Marcelo Costa
Rachel vai se casar, e adivinha quem vem para a festa: uma ex-viciada que passou noves meses numa clinica de rehab e que geneticamente é apontada como sua irmã, Kym. O casamento pode ser de Rachel, mas as atenções estão todas voltadas para a irmã caçula, que retorna a casa em um momento de confusão extrema (festas de casamento são, na maioria das vezes, uma bagunça – quase – organizada), pouco silêncio e muita sociabilidade.
Kym (Anne Hathaway em grande atuação), a ovelha negra, é o centro das atenções em todos os cômodos da casa, mas esse é o dia de Rachel (a ótima Rosemarie DeWitt). O que se segue pelos 114 minutos do filme é uma grande lavagem de roupa suja que a roteirista estreante Jenny Lumet consegue desenvolver na medida certa distribuindo traumas familiares bastante reconhecíveis para muita gente (“Você sempre deu mais atenção a ela”, diz Rachel ao pai em certo momento).
O casamento fica em segundo plano em um primeiro momento. Kym está se sentido um peixe fora do próprio aquário, uma estrangeira dentro da própria casa, e tenta se readaptar a todo custo – para mostrar que está limpa e arrependida de tudo que fez. Toda família tem problemas, e o papel de Rachel – nessa data tão esperada e especial – é o de manter Kym na linha. O choque é algo natural e esperado, mas o cenário é completamente surreal (como grande parte das festas de casamento).
Rachel está se casando com Sidney (Tunde Adebimpe, vocalista do Tv On The Radio, que como ator é um ótimo cantor), e a união das duas famílias também é uma união de raças, credos e sons. Jazz, música irlandesa, funk, música indiana e até carnaval – com um pequeno núcleo de uma escola de samba – pontuam a looooooonga e surreal passagem da festa, momento em que Kym é finalmente deixada de lado e pode conviver com seus demônios bebendo taças de água tônica.
O diretor Jonathan Demme teve uma sacada genial para filmar: se o assunto é uma festa de casamento, que tal usar câmeras de mão como se todos fossem cinegrafistas amadores? A sacada tem um tom irônico e funciona no começo, mas enche a paciência – com suas dezenas de passagens tremidas e desfocadas – conforme a fita vai se desenrolando. Já experimentou ver uma fita de casamento filmada por amigos? Parece chato, não? A sensação causada pelo filme de Jonathan Demme é a mesma (tanto que o filme parece ter o dobro do tempo que tem).
O roteiro de Jenny Lumet é cuidadoso e apesar de não trazer nenhuma novidade, desnuda os personagens de forma convincente para mostrar que é sob pressão que podemos enxergar todas as cicatrizes de uma família. Por fim, Anne Hathaway, o grande nome do filme. Ela domina a tela e o público não tira os olhos dela. A jovem atriz consegue soar delicada e determinada em um papel que a Academia adora, mas está entre as cinco indicadas para cumprir tabela (e pegar experiência).
Tanto o Oscar quanto o Globo de Ouro só lembraram de Anne Hathaway em suas listas de indicações, e acertaram. “O Casamento de Rachel” soa um filme repleto de boas idéias que não foram desenvolvidas a contento. Vale pela boa atuação de Hathaway (e também de Rosemarie DeWitt, excelente como Rachel) e por um tocante momento musical em que, a capela, o noivo interpretado por Tunde Adebimpe canta “Unknowm Legend”, e o padre os abençoa em nome de Deus e de Neil Young. Para pedir nos shows do Tv on The Radio.
“O Casamento de Rachel”, de Jonathan Deme – Cotação 2/5
louquíssimo para ver. acho que vou amanhã ao cinema, se a preguiça me deixar.