por Marcelo Costa
“Pig Lib”, Stephemn Malkmus & The Jicks (Trama)
A segunda incursão solo do ex-líder do Pavement, Stephen Malkmus, parece muito mais entrosada que seu primeiro trabalho. Em “Pig Lib”, quase todas as canções trazem bons detalhes de arranjo, muito porque as músicas foram bastante testadas ao vivo, várias delas, inclusive, apresentadas nos shows que Malkmus fez no Brasil em 2002. Se vai ficar sempre a sombra da comparação com sua ex-banda (o que, convenhamos, é inevitável), o Malkmus de “Pig Lib” soa como uma continuação de “Wowee Zowee” do Pavement. As guitarras seguem preguiçosas, parecendo que os riffs não vão dar em lugar algum, como na introdução de mais de minuto de “Water and A Seat”. Em “Ramp of Death” os sintetizadores dão um clima suave à canção (uma das melhores do repertório). Os riffs toscos e o vocal cínico de Malkmus marcam presença em “(Do Not Feed The) Oyster” e na baladinha psicodélica “Vanessa From Queens”. Paira sobre todas as canções um clima de “disco feito na fazenda”, bem setentão. Fogem do clima, “Dark Wave” (que não só no nome remete ao The Cure que lhe empresta o baixo e a introdução de “A Forest”) e o épico de mais de nove minutos, “1% Of One”, cançãozinha safada que quando você pensa que vai acabar, engata na barulheira e para e vai. E “Us”, faixa que encerra o CD num clima pra cima com Malkmus cantando em dueto com a baixista Joana Bolme.
“Universal Truths And Cycles”, Guided By Voices (Trama)
Robert Pollard é um cara com muita coisa a dizer. Só em 2002 lançou álbuns com o Airport Five (“Life Starts Here”), projeto com o ex-GBV Tobin Sprout; com o Go Back Snowball (“Calling Zero”), projeto com Mac MacCaughan do Superchunk, além de se aventurar no projeto “Completed Soundtrack for the Tropic of Nipples”. No meio de tudo isso, o cara ainda conseguiu tempo para gravar 19 faixas com sua banda principal, o Guided By Voices, em um álbum que marca o retorno do grupo ao selo Matador. Ao contrário do que possa parecer com toda essa proliferação de canções e projetos, “Universal Truths and Cycles” não é um álbum de sobras. Pollard continua inspirado e o disco soa bem mais rock and roll, mais lo-fi e conciso que os dois últimos álbuns (“Isolation Drills” – “Do The Colapse”). São 20 canções (a edição nacional traz um bônus track) em pouco mais de 48 minutos de laser no CD que aproximam “Universal Truths and Cycles” do álbum “Mag Earwhig!” em músicas como “Skin Parade”, “The Weeping Bogeyman” e “The Ids Are Alright”. Das reminiscências country de faixas como “Zap” e “Factory of Raw Essentials”, passando pela ultra pop (e chicletuda) “Cheynne” até chegar a byrdiana faixa título, Pollard prova que quantidade pode andar de mãos dadas com qualidade. Detalhe para a semelhança de “Everywhere With Helicopter” com aquela música daquela banda de Seattle, como se chama mesmo, ah, “Smells Like a Teen Spirit”.
“Make Up the Breakdown”, Hot Hot Heat (Sub Pop)
Era meio óbvio que uma das bandas mais legais dos últimos tempos não iria sair nem dos EUA nem da Inglaterra. Assim, os canadenses do Hot Hot Heat já chegam ganhando pontos por se infiltrarem em terreno alheio burlando previsões da “melhor banda dos últimos tempos da última semana”. Produzido por Jack Endino e lançado pela Sub Pop no ano passado, “Make Up the Breakdown” é digno de todas as letras da palavra “bacanaço”. Uma mistura de teclados e guitarras que empolga logo na primeira faixa, a pirada “Naked in the City Again”. A parte final da canção é genial (uma guitarrinha safada duelando com um baixo descontrolado). A introdução de “No, Not, Now” leva todo mundo de volta aos anos 80, sem escapatória. “Get in or Get Out” (a minha preferida) é contagiante enquanto a faixa 4 é o hit “Bandages”. As influências vão de Elvis Costello a The Cars, mas param mesmo no The Cure. É como se Robert Smith tivesse renascido em Victoria, no Canadá, decidido a fazer aquilo que faz melhor: pop sogs empolgantes e inesquecíveis.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.