por Marcelo Costa
“Trampin'”, novo disco de Patti Smith, ganha edição nacional. A capa, em tons escuros, traz Patti Smith virando a cara para câmera. Calças velhas dobradas próximo aos joelhos, as veias saltando nas mãos, a inquietação transbordando por seus poros. “Trampin'”, nono álbum da carreira de Smith, é rock em sua essência: barulhento, contestador, incômodo, poético. A política de George W. Bush é o alvo preferido da cantora.
Do quarteto que acompanha a roqueira, dois são os mesmos músicos que gravaram o clássico “Horses” em 1975 e seguem juntos desde então: o guitarrista Lenny Kaye e o baterista Jay Dee Daugherty. O baixista/tecladista Tony Shanahan e o guitarrista Oliver Ray completam o grupo. “Trampin'” é um compêndio do que melhor Patti Smith fez na carreira.
A poderosa faixa de abertura, “Jubilee”, reprisa o clima supersônico de “Radio Ethiopia” (1976) enquanto “Mother Rose” revisita o ambiente de “Easter” (1978) e a demolidora “Gandhi” poderia ser inclusa facilmente na obra-prima “Horses”.
Tematicamente, “Trampin'” e o equivalente musical para o documentário “Fahrenheit 9/11”, de Michael Moore. “Who dreams of war and sacrifice?” pergunta Patti Smith em “Jubilee”.
“And nature cried Gandhi”, diz o refrão de “Gandhi”.
“They’re robbing the cradle of civilization”, acusa “Radio Bagdhda”.
O teor político, porém, é apenas uma das faces do disco. Muita poesia escorre pelo canto da boca de Patti Smith. Entre “Jubilee” e “Gandhi” é possível encontrar referências a Baudelaire e Verlaine. “My Blakean Year” e “Trespasses” pagam tributo para William Blake. Entre a poesia, a política e o rock and roll, surge Patti Smith em um excelente disco de rock para 2004.