por Adriano Costa
“SuperHeavy”, SuperHeavy (Universal)
Junto a Joss Stone, Dave Stewart (ex-Eurythimics), Damian Marley (um dos trocentos filhos de Bob Marley) e A.R. Rahman (compositor da trilha de “Quem Quer Ser Um Milionário?”), Mick Jagger (daquela banda) desembarca com a estreia do SuperHeavy misturando pop, reggae, rock e influências multiculturais em busca de uma nova sonoridade. Se isso chegou a acontecer foi para o lado ruim. “SuperHeavy”, o álbum, é uma intensa confusão de ritmos, vocais e pretensões, que ao objetivar colocar em cada música pelo menos um pouquinho do universo de cada artista, resulta em trapalhadas. Jagger não convence em “Unbelievable” e soa constrangedor em “One Day, One Night”. “Energy” usa diversas fórmulas e não se dá bem em nenhuma. Em “Satyameva Jayathe”, que tem vocais cantados em urdu, tudo começa bem, mas a miscelânea estraga tudo. O rock insosso “I Can’t Take It No More”, a balada mela cueca “World Keeps Turning” e o pop retrô forçado “Rock Me Gently” estão entre os momentos esquecíveis do disco. Com boa vontade salvam-se o reggae moderninho da faixa-título, a balada “Never Gonna Change” (cantada por Jagger) e o single “Miracle Worker”, com Joss Stone bem no balanço de um reggae com intervenções de Damian Marley. No fim, as composições simples rendem os melhores momentos. Pra que inventar?
Preço em média: R$ 35 (nacional)
Nota: 3
“Black Rainbows”, Brett Anderson (EMI)
Após o fim do Suede (e do The Tears), Brett Anderson se aventurou numa carreira solo que começou muito bem com o disco homônimo de 2007, mas murchou bastante em “Wilderness” (2008) e, principalmente, em “Slow Attack” (2009). O músico, que sempre trouxe sofrimento pessoal e amoroso para suas letras, parecia mergulhar cada vez mais num período negro e sem muita inspiração. “Black Rainbows” vira o placar desse jogo e é impossível desassociar esse crescimento do retorno do Suede. Apesar de boa parte das canções já estarem compostas ou pelo menos rascunhadas, a sonoridade em torno delas é mais intensa, com mais guitarras e vestes apropriadas do rock inglês. As letras ainda exibem problemas amorosos e um pouco de falta de fé, como prova a abertura com “Unsung”. Porém, o nível com que elas se elevam é menor do que outrora. Até o antigo cinismo pede licença e retorna nas ótimas “Actors” e “In The House Of Numbers”. “Black Rainbows” ainda exibe outras belas passagens como “Brittle Heart”, que serve para quebrar frágeis sentimentos, ou “Possession”, a única balada propriamente dita do álbum, além do encontro do The Cure com Duran Duran em “Crash About To Happen”. “Black Rainbows” mostra um dos músicos mais talentosos da sua geração novamente com centelhas de criatividade. E cantando muito.
Preço em média: R$ 50 (importado)
Nota: 7
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“Outside Society”, Patti Smith (Sony)
Na canção “Rock n’ Roll Nigger”, de 1978, Patti Smith dizia que queria ficar fora da sociedade – e ela conseguiu. Não por acaso é justamente dessa canção – que ainda chamava Jesus Cristo e Jason Pollock de negros – que foi retirado o nome desta compilação que abrange a obra da artista desde a clássica estreia com “Horses” (1975) até o último disco de estúdio, “Twelve” (2007). São 18 faixas extraídas em ordem (quase sempre) cronológica dos seus dez discos de estúdio resultando em uma daquelas raras coleções de sucessos que não soa desnecessária. É o retrato de uma mulher que foi chamada de musa do punk rock e está prestes a completar 65 anos prezando constantemente pela identidade do seu trabalho. Canções mais conhecidas como a poderosa cover de “Gloria”, de Van Marrison, a parceria com Bruce Springsteen em “Because The Night” e a densa “Dancing Barefoot” convivem ao lado de releituras de “So You Want To Be A Rock n’ Roll Star” (Byrds) e “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana) e de canções perdidas como a política “People Have The Power”, de 1988, ou a bonita e melancólica “Beneath The Southern Cross”, de 1996. “Outside Society” reúne uma parte relevante da obra de uma artista seminal para o rock. Só faltou o primeiro single (“Piss Factory”/“Hey Joe”, de 1974) para ser totalmente perfeito.
Preço em média: R$ 25 (nacional)
Nota: 9,5
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– “Só Garotos”, Patti Smith: um belíssimo elogio do amor, por Gabriel Innocentini (aqui)
– Patti Smith é o símbolo de um tempo que não existe mais, por Marcelo Costa (aqui)
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– Textos: Adriano Mello Costa (siga @coisapop) assina o blog Coisa Pop
Considero Wilderness tão bom quanto o debut e concordo com você sobre Slow Attack.
Acabei de pedir os meus na “velvet”(brett anderson e patti smith) Preço justo melhor que na outra loja !!
um ‘3’?
orra….
Ouvi o SuperHeavy e achei um muito chato, infelizmente. Quanto ao Outside, maravilhoso, para mim faltou Ask the Angels, mas não daria para colocar tudo.
“SuperHeavy” é mais uma tentativa de Mick Jagger se dar bem a solo. Mas, o impacto deste disco é residual devido à falta de nervo das músicas e às incontáveis misturadas que não funcionam bem. A faixa “Never Gonna Change” é o melhorzinho que o álbum tem para oferecer e, ainda assim, a quilómetros de distância da coerência de “Wandering Spirit” ou da aventura “She´s The Boss”. Fica para a próxima.
Patti Smith é deusa!