por Tiago Faria
“Wild Flag”, Wild Flag (Merge Records)
O último disco do Sleater-Kinney era um prédio implodindo, e soava mesmo como a desintegração sofrida de uma longa história. A estreia do Wild Flag (quarteto com Carrie Brownstein e Janet Weiss, ambas ex-Sleater) bate como uma espécie de renascimento: um bebezinho eufórico e hiperativo, sorrindo, batendo palminhas, cuspindo purê e descobrindo a beleza que existe nos discos do papai punk. As roqueiras-on-board não são mães de primeira viagem, e poderiam muito bem ter criado um disco calculadamente animadíssimo. Mas não. O Wild Flag passa uma impressão muito firme de que elas reaprenderam a se divertir, e o que se ouve é um recomeço a sério. “O som é o sangue entre nós dois”, elas cantam, logo na primeira faixa. E são as canções mais simplezinhas (como “Boom”, digamos) que se alastram com mais força – e o que seria apenas um disco back-to-basics, com os limites estreitos de uma garagem de quitinete, se torna um álbum que tenta (e consegue) recuperar um sentimento de estreia, de debutar graciosamente. Bonito.
Preço em média: R$ 45 (importado)
Nota: 7,8
“Era Extraña”, Neon Indian (Mom & Pop Music)
É aquela história que vocês conhecem: há os discos sobre a adolescência (“Boys and Girls in America”, por exemplo) e os discos adolescentes (que se comportam inconscientemente como meninos de 15 anos). Este do Neon Indian parece pertencer ao segundo grupo e não faltam bipolaridades teenager ao disco: apesar de atender por “Era Extraña”, ter sido gravado na solidão de um inverno congelante (na Finlândia) e soar dodói, ferido pela contemporaneidade (“Future Sick” é a faixa-tema), também é um álbum empolgadíssimo com tudo o que está up-to-date na indielândia: cada música dá lambidinhas numa referência cool, do synthpop ao shoegazing, tudo amplificado e colorido pela mixagem de Dave Fridmann (aqui, mais para MGMT que para Flaming Lips). Tudo muito pulsante, às vezes cansativo de tão pulsante, às vezes genuinamente juvenil (Alan Palomo tem só 23 anos), às vezes viciante mesmo (“Suns Irrupt”, grude bonito), com repulsa/ tesão por tudo o que brilha nos trending topics. Um disco que será acusado de tudo (novidadeiro e superficial), e talvez seja todo tolo mesmo. Mas se mantém vivo graças a uma energia meio pueril, adolescente (de usar o pop como balão de oxigênio), e dentro dessa fiação elétrica corre sangue – sangue purinho, inocente, mas sangue.
Preço em média: R$ 45 (importado)
Nota: 7,1
“The High Country”, Richmond Fontaine (El Cortez Records)
Os discos anteriores do Richmond Fontaine (como “Post to Wire” e o ótimo “The Fitzgerald”) podem ser lidos como livros de contos, com canções independentes (tramas) que comunicavam sutilmente entre elas. O novo arrisca com um projeto diferente: o que era coletânea de contos agora vira uma espécie de romance beat, com personagens que aparecem e desaparecem entre uma faixa e outra, melodias que alinham cenas, numa estrutura com algo de cinematográfica (tem cena pré-créditos, sequência de ação, momento intimista, clímax…). O repertório de temas daria uma fita indie americana bem previsível: violência doméstica, dramas de “gente comum” em paisagens interioranas e um script com tragédias waiting-to-happen, bem à moda da Fox Searchlight. Como acontece com esse tipo de disco-filme-novelão, a trama às vezes se impõe sobre as canções, a música (mesmo nos belos lamentos country que eles escrevem até dormindo) vai a reboque da ficção. É quando dá a vontade de desligar o disco e ver o filme (ou ler o livro, ou ouvir Johnny Cash).
Preço em média: R$ 45 (importado)
Nota: 5,9
– Tiago Faria (siga @superoito) é jornalista e assina o blog Meu Nome Não É Superoito