texto de Marcelo Costa
Os filmes do diretor Alexander Payne são piadas que eu, particularmente, não consigo entender. Payne adora “road movies” disfarçados, piadas “inteligentes” e espirituosas e muita conversa em suas películas, mas seus filmes são lentos, carecem de ousadia e, sobretudo, são extremamente lineares. “As Confissões de Schmidt” (2002), seu filme anterior, arrebatou bons elogios e duas indicações ao Oscar, para a dupla de atores Kathy Bates e Jack Nicholson. “Sideways – Entre Umas e Outras” (2005) recebeu cinco indicações, incluindo as tão sonhadas de Melhor Filme e Melhor Diretor. Por que tanta badalação? Sinceramente: não sei.
Ok, Kathy Bates e Jack Nicholson serem elogiados por um filme é algo pra lá de normal. Se eles fizessem uma propaganda de margarina, provavelmente seriam indicados também. Assim, os dois atores conseguem tirar uísque de pedra em “As Confissões de Schmidt”, algo bem diferente do que o próprio Nicholson consegue, ao lado de Helen Hunt, em “Melhor é Impossível”, uma comédia na medida certa, inteligente, sarcástica e humana. “As Confissões de Schmidt” é um filme chato.
Já em seu novo filme, “Sideways – Entre Umas e Outras”, Alexander Payne não está tão chato. “Sideways” tem passagens muito boas, um tema relevante e um desenvolvimento interessante. O resultado final é até bom, apesar da visão conformista que o diretor tem da vida (já exibida em “As Confissões de Schmidt”) e da linearidade de seu roteiro, mas o que explica a quantidade de prêmios que ele tem ganhado por ai? É só um filminho normal, gostoso de ver em dias de chuva, aqueles em que a vida parece escorrer pelas vidraças, incessantemente, como se fosse sangue jorrando das veias.
Em “Sideways”, o sangue parece jorrar das veias de Miles Raymond (Paul Giamatti). Miles é depressivo. Alterna calmantes com doses de vinho (nunca tente fazer isso em casa, caro leitor) e está tentando – há alguns anos – entrar no ramo da literatura. Ele é professor, meio gordinho e a caminho de ficar careca. Não tem muita grana, a ponto de precisar “emprestar” da mãe de vez em quando. E tem um amigo de faculdade que já foi ator em uma série tipo “Plantão Médico”.
Jack (Thomas Haden Church), o tal amigo, está para casar. Miles será o padrinho. E como bom padrinho, Miles quer dar um presente muito especial para Jack: uma viagem pelas vinículas do Vale de Santa Inez, na Califórnia. Miles é metido a enólogo, mas o negócio dele é entornar o caneco mesmo, humm, com um pouco mais de estilo. E é esse estilo que ele quer apresentar para Jack, um ator meio canastrão que, prestes a se “enforcar”, quer mais é conhecer mulheres. E ele conhece Stephanie (Sandra Oh), uma funcionária de uma vinícola local, que acaba se mostrando uma amante insaciável. Miles conhece Maya (Virginia Madsen), uma garçonete com paladar aguçado para vinho, e mestrado na área de vinicultura.
O choque das personalidades de nossos dois anti-heróis (americanos) move “Sideways”. As diferenças de Miles e Jack causam os melhores momentos do filme, sejam irônicos (uma conversa na mesa de um bar), sejam tristonhos (uma noitada em que um dorme acompanhado enquanto o outro fica sozinho). O vinho é o pano de fundo da história. Enquanto Jack apronta e Miles se afoga, a erudição sobre aroma, textura, idade, cor, uvas e quetais, preenche o roteiro, em um exercício de extremo bom gosto.
Por tudo isso, “Sideways” pode ser julgado como um bom filme. Porém, a maldita expectativa criada por tantos prêmios faz com que o espectador vá ao cinema esperando uma obra grandiosa, o que não é o caso. Alexander Payne continua contando piadas sem graça enquanto seus personagens passam quase todo tempo dentro de um carro (ou de um bar) conversando sobre banalidades. A reunião destes itens alcança bons momentos no filme, mas não passa de um filmizinho bonitinho, mas tremendamente ordinário. Se as cinco indicações ao Oscar soam como um completo exagero, o que dizer de comparações com as melhores comédias de Billy Wider: loucura?
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.