por Igor Lage
Os integrantes do Graveola e o Lixo Polifônico não são muito bons de data. Segundo eles, a banda foi formada “mais ou menos em 2004”, quando os estudantes Luiz Gabriel Lopes, José Luís Braga e Marcelo de Podestá se reuniam para tocar um pouco de tudo no violão. O trio resolveu levar a brincadeira a sério e montar uma “oficina de experimentação”, ou seja, uma banda de verdade. A idéia foi ganhando adeptos e, “mais ou menos em 2007”, eles começaram as apresentações ao vivo em cidades como Ouro Preto e Tiradentes. Em 2009, com incentivos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, lançaram seu primeiro disco, homônimo, que foi muito bem recebido pelos freqüentadores da cena independente local.
“E agora estamos aí com esse trabalho novo, o ‘Um e Meio’, que não é bem um disco e também não tem nada de muito novo”, explica confundindo Luiz Gabriel Lopes, um dos vocalistas e principais compositores do Graveola (para citar algumas funções, já que todo mundo faz um pouco de tudo na banda). Gravado de forma experimental na casa de alguns dos integrantes do grupo, ‘Um e Meio’ foi lançado “mais ou menos no Carnalval desse ano” somente em formato digital. O álbum pode ser baixado gratuitamente no site oficial da banda: www.graveola.com.br, onde também podem ser encontradas faixas bônus, gravações ao vivo, produção multimídia e também o disco de estreia. E é sobre o ‘Um e Meio’ que Luiz Gabriel fala ao Scream & Yell, em uma entrevista que aborda também distribuição de músicas pela internet e a cena indie de Minas Gerais:
O disco novo de vocês saiu bastante rápido, apenas um ano depois do álbum de estreia. Como foi o processo de produção do “Um e Meio”?
Esse disco é uma tentativa de expandir os territórios de linguagem do Graveola. Foi um processo de experimentação que a gente se propôs a vivenciar em grupo, buscando novos caminhos dentro da banda. Depois de um determinado tempo de trabalho juntos, as pessoas vão se assentando em algumas funções. Ao mesmo tempo em que isso gera uma maturidade e torna o processo de criação mais consistente, pode criar o risco de as pessoas ficarem acomodadas. O que a gente tentou foi dar uma voz maior para as “viagens” individuais de cada integrante. Se você olhar as fichas técnicas do encarte, vai ver que tem umas três ou quatro músicas que foi uma pessoa só que gravou tudo. No primeiro disco, as músicas são todas minhas e do Zé [José Luís Braga]. No caso do ‘Um e Meio’, tem música do Yuri [Vellasco], do Marcelo…
Mesmo assim, ainda tem a cara do Graveola…
Isso aí sou eu que te pergunto. Você acha que tem?
Bom, o “Um e Meio” é bem mais experimental, como você mesmo falou, mas ainda acho que dá para identificar uma sonoridade típica do Graveola. Até porque várias das músicas desse disco caberiam no primeiro…
Tem muita música aí que era de gaveta e não tinha entrado no primeiro disco por motivos variados. Mas foi uma onda de cada um investir no que podia. A gente nem sabia se isso ia virar um disco, na verdade. O processo de gravação aconteceu todo na minha casa e na casa do Zé. Todo mundo pegava a chave, entrava e saía na hora que queria. Um dia, por exemplo, nós estávamos cansados de gravar e decidimos sair. Aí o Yuri, que estava meio por fora disso tudo, resolveu ficar lá. Ele varou a madrugada e de manhã tinha duas músicas prontas: “Dois Camelos Sem Assunto ou Meu Primo Coreano” e “V Simpósio Latinoamericano de Neurologia”.
E quanto tempo vocês ficaram nesse processo de gravação?
Acho que foi mais ou menos uns dois meses. Talvez dezembro e janeiro… Só uma música do disco, “Pero no Mucho”, que é um pouco anterior a isso. Ela já estava no meu MySpace [http://www.myspace.com/lglopes] há mais tempo e acabou entrando de última hora no lugar de outra.
Existe alguma previsão para lançarem a versão física do disco?
Ainda não. Estamos tentando viabilizar isso e, se rolar, deve sair em uma tiragem bem pequena, só para quem estiver muito afim mesmo. Não acho que é um disco para cair na mão de qualquer ouvinte. É um trabalho para pessoas que já têm o mínimo de contato com a banda e que possam entendê-lo enquanto disco de experimentação. Nós assumimos as arestas do trabalho, os problemas de imaturidade tanto composicional quanto de arranjos. As músicas estão ali em uma versão beta. Não tem nada finalizado. As canções são um pouco imaturas, mas isso foi feito conscientemente. Inclusive, o ‘Um e Meio’ tem uma espécie de subtítulo que é “Coletânea Bootleg Caravana Holiday”. Esse conceito de bootleg foi muito importante para a produção do disco. No fim, nós casamos todas essas coisas: a vontade de experimentar, a possibilidade de produzir isso em casa e o conceito de poder lançar tudo isso despretensiosamente.
Um trabalho como o “Um e Meio” talvez só seja possível com a internet. Você concorda com isso? Qual é a posição da banda em relação a disponibilizar o trabalho na internet de graça?
O Graveola só tem o público que tem graças a possibilidade que a internet criou de que nós enviássemos nosso trabalho para o mundo e que ele chegasse às pessoas que se interessariam. Temos conseguido as coisas gradualmente porque a banda tem uma postura muito ativa de comunicação na internet. Todos os espaços estão sempre atualizados, com novos conteúdos. Temos a preocupação de movimentar o site e de também gerar uma produção audiovisual. O “Um e Meio”, por exemplo, tem três bônus tracks também disponíveis no site para download: um curta-metragem louco chamado “O Síndico”, o “Funk da Praia da Estação” e um vídeo de “Sujeito a Mudança”, que é uma música que não está no disco, mas é dessa mesma época. Enfim, a gente tem uma relação muito benéfica e potencializadora com as possibilidades que a internet nos oferece. Inclusive porque eu e o Marcelo nos formamos em Comunicação Social, e a Luiza Rabello e a Flávia Mafra estudaram Belas Artes. Portanto, existem interesses no Graveola para além da música, para um paradigma novo de banda como uma instância de produção de signos de toda ordem.
Agora, uma questão que deveria ser mais debatida é a figura do compositor em relação à internet. Vamos pegar como exemplo o Marco Antônio Guimarães, compositor do Uakti. No conceito atual de músico, ele, que parou de se apresentar com o grupo há muito tempo, não teria direito de ganhar nada por causa de Creative Commons, copyright e sei lá mais o quê. Só que aí as pessoas usam as trilhas do cara e tocam as músicas dele sem a intenção de remunerá-lo pelo seu trabalho. Eu acho isso tudo polêmico… Estou com 23 anos, sou compositor, e estou no auge da minha vontade de tocar, mas, pra mim, ainda dá para pensar que eu posso me sustentar através dos meus shows. Por que esse é o discurso atual do indie, né? Você não vai ganhar dinheiro com rádio, com jabá, com direito autoral. Você vai ganhar dinheiro fazendo show. Mas vai que eu não quero ou não posso mais fazer shows? Ser compositor se torna uma atividade não remunerada e isso eu acho uma coisa problemática.
Por isso, eu sou totalmente a favor de que rádios comerciais paguem direito autoral. Acho que tem que pagar mesmo porque essas rádios grandes se sustentam com publicidade, então por que não pagar direito autoral para os autores das músicas que ela está tocando? Só que, ao mesmo tempo, ainda existe um modelo de programação musical que é muito tradicional. Olhando aqui em Belo Horizonte, as rádios que se dizem abertas à nova produção até tocam alguma coisa de bandas como o Graveola, o Transmissor e o Quebra-Pedra, mas a porcentagem disso é muito irrelevante. Toca mais o que vem do Rio e de São Paulo, o mainstream injetado aqui graças a uma política que é direcionada para isso. É triste que não haja uma política de fomento às novas cenas independentes nas rádios comerciais porque, se existisse, seria capaz de gerar outro tipo de ouvinte, já que o cara que ouve MySpace, last.fm etc. faz parte de público muito elitizado. Agora pergunta para as pessoas fora desse círculo da música independente quem é Graveola. Ninguém nunca ouviu falar, entendeu? Quem é Transmissor, Kristoff Silva, Érika Machado? Ninguém sabe.
A internet cria uma condição maravilhosa de você, se tiver um trabalho consistente, botar ele no mundo e conseguir angariar algum tipo de respaldo através das ferramentas que você tem em mãos. Mas, ao mesmo tempo, ela gera uma ilusão de democracia e possui muitos pontos que precisam ser revistos e debatidos como, por exemplo, em relação à política de download remunerado. No caso do Graveola, nós decidimos disponibilizar os dois discos para download gratuito porque a gente acreditava na consistência desses trabalhos e queríamos atingir o máximo de pessoas possível.
E eu também acho que está em jogo uma mudança de mentalidade do consumidor. O contato entre artista e fã é muito mais direto e isso proporciona uma consciência maior do cara que é o consumidor. Eu gosto de tal banda, vou ao show dos caras, compro o CD, a camiseta… É uma coisa de “eu apoio esse artista”. É uma mudança de mentalidade geral mesmo. É uma teia de relações que precisa ser mais debatida.
Por falar em público, o de vocês é bastante fiel: vai aos shows, canta junto, apóia a banda. Como você explica essa relação?
Felizmente, o Graveola tem bastante público. Os shows não são sempre lotados, mas também nunca são vazios. A gente tem essa identificação forte com o público e eu não sei bem porque isso acontece. Às vezes, acho que é sorte mesmo, mas tem um outro ponto que é a nossa preocupação constante em manter um canal aberto com as pessoas. Estamos sempre produzindo e disponibilizando conteúdo novo. O site funciona como o lugar de depositar o lixo mesmo: gravação de ensaio, demo, jam session… Tudo a gente joga lá.
Além disso, a banda possui uma vontade muito natural de tentar se relacionar com o público de uma forma próxima. Todo dia, nós recebemos e respondemos um ou dois e-mails. Enquanto isso for possível de ser feito, eu acho totalmente proveitoso, até para termos um feedback do nosso trabalho. Tem várias pessoas que não curtem o Graveola e a gente tem acesso a isso, o que é muito interessante também. O contato que a internet proporciona é essencial para movimentar essa troca constante.
O Scream & Yell publicou recentemente uma entrevista com o Romulo Fróes na qual ele reclama que os próprios artistas e companheiros da cena não são público uns dos outros. O que você acha disso? Isso também acontece em Belo Horizonte?
Eu acho que não. BH tem uma cena gigantesca, que vai desde Rafael Macedo, Quebra-Pedra e Kristoff Silva, uma galera que faz uma canção mais “erudita”, por assim dizer, até a galera de uma canção mais pop, onde eu incluo o Graveola. E eu acho que tem um trânsito legal entre esse pessoal. Eu, por exemplo, sempre vou aos shows das bandas que me interessa ver ao vivo e acho que isso é importante. E também vou a shows de bandas que eu não conheço direito, como é o caso da Monno, que eu vi outro dia sem nunca ter ouvido e achei do caralho.
Eu acredito que o fato do pessoal freqüentar os shows uns dos outros pode ser uma coisa positiva para se desenvolver um debate também. A cena se comunicar é algo muito importante e que, felizmente, tem acontecido. Não vou dizer que é o cenário ideal, mas eu vejo uma comunicação interessante até entre esferas muito distintas. Outro dia, o Rafael Macedo cantou uma música no nosso show e ele é um cara que tem um trabalho muito peculiar, muito diferente do nosso, uma coisa meio de vanguarda, sabe? Acho que essas possibilidades de trânsito são criadas até pelo fato de BH ser uma cidade pequena. Isso tem um lado muito positivo: as pessoas se conhecem, tomam cerveja juntas e, na medida do possível, se freqüentam e dialogam.
Agora, uma coisa que eu acho importante destacar é que existe um momento musical muito fértil acontecendo aqui em Belo Horizonte que ainda não tomou a dimensão que deveria ter tomado e parte da imprensa é responsável por isso. A grande imprensa daqui é feita de jornalistas preguiçosos, descompromissados e desinteressados. Não sabem o que está rolando, não vão aos shows. A galera nunca ouviu falar nem de Kristoff Silva, quanto mais de Graveola. Isso é uma coisa que me preocupa muito, o fato de eles não terem uma postura de fomento à cena.
E sem a divulgação da imprensa daqui fica difícil para o pessoal dos outros estados saberem o que acontece na cena local.
Exatamente. Quem mais precisaria comprar o peixe, não compra. A situação da cena de Belo Horizonte é difícil porque ela é uma cena invisível para a imprensa oficial. Olha só que ironia: eu estou dando entrevista para um blog de São Paulo, mas, aqui em BH, não sai entrevista minha em lugar nenhum. Não existe o mesmo interesse. Vamos lá, imprensa, vamos olhar pra cá! O que eu espero mesmo é que a cena daqui cresça a ponto de incomodar tanto a grande imprensa que eles se sintam obrigados a olhar para a gente.
Na sua opinião, por que as bandas indies aqui de Minas Gerais não conseguem tanto destaque?
Acho que tem uma coisa do “come quieto” do mineiro que resulta em uma preguiça da cena de se articular, se posicionar, se divulgar, fazer contato. Tanto que o Graveola é uma banda que adota uma postura quase que solitária nesse campo porque a gente não tem pudor nenhum de dar entrevista, botar material no site, se divulgar mesmo. Pô, pega o tanto de banda foda que tem só aqui em BH. Que faz um som mais pop tem Monno, Transmissor, Dead Lover’s Twisted Heart, Érika Machado, Junkie Dogs, Fusile, Pequena Morte… Aí do outro lado, com uma proposta de música menos pop, tem Juliana Perdigão, Kristoff Silva, Pablo Castro, Makely Ka, Quebra-Pedra, Rafael Macedo. Fora as coisas instrumentais: Diapasão, Ramo, Iconili… Tem uma galera muito boa aqui, com proposta autoral e que não consegue ganhar destaque. Porém, ao mesmo tempo em que essas bandas possuem um trabalho genial, de potencialidade estética e identidade muito peculiar, uma parte delas não demonstra empreendedorismo. Junte isso à falta de espaços disponíveis para tocar na cidade e aí fica difícil mesmo ganhar algum destaque.
Abrindo agora para além da cena mineira, muita gente tem falado que esse cenário da música atual é um dos mais férteis que o país já teve. Você acredita nisso também?
Totalmente. Se eu fosse apostar em dois vetores responsáveis por essa fertilidade da cena atual na música nacional, eu diria o acesso que nós temos a toda história da música e a possibilidade de produzir. E não só de produzir, mas mesmo de estudar. Hoje, eu posso baixar a discografia inteira do Sinhô, que é um dos pioneiros do samba, e do Milton Nascimento, digerir isso e depois cuspir alguma coisa que tenha influência do que eu ouvi. Eu acredito nisso como uma premissa para se produzir música hoje. A fertilidade, essa coisa da mistura, é uma condição do nosso tempo e é também nossa grande potência. Vivemos em um terreno fértil para quem tem visão criativa.
E o que você e o pessoal da banda mais “estudam”? Quais são as influências de vocês?
A influência do Graveola seria, na verdade, qualquer influência. É tudo que a gente ouve. Começa com Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, essa geração que, de certa forma, configurou o primeiro vocabulário de canção no Brasil. Depois passa por Dorival Caymmi, o bolero, a era do rádio, Francisco Alves, Orlando Silva… Aí tem o João Gilberto e a bossa nova. É importante falar também da Tropicália, que eu vejo como um ponto de apoio muito forte do gestual que a gente se vale. Tem ainda o Clube da Esquina que, apesar de não ser uma referência clara, faz parte do nosso vocabulário também, até porque é genético, não tem como escapar. Até o rock dos anos 80 e o axé e sertanejo dos anos 90, que são coisas que ouvimos meio que involuntariamente, acabam sendo referências importantes também.
E tem o Tom Zé, que é uma espécie de patrono conceitual de várias coisas nossas. Muito em relação à música, mas muito em relação ao pensamento também. Tom Zé é um cara que eu queria abraçar um dia porque ele tem uma radicalidade na sua inventividade, na necessidade de buscar o próprio deslocamento, que é foda. Ele não se acomoda numa forma de fazer que seja eficaz e dê resultado. Ele mesmo se define como um pesquisador, um estudioso. Eu me lembro de ouvi-lo falar que nunca teve isso de parir uma melodia bonita, que nunca foi um grande cantor e que enxergava uma proximidade entre a enceradeira e o piano, e que por isso foi tocar a enceradeira. Ele resolveu potencializar essa característica que poderia parecer uma incompetência e isso eu acho genial. É a utilização do limite enquanto recurso estético, o que, para mim, é um dos princípios de fazer arte.
Voltando agora ao trabalho novo, como vocês pretendem divulgá-lo? Quais são os planos do Graveola para 2010?
Nós montamos um show novo, que tem músicas do “Um e Meio”, músicas do primeiro disco que a gente não tocava muito e algumas inéditas também. A idéia é tocar esse repertório nos teatros aqui de Belo Horizonte. Porém, nossa vontade maior para esse ano é conseguir fazer mais shows fora. Queremos circular por todos esses canais: o Fora do Eixo, os festivais da Abrafin, todo esse circuitão de festivais que está rolando Brasil afora… universidades, encontros de estudantes, casas de show, todo lugar que for possível de transitar. A gente está a fim de rodar. A questão está em equilibrar a necessidade e a possibilidade, conseguir se adequar às estruturas que rolam sem que isso prejudique muito nosso som. Estamos tentando ultrapassar essa barreira da viabilidade, do fato de ser uma banda grande, que tem uma estrutura de som complicada, que trabalha com uma equipe própria… Estamos tentando enxugar isso ao máximo. Fazer um show mais rock n’ roll, sabe? Porque existe um lugar para isso na banda também. Temos músicas que são feitas para tocar num teatro e musicas feitas para tocar num palco pra galera. As duas coisas convivem dentro da banda porque existe produção para os dois lugares. Felizmente, a gente ainda não teve crise criativa: a produção ainda é alta, então queremos aproveitá-la enquanto podemos.
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Igor Lage acredita em Bob Dylan e no jornalismo e assina o blog Nova Discoteca
Baixe os discos do Graveola e o Lixo Polifônico: http://www.graveola.com.br/
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Leia também:
– Entrevistão com Romulo Fróes, por Marcelo Costa e Tiago Agostini (aqui)
Dá-lhe Luiz,
Ao S&Y e ao Graveola sinceros agradecimentos por existirem. O texto do Mac sobre sobre sua paixão pela música (enquanto falava do show do Rômulo Froes) e as colocações do Luiz sobre o lugar do músico como artista casam muito bem com alguns sentimentos que tenho captado nos últimos tempos.
Pablo Capilé nos provocou (escrevo de BH) em um bate-papo recente dentro da Coluna Fora-do-Eixo dizendo que temos os melhores incentivos governamentais e a melhor música do Brasil, mas não temos um artista na Rolling Stone ou na MTV. Eles está certo.
Temos grandes coletivos que tem feito de tudo um pouco para criar condições de “importação e exportação” de artista nas cidades mineiras (vide os integrantes do Fora-do-eixo Minas), outros coletivos e blogs que têm arrebentado corações com audácia e sinceridade (Mixórdia, Queijo Elétrico e afins), um dos principais núcleos jornalísticos de música do país (o Alto-Falante), e estamos a caminho de um festival que promete ser grande (e alvo de uma recente polêmica sobre sua aprovação numa Lei de Incentivo sobre a qual não tenho opinião). Aqui tem coletivos brucutús de imagens rock (@Azucrina, @45jjbb), e de quebra uma cena eletrônica atuante nervosamente há uns 15/20 anos, além da vocação para a boêmia e de sermos mineiros.
O que falta de empreendedorismo nas bandas mineiras sobra de linguagem. Ok, estou doidão, posso estar errado, no vou entrar em méritos. Mas como o Capilé falou no início, temos a melhor música do Brasil, o que nos leva a pensar que sim, MInas tem sua música reconhecida, tanto no Brasil, quanto no exterior, não mercadológicamente, mas artisticamente, dialogando com as diversas cenas – européias, argentinas, japonesas, paulistas, sulistas, cariocas… – mas respondendo à sua maneira, tipo um liguagem.
E pam! Tem-se a música mineira viril e pujante na cara da sociedade. Tem se o Graveola. Um monstro com poder mutuante de se incorporar a qualquer célula sonora – seja banda seja artista solo – e faz música linda e emocionante, e extremamente divertida, e cosmopolita, e clichê, e cafona, e muito forte, muito própria – uma linguagem. É do caralho!
A cena de BH está bem mas é meio diferente: enquanto umas bandas não vão ao show das outras, as outras estão ressuscitando o carnaval de ruas para um público que durante muito tempo foi forçado a acreditar que em Belo Horizonte carnaval era época de descanso, de tão afastada das festividades que foram forçadas a ficar (ffaf).
A cena de BH não é só musical, e atualmente está puta com a a Prefeitura pela proibição infantil de proibir shows e eventos na Praça da Estação, uma das 3 praças principais do centro da cidade.
Round 3:
Belo Horizonte joga seus filhos em lagoas, ouve música ruim, e muito cover, cover pra caralho, recentemente, não bastasse Emerson Nojera ser daqui, o Novelle Vague esteve por aqui. Mas também tem música boa, mas a formação do público interno é fraca, desacreditada por investidores. Aqui música e músico, tradicionalmente, são coisas pouco reconhecidas e muito menos rentáveis.
Sem glamour – talvez causa da falta de empreendedorismo – grupos musicais se formam e se deformam sem grandes estrondos, mas deixando grandes lembranças. Porque aqui é difícil se firmar e as bandas consumam acabar. Costumavam, pois já temos grandes bandas e músicos solos a longos anos na estrada, todos os citados por Luiz por exemplo. Temos o melhor time do Brasil – o Cruzeiro (apesar de eu ser atleticano), e eu só quero é ser feliz. Deitar na minha cama que eu tôo passando mal.
GAkuLeeara forten no arockY!
Att.
Celton
mas graveola não é sexteto. tem o bruno no baixo tb.
Interessante o/
Muito bacana a entrevista do Luiz. Não tinha lido.
Só queria comentar uma coisinha: acho uma injustiça, Luiz, você dizer que a cena daqui de BH é invisível para a grande mídia. Vou até excetuar o Alto-falante desta história, porque é um programa específico de música e cobre bastante a cena daqui. Mas eu sempre vejo matéria periódicas nos jornais, em quase todas as tevês (a Globo não vai fazer mesmo. Mas a Globo é a Globo né).
Falando como profissional que já atuou e atua em todas as frentes, eu digo que às vezes falta é material decente para a divulgação dos eventos. Não adianta querer matéria na tevê se não tem imagem. Não adianta querer espaço com destaque em jornal se não tem foto decente.
Já trabalhei com assessoria de imprensa e não foram poucas as vezes em que perdi a oportunidade de divulgar eventos na grande mídia porque meus clientes não tinham material divulgável. E depois reclamavam que não conseguiam espaço.
Acho que esta pode ser uma contribuição válida para esta questão: se preocupem com seu material de divulgação, saibam se ele é pertinente para aquele veículo.
E recomendo também a leitura de uma coluna do Terence Machado, que toca em alguns pontos relativos a isto também:
http://programaaltofalante.uol.com.br/index.php?master=colunas&sub=esquemanovo&ac=2&id=203
Isso é uma total falta de noção da realidade. Afirmar isso é afirmar que exista alguma cena, em algum lugar do Brasil, que esteja na vista da “imprensa oficial”. Ou que estar nesse meio seja fundamental para legitimar qualquer coisa.
A grande maioria das bandas que não circulam, como o Graveola, vivem essa falsa ilusão de que a grama do vizinho é mais verde, ou pior, de que o sucesso não aparece porque não existe um terceiro fazendo seu trabalho.
No que diz respeito a música, BH é incrivelmente bem representada em qualquer grau. Seja em nomes consagrados, novos, etc. Talvez só Salvador tenha mais grandes representantes na música que Belzonte.
É assustador a dificuldade que 90% das bandas tem de enxerger o contexto total da coisa. Uma cidade com quatro festivais legais (Eletronika, Campeonato de Surf, Garimpo e Transborda), com um programa próprio de música na TV que tem exibição nacional, com bandas que vão de Sepultura a Pato Fu a novos nomes como Eminence e Dead Lovers Twisted Heart, Porcas Borboletas, Monno, Valv, Virna Lisi. O que é que falta nessa cena?
Nunca tinha ouvido falar desse Graveola e até fui baixar, mas não curti (desculpem), e dessas bandas novas (nem sei se são novas) que o rapaz citou não conheço nenhuma (menos Pato Fu e Sepultura, claro), mas me interessei pela questão do final:
O que é que falta nessa cena?
Tudo.
Não sou nerd de música como vocês desse site então não conheço as bandas que vocês falam, mas vou me surpreender se algum de vocês disser que Eminence e Dead Lovers Twisted Heart, Porcas Borboletas, Monno, Valv, Virna Lisi sobrevivem de tocar suas próprias músicas. Se eles não sobrevivem disso para que serve essa tal cena. Nada.
Vou atrás dos sons, dessas bandas mas não sei se deveria funcionar assim. Acho que os sons é que deveriam ir atrás das pessoas. Boa sorte.
Jonas… em qual cidade que as bandas vivem da própria música? O espaço para isso sempre foi e sempre vai ser muito pequeno. O Eminence vive da própria música. Porcas e Dead Lovers circulam o país e já tocam até fora dele. Nem em Recife, onde eu moro, bandas como Mundo Livre S/A e Mombojó, que estão em campo intermediário entre os novos e gigantes, vivem só da música que fazem.
Toda cena funciona assim.
E outra… o som que chega até as pessoas é o que toca em rádio. Se você for esperar para ouvir só o que chega a você, então tá ferrado. O verdadeiro fã de música garimpa sempre por mais, por novidades e, principalmente, acredita e apóia o que gosta.
Bruno, só uma correção com relação ao fato do Graveola não circular. Circula sim. A agenda de outubro comprova.
28 Sep 2010 22:00
Bronze Ribeirão Preto, SP, BRAZIL
30 Sep 2010 22:00
Bombar Araraquara, SP, BRAZIL
1 Oct 2010 22:00
SEDA – Jack Pub Bauru, SP, BRAZIL
5 Oct 2010 22:00
Graveola + D’Água Preta – Auditório da Fundação Cultural Paraibuna, SP, BRAZIL
6 Oct 2010 19:00
Estúdio Oi Novo Som Rio de Janeiro, RJ, BRAZIL
7 Oct 2010 19:00
Graveola + Bonifrate & os Demônios do Brejo – AUDIOREBEL (lançamento do vinil) Rio de Janeiro, RJ, BRAZIL
23 Oct 2010 22:00
FEIRA NOISE – CENTRO DE CULTURA AMELIO AMORIM Feira de Santana, BA, BRAZIL
29 Oct 2010 23:00
GRAVELOVER’S – Festival MOLA – Circo Voador Rio de Janeiro, RJ, BRAZIL
Bandas como Graveola, Dead Lovers e Porcas tem uma boa circulação pelo país. Outras como 4instrumental, Manolos Funk, Vandaluz e Monograma circularam muito dentro do Estado. Em ambos os casos acho que elas ainda recebem muito pouco espaço na mídia local, basicamente porque os jornalistas na grande mídia (ao que parece) se pautam pela grande mídia. É tudo muito lento, arrastado…. Demora demais até eles acordarem pra algo. Se formos falar das rádios então, aí a conversa rende.
“Temos o melhor time do Brasil – o Cruzeiro (apesar de eu ser atleticano), e eu só quero é ser feliz.” Muito bom, Batista.
Bruno, e demais debatedores,
se tomarmos por base que a prática do jornalismo se refere basicamente à produção de realidades simbólicas para consumo cultural através dos meios de comunicação, e que essa construção parte de uma triagem do teor de “necessidade” de certos acontecimentos – o tal “interesse público”,
e que esse processo parte (ao menos em tese) das realidades sociais dos lugares a que tais construções se referem,
e que, nesse campo de trocas simbólicas, o agendamento de determinadas pautas em detrimento de outras fomenta a multiplicação do debate e do consumo em torno das realidades pautadas, sejam elas um refrigerante, uma preferência eleitoral ou uma banda,
e somando a isso o fato de que a chamada imprensa cultural indie ainda atua num meio extremamente restrito, pra não dizer elitizado, que é o dos cidadãos brasileiros devidamente nutridos, alfabetizados e com acesso à internet num nível crítico relativamente avançado, para empreenderem buscas por blogs, myspaces e afins,
temos aí sim um grande problema, que é o da manutenção de um circuito de cultura independente amplamente direcionado aos guetos economicamente favorecidos da classe média urbana.
em outra ocasião tive essa mesma discussão com o james a partir de um post no site do alto falante, e recoloco na roda minha opinião pro debate: existe ainda uma distância cabulosa entre a música pautada no scream yell ou no pop up e o som que toca nos fones de ouvido do trocador do busão.
no caso de bh, não há dúvidas de que o conteúdo já existe e pulsa pela cidade, então a questão é definitivamente com os meios.
temos hoje vários núcleos culturais que produzem com qualidade e freqüência, mas há um notório descompasso entre essa realidade e a política editorial do tradicional jornalismo cultural mineiro, quase sempre subserviente à mídia do eixo rio-são paulo e pouco atenta à produção local.
tomo por exemplo a praia da estação, que foi um movimento ducaralho levado à frente principalmente pela classe artística, pelas bandas, os grupos de teatro… deu no quê? em nada. por quê? porque a cidade ordinária não é indie, e portanto não tributa credibilidade alguma a esses grupos. a praia da estação não atingiu a cidade ordinária, por mais que tenha se esforçado nesse sentido.
aliás, edição 19 da tv queijo elétrico toca muito bem nesse ponto, com a sorridente máxima que atinge todos nós num sentido amplo: “muito cacique pra pouco índio. cadê o público?”
hoje já se vão mais de dez anos desde a última onda mineira que alçou representatividade pop efetiva além da avenida do contorno. era mesmo outro contexto, outras condições. mas se minas é de fato a bola da vez, como estão apostando muitos dos especuladores da “nova indústria da música”, definitivamente há que se criar localmente uma consciência política desse fato para que o agendamento dessa cena na grande imprensa seja tomada como prática sistemática e não como um gesto de complacência para com a “galera das bandas”.
eis o meu ponto. que acham?
um abraço e até logo!