por Juliana Zambelo
“Alex Turner é o verdadeiro poeta-cronista do nosso tempo,
um Paul Weller ou Morrissey ou Jarvis Cocker da geração pós-dance-music, pós-Blair”.
Uau. Melhor explicar: Alex Turner é membro do Arctic Monkeys. Essas palavras são do sério e quase sempre pouco impressionável jornal Guardian. Alex tem apenas 19 anos. E nada disso faz muito sentido.
A mais nova sensação do rock britânico, o maior fenômeno da Internet, é tudo grande demais para o Arctic Monkeys, quarteto de Sheffield que de agosto para cá se tornou um acontecimento na Grã-Bretanha. Mais um. A sua bandeira é ter sido o primeiro grupo a construir uma base bastante numerosa de fãs graças ao boca a boca virtual, através de fóruns de discussão e programas de troca de música, sem execução em rádio ou contrato com gravadora. Mas se na Inglaterra isso é uma novidade digna de aplausos, no Brasil, onde esse é praticamente o único modo pelo qual o rock não boçal (e um pouco do boçal também) tem circulado há anos, a “proeza” nem foi notada.
O grupo é formado por Alex, Jamie Cook, Andy Nicholson e Matt Helders, todos com no máximo 20 anos de idade. Tem pouquíssimos shows no currículo, apesar de a banda já ter cerca de três anos de estrada (se você considerar a fase de grupo formado no colégio por meninos de 16 anos como “estrada”). O primeiro disco, que será lançado no final do mês e já está na Internet há semanas, traz logo no título uma pista de quanto o sucesso nesses níveis pode mexer com a cabeça de rapazes tão jovens: “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not”. Questões de identidade, soberba camuflando insegurança, rebeldia adolescente sem causa, tudo apenas no nome. Mas como sempre acontece em casos como esse, dentro do rock tão cheio de clichês, o que falta em maturidade – e falta muito – , sobra em vigor e entusiasmo.
O Arctic Monkeys é mais um desdobramento do punk rock, cria direta do Libertines. Faz canções de dois minutos e pouco, diretas, no vácuo que Pete e Carl deixaram depois do segundo disco, colocando em algumas faixas um tantinho da verve quebrada e dançante que está em voga hoje em dia. E é a isso que deve ser comparado. Esqueça Jarvis Cocker e Morrissey, as diferenças são tantas que é melhor nem começar. E principalmente esqueça Paul Weller. Ele tinha a mesma idade desses meninos quando o álbum de estréia do Jam foi lançado, mas as semelhanças acabam aí. Turner precisa comer muito arroz com feijão para chegar à visão crítica, o inconformismo sincero e o idealismo de “In The City” (1977). No entanto, Alex é observador e tem algumas boas sacadas quando observa a sua geração viciada em clubes noturnos, muitas vezes perdida entre a necessidade do approach certeiro e a falta do que dizer, dependente de encontros e conquistas comandadas por DJs e luzes piscantes.
Dos pouco mais de quarenta minutos do disco, os primeiros são certamente os melhores – ou eles te pegam pelo colarinho e balançam até você seguir pulando sozinho ou podem deixá-lo de lado para ouvir outra coisa. A abertura “The View From the Afternoon” é daquelas músicas nas quais cada estrofe parece um refrão, tal é sua força, e vem seguida do hit do grupo, “I Bet You Look Good on the Dancefloor”. Pule para a faixa quatro, “Dancing Shoes”, e qualquer metro quadrado vira uma pista de dança em potencial.
O álbum é cheio de referências espertinhas a música pop, como Police (“And he told Roxanne to put on her red light”) e Duran Duran (“Your name isn’t Rio, but I don’t care for sand”). Traz boas baladas, como “Riot Van” e “Mardy Bum”, e enfraquece no final em uma seqüência de duas ou três músicas dispensáveis. “Whatever People Say I Am…” deverá ganhar edição nacional pela Slag até abril, mas já está inteiro na Internet, e é o primeiro disco relevante do ano. Até dezembro serão tantos os hypes que talvez poucos ainda se lembrem do Arctic Monkeys na hora de montar a lista de favoritos de 2006 e “I Bet You Look Good on the Dancefloor” seja só mais uma música que as pessoas não tenham mais vontade de dançar. O tempo é impiedoso, mas eles não estão preocupados. Afinal tempo é um assunto sobre o qual esses meninos ainda não sabem absolutamente nada.