“Man-Made”, Teenage Fanclub
por Pedro Damian
Texto publicado originalmente no Scream & Yell em 12/01/2006
Algumas das mais interessantes expressões a respeito do trabalho de um artista, por parte da crítica musical, com certeza foram direcionadas à obra dos estupendos escoceses do Teenage Fanclub. Da criativade de gente do naipe de um Nick Hornby saíram expressões como “insanamente feliz” (referência a “Howdy!”) “ensolarado, alegre e entusiástico Songs from Northern Britain” – em texto republicado no site Scream & Yell -, “incapazes de fazer uma música ruim” (citação do jornalista André Barcisnki à obra do grupo em geral), “disco para se ouvir feliz e ficar mais feliz ainda”, e por aí vai.
Todos os numerosos elogios referiam-se, principalmente, aos quatro discos do Teenage que qualquer pessoa deveria ser obrigada, por lei, a ter em casa: “Bandwagonesque” (1991), “Grand Prix” (1995), “Songs from Northern Britain” (1997) e “Howdy!” (2000). E “Man-Made” (2005), o atual disco da banda, merece igual idolatria? A resposta é: claro! Afinal, é um disco do Teenage Fanclub, banda que reinventou o power pop e que apresentou, por tabela, para mais de uma geração de garotos, excepcionais artistas das décadas de 60/70 como Byrds, Neil Young e Alex Chilton.
A qualidade, tanto das letras como das canções, continua a mesma. Houve um toque do produtor John McEntire, líder da banda de pós-rock Tortoise, porém nada que descaracterizasse o som dos escoceses. Mas há que se notar um ponto. Em “Man-Made”, de uma maneira geral, percebe-se que Norman Blake continua o mesmo: às vezes irônico, às vezes sério, e mestre na composição de melodias absolutamente perfeitas. São deles as novas obras-primas “It’s All In My Mind”, em que comenta a inexorável passagem do tempo e a necessidade de se aproveitar os bons momentos da vida, “Cells”, uma emocionante balada, “Flowing”, maravilhoso power pop que lembra muito Badfinger e também uma canção dos conterrâneos Captain America chamada “Breakfast”, e a rapidinha “Fallen Leaves”, um rock bem básico.
As diferenças para os álbuns anteriores estão nos outros dois gênios da banda. Gerry Love parece mais com os pés no chão, embora com a mesma verve poética de sempre. “Born Under a Good Sign” não se parece com nada do que ele tenha feito antes. É uma canção com suingue, malícia, enfim, nada a ver com o estilo Gerry de compor. Mesmo assim, é perfeita. Suas outras colaborações no disco são “Time Stops”, esta sim, uma balada de arrancar lágrimas, e as igualmente emocionantes “Save” e “Fallin Leaves”.
Por seu lado, Raymond McGinley cada vez está compondo e cantando melhor. Depois das bárbaras “Happiness” e “I Can’t Find My way Home”, do “Howdy!”, Ray produziu mais duas obras de arte em “Man-Made”: “Nowhere” e “Only With You”, onde despeja um romantismo digno de seus dois companheiros geniais. “Feel” e “Don’t Hide” estão em um nível inferior – se bem que nível inferior em se tratando de Teenage Fanclub ainda seja superior a tudo o que é feito hoje no mundo pop-rock -, entretanto são rocks bem agradáveis. Com a constante melhora de Raymond nas elaboração de canções e também no vocal, o Teenage Fanclub ganha mais uma arma para se manter no mais alto posto do rock de qualidade feito hoje no planeta. Lançado em junho de 2005 no exterior, “Man-Made” deve ganhar edição nacional nos próximos meses pela Slag Records.
Leia também:
– “Jonny”: Para Norman Blake fazer música parece uma coisa extremamente fácil (aqui)
– Teenage, Primal Scream, MBV: “1991: The Year Creation Records Broke” (aqui)
– Três Discos: BMX Bandits (mais Norman Blake e Francis Macdonald) (aqui)
– “Shadows”, do Teenage Fanclub, faz esquecer o tempo solitário sem power pop (aqui)
– “Howdy!”, do Teenage Fanclub, é quase insanamente feliz, avisa Nick Hornby (aqui)