por Márcio Padrão
Na maturidade você pode perder fôlego mais facilmente, mas em compensação, aprendeu a respirar melhor ao longo dos anos. Essa transição da vida pode ser um bom momento para colocar sua história em perspectiva para daí seguir firme nos caminhos anteriores ou em novas guinadas. E quanto a ficar “maduro” no rock n’ roll? Os Stones já fizeram desse paradoxo a sua missão, mas não só eles. Em 2011, coabitamos o mesmo mundo que diferentes gerações que cantaram os excessos da juventude, de Little Richard a John Lydon e Black Francis, só para ficarmos em alguns exemplos.
A julgarmos pelo mais novo disco de Thurston Moore, “Demolished Thoughts”, há uma sutil interrogação. No alto de seus 53 anos a serem completados em 2011, Thurston segue à frente do Sonic Youth, banda que encara na boa a ironia deste nome após 30 anos de estrada. E com o grupo, esteve neste ano à frente da trilha sonora “Simon Werner a Disparu”, com seu tradicional noise rock climático, para poucos meses depois trazer um trabalho solo que radicaliza ainda mais a tendência dos anteriores, “Psychic Hearts” (1995) e “Trees Outside the Academy” (2007).
Neste terceiro passo solo, Thurston está cada vez mais interessado em sossego. Não que discos recentes de sua banda já não trouxessem canções mais suaves, mas raras vezes ele soou tão classicista quanto agora.
Já na primeira música, “Benediction”, o espanto é nítido para um velho fã de Sonic Youth. Entram suaves acordes no violão e em seguida um violino! E Thurston parece querer ninar sua garota ao versar: “Melhor segurar seu amor, amarre-a no chão, sussurre ‘eu te amo’ mil vezes em seu ouvido, beije seus olhos, e não chore, garota, ele não irá desaparecer”. O novo recado é claro: Thurston não é feito apenas de Can, Stooges e Television; agora faz sua ode descarada a Nick Drake, Leonard Cohen, R.E.M. fase “New Adventures in Hi-Fi” e outros bardos.
As nove faixas de “Demolished Thoughts” obedecem, em maior ou menor grau, ao que foi apresentado ao ouvinte na abertura, com uma postura essencialmente acústica e intimista. Claro, há momentos em que reconhecemos o Thurston de sempre. A terceira do disco, “Circulation”, até passaria como um petardo do Sonic Youth se trouxesse a bateria nervosa de Steve Shelley. Mais adiante, a introdução de “Orchard Street” possivelmente foi construída com um instrumento com afinação fora do comum, um velho artifício do marido de Kim Gordon. A mesma música exibe um longo desfecho instrumental como já vimos em tantos shows da banda novaiorquina.
Mesmo com esses traços reconhecíveis, as composições novas de Thurston – sob a produção de Beck, que trouxe arranjos bem próximos aos de seu disco “Sea Changes” (2002) – trazem não apenas uma latente maturidade musical e melodias vocais incríveis, mas deixam “pensamentos demolidos” no lugar de alguns clichês que fãs e não-fãs vinham carregando a respeito do líder do Sonic Youth, até hoje uma banda-sinômino de barulho e experimentalismo.
Afinal, quando se é vanguardista por tantos anos, resgatar o tradicional não acaba sendo mais um experimento? Muito astuto esse tal de Thurston Moore.
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Márcio Padrão (siga @mpadrao) é jornalista e assina o blog Quadrisônico
Bah, adorei o disco. Doce e plácido como poucos esperariam de um “cara do sonic youth”. “Benediction” é ideal para ouvir de olhos fechados, na cama, nesse FRIO que tá fazendo aqui no Paraná… “kiss her eyes and don´t you cry, girl”.
Disco Lindo!!!! Muito gostosos de ouvir, sem afetação ou barulhera! Tenho ouvido só ele ha uma semana. Porra!!!! O que mais se pode dizer de um disco do Thurston Moore com Beck?
Thurston Moore “fumou” o Beck! great!!!!!!