por Jorge Wagner
Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha. Para a alegria dos mais antenados, ou pelo menos dos “pseudo-mais-antenados”, essa última opção já dá conta de países como Escócia e País de Gales.
Tente lembrar, entre as grandes bandas gringas contemporâneas que você conhece (e digo grande no sentido de qualidade, não de fama), quantas não são originárias de uma dessas localidades. E agora conte-me: em quais países, e em quais bandas você pensou? Talvez na Islândia, e no Sigur Rós. Ou Dinamarca, caso tenha se lembrado do Mew. Mas… pensou na Suécia?
Se a resposta for sim, bom sinal. Significa, pelo menos, que você anda visitando o Scream & Yell e, seguindo as orientações de Eduardo Palandi, procurou ouvir o disco “Vapen Och Ammunition”, do Kent. Ou nada disso. Talvez você apenas tenha lembrado do Hives. Mas, já que você pensou naquele que é, segundo Eduardo, o “país do refrão”, por acaso lembrou de um trio chamado Eskobar? Não? Então ainda há tempo…
No final de 1996, três amigos com média de 23 anos, residentes da pequena cidade de Åkersberga, a 30 Km de Estocolmo, formam uma banda e começam a tocar juntos pelos lados da capital. Três anos depois, ainda sem nome e tendo em mãos uma demo com três músicas, Daniel Bellqvist, Frederik Zäll e Robert Birming (voz, guitarra e bateria, respectivamente) conseguem um contrato com a V2 Music.
O nome Escobar foi sugerido por um manager americano. Trocando o “c” pelo “k”, agora eles tinham um nome. Precedido pelo single “On A Train”, lançado quatro meses antes, em 27 de março de 2000 sai “Til We’re Dead”, disco de estréia do grupo. A sonoridade desse pequeno álbum, de apenas 35 minutos, é extremamente melancólica, e gira em torno do denominado New Folk, o que os aproximava de grupos como Mazzy Star, Cowboy Junkies, entre outros. Já os destaques ficam por conta de “Good Day for Dying” – depois da primeira audição é quase impossível não se pegar cantarolando os versos do refrão (“It’s such a good day for dying / But still I’ve never been crying / So maybe I should be waiting / For god and me to be dating”) – e “So”, além de “Love”, que, assim como “Poor Boy”, de Nick Drake, dá a impressão de ser uma tentativa estrangeira de se compor uma… Bossa Nova!
Em outubro de 2001 é lançado “There’s Only Now”, segundo álbum do trio. Logo na faixa de abertura, “Move On”, com bateria bem mais pulsante que qualquer outra faixa do debute, fica claro que a banda não estava muito interessada em manter o rótulo de New Folk. Fazem pop, e ponto!
E é assim que este álbum segue, com seus refrões pegajosos, melodias gélidas, teclados e uso de batidas eletrônicas, mostrando o porquê de suas músicas terem sido executadas com boa aceitação nas principais rádios pop da Europa. Aqui Daniel Bellqvist explora bem mais a sua voz (doce, suave e melódica o suficiente pra nos deixar com a impressão de que pode ser uma mulher, e não um homem, que se encarrega dos vocais do grupo) do que havia feito no disco anterior, mostrando-se um vocalista técnico e seguro.
Fica claro também que o grupo não está interessado em falar sobre quaisquer outras coisas que não sejam sentimentos. O guitarrista Frederik Zall chegou a declarar na época: “Algumas bandas usam sua fama para espalhar mensagens sociais ou políticas e nós respeitamos isso”. E foi endossado por Daniel: “Mas nossa música é a expressão dos nossos sentimentos, e preferimos não misturar as coisas”.
Os pontos altos ficam por conta da citada “Move On”, “On The Ground” (onde Daniel faz bom uso de falsetes e mostra realmente o grande vocalista que é), “Tell Me I am Wrong” (“Eu estou errado, mas me sinto livre e pequeno ao mesmo tempo”), “Save The Day” e “Someone New”, faixa em que o grupo recebe Heather Nova (diga-se de passagem, sua influência mais evidente), para um dueto com Daniel.
Apesar do álbum apresentar apenas cinco minutos a mais que o anterior, cinco músicas surgem como “pontos altos”, e as outras não ficam atrás, em um CD de 11 faixas. Não por acaso. Este é sim um grande disco, e um tanto superior ao primeiro.
“A Thousand Chances chegou” às lojas em 31 de março de 2004, quase exatos quatro anos após “Til We’re Dead”, e parece ser a perfeita junção de tudo que a banda fez ao longo desse tempo, como uma mistura dos dois discos anteriores. Como que de propósito, a primeira faixa, “Cold Night”, que dá destaque ao violão e tem ao fundo uma bela steel guitar (aliás, Frederik Zall utiliza bastante o instrumento, desde o primeiro trabalho da banda), remete à “‘Til We’re Dead” e à clara influência folk de artistas como Nick Drake e The Byrds, seguida de “Big Sleeper”, que caberia perfeitamente em “There’s Only Now”.
“You Got Me”, terceira faixa, traz na introdução uma linha de baixo interessante, quase oitentista, retomada no refrão, enquanto Daniel declara: “Well hey you got me right where you want me / You knock me out, but you still haunt me / Well hey you got right where you want me, to be”. Mais uma vez, quando repete, você se pega cantando junto. E ao longo das demais oito faixas (entre as quais é possível destacar “Violence”, “Love Strikes” – que chega a lembrar os bons tempos do U2 na introdução – e a acústica “Freedon”) está tudo ali: melodias doces e tristes, técnicas vocais apuradas, letras que tratam unicamente de sentimentos, relações. Tudo entrelaçado com referências folk, e influencia de Heather Nova, numa receita capaz de transformar um trio do interior sueco em uma das bandas pop de maior qualidade de sua geração.
Se por um lado é interessante descobrir em países distantes, improváveis ou não, bandas de tamanha qualidade, por outro, é lamentável que grandes gravadoras desprezem, na íntegra, a discografia de um grupo tão bom quanto o Eskobar, enquanto muitas vezes gastam rios de dinheiro para promover bandas de qualidade extremamente duvidosa, apenas por virem desse ou daquele outro lugar. Corrija este erro você mesmo, pois aqui estão três discos que você precisa ouvir.
Texto publicado originalmente na versão 1.0 do Scream & Yell em 20/01/2006
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Leia Também:
– “Vapen Och Ammunition”, do Kent, por Eduardo Palandi (aqui)
– “Eskobar”, o quarto álbum do trio sueco, por Marcelo Costa (aqui)
passo
Li esse texto do Eskobar na epoca. Bem bom, assim como os discos referenciados. O quarto disco que trazia o mesmo nome da banda ( e tinha músicas como “Whatever This Town”) também é bacana Já “Death in Athens” de 2008 é bem fraquinho.
Lembrando que a Suécia ainda tem as ótimas bandas Mary Onettes e Those Dancing Days!!
E a Suécia ainda tem Jens Lekman, El Perro del Mar, Pelle Carlsberg, Acid House Kings, I’m from Barcelona, Radio Dept.,Peter Bjorn & John, Suburban Kids with Biblical Names, Sambassadeur, etc, etc, etc …
Estou ouvindo essa banda no Grooveshark neste momento. Realmente, uma banda acima da média, pop no melhor dos sentidos.
rock = NÃO
e não ser rock é algum delito?
SER rock é um delito.