por Marcelo Costa
Muita gente não entendeu o disco quando foi lançado, mas quase 40 anos depois, “Exile on Main Street” é tido como a obra definitiva dos Stones. Uma centena de histórias cerca as gravações do álbum, principalmente nos nove meses em que o grupo se exilou na França para fugir dos impostos britânicos. Mick Jagger se estabeleceu em Paris com sua nova noiva Bianca, e o guitarrista Keith Richards alugou uma mansão luxuosa, Nellcôte, em Villefranche-sur-Mer, perto de Nice.
Além de alugar a vila inteira, Keith comprou aproveitou que as escadarias da mansão terminavam em uma doca, e comprou uma lancha. “Várias vezes a gasolina dele acabava no meio da baia, e ele soltava foguetes e tínhamos que ir buscá-lo”, diz Anita. “A casa era linda e decadente. E não tinha móveis. Os melhores sofás da casa eram das guitarras de Keith. Elas ficavam lá e nós tínhamos que nos ajeitar no chão. Aliás, Keith faz isso até hoje”, relembra.
“Stones In Exile” remexe o baú conturbado das gravações do disco. Começa com Mick Jagger e Charlie Watts visitando o Olympic Studios, um dos estúdios que serviu para o álbum ainda quando a banda residia em Londres, e depois parte para uma mansão da família de Jagger que abrigou a segunda fase das gravações do álbum. Porém, o grosso das gravações aconteceu nos porões abafados da mansão de Keith em Nellcôte durante nove meses com a banda deslocando um estúdio móvel para o local.
O documentário começa explicando a saída da banda do Reino Unido (devido aos altos impostos cobrados pelo fisco britânico), com imagens de época, e foca no exílio francês, e principalmente nas histórias que cercam a casa de Keith em Nellcôte. “Quem tem dinheiro consegue tudo ali. De um lado tem Marselha, conhecida por produtos ilegais. Do outro está a Itália, com a Máfia. Junta-se os dois e se compreende”, diz o fotografo Dominique Tarlé.
“Eu sabia que os Stones tinham se mudado para o sul da França, e fui atrás deles para fazer algumas fotos. A casa em Nellcôte era lindíssima. Eu não sabia que Keith e Anita estavam vivendo lá, mas fui e consegui passar uma tarde com eles. No final do dia, eu estava me despedindo, e eles disseram que eu podia ficar, e eu fiquei… seis meses”, relembra o fotógrafo responsável pela maioria das imagens que ilustram o filme (que ainda tem excertos de “Cocksucker Blues”, o filme proibido de Robert Frank).
Uma lista interessante de convidados participa do documentário, mas são os ex-Stones Mick Taylor e Bill Wyman que protagonizam as passagens hilárias. “Tinha as meninas seminuas na praia, porém não tinha chá e o leite era horrível”, reclama o ex-baixista enquanto Keith se refestelava com um coquetel de drogas variadas. “Mick Taylor era muito melhor que todos nós, mas no palco ele não se movia. O público todo na sua frente e ele lá, estático, tocando. Não rolava”, analisa o ex-baixista.
As gravações foram um caos. “Raramente a banda se reunia toda nos porões da casa”, lembra Bill. “Teve dias em que acordei e percebi que tinha passado o dia inteiro dormindo”, diz Keith. “Nós ali ensaiando, e ele – Keith – nem para descer para falar com a gente. Eu tinha viajado uma hora, o Charlie quatro horas para ensaiar, mas ninguém aparecia, e fazíamos pequenas jams com o pessoal dos metais, para aproveitar o tempo, mas o porão era um forno. Era impossível ficar lá muito tempo”, espeta Wyman.
Ou seja, a banda passava a maior parte do tempo fazendo jams. “Fizemos nove músicas em nove meses lá”, relembra Mick Jagger. “Uma boa média: uma música por mês”, brinca Charlie Watts. “Que nada. Uma boa média teria sido uma música por dia”, encerra Mick. Depois veio a mixagem, outra novela que se estendeu durante meses até o álbum ficar pronto. O fotógrafo Robert Frank foi chamado para fazer a capa e o resultado de tudo é um dos vinis duplos fundamentais da história da música pop.
“Stones In Exile” é um excelente retrato na linha da série Classic Álbuns, mas as histórias secundárias – principalmente as que envolviam drogas, rock and roll e sexo, ordem sugerida por Anita Pallenberg, esposa de Keith – poderiam ser melhor exploradas. Jack White, Benicio Del Toro, Liz Phair, Sheryl Crown e Martin Scorsese, entre outros, analisam o disco e falam de suas canções preferidas dando um colorido especial ao filme, mas tudo que vale aqui são as lembranças de Keith, Mick, Charlie, Bill e Anita sobre o período sensacional de uma das maiores bandas de todos os tempos. É ver o filme e ouvir o disco. Mais uma vez.
Ps. “Stones In Exile” está sendo lançado em DVD no Brasil pela ST2 ao preço de R$ 32. Pode ser encontrado também no Box especial importado da reedição do álbum “Exile on Main Street” que traz três vinis, dois CDs e o documentário em DVD.
Leia também:
– Os treze (!) discos mais influentes de todos os tempos (aqui)
– “Shine a Light – Live”, Rolling Stones, por Marcelo Costa (aqui)
– Rolling Stones ao vivo no Rio de Janeiro, por Marcelo Costa (aqui)
Meu quarto álbum preferido de todos os tempos. Uma lição de Blues, Bluegrass, Folk, Gospel, Rhytim n’ Blues, Jazz, ou melhor, de Rock ‘n’ Roll na sua forma mais primitiva e sublime. Aliás quem na história da música tem uma sequencia de discos maravilhosos com estes lançados entre 1968 e 1972: “Beggars Banquet”, “Let it Bleed”, Sticky Fingers” e “Exile..”. Quem???
Ouça “Shine a Light” e descubra porque minha canção preferida de todos os tempos, “Live Forever” do Oasis veio dela. Quem descobrir ganha uma Leffe Blonde gelada.
Ricardo, e essa sequência?
Rubber Soul, Revolver, Sgt.Peppers, Magic Mistery, o Branco, Abbey Road.
Cara, adoro os Stones, mas essa enfileirada de discos é quase impossível alguém bater
Aliás, alguma conjunção de astros aconteceu no final da década de 60 e começo da de 70, é impressionante a quantidade de pérolas musicais feitas nesse período, e em todos os gêneros!
Comprei hoje um DVD dos caras da turnê Voodoo Lounge, trata-se de um show em New Jersey no ano de 1994. São 18 músicas – algumas foram surrupiadas -, mas vale a pena!
Eu tinha gravado o show dessa turnê no Maracanã. Puta que pariu, aquilo tinha que sair em DVD!