por Marcelo Costa
“Buzzcocks”, Buzzcocks (Trama)
Mais diluído que gasolina em posto brasileiro, o punk rock volta à ordem do dia com “Buzzcocks”, álbum homônimo da instituição punk inglesa. Só que a parada aqui é diferente: “Buzzcocks” é, desde já, um dos melhores trabalhos da banda, indo na cola do som 77 que marcou seu inicio de carreira e tão inspirado quanto. É só ouvir “Jerk”, a primeira música, e perceber que o genial Bad Religion deve as calças, as camisas, as cuecas, os sapatos e tudo ao Buzzcocks. Ao contrário de muita gente nova que tem apostado na tosqueira na produção, o baixista produtor Tony Barber limpou tudo e o som que sai das caixas é furiosamente nítido, empolgante e cristalino. Um show de riffs de guitarra na cara da molecada que passou todos os últimos anos achando que “punk pop” e “punk rock” fossem a mesma coisa. Duas canções chamam a atenção sem você ter sequer colocado o CD para ouvir: “Stars” e “Lester Sands” são parcerias de Pete Shelley com Howard Devoto, recriando o núcleo inicial do Buzzcocks. Enquanto a primeira tem uma estrutura mais quebrada com a guitarra zoando tudo por cima, a segunda pinta ser o grande momento do álbum: um guitarra altíssima abre a música no canal esquerdo até a entrada da bateria demolidora. O vocal é pura ironia punk enquanto o refrão e para jogar cervejas pro alto em festas rock and roll. Das 12 faixas, 11 não passam dos 3h20s. Quem viu os shows que a banda fez no Brasil em julho de 2001 não deve estar surpreso. Os velhinhos mandaram bem de novo.
“Live At Knebworth 1980”, Beach Boys (Sum)
Todo mundo considera Brian Wilson um gênio. Porém, para criar as gemas pop que criou, o cara precisava de um suporte ao vivo. Alguém que transformasse suas ideias em realidade. Assim, o Beach Boys partiu das surf songs ensolaradas do inicio de carreira para emblemáticas óperas pop que resultaram naquele que é tido por metade da população que conhece profundamente música, o melhor álbum de todos os tempos, “Pet Sounds” (1966). A outra metade prefere “Sgt Peppers” e a rivalização acaba por aclamar a genialidade inigualável das duas bandas. Após “Pet Sounds”, Brian Wilson pirou, deixando, ao menos, uma obra-prima inquestionável do álbum inacabado “Smile, Smile” chamada “Good Vibrations”. Dai para frente, a banda seguiu rumo indefinido, tocando e gravando sem alcançar o brilho das atuações em estúdio daquele período 65/67. Em junho de 1980, estavam no legendário festival de Knebworth e o registro deste show, tido como a derradeira apresentação da formação clássica da banda (Brian Wilson, Dennis Wilson, Mike Love, Al Jardine e Bruce Johnston), ganha versão em CD e serve, principalmente, para mostrar que a força do grupo não se consistia apenas nas experimentações em estúdio. Ao contrário, se em estúdio Brian Wilson mandava, ao vivo, Mike Love e Carl Wilson chamavam para si a responsabilidade e o resultado na maioria das vezes conseguia igualar o brilho conseguido na fase áurea. Dessa forma, o quinteto intercala clássicos próprios com covers memoráveis. O que dizer de Brian Wilson, inspirado, brincando de corinho com o público de 43 mil pessoas usando como base “Good Vibrations” no velho esquema “agora só os homens – e agora só as mulheres”. Carl Wilson, por sua vez, emociona com a pureza de seu vocal naquela que é tida por Sir Paul McCartney como a melhor música de todos os tempos, “God Only Knows”, enquanto Mike Love brinca de Chuck Berry na cover de “School Days”. No trabalho gráfico caprichado do CD, o encarte ainda traz a banda comentando faixa a faixa as canções do show. Se você quiser conhecer o outro lado dos Beach Boys, esta é a sua chance. Afinal, um beach boy sozinho não fez verão, ou melhor, show.
“Down With Wilco”, The Minus Five (Sum)
Se você é daqueles que se rendeu ao Wilco em “Yankee Hotel Foxtrot”, comemore. Acaba de sair no Brasil o novo álbum do projeto de Scott McCaughey, The Minus 5: “Down With Wilco”. Exatamente. Scott entrou em estúdio com uma das bandas mais legais dos últimos tempos e o resultado é, como se deveria esperar, emocionante. McCaughey tem sido músico de apoio do R.E.M. nas últimas turnês (yep, ele tocou no Rock In Rio) e tinha uma banda nos anos 80, Young Fresh Fellows. Desde 1995 dedica-se ao projeto The Minus 5 contando com participações de gente como Ken Stringfellow e Jon Auer (Posies). Peter Buck do R.E.M. é membro honorário. E “Down With Wilco” une gerações. Se ficava cada vez mais claro que Jeff Tweedy e compania pagavam tributo ao R.E.M. (principalmente nos discos “Summerteeth” e “YHF”), a união de membros das duas bandas resulta em um álbum impecável. A atmosfera é melancólica. Não a toa, o subtítulo do álbum é “A Tragedy In Three Halfs”. Mas mais do Byrds e (alt)country, a grande referência de “Down With Wilco” é Beach Boys e George Harrison (e Syd Barret). Enquanto “The Old Plantation”, “I’m Not Bitter” e “Retrieval of You” (entre outras) inspiram-se no guitarrista beatle, a praia de “That’s Not the Way That It’s Done” e “Daggers Drawn” é puro Brian Wilson. Depurando as influências na busca de um som novo, Scott McCaughey, Peter Buck e o Wilco conseguem a proeza de fazer um disco atemporal, bonito e imperdível, algo bastante raro hoje em dia.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne