Luna ao vivo – Simplicidade e elegância
São Paulo 19/09/01 – Choperia do Sesc Pompéia
por Marcelo Costa
Fotos por Erico Padrão
O som rola nas caixas e alguém que está entrando na (lotada) Choperia do Sesc Pompéia, em São Paulo, pergunta: “é o Luna?”. Não era. Era a Pelvs, uma das melhores bandas brasileiras de música norte-americana, esquentando o público (na noite anterior, mais vazia, a tarefa ficou com os paulistanos do Monikini, que fizeram um show competente).
Os cariocas da Pelvs optaram por um repertório mais lento, recheado de músicas desconhecidas e, talvez por isso, o show foi morno. Fica o sentimento “rebeldes sem causa”, já que a banda tinha o público nas mãos, mas decidiu virar as costas a ele e fazer um show para que nem mesmo os fãs reconhecessem as canções. Alguns chamam isso de atitude, outros, de burrice. Mesmo assim, as canções do ótimo CD “Península” fizeram a festa da galera indie. E só deles.
Com o Luna, a entrega começou antes mesmo deles tocarem um acorde. Os quatro integrantes entraram no palco de jeans e camiseta, arrumaram seus instrumentos (roadies? Pra que?), saíram, e quando voltaram, o visual despojado de antes cedeu lugar a camisas e calças de linho (para a baixista, um vestidinho preto, blusinha preta e bota). Simplicidade e elegância, forma imbatível.
De cara, a banda parece estar mais afim do que na noite anterior. Devido aos incidentes nos EUA (eles são de NY e haviam feito um show no WTC um mês antes dos atentados), o Luna só pode sair de lá na véspera da tour brasileira. A correria refletiu no repertorio do primeiro show, mais curto que o do show do dia seguinte (embora compensado com os cavalos de batalha “4th of July”, do Galaxie 500, banda anterior do líder Dean Wareham, e “Sweet Child O’ Mine”, a festejada cover do Guns presente no álbum “The Days Of Our Nights”).
Nesta quarta-feira quente em São Paulo, a banda está afiada. O guitarrista Sean Eden é completamente maluco e bem humorado. Brinca, faz piadas e toca sua Fender Squire com amor, carinho e caretas. O baterista Lee Wall tem cara de tristonho, mas desce porrada em seu kit quando é preciso. A baixista Britta Phillips é um encanto. Parece uma versão diminuta da musa Nico, mas cantando melhor e ainda tocando baixo. Teve muito marmanjo que saiu apaixonado. Do mesmo jeito, muitas garotas suspiraram pelo líder Dean Wareham. Sua performance é contida, sua postura é cool e sua voz se arrasta no final das frases mostrando um inconfundível sotaque nova-iorquino (Dean é neozelandês e mora em NY desde 1977).
O repertório é quase o mesmo que está no recém-lançado (no Brasil) “Luna Live”. Os destaques, inevitáveis, vão para as covers de “Bonnie and Clyde”, de Serge Gainsbourg, com Dean e Britta duetando em francês, “Indian Summer”, do Beat Happening (a mais aplaudida da noite) e “Season Of The Witch”, do Donovan, gravada para a trilha sonora do filme “I Shoot Andy Warhol”, que, pedida na noite anterior, foi ensaiada durante a tarde de quarta-feira para a apresentação da noite.
Não, não teve nenhuma do Velvet Underground, pelo menos em “corpo presente”, já que a alma velvetiana pairava no ar com os acordes saturados por um velho ampli Vox da Gibson Les Paul de Dean. Impossível não lembrar de “Vicious” ao ouvir a guitarra de Dean em “Sideshow by the Seashore”. Um grande show de rock, inesquecível nas batidas de guitarra, no charme das composições, na energia da apresentação.
Luna ao vivo – Simplicidade e rock and roll
São Carlos 26/09/01 – Planet Z
por Marcelo Costa
Uma semana se passou e cá estamos nós de novo atrás do bom rock and roll. E o rock hoje está em São Carlos, interior de São Paulo, 230 km da capital paulista. A primeira pergunta que fica no ar é o que o Luna, uma das bandas mais bacanas do cenário independente mundial, vai fazer numa cidadezinha do interior de São Paulo. Tocar rock and roll, oras. O mérito fica para o pessoal da S2 Discos que se desdobrou para levar o quarteto pra cidade (fato que capitais como Porto Alegre e Rio de Janeiro não tiveram a manha de fazer). Ponto para eles. E para o público.
A banda chegou a São Carlos quando o dia entardecia, vindos de São Paulo, numa autêntica operação bate/volta, ou seja, tocar e pé na estrada. Esse fato deu mais punch para a apresentação. Inclusive para a Pelvs, que depois do show morno e chato de São Paulo, aumentou o volume das guitarras, pisou na distorção e fez uma puta apresentação, digna dos aplausos de Mr. Wareham, no backstage. Após o show, a própria banda comemorava, impressionados com o som do lugar. “Foi o melhor som em que tocamos até agora, nessa turnê”, comentou o baixista Rafael.
Logo em seguida veio o Luna. A rotina foi a mesma de São Paulo. Os quatro integrantes entram no palco, arrumam eles mesmos os instrumentos e tudo está pronto para mais uma dose de guitarradas. A diferença é que, aqui em São Carlos, a banda deixou a pose cool que marcou os shows da capital paulista e entrou no palco vestindo as mesmas roupas com que haviam descido do ônibus horas atrás. Coisas da estrada.
Assim, Dean veio de jeans surrado e camiseta. Britta, idem, com o diferencial que a camiseta da baixista havia sido presente do colaborador André Fiori, dono da loja paulistana Velvet Cds. O guitarrista Sean foi o único que entrou no camarim para trocar a camiseta por uma camisa de cowboy.
O show foi mais tosco, e mais rock. O repertório não fugiu muito dos set lists das apresentações do Sesc Pompéia, com o grande momento ficando com “Season Of The Witch” e o encerramento com “4th Of July”. A festa acabou lá pela duas da manhã, e a banda ainda ficou mais meia hora, autografando cds, flyers, camisetas, e posando para fotos. Duas e meia da manhã e o ônibus “show business” já estava novamente na estrada, com destino de Curitiba. Rock and roll é isso. Ponto pra nós.
Ps. Os vídeos abaixo são da apresentação do Luna em Belo Horizonte, na mesma turnê
Eu estava no show de São Carlos, foi realmente único.