Por Marcelo Costa
Em 19 de maio de 1977, quase três anos após renunciar à presidência dos Estados Unidos, Richard Nixon concedeu uma rara entrevista ao apresentador de variedades britânico David Frost. A conversa, dividida em quatro partes, gravada em quatro dias diferentes, se tornaria a entrevista mais vista da história da televisão mundial. Por vários motivos: Nixon renunciou apenas para evitar o impeachment, não respondeu às acusações e não se desculpou publicamente… até encontrar David Frost.
“Frost/Nixon”, com direção correta de Ron Howard, narra um capítulo importante da história política mundial e pode ser tomado como uma ótima seqüência para o sensacional “Todos os Homens do Presidente” (1976), de Alan J. Pakula, em que dois jornalistas (no filme, Robert Redford e Dustin Hoffman) descobrem que o então presidente estava envolvido na espionagem do Partido Democrata no hotel Watergate, em Washington, o que entre outras coisas termina na renuncia de Nixon.
Vencedor de quatro Oscar, “Todos os Homens do Presidente” é uma aula sobre a força do jornalismo, e “Frost/Nixon” segue o mesmo caminho. No primeiro, porém, a figura tradicional do jornalista é vista em toda sua plenitude (tanto que a direção do filme reconstruiu a redação do Washington Post em estúdio – com auxilio do jornal –para que o filme soasse o mais verossímil possível) enquanto o segundo causa mais interesse quando o assunto é manipulação da mídia e, principalmente, televisão.
David Frost era apresentador de auditório de um programa na Austrália quando teve a sacada que conseguir uma entrevista com Nixon poderia render uma grande audiência. Não entendia de política e não estava acostumado com o meio, então corria o risco de ser manipulado pelo adversário e ver o especial que planejara ser transformado em uma homenagem ao ex-presidente. É mais ou menos isso que acontece nas três primeiras sessões de entrevista. Nixon massacra Frost em assuntos complexos, polêmicos e capitais do mandato do ex-presidente, mas o apresentador não desiste.
Na última das quatro sessões de entrevista, a pauta deveria tratar exclusivamente sobre o escândalo de Watergate, e Ron Howard apóia-se nos closes que valorizam as ótimas interpretações de Michael Sheen (o Tony Blair de “A Rainha”) e Frank Langella em atuação digna de (sua indicação ao) Oscar. É interessante observar como o entrevistado domina o entrevistador e, com isso, o conteúdo da entrevista. Vistos juntos e em seqüência, as quatro sessões ensinam mais sobre jornalismo – e televisão – do que meses trancado em uma sala de aula.
Não à toa, o local em que a entrevista é feita lembra muito mais um ringue do que uma sala de estar. Cada pergunta é estudada antecipadamente, e as respostas – como quase sempre quando o assunto é política – dizem mais sobre outras coisas do que sobre o que foi perguntado. Como aula de jornalismo, “Frost/Nixon” mostra que uma entrevista pode ser uma grande batalha (ou uma grande manipulação). Como cinema soa um filme correto, o que no caso de Ron Howard já é um avanço (vide “O Código Da Vinci”, “A Luta Pela Esperança” e “Uma Mente Brilhante”). Para assistir e lembrar nos debates das próximas eleições.
“Frost/Nixon”, de Ron Howard – Cotação 3/5
Leia também:
– “Boa Noite, Boa Sorte”, de George Clooney, por Marcelo Costa (aqui)
– “O Código Da Vinci”, de Ron Howard, por Marcelo Costa (aqui)
Vi o filme, é ótimo. Mesmo com Langella parecendo mais o Antônio Ermírio do que o próprio Nixon ele está excelente!
Bem, no nosso caso para assistir e ‘não lembrar’ das perguntas não feitas, assim como tb das respostas (mesmos que acidentais) não dadas!
abs
“… Um texto sobre: Frost/Nixon, de Ron Howard, do Scream & Yell…”
http://vinhal.blogspot.com/2009/03/fim-de-semana_30.html
As atuações de Sheen e Langella conduzem o filme. Vale bem a pena!