por Eduardo Martinez
“Estamos nessa pela diversão”, disse Marcelo Pata, em show recente de sua banda, Holger, em Nova York. Essa frase define bem o princípio ativo do quinteto paulistano que lançou recentemente “Sunga”, seu primeiro disco, pela Trama, via projeto Álbum Virtual, que já liberou Móveis Coloniais de Acajú, Guizado, Pata de Elefante e outros por download gratuito (baixe aqui).
Se o som do primeiro EP (“Green Valey”, de 2008), algo como um neo-folk, já não era muito fácil de classificar, em “Sunga” qualquer rótulo se transforma em reducionismo. A sonoridade do álbum está em algum lugar entre indie rock, percussão, sintetizadores, vocais em coro, falsetes e guitarras rascantes. Não se assuste se identificar elementos de axé e ritmos latinos em algumas músicas.
Os elementos além da música – como capa e nome do disco – são intimamente ligados com o som. O nome “Sunga”, segundo a banda, representa uma libertação, o fato de que quando crescemos trocamos a sunga por bermudas para ficarmos iguais aos outros. Resumindo: para eles, sunga simboliza um desprendimento de nichos e uma ampliação de horizontes. A capa do disco é colorida e se assemelha a uma colcha de retalhos, assim como as músicas.
Os shows da banda são reconhecidos pela intensidade, mas há uma pequena polêmica quanto a isso, pois apesar de muitos considerarem que o palco é onde o Holger se sai melhor, muitos acreditam que a “zona” ao vivo, às vezes, é excessiva e acaba se tornando uma grande piada interna onde apenas os integrantes se divertem. Talvez a ideia definitiva quanto a isso seja formada no dia 20 de novembro, quando o Holger se apresenta em São Paulo no festival Planeta Terra, para um público brasileiro imensamente superior ao das casas de show em que tocam com maior freqüência.
O disco começa bem com a ótima “No Brakes”. Além da boa melodia e do refrão (refrão?!) forte, a música apresenta logo de cara as características marcantes presentes em todo disco: várias vozes, duetos agudos de guitarras rascantes, batida tribal e sintetizadores. “She Dances” é divertida e começa com um contagiante vocal, devidamente desafinado, do baterista Arthur, enquanto “Let’em Shine Below”, primeiro single do disco, mostra o que talvez seja o mais próximo que eles consigam chegar do pop.
“Transfinite” tem um início mais introspectivo, com camadas de guitarras e sintetizadores, mas no meio entra a batucada e vocais em falsete que trazem de volta certa irreverência que, inevitavelmente, exala no som. Em “Sunga”, todas as músicas têm elementos dançantes, mesmo que sejam referentes a determinados tipos de dança que só indies entendam. É o caso de “Caribean Nights”, que encontra um som suingado no meio da “confusão” entre as guitarras. “Toothless Turtle”, por sua vez, é mais roqueira, com um refrão de guitarras cravadas e bateria inquieta que remetem a Arctic Monkeys.
Muitas músicas de Sunga parecem ter sido pensadas para shows, mas nada se compara a “Beaver”. Com uivos e gritos da selva, muita percussão, um apito e apenas uma frase: “Beaver, won’t get me Halloum and Coke?”. Se você não achar uma grande idiotice, certamente vai se divertir a beça. Em shows ela já vem se destacando. “Undesirable Regrets” tem boa melodia pop e poderia com facilidade ser single. “Who Knows?” é a música mais sóbria do disco. É bonita e melancólica em seus quase 6 minutos. Lembra a melancolia monocórdica do The Drums. Ainda sobra espaço para a espacial “Eagle” e para a instrumental (e desnecessária) “Geneçambique”.
Como um todo, “Sunga” soa bastante original e os aproxima/encaixa (talvez de forma inconsciente) com pares da nova geração como Arctic Monkeys e The Drums. Falar em Vampire Weekend também não seria loucura. É possível notar no som deles certa brasilidade, mesmo que um pouco exótica, e talvez seja esse o ingrediente que tanto encanta os gringos por onde o Holger passa.
O recado que fica ao final do álbum é de que o Holger quer se divertir, mas quer fazer isso a sério. Em “Sunga” eles conseguem colocar um pé em cada universo. É possível que o amadurecimento bata logo na porta fazendo com que a banda perca a espontaneidade do início (como aconteceu, por exemplo, com o CSS). O disco novo, no entanto, mostra que eles têm talento para passar por isso sem maiores problemas. E, na pior das hipóteses, o caminho apontado por “Who Knows?” fica aberto. Não seria nada mal.
Leia também:
– Holger no Popload Gig 1: um despojamento no palco que contagia, por Marcelo Costa (aqui)
– Holger no Festival Calango: um dos dez grandes shows do evento, por Marcelo Costa (aqui)
Foto do Holger ao vivo por Liliane Callegari: http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/
“Sunga” é realmente um baita discão… creio que seja o álbum do ano (mas briga feio com “Escaldante Banda” e “A Banda de Joseph Tourton”). Isso sim que “indie-brazuca”! Vida longa ao Holger!
discaço. tá no meu top discos nacionais desse ano, fácil.
Eu gostei bastante do disco, mas meu problema com ele foi a falta de “brasilidade”. Ele é muito bom, mas pra mim soou como se tivesse sido feito em Nova York por um bando de branquelos do Brooklyn que frequenta a NYU. Mas discordo do Diógenes acima: o ano tá tão bom, que esse é um disco que se bobiar não fica nem no meu top10.
Nunca sequer tinha ouvido falar desta banda. Gostei tanto do texto que baixei o Sunga e não parei mais de ouvir. Esquisito, estranho e sensacional. Realmente, um dos discos do ano. Acho que agora vou dar um tempo em “Sunga” e ouvir “The Green Valley”, que já está na fila!
obrigado pelas palavras!
disco bacana da porra!!
Um outro texto sobre o Sunga:
http://faleirolandia.wordpress.com/2010/10/08/ensaiando-o-passo-a-ambicao-displicente-do-holger/
“Sunga” é um discão sem dúvidas! E para quem estava no Planeta Terra viu que o Holger foi fantástico!! Um dos melhores discos do ano com certeza!!!