por Marcelo Costa
Após a tempestade sônica “Let It Roll”, de 2006, Robert Fisher retorna ao lirismo com seu Willard Grant Conspiracy neste “Pilgrim Road”, sétimo álbum de Fisher, parceria do compositor norte-americano com o músico escocês Malcolm Lindsay, mas que conta com o séqüito de colaboradores que sempre marca presença em um novo álbum do projeto.
“Pilgrim Road” ignora a demência de “Let It Roll” para dar as mãos com “Regard The End”, de 2003 na sonoridade sombria e na temática religiosa. A voz de Fisher volta a lembrar Nick Cave (a associação é imediata), e canções pungentes como “Lost Hours”, ao piano e cordas, poderiam facilmente fazer parte do repertório do bardo australiano, e isso não é demérito.
Robert Fisher trafega entre o alt-country noir e – o que ele mesmo chama de – punk pop folk embora “Pilgrim Road” não traga nada de punk nem de pop, e sim uma sonoridade delicada que versa sobre fé e dúvida. “Lost Hours” toma um caminhoneiro como personagem que divaga sobre o tempo perdido, a saudade de casa e a existência de Deus (“A lua está muito baixa para nos iluminar / O deserto está muito escuro para que possamos observar a noite”, canta Fisher).
No gospel “The Great Deceiver”, o vocalista pergunta “onde está o salvador?” auxiliado pela cantora Iona McDonald, mas ele não aparece. Na belíssima “Jerusalem Bells”, outra movida a piano e cordas, o personagem fala de esperança e sorte, mas pressente que acidentes vão acontecer. “Deus e diabo estão lutando pela minha alma / E ela está cheia de buracos”, diz a letra de “Pugilist”, outra canção magnífica cujo destaque é o tocante coro vocal.
“Phoebe” fala sobre não encarar a tragédia enquanto “Painter Blue”, com tintura renascentista, fala de abandono. “O amor não é verdadeiro”, canta Fisher desconsoladamente em “Malpensa”, com um bonito solo de violino. O instrumental de “Water And Roses” poderia ninar psicopatas. “Vespers” é o momento da perda da fé. Há, ainda, uma versão para “Miracle On 8th Street”, do American Music Club.
Mais de 20 músicos colaboram com Robert Fisher em “Pilgrim Road”, e chega a impressionar como o músico consegue dar unidade ao som do grupo. Violino, violoncelo e órgão dançam de mãos dadas em noites escuras com guitarras, baixo e violões criando uma sonoridade perfeita para embalar temas de vida e morte, enganos e salvação, brigas e oração. Um disco bonito para se ouvir em silêncio, meditando.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Marcelo, vc escreve muito bem, eu também escrevo resenhas mas ainda estou começando e ler teus textos é uma boa luz. esse album é muito bom mesmo.um abraço.
%!@$&@# great deceiver é o tipo de canção que eu daria um braço pra fazer.