por André Luiz Fiori
Vou tentar falar de “Rumo à Estação Islândia”, lançamento da Conrad Editora, sem dizer uma vez sequer “A terra da Bjork” e nem chamar o autor de “Reverendo”. Será que consigo? Resultado de anotações das viagens do verborrágico ex apresentador do Lado B ao pequeno país do extremo norte, o livro é narrado no tradicional linguajar “massariano”, que chega ao requinte de tratar sua coleção de discos na terceira pessoa, como uma entidade com vida própria.
Pequenos escorregões existem, clichês como “trilha sonora do fim do milênio” ou “não deixa pedra sobre pedra”, mas que nem de longe compromentem o resultado final. O que surpreende é que o simpático VJ, com a facilidade que tem para escrever, não tenha publicado nada até hoje.
Quem for esperar um “guia para turistas” não vai achar muita coisa a não ser a indicação de algumas casas noturnas, cafés e bares (um deles por curiosidade pertencente a Damon Albarn do Blur). Entre outras curiosidades, ficamos sabendo que a Islândia tem apenas 280 mil habitantes, que o país só conquistou sua independência da Dinamarca em 1944, e que tem uma produção cultural absurdamente imensa, com músicos, artistas, poetas e escritores em profusão. É o país que publica mais livros ‘per capita’ no mundo. Relatos surpreendentes de como a cerveja era proibida e só foi liberada em 1989 (!), isso em um país onde o esporte nacional é o levantamento de copo… A principal diversão do islandês é sair à noite para beber, mas beber mesmo, até cair. Lá não existe essa de “beber socialmente”.
Nas palavras do autor, lá vai uma tradicional receita dos locais: “O mítico brennivín (vinho queimado), bebida para esôfagos forjados à ferro e fogo, é um destilado de batatas que atende pelo simpático apelido de ‘morte negra’. É elemento quase obrigatório, recomendado. Cai como uma luva na experiência de degustação do tradicional (folclórico) hákarl, poderosos cubinhos de amônia, ou melhor, cubinhos de carne de tubarão tratados na melhor tradição da culinária vicking… carne do cão dos mares enterrada na areia e curtida, por meses, até seu ponto de apodrecimento supremo. É jogar um cubinho para dentro, mastigá-lo com brio, fumar e tragar os vapores amoniacais, cobrir tudo com os gélidos véus da tempestuosa morte negra e … burp!”
A partir daí é que vem o maior problema (ou a maior qualidade, dependendo do ponto de vista) do livro: “Rumo à Estação Islândia” se transforma numa história extremamente detalhada e comentada da discografia islandesa, desde as garage-bands do anos 60, até os dias de hoje. Comentários sobre discos das principais bandas e artistas, se foram lançados em cd ou não, tudo acompanhado por entrevistas com alguns dos personagens mais importantes dessa história.
O negócio é que essa narrativa só é acompanhável para pessoas ‘do meio’, ou seja, que acompanham música, colecionam discos, lêem revistas especializadas, vão à shows, tudo isso e mais um pouco. Talvez, ou com certeza, seja esse o público alvo de Massari. Uma pessoa “normal” dificilmente vai acompanhar o desfile de dezenas e dezenas de nomes absolutamente impronunciáveis e quase que totalmente desconhecidos.
Mesmo os mais antenados só vão “pescar” Sigur Rós, Gus Gus, Emiliana Torrini, Bellatrix, Magga Stina, e é claro, Sugarcubes (e suas pré-bandas Kukl e Tappi Tikarrass, além dos ex integrantes Bjork, Einar Örn, Siggi e Thór Eldon).
Deixando de lado essas considerações, é inegável a curiosidade que dá. Como será o som de Hljómar, Trúbrot, Icecross, Purrkur Pilnikk, Q4u, Das Kapital, Theyr, Bogomil Font, Sjón, Unun, Ham, Lhooq ou Örkuml ? Eu ia citar outras, mas algumas letras não exitiam no teclado…
Faltou talvez alguma indicação de como as pessoas (que fatalmente irão se interessar) podem conhecer algumas dessas bandas. Sites na internet, essas coisas. Bem, prometo não ser estraga-prazeres e contar o final do livro, mesmo porque o livro não tem final…
https://www.youtube.com/watch?v=nkRCxq0Et5w
– André Luiz Fiori (www.facebook.com/andre.fiori.73) é dono da loja Velvet SP