Ser filho de uma lenda viva da música mundial não deve ser tarefa das mais fáceis. Por mais que isso abra inúmeros caminhos e portas, as cobranças e comparações devem ser imensas. Jakob Dylan, hoje com 40 anos, sabe muito bem disso. O músico sempre caminhou com a sombra do pai nas costas, desde o tempo que tocava o Wallflowers entre 1989 e 2006. Apesar disso montou um trabalho de boa qualidade e alcançou certo sucesso por méritos próprios.
Sua ex-banda (mesmo não confirmando seu final) fez bons discos, entre eles “Bringing Down The Horse” (1996), que trazia faixas como “One Headlight”, “6th Avenue Heartache” e “Invisible City”. A produção desse antigo trabalho foi feita por T-Bone Burnett, um reconhecido músico e produtor norte americano de country e folk. No seu segundo trabalho solo que chega as lojas agora em abril, a produção novamente esteve nas mãos dele.
No seu primeiro registro, “Seeing Things” de 2008, Jakob Dylan tocou praticamente de modo acústico, sem maiores instrumentações, provocando um resultado bem razoável. Em “Women And Country” essa vertente acústica ainda se mostra o fio condutor, mas ganha a companhia de diversos instrumentos como teclado, trombone, guitarra, bateria, baixo, trompete, violino e bandolim. Uma banda extremamente competente é responsável por conduzi-los.
“Women And Country” traz onze faixas, nas quais em oito, o músico conta com os backing vocals das cantoras Neko Case e Kelly Hogan, que ajudam e muito a construir a beleza do trabalho. Mesmo não podendo comparar as letras do filho com as do pai (o que seria uma tremenda covardia), temos um retrato amplo de desesperança em cima de um país e de uma vida que parece que vem perdendo o sentido na sua visão particular. Nem o amor salva.
Em “Everybody’s Hurting”, Jakob canta: “Apenas uma coisa é certa. Que todo mundo, todo mundo está sofrendo”. Em “Holy Rollers For Love” constata tristemente que “agora temos mais funerais que feiras” e em “Standing Eight Count”, meio perdido em questionamentos, pergunta: “Em que direção estamos indo?”. Em termos gerais, todas as canções trazem esse mesmo clima, ancorados em bases de folk e country, com pinçadas de jazz e blues.
“Women And Country” ainda tem entre outras coisas a beleza de “Nothing But The Whole Wide World” e “Truth For A Truth”. No seu segundo disco, até pela participação de Neko Case e Kelly Hogan nos vocais, Jakob Dylan se aproxima muito de um grande disco dos últimos anos, o “Raising Sand” de Robert Plant e Alison Krauss lançado em 2007 (não gratuitamente também produzido por T-Bone Burnett). O filho do homem está mandando muito bem.
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Direto de Belém, Pará, Adriano Mello assina o blog Coisa Pop.
Leia também:
– “Raising Sand”, Robert Plant & Alison Krauss, por Marcelo Costa (aqui)
– “Together Through Life”, Bob Dylan, por Marcelo Costa (aqui)
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