Ao vivo em São Paulo, Oasis faz um grande show no estacionamento do Credicard Hall

por André Azenha

Toda a vez que os britânicos do Oasis vêm ao Brasil, a imprensa alardeia a má fama dos rapazes, principalmente dos irmãos Liam e Noel Gallagher. Dessa vez, na terceira passagem dos bros em terras tupiniquins (as anteriores foram em 1998 e 2001), não foi diferente. Uma matéria do site de um grande diário paulistano citava as “Dez Maiores Encrencas dos Irmãos Gallagher”. Pura bobagem. Eles sempre foram marketeiros de marca maior, e a alcunha de arrogantes, ao menos nessa noite do dia 15 de março, quando o grupo fez o show da turnê do excelente álbum “Don’t Believe The Truth” (que recolocou a banda nos trilhos), ficou de fora do palco.

As quase 15 mil pessoas que compraram os ingressos tiveram que enfrentar um trânsito caótico para chegar ao estacionamento do Credicard Hall. Muitos perderam a banda de abertura, o Moptop. Nas ruas próximas ao local, dezenas de cambistas ainda estavam vendendo entradas pelo preço comercializado no início da divulgação do evento: R$ 120. No começo do show, no entanto, o preço caiu para R$ 50 e teve gente comprando até por R$ 20. Para quem estava a fim de faturar uma camiseta, o negócio foi comprar do lado de fora, por R$ 15, enquanto dentro o valor era a pequena bagatela de R$ 50. O copo de cerveja (só havia Skin) custava R$ 5 e pacotinhos pequenos de Doritos e Ruffles, R$ 3,50. Ai de quem teve fome.

Dificuldades do público superadas, o quarteto entrou no palco com pontualidade britânica, às 21h59, antecedendo em um minuto a programação. De cara, após rápida execução da instrumental “Fucking in the Bushes” (que também abriu o show do Rock in Rio) nas caixas de som, emendaram duas músicas do último trabalho: “Turn Up the Sun”, e a primeira e fazer a massa cantar junto, o single “Lyla”. A partir daí, começou a cair uma tempestade (foi quando Noel comparou São Paulo com sua cidade natal, Manchester) que fez a alegria dos vendedores de capas de chuva, que de R$ 3, aumentaram o valor para R$ 10. O pé d’água não atrapalhou em nada, e ajudou a lavar a alma dos fãs, tomados pelo clima da festa.

Com mais de dez anos de estrada e ótimos discos lançados, o Oasis é daqueles grupos cheios de hits, dos quais, se nem todas as pessoas sabem as letras de cor, ao menos lembram dos refrões. Assim fica difícil não agradar. O som começou baixo, mas logo estava fazendo o chão tremer. A postura ao vivo dos caras continua a mesma. Paradões, poucas palavras e uma música atrás da outra. O palco gigantesco facilitou a visão até para aqueles que ficaram distantes; e o telão falhou em alguns momentos devido ao tempo.

A formação atual provavelmente é a melhor que a banda já teve. Isso se deve graças à competência do baterista Zak Starkey (filho de Ringo Star), do baixista Andy Bell e do guitarrista Gem Archer, que deram um frescor ao som feito pela turma. Já Noel continua sendo Noel, mandando bem no vocal quando precisa e firme na guitarra-base. E Liam continua cantando muito.

A apresentação seguiu alternando grandes sucessos como “Morning Glory”, “Cigarettes & Alcohol” e “Acquiesce” com canções novas como “Mucky Fingers”. Dois fatores chamaram atenção: o grande número de adolescentes que eram bem novinhos quando o primeiro álbum, “Definiteily Maybe”, foi lançado, mas que cantaram todas as músicas antigas. E a quantidade de pessoas que acompanhou as músicas novas.

Entre rockões e baladonas, os pontos altos da festa foram logicamente “Wonderwall”, “Champagne Supernova”, “Don’t Look Back In Anger”, “Rock’N’Roll Star” e, principalmente, “Live Forever”. Essa última foi dedicada por Noel à nossa seleção de futebol (causando urros de alegria do público). A ausência percebida por algumas vozes da platéia foi de “Stand By Me”, deixada de lado junto com os outros sucessos do álbum “Be Here Now”. Parada de alguns minutos e a primeira do bis foi “Supersonic”. No encerramento, após 01h40 de rock, em uma das raras vezes que foi possível presenciar uma canção porrada com bateria rápida executada pelos ingleses, o clássico do Who: “My Generation”. Sorrisos e mais sorrisos.

No fim das contas, para quem foi alertado de que ao vivo eles não faziam jus aos grandes álbuns lançados, e que só dava para esperar da banda um bando de britânicos malas e enjoados, a surpresa e a satisfação foram tremendas. Dispensando os discursos a la Bono Vox ou a mega-produção do U2, e os trejeitos de um Mick Jagger, o que bastou para (junto com a água vinda do céu) lavar a alma do povo foi um gigante palco simples e uma banda disposta a executar corretamente grandes canções presentes na memória de (agora) mais de uma geração. Afinal, do que mais um bom show de rock precisa? Ponto para o Oasis e sorte dos 15 mil felizardos que compareceram, já que o show-extra que aconteceria no dia seguinte foi cancelado.

– André Azenha (@cinezen) é jornalista e editor do site CineZen Cultural

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