I 4 U & U 4 Me” (que, mais uma vez, aproxima o Decemberists do R.E.M.), com todos os instrumentos tocados por Colin. A longa “Row Jimmy” (versão para o original do Grateful Dead) parece um jam session folk, mas o melhor ficou para o final, “Sonnet”, poema de Dante Alighieri musicado por Meloy, uma faixa empolgante que está no nível dos melhores momentos de “The King is Dead”. O Rei está Morto. Longa vida ao Decemberits.
Nota: 8,5
Preço em média: R$ 40 (lançamento importado)
Leia também:
– “The King is Dead”, The Decemberists: um disco belo e atemporal, por Marcelo Costa (aqui)
– Show: The Decemberists ao vivo em Columbus, Ohio, 2011, por Marcelo Costa (aqui)
Felicíssima análise sobre os Black Keys, sem entrar na empolgação por vezes exagerada da mídia e dando o merecido mérito por mais um trabalho de qualidade da dupla. E concordo mais ainda com a questão de se reinventar: os últimos 3 álbuns são excelentes, mas um quarto na mesma linha vai soar repetitivo. Vamos aguardar
Acho que o The Black Keys já abraçou essa onda de ‘banda gigante’.
Não digo isso pelos comentários rígidos (e corretos) sobre o Nickelback, mas no próprio som dos caras já fica perceptível aquela grandeza intimidadora, aquele som que foi composto justamente para fazer barulho, lotar estádios, proporcionar dancinhas, para ser cantarolada junto ao público com direito a ‘paradinhas’…
Digo isso porque eles têm uma carta na manga: finalmente encontraram a fórmula, a partir de uma estética aprimorada do som dos White Stripes.
E não é uma coisa ruim. Não é nada mal saber que uma banda de qualidade almeja a grandiosidade pop. O único que pode reclamar com tudo isso é o nosso bolso: se estes caras realmente vierem ao Brasil, como se especula, não vai ficar nada barato.
Qualquer coisa, coloquem a culpa no Danger Mouse.
Abraço!
Mas já com aquela coisa de “eles vão ter que se reinventar”.Eu acho que você deveria pensar em como conseguiram o primeiro lugar na Billboard com o SÉTIMO album,como conseguiram uma capa na Rolling Stone e como estão no Coachella,quiçá nos festivais daqui.Calma,Mac,o ano tá começando e vai ter muito disquinho ruim pra você comer,viu?hehe.Não precisa descontar nos caras.
Sim,o disco é muito foda,seria uma boa a Warner lançar os outros dois anteriores,que são tão bons quanto e também aquilo que falei,fazer uma turnê aqui.
Achei equivocada a análise de “El Camino”, Marcelo. A crítica foge do disco em si e fica na esfera da especulação de um próximo álbum. Acho o álbum em si fantástico, para mim o melhor de 2011 e um descanso nessas badinhas indies com mais estilo que música. Se o próximo irá manter o nível, é assunto para quando estivermos enjoado das 11 novas músicas deste lançamento, o que no meu caso vai demorar.
Pedro, é mais ou menos nessa linha. Vamos esperar.
Tiago, eles buscaram isso ferranhamente, tanto que algumas declarações estão soando equivocadas (“Eu queria ganhar dinheiro vendendo disco”, é uma). E eu acho que almejar a grandiosidade pop de um modo artístico é uma coisa (tai o Radiohead como exemplo), pensando no bolso deles é outra. Mas é um baita disco, sem dúvida.
Fernando, é exatamente isso que estou pensando. Como eles conseguiram: contrataram um produtor fudido no quinto álbum, que foi amaciando o som deles até deixa-lo depurado o suficiente para as massas consumirem. E isso está no texto. Não é questão de descontar, mas sim de analisar o contexto. É um belo disco. Está no texto. É um disco para se cantar e dançar todas as múisicas. Está no texto. Mas discos para se dançar e cantar Chuck Berry já fazia 50 anos atrás. Um disco óbvio de lugar comum (mesmo sendo recheado de grandes canções) não me interessa como crítico, mas sim como ouvinte. Como crítico me interessa saber se eles vão conseguir segurar a barra de estar em um cenário de mainstream que vários pares deles não significam nada. Sucesso não significa qualidade. Também está no texto. Abraço
Luciano, no seu caso vai demorar. No meu, não.
Caro Marcelo, diante de tua argumentação, eu fico pensando na seguinte equação: se daqui alguns anos o Black Keys lançar o próximo disco e no mesmo houver canções excelentes (no quesito melodia, ritmo, letras), uma execução/arranjos inspirados, mas a produção for novamente do Danger Mouse e não trazer novidades em termos formais, isso representará que o disco não foi válido ou relevante? De qualquer forma, a discussão que está ocorrendo agora parece oposta àquela que houve ao se discutir aqui no teu site sobre o último disco da Gal Costa (a obrigação ou não de se inovar, etc). Acho que essa questão da originalidade/inovação é algo meio complicado de se discutir no mundo do rock and roll, afinal houve na sua história várias bandas e cantores que ficaram lançando basicamente o mesmo disco por vários anos e de certa forma isso não era muito demérito. É claro que é importante que tenham aqueles artistas que quebram paradigmas, é necessário que haja mudanças, mas não acho que isso necessariamente tenha de ser o caso do Black Keys para que eles continuem sendo relevantes.
Ou seja, André, se eles virarem os Ramones e lançarem sempre o mesmo disco? 🙂 Enquanto tiver boas canções, vamos cantar e dançar, eles vão continuar sendo uma grande banda, mas nunca vão ser “a” banda. Existe uma linha que separa Coldplay, Foo Fighters e Kings of Leon de, por exemplo, Radiohead. O Black Keys está exatamente no meio dessa linha, e parece que eles podem pular pro lá de cima do andar, e o que fizeram até agora é um caminho calculado (ao contrário de, por exemplo, Wilco, Flaming Lips, Decemberists, que se notabilizaram por fugirem do óbvio em algum momento de suas carreiras). Mas, sim, pode ser que eu esteja esperando mais da banda do que a banda pode oferecer. E se olharmos para eles deste jeito, a depuração buscando o sucesso é mais complicada do que julgávamos… uma coisa é você alcançar um status que o permita fazer o que quiser. A outra é buscar status pelo status. Afinal, mesmo quando Mick Jagger cantava “I know it’s only rock ‘n’ roll but I like it”, sabíamos que era mais que isso. Não? 🙂
Artistas que inovam a cada trabalho têm de fato mais moral no mundo artístico. Afinal, inquietação e arte são duas palavras que andam juntas.
Mas há de fato bandas/artistas que ficam numa mesma frequência(ótima) quase que toda as suas carreiras e lhes caem muito bem.
Se o Ramones fosse querer “evoluir” talvez estragasse e passasse vergonha. Já os Beatles, se ficassem eternamente no Iê Iê Iê seria um baita desperdício.
É bom existir todo tipo de gente/artista. Tá meio que na cara de cada um o que eles podem ou não fazer.
Como diz o título do filme:
A pessoa é para o que nasce.
PS: Não conheço o Black Keys por isso não vou opinar de qual time eles são.
Black Keys não conheço, portanto não tenho opinião sobre eles nesse quesito de que tipo de banda eles são (ou serão). Mas ao mesmo tempo entendo perfeitamente o ponto de vista do Mac em relação ao Coldplay, Radiohead, Wilco, etc. E de certa forma concordo (com exceção dessa bobagem dos Ramones sempre lançarem o mesmo disco, rs).
Eu não acho que o caminho do Black Keys foi calculado. O início deles é de banda despretensiosa.
E aí veio o Brother, que pra mim foi o YHF deles, trazendo algo inesperado. Só nisso já dá pra descartar eles virarem Ramones/ACDC.
Já esse El Camino é o disco do camelo na capa. Ainda tá bom, mas eu esperava bem mais.
Se fizerem a mesma coisa por duas décadas e serem tão importantes para o mundo da música como The Ramones…tá bom demais!
Como é bom esse tributo ao Buddy Holly!