por Marcelo Costa
Foi dada a largada na noite de sábado para o calendário de festivais de rock no segundo semestre na linha de baixo do Equador. Os brasileiros do Vanguart, os norte-americanos do Melvins, as francesinhas do Plasticines e os suecos do Hives (melhor excluir o DJ Ruim da lista) levaram um bom público ao Via Funchal, numa noite de som em excelente qualidade e shows para todos os públicos. Na frente do Via Funchal, um pequeno público se movimentava e ainda era possível comprar meia-entrada a R$ 50 nas bilheterias da casa.
O Vanguart ficou encarregado de abrir os trabalhos às 19h, mas quando adentrei o Via Funchal, King Buzzo já fazia flutuar no ar o barulho esganiçado de sua Gibson Les Paul. Duas baterias (uma delas com Dale Crover) massacravam no centro do palco, e Jared Warren, com roupa de marinheiro, arrastava o que sobrava com riffs envenenados de baixo. O show foi um massacre centrado em “Nude With Boots”, disco lançado em julho, com canções como “The Kicking Machine”, “Suicide In Progress” e “Dog Island”.
Músicas mais recentes e experimentais marcaram presença no show, o que não quer dizer que o nível de barulho diminuiu (nem que foi bom). Após a banda tocar “My Generation” (irreconhecível), entoar o hino norte-americano, ser vaiada por isso, e apresentar um dos raros números antigos do repertório, “Boris” (1991), para finalizar a apresentação, alguém arremessou um copo de cerveja que acertou em cheio Buzzo, que deixou o palco na sequência. Fim de um show só para fãs.
As meninas do Plasticines vieram em seguida. As francesas estão fazendo em 2008 o que o Donnas faz desde 1993 e o Runaways fazia nos anos setenta, sem acrescentar nada. O som continua apostando num rock com um pitadinha de Ramones em que o fato que mais chama a atenção não são as canções – razoáveis – mas sim o fato das integrantes serem todas garotas… e, neste caso, francesas e bonitas.
No meio do show, um rapaz na grade pediu para a vocalista Katty Besnard falar em francês, e não em inglês: “Parler dans Français? Ce que?”. A ala masculina foi ao delírio, e isso é o máximo que pode se esperar de um show das Plasticines: quatro garotas bonitas fazendo um rock básico sem sal, gostoso de olhar, dispensável de ouvir. Tipo: o melhor momento do show foi a cover de “These Boots Are Made for Walkin’”, de Nancy Sinatra, ou Katty tascando um beijo na bela baixista Louisie? Dúvida.
Com os homens sorrindo a toa, era a vez da ala feminina se encantar com os suecos do Hives. O agitado vocalista Pelle Almqvist partiu corações rebolando, distribuindo sorrisos, beijos e dizendo “eu te amo”. O show foi um repeteco do Werchter, com a vantagem de que em São Paulo era uma casa fechada, e não um mega-festival. E Pelle falando em português é uma comédia: “Eu, vocalista”, “Senhouras e senhouras”, “Batam palmas… Parem” e um inevitável “Tira o pé do chão”.
Musicalmente o show é impecável. Ok, eles poderiam concentrar-se no filé do repertório (”Main Offender”, “Tick Tick Boom”, “Hate To Say I Told You So”) tocando tudo em apenas uma hora, economizando trinta minutos dispensáveis, mas mesmo assim o show convence com destaques para a mão pesada do batera Chris Dangerous, as mil e uma caras do guitarrista Nicholaus Arson e a entrega de Pelle. No final, com meninas no mezanino levantando a camisa e mostrando os sutiãs para a banda, era possível ouvir alguns “vocalista, eu te amo” na plateia.
O saldo final da noite foi positivo. A qualidade de som faz imaginar que se as coisas permanecerem assim, os shows do R.E.M. devem ser históricos no Via Funhal. O Orloff Five como festival? Foi ok. Alguém só devia dar umas bifas naquele DJ que adora cortar as músicas na metade, mas os grunges experimentais saíram felizes (apesar da quantidade de emos embasbacados com o Melvins no local) e os onanistas também (e vá lá, algumas meninas felizes com a visão do palco no show das Plasticines). Um festival para todos os gostos.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne