por Jorge Wagner
Embora ainda acreditasse no sonho adolescente de ser descoberto pelo mainstream, Manoel Magalhães já não era um iniciante quando subiu ao palco da edição carioca do festival Claro Que é Rock, em abril de 2005, com a responsabilidade de entreter um público que, em sua maioria, nunca tinha ouvido falar da Polar. Com a banda, formada em 2004, trazia à frente o EP “A Mesma Pessoa no Mesmo Lugar” – registro repleto de influências do britpop praticado por Keane e Coldplay em seus primeiros discos. Antes, ocupara o posto de baixista da Quem?!, caçando, por quase um ano, um espaço ao sol na insípida cena musical carioca.
Primeira das seis bandas a se apresentar naquela noite (que teve Placebo como atração principal), Manoel e sua turma ganhou alguma notoriedade desde então. Ao longo dos quinze meses seguintes, a Polar realizou dezenas de shows pelo estado – além de passagens por São Paulo, Minas Gerais e Paraná –, gravou um clipe (“Lua Nova”, transmitido pela MTV e pela Multishow), deu entrevista e… acabou.
Na metade de 2007, Manoel se retirou dos palcos (tendo antes integrado a Columbia ao lado de ex-companheiros da finada Quem?!). Na mesma época, unindo-se à baterista Juliana Goulart, ao baixista Filipi Cavalcante e ao guitarrista Euler Gouveia (substituído por Brynner Buçard depois de alguns meses), formou a Harmada (http://www.oinovosom.com.br/harmada) e começou a dar corpo ao que se tornou o álbum “Música Vulgar Para Corações Surdos”, que chega à existência depois de um longo período de gestação.
“Música Vulgar” é um disco de amor, mas não a versão fofa/romântica/bonitinha do sentimento. É sobre o amor doente, o amor que fere, que corta e faz sangrar. É um disco com imagens do cotidiano urbano, sem a polidez ensaiada e a áurea ‘chrismartiniana’ da Polar. Um disco em que as boas letras, desenhadas por belas melodias, retornam, apoiadas por guitarras sujas e sem overdubs, num espaço que, em outros tempos, poderia ter sido ocupado por camadas de teclados, cordas, violões.
Na noite em que concede essa entrevista ao lado do guitarrista Brynner Buçard, sentado em um canto da cafeteria do Cinema Estação, em Ipanema, Manoel Magalhães não é, definitivamente, um iniciante. Tem mais barba, mais peso e mais maturidade que em abril de 2005. Calejado, fala de frustrações e da inexistência de uma cena musical independente no Rio de Janeiro. Analisa o mercado, elogia Curitiba e, claro, fala sobre seus planos para a Harmada e a divulgação de “Música Vulgar Para Corações Surdos”. Abaixo, o bate papo
Em uma entrevista dada ao S&Y em 2005, você citava quatro “de pelo menos seis” bandas cariocas que estariam “prontas pra assumir uma posição de destaque na música nacional” (a saber: Som da Rua, Clarim Diário, Reverse e Moptop). Três dessas bandas já não existem há tempos e uma delas está de “férias”. O que aconteceu com a cena carioca independente daquela época?
Manoel Magalhães: A cena do Rio não existe mais, acabou. Na época ainda existia uma ilusão. Nos anos 80 tinha aquela ideia de que tudo ia dar certo e as pessoas iam conseguir gravar discos maravilhosos, e teve quem conseguiu. Quando foram se aproximando os anos 2000, a indústria estava empobrecendo por causa do Napster, MP3, e as pessoas que estavam fazendo música, que é o caso dessa galera toda que eu citei, tinham esse ranço de que queriam ainda esse passado dos anos 80, de gravadora, de fazer sucesso… Acho que todo mundo tinha ainda aquele sonho mais pela vivência da infância e da adolescência do que pela realidade do momento. A realidade é que as gravadoras iam acabar e que ninguém ia ter oportunidade. Alguns até tiveram pequenas oportunidades, como foi o caso do Moptop e do Som da Rua, mas aquilo era irreal com o mercado que a gente tem no Brasil, que hoje em dia está todo segmentado, tem uma cara mesmo. Aquela geração não fazia sentido com o momento que a indústria vivia. No Brasil, no Rio principalmente, muita gente desistiu, muita gente cansou, e quem está conseguindo fazer alguma coisa interessante no país é porque já tomou esse caldo dos anos 2000 pra agora começar essa próxima década pensando em como estar adaptado à realidade.
Como frontman da Polar, você acreditava nessa ilusão também?
Manoel: Acreditava e quem disser que não acreditava nessa época está mentindo. Todo mundo sabia que era mais difícil que nos anos 80 e nos anos 90, mas todo mundo acreditava. Várias vezes as pessoas vinham falar com a gente, “Ó, os caras da Sony estão aí!”, essa lenda que, hoje em dia…
Brynner Buçard: Nos moldes que as coisas eram feitas… Se você vê o making off do Som da Rua, como dizer que com aquela produção as coisas não dariam certo?! Pena que foi interrompido de uma forma meio trágica, né? (nota: Brynner se refere ao acidente que matou o vocalista Liô Mariz, em dezembro de 2005, a poucos metros do local da entrevista).
Manoel: O Moptop também. Por que é que o Moptop deu um tempo? É bem claro isso. A banda conseguiu chegar ao objetivo daquelas bandas, que era gravar um disco por uma grande gravadora, só que se esperava um retorno de uma banda de uma grande gravadora e isso era impossível, porque não existe mais isso. A não ser que você seja o Fresno. A não ser que você seja uma banda declaradamente pop e aceite o jogo do pop, que não era o caso do Moptop e de nenhuma daquelas bandas, você não vai dar certo no Brasil. O fim da Polar teve a ver com isso. Lógico que tem muito dessa expectativa frustrada. A gente colocou muita intensidade naquilo e bateu de frente com essa onda e não estava preparado pra ficar brigando. Eu acho que é burrice, quando você bate com a cara na parede, continuar batendo com a cara na parede. E foi a hora em que eu achei melhor tentar entender como era esse momento pra criar alguma coisa nova.
Há uns dois anos, você chegou a publicar no seu blog uma lista de músicas que entrariam no disco da Harmada. Entre elas você citava “Sombras Por Aqui”, que estava no EP da Polar e acabou não entrando no disco. Já “Carlos e Cecília” e “Bairro Peixoto”, que eram do repertório final da banda, entraram. Como se deu essa escolha? O que você ressalta como as principais diferenças entre as duas bandas?
Manoel: Quando a Polar acabou e eu comecei a pensar na Harmada, eu estava equivocado no meu pensamento inicial. Não era pra ser uma continuação da Polar, apesar de ser a continuação de um trabalho que eu já fazia. A Polar já era uma experiência que, pra mim, foi legal, foi ótima, tenho super orgulho, mas que foi uma experiência que acabou, que passou, teve um ciclo natural e não adiantava tentar continuar aquele ciclo. Eu tinha que ter encerrado ali e, beleza, consegui encerrar. Quando eu percebi isso, eu tirei as coisas que não precisava repetir. Só que já quando a Polar estava acabando, essas músicas, “Carlos e Cecília” e “Bairro Peixoto” já eram músicas da Harmada. Já era pra ter terminado a Polar antes. Aquelas músicas já eram futuro.
Brynner: Eu acho até que de estilos bastantes diferentes da Polar e da Harmada, principalmente “Bairro Peixoto”, que destoa em questão de pegada, de arranjo. Eu acho mais conciso. A Polar tinha uma coisa mais viajada, mais solta.
Manoel: A Harmada é uma banda muito mais concisa, muito mais direta. A Polar enfrentava esse problema, porque no disco era super bem realizada, mas ao vivo era impossível fazer aquilo, entendeu? A gente não tinha um quarteto de cordas pra tocar as minhas músicas.
Como se deu a formação da Harmada, depois do fim da Polar e da época em que você tocou com a Columbia?
Manoel: Inicialmente eu achei que ia fazer uma banda-só-eu, que é uma ideia que eu tenho ainda, de fazer um dia uma banda de um homem só. Depois eu vi que não, que, mais uma vez, eu estava equivocado. Num momento de limbo, você não sabe exatamente o que vai fazer, você tem que pensar exatamente no que você vai fazer e o acaso vai trabalhando para que as coisas dêem certo, eu acho. Em algum momento, falei “pô, vou chamar alguém pra tocar bateria!”, porque o embrião de conseguir montar alguma coisa é ter um baterista pra pelo menos levar aquelas músicas à frente, as que você está fazendo e as que você já tem. Chamei a Juliana porque achei que tinha a ver, que era alguém que comprava a ideia, que gostava das músicas e que podia se entregar ao projeto de uma forma mais natural. Não ia ser uma pessoa que não sabe com quem está se metendo. Logo também chamei o Filipi, e deu certo esse núcleo inicial. Um tempo depois entrou o Brynner e então a gente fechou a formação.
Os poucos shows realizados até agora foram pela intenção de privilegiar o disco? Por que “Música Vulgar Para Corações Surdos” demorou tanto tempo pra ficar pronto?
Manoel: A gente priorizou o disco porque eu achava que fazer show por fazer show… a Polar já foi uma experiência. Pra uma banda do porte que era, a gente tocou muito, a gente viajou muito, então eu não tinha essa necessidade de sair tocando. E tocar sem as pessoas conhecerem suas músicas, hoje em dia com a cena do jeito que está no Brasil, é meio como que falar pra surdo, não dá. Então a gente pensou: “vamos trabalhar nesse disco, vamos gastar esse tempo nesse disco”. Por isso demorou esse tempo pra ficar pronto. Foi um disco muito pensado. E ele sai no momento em que tinha que sair.
Brynner: Acho que os poucos shows que a gente fez foi mais como laboratório mesmo, de ver como funcionariam ao vivo as músicas e tudo. Esse processo muito demorado foi uma coisa de ser muito pensado inicialmente, de ver como finalizar essas músicas da melhor maneira possível e ver como o público iria reagir. O que você vê no final é o resultado de muita consolidação e suor e… acho que é o caminho certo para o que a gente quis dizer.
O disco está disponível para pré-venda no Itunes (aqui) e no ONErpm (aqui) desde o dia 16 de maio. Qual a previsão do lançamento do disco físico, se é que existe?
Manoel: O disco físico deve sair em junho. Ele está na fábrica, no momento dos trâmites burocráticos. Acho que ter o disco físico é bacana… a gente quer fazer até o vinil dele depois. Porque assim, beleza, o MP3 é maravilhoso, mas ainda tem muita gente que quer o disco, e a força do disco também é diferente. Se te dou um disco, você vai ouvir e a sua relação com aquele disco vai ser diferente do que se você baixar o MP3, que é coisa que você faz todo dia.
Brynner: É a informação completa, né? A parte gráfica, o conceito. Hoje você ouve músicas isoladas do artista X ou Y e você perde toda a ideia brilhante ou negativa do álbum. Com o disco físico fica mais fácil de representar esse conceito.
Manoel: E esse disco tem essa ideia mesmo, de representar um disco em si. Ele não é “Música Vulgar Para Corações Surdos” a toa. Ele tem esse conceito, ele faz sentido com tudo o que está ali no disco físico e vai vir com uma revista explicando um pouco do disco. Acho ótimo dar MP3, mas eu ia gostar que as pessoas comprassem o disco também, até porque é a maneira que a gente vai encontrar pra fazer outro disco. É um jeito que a gente tenta manter a banda. Mas a gente vai divulgar, vai liberar as MP3, porque quero mais é que todo mundo ouça mesmo.
Sobre essa questão de custear os próximos álbuns, o que vocês acharam dessa iniciativa da Letuce de abrir a cota de patrocínio para o público? Vocês repetiriam isso?
Manoel: Cara, acho a ideia muito boa. Acho que inicialmente vai até dar certo. Não foi só a Letuce, mas tem aí a Luisa Mandou um Beijo e outras bandas fazendo isso. Só que acho que as pessoas estão muito empolgadas com isso e que, sinceramente, isso talvez não tenha fôlego. Que quem está bancando isso, está bancando porque é novidade. Com Letuce e Luisa vai dar certo, mas vai vir uma galera que vai começar a fazer, muita gente vai começar a fazer e as pessoas vão pensar. Acho que as pessoas não vão bancar os discos assim. Pode ser que dê certo, mas não sei se é esse o caminho.
Brynner: Na verdade é mais uma tentativa no meio de tudo. Teve o caminho do Radiohead, de querer saber o quanto seu disco vale, e agora vem o “você financiaria o meu disco?”.
Manoel: A gente estava falando que a indústria faliu. Essa é mais uma tentativa de saber como vai ser agora. Ninguém garante que vai dar certo, ninguém garante que não vai dar, mas acho que a gente ainda vai penar um pouco antes de descobrir o caminho.
A gente percebe que há algumas imagens que se repetem no disco da Harmada: a televisão ligada, as luzes da cidade, outdoors, filmes, fotografias...
Manoel: Isso tudo foi muito pensado. Porque esse é um disco sobre a cidade, é um disco sobre a metrópole e de você enxergar a metrópole com suas nuances, com suas imagens. É sobre como o nosso olhar acaba um pouco viciado por essa transposição da imagem, da ligação com a imagem. A última música é sobre isso e fala sobre uma mulher que está lá num outdoor, está na cidade, todo mundo a vê, mas como ela é dentro da casa dela? Aquela pessoa está exposta, mas ela não significa necessariamente nada; é só uma representação daquela civilização. O disco tem muito isso de como as pessoas se relacionam com a cidade, de como elas enxergam a cidade, de como às vezes elas passam batidas pelas coisas da cidade e como essas coisas da cidade influenciam essas pessoas.
Como vai ser o esquema de shows agora? Você tem alguma esperança de que haja um ressurgimento de uma cena independente no Rio de Janeiro?
Manoel: Cara, eu não tenho muita esperança, de verdade. Deve rolar agora o Studio RJ, baseado no Studio SP que realmente movimentou São Paulo. Só que São Paulo não é o Rio. Ia ser maravilhoso se o Studio RJ viesse pra movimentar e fazer o Rio ter uma cena bacana. A gente torce por isso. Mas eu, no momento, não acredito muito no Rio pelo jeito que o público se porta. As pessoas estão muito entregues. A gente deve começar a turnê por Curitiba, que é um lugar onde talvez as pessoas entendam mais o que a gente quer dizer. É uma cidade que pensa sobre a cidade, que é tida como modelo para o Brasil mas que os próprios curitibanos criticam, o que quer dizer que eles tem uma noção de onde eles vivem. Eles não são iludidos por essa venda da imagem de uma cidade maravilhosa que a gente sabe que não é. O Rio não é uma cidade maravilhosa, mas ainda compra essa ideia. E tem São Paulo também, que é até mais citada no disco do que o próprio Rio.
Pra encerrar agora, remetendo àquela entrevista lá de 2005, há, não mais no Rio, mas no Brasil, quatro bandas que você destacaria como prontas?
Manoel: Ninguém que seja bom no Brasil está pronto para sem comprado nesse momento. Isso é a grande sacada dessa geração. Todo mundo que é bom no Brasil está procurando o caminho de não ser comprado. No máximo, saber se vender sozinho. Finalmente a gente está livre artisticamente. Nos anos 80 era tudo muito preso na questão artística, era muito mais mercadológico; os 90 foram um passo a frente em relação a isso; os anos 2000 foi o crash, foi quando a merda ia ter que acontecer pra alguém conseguir dar esse grande passo que eu acho que a gente ta dando agora. Quem é bom no Brasil, quem consegue fazer alguma coisa artística no Brasil não está pronto para ser vendido e é muito bom que não esteja. Eu posso citar bandas que, nesse sentido, não estão prontas, como o Violins, que é uma banda foda, algo histórico no Brasil. Se você pegar um caminho depois do “Bloco do Eu Sozinho”, o “Grandes Infiéis” é um disco que segue esse caminho, essa linhagem da arte. Lá em Curitiba tem o Hotel Avenida, que é o trabalho do Giancarlo Rufatto, que também está tendo uma ótima sacada sobre como é a nova indústria. O Gian vende ele mesmo, ele não precisa de gravadora, não quer gravadora. O cara quer que todo mundo ouça e bota tudo dele na internet, batalha e as pessoas curtem. Isso é o caminho. Talvez a Apple salve a indústria um dia com essa coisa do Itunes, essas coisas, mas não vai salvar pra todo mundo. Vai salvar pra quem está sabendo ser esperto hoje e criar a sua arte. Não é nem ser esperto, na verdade. É ser verdadeiro.
Belo disco. A música “Avenida Dropsie” é HIT.
Bom saber que o pessoal do antigo Polar está de volta. Só discordo quanto ao fato de o Moptop e o Som da Rua não quererem ser descaradamente pop. Eles eram quase o Strokes cover, visualmente falando. Mas como se tudo fosse milimetricamente arrumado. Me lembro de shows das duas bandas em 2004, 2005 que já tinham patricinhas histéricas e uma quase superprodução. Era visível que eles iriam estourar. Se ai eles não conseguiram achar o “sucesso” que a gravadora queria, aí são outros quinhentos. E, no caso do Som da Rua, muito azarClaro que o Fresno, NX Zero são mais apelativos, mela-cuecas, como bandas de pagode dos anos 90. Mas no grosso, a banda está supercerta. Que eles tenham sucesso agora, são talentosos sim.
Bernardo, mas o “descaradamente pop” do Som da Rua e do Moptop eram “descaradamente pop” dentro do indie, era aquela coisa de querer ser Strokes no caso de uma, de flertar com Teenage Fanclub, no caso de outra.
o que o Manoel chama de “jogo do pop”, entendo como dentro dos termos artísticos; de deixar polirem o som etc, que foi sobre o que o Lucas do Fresno reclamou na entrevista para a Rolling Stone. apesar de ter passado pelo ridículo de se apresentar no programa da Xuxa, por exemplo, Moptop não cedeu em termos artísticos. e essa nem é uma defesa da banda.
quando assinaram com a Universal, Moptop ficou grande demais para o seu público indie, mas não teve fôlego para se tornar grande o suficiente para ser notada pelo público do mainstream.
Esse pessoal viaja.
Eu conheço tanto no Rio como em São Paulo, bandas maravilhosas, algumas extremamente técnicas, outras extremamente passionais, que lotam os lugares onde se apresentam, e ninguém fala nem um A. Muito menos um B.
Bandas que nasceram no escuro e permanecem no escuro, principalmente porque o público tanto no Rio como em São Paulo… o “GRANDE” público, é um lixo. E quer ir no show do Belo.
O melhor compositor que eu conheço, nacional, Denny Caldeira, ele atualmente trabalha num trampo totalmente diferente daquilo que ele sabe fazer, que é música. Meus amigos músicos, todos tem que se virar com outras responsabilidades para ter um sustento. Então essa história de gravadora, e fazer sucesso por meios próprios, é bem fantasiosa.
Dá para fazer um belo som, dá para empolgar multidões, sem dúvidas. Mas você tem que ter um lobby. Porque se não você não passa de um músico “bomzinho”.
Quer mais do que o show do Nei Lisboa que teve no SESC Belemzinho? O cara é um gênio, e foram apenas umas 35 pessoas ver ele no teatro. Injusto, não?
Talvez não para esse público de SP e Rio.
Quer ver o que está realmente acontecendo? Se liguem nos pequenos festivais que rolam em algumas lugares de SP. Vai no barzinho ver o cara tendo que tocar 200 covers para mostrar 1 som próprio. A “cena” é muito fragmentada para ter noção por meia duzia de gatos pingados que aparecem de repente.
mas é justamente isso. a “cena” é tão fragmentada, com tantas “micro-cenas” e “micro-públicos”, que não chega a fazer cócegas.
Eu gostei muito de algumas canções do “Música Vulgar…”. São bastantes empolgantes realmente. Mas, como um todo, acho que o álbum poderia ser mais curto. Algumas músicas mais arrastadas poderiam ter ficado de fora e o álbum teria um outro fôlego. Eu, por exemplo, depois da primeira escutada, já posso selecionar as minhas favoritas e deixar rolando. Mas não ouviria o disco completo outra vez.