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Cenas da vida em São Paulo: O pastel

O rapaz está descendo a Rua Augusta, e as fotos de uma pastelaria chamam a atenção. Ele para e começa a pensar no que pedir, quando um garoto lhe pergunta:

– Moço, não quero dinheiro não. Por favor, você poderia pagar algo para eu comer. Estou com fome.

Ele pensa alguns microssegundos e responde:

– Vem comigo, vamos escolher.

Os dois pegam a promoção de “pastel de carne com queijo e um caldo de cana por R$ 11,99”, e a atendente avisa:

– Podem esperar na mesa que levo até lá.

Os dois se sentam na mesa e começam um diálogo:

– Está feliz com o título do Palmeiras?, pergunta o rapaz, vide que o garoto vestia uma camisa do time do antigo Parque Antártica.
– Decacampeão! Decacampeão! Você torce para que time?
– Sou corintiano. Esse ano não foi dos melhores.
– Verdade. Esse técnico de vocês não era bom.
– Mas o outro está voltando…
– O Tite??
– Não, quem dera. O Carille!
– Ahh, ele é bom. Esse outro último era muito fraco…

Os pasteis e os caldos de cana chegam. Dessa vez é o garoto quem pergunta:

– Você estava vindo de onde?
– Da farmácia. Fui comprar algumas coisas para o meu filho.
– Quantos anos ele tem?
– 23 dias…
– 23 dias??? Ele é um recém-nascido então!
– Sim, bem pequeno ainda. Quantos anos você tem?
– 13!
– Então você nasceu em 2005!
– Sim, fiz aniversário no começo de novembro.
– E qual seu nome?
– Gabriel
– Uia, como o Gabriel Jesus
– Sempre me falam isso (ele comenta com um sorriso).

Os dois seguem se alimentando. Na Rua Augusta, a chuva fica um pouco mais forte.

– Que pastel bom!, comenta o garoto
– Sim (responde o moço concordando sem concordar, mas sem querer tirar a alegria do garoto).

O tempo está passando, e o rapaz tira o celular do bolso para ver se a mãe de seu filho mandou algum recado no Whats. O garoto, então, pede a palavra:

– Moço, posso te dar um conselho?
– Claro!
– Coloca senha no seu celular. O pessoal na rua quando pega, faz uma bagunça.
– Puxa, verdade, preciso colocar senha mesmo.
– É um celular bom!
– Então, o meu celular mesmo simplesmente apagou a tela, ficou toda preta, do nada. Perdi tudo que tinha nele. Ele até liga, mas a tela fica toda escura. Dai um amigo me emprestou esse enquanto pesquiso para comprar um novo para mim. Por isso não tinha colocado senha ainda. Pretendo devolver esse celular logo. Mas vou escutar o seu conselho e colocar.

O garoto assente com a cabeça, sorri, e segue feliz para o pastel. A chuva diminui na Augusta. Agora, São Paulo honra seu apelido de Cidade da Garoa.

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outras cenas

dezembro 1, 2018   No Comments

Cenas de SP: Dawson, Joey e Felicity

Um casal papeia numa loja na rua Frei Caneca:

– Como era o nome daquela série que o cara namorava uma garota e…
– Não é série, é filme
– É série! A garota depois casou com o Tom Cruise
– Ahhhh, é verdade… Felicity!
– Isso, Felicity!

E no purgatório das séries, Dawson rola no caixão…

Outras cenas de SP

junho 7, 2018   No Comments

Cenas de SP: 11/04 – 03/05

Largo do Paissandu, vista da Galeria do Rock

11/04

13/05

#QuemOcupaNãoTemCulpa

Cenas de SP

maio 3, 2018   No Comments

Cenas da vida em São Paulo: Crianças

Um grupo de amiguinhos conversa, todos entre 8 e 11 anos. Um deles pergunta: “O que vocês querem ser quando crescer?”

Um diz que quer ser jogador de futebol (quem nunca?), outro fala que quer ser astronauta. Então um diz que quer ser “serpentólogo” e outro conta que quer ser Youtuber.

Passado o momento, um dos meninos chega para a mãe e comenta: “João ficou com vergonha de contar o que ele ser quando crescer”. E a mãe pergunta: “O que?”. E o filho: “Ele quer ser advogado”.

Cenas de São Paulo

janeiro 17, 2017   No Comments

Cenas da vida em São Paulo: Club

O casal conversa no ônibus:

– Me pediram para escolher três músicas para a festinha do trabalho. Escolhi “Blister on The Sun”, “Should I Stay Shoud I Go” e “Regret”…
– O que você tem contra este novo século?
– Não tem muita coisa boa…
– Tem sim, vai.
– …
– Strokes, Arctic Monkeys, Killers, Arcade Fire…
– Verdade, eu poderia ter colocado “Reflektor”…
– Franz Ferdinand…
– Eu poderia ter colocado uma do Two Door Cinema Club, gosto deles…
– …
– Você não gosta?
– Não. É coxinha demais. Tipo… Foster The People… blé…
– Você é chato…
– …
– Você não gosta mesmo?
– Não.
– …
– Tanto que nem CDs deles eu tenho
– Perai, acho que estou confundindo…
– ?
– Não é Two Door Cinema Club! É Bombay Bicycle Club!
– Ahhh, deles eu gosto! E tenho os CDs
– É tanta banda nova com Club no nome… eles são a minha preferida.
– A minha é o Black Rebel Motorcycle Club…

Final feliz.

agosto 14, 2015   No Comments

Cenas da vida em São Paulo: A luta de classes

Um café na av. Paulista, sábado á noite

– Ele não entende. Nós somos de classes diferentes. Pô, eu como no Habibs. E ele me leva no Almanara. E ainda quer que eu divida a conta… eu sou professora…
– Pô, mas o Habibs não dá. Perto da minha casa tem um lugar que faz umas esfihas ótimas. E é barato.
– Eu sou classe média. Ele é rico. Semana passada ele teve a idéia da gente ir viajar. Fui toda solicita, entrei na internet e achei umas pousadas fofas e baratas. Ele olhou as coisas que escolhi e disse: ‘Que porcaria’. Ai foi e escolheu um hotel de R$ 600 a diária!!!
– E vocês vão ter que rachar?
– Sim!!! Não sei o que eu faço…

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Alguém tem uma sugestão do que ela deva fazer?

setembro 27, 2009   No Comments

Cenas da vida em São Paulo – No cabeleireiro

Em São Paulo é possível encontrar todo o tipo de barbearia que você quiser. Tem algumas, tipo a Barbearia 9 de Julho, que oferecem aos clientes máquina de chope, garrafas de uísque e revistas masculinas. Nessa reportagem aqui você lê um pouco mais, porém é fato que nunca topei pagar mais do que R$ 10 para cortar o cabelo (talvez seja trauma do exército, em que se pagava R$ 2 e o cara passava a máquina sem se importar muito com o resultado – e até ficava ok).

Até entendo as mulheres que vão a salões de cabeleireiros super chiques e tal, mas meu cabelo não é a coisa mais difícil de cortar, então nem me preocupo tanto. Aliás, a única vez que cortei em um cabeleireiro chique, influenciado pela namorada que estava ali cortando, o cara conseguiu errar o corte. Dito isto, já faz uns dez anos que, em São Paulo, corto cabelo em uma cabeleireira em uma das galerias do centro da cidade. Comecei pagando R$ 6. Hoje pago R$ 10. E as histórias…

Um cara está sentado com uma senhora fazendo a sua unha. Ele puxa papo com a cabeleireira.

– E a Wanda, como está?
– Ela passou aqui ontem. Que peitão, viu – comenta a cabeleireira.
– Eu soube. Parece que ela vai colocar silicone na bunda também.
– Essa vai se dar bem na vida.
– Com certeza. Uma hora dessas ela arranja um italianão que vai pagar tudo pra ela.
– Ela está comprando um apartamento no Copan, mas não é kit não.
– Ai, falando em apartamento, sabe que eu me mudei, né – muda de assunto o rapaz
– De bairro?
– Não, continuo no mesmo bairro, mas mudei de prédio. Lembra que eu tinha contado que eu morava numa cobertura…
– Que chique…
– Nada. Era pequeno, um quarto, sala e cozinha, mas com uma sacada de 7 metros. Só que acredita que todo o domingo, às 8h da manhã, a vizinha debaixo ligava o som com axé no último volume…
– Axé? – diz a cabeleireira com jeito desgostoso.
– Pois é. Todo santo domingo era a mesma coisa, até que não agüentei e me mudei para um outro prédio, um apartamento enorme, 80 metros, mas no segundo andar. E não é que estou dormindo no domingo de manhã no novo apartamento e a vizinha começa a ouvir pagode no último volume…
– Eu tinha uma amiga, emenda a cabeleireira, que se mudou de apartamento por causa do Amado Batista.
– Ahn?
– A vizinha dela ouvia Amado Batista todo o santo dia. E a minha amiga falava: “Ou eu me mudo, ou eu mato essa mulher”. Ela se mudou, mas até hoje não pode sequer ouvir falar no nome do Amado Batista… (risos)

junho 24, 2009   No Comments

Cenas da Vida em São Paulo – O encontro

Manhã fria de sol. Ele está completamente entretido na leitura de um livro, tão concentrado que quase perde o ponto de descida do ônibus. Desce e caminha em direção a um posto de conveniência, pede dois pães de queijo com recheio de requeijão com azeitona e um isotônico, e sai da loja desajeitado com o livro em uma mão, os pães de queijo e o isotônico na outra, e a mochila nas costas.

Assim que entra na rua do trabalho, atravessa de uma calçada para outra, e no instante em que pisa na outra calçada, se vê frente a frente com o homem, que caminha entretido ao lado de sua mulher. O rapaz o olha, e para, estático. São alguns segundos que parecem horas até cair a ficha, que ecoa dentro de sua cabeça: “Era o Arnaldo Baptista? Era o Arnaldo Baptista. Arnaldo!!!!!”.

Ele vê o homem e sua mulher se distanciando, pensa em gritar seu nome, sair correndo para um abraço, um cumprimento, mas fica estático. No ar, cheiro de pão de queijo.

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Um dia antes, conversa de MSN:

Marco Tomazzoni diz:
– Esqueci de te contar. O Arnaldo estava na Rua Amauri hoje de manhã.

Marcelo Costa diz:
– Antunes?

Marco Tomazzoni diz:
– Não! Baptista!

Marcelo Costa diz:
– Sério???? Como assim???? E você deu um abraço nele???

Marco Tomazzoni diz:
– Não…

Marcelo Costa diz:
– Como assim????

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Agora entendo a resposta negativa do Marco. A propósito, “Loki”, o documentário obrigatório de Paulo Henrique Fontenelle sobre Arnaldo Baptista estréia hoje nas seguintes cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Tubarão, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Recife, Fortaleza e Salvador. Assista. E, por um momento, feche os olhos e de um abraço no Arnaldo.

Leia também:
– “Loki”, de Paulo Henrique Fontenelle, por Marcelo Costa (aqui)

junho 19, 2009   No Comments

Cenas da vida em São Paulo – O espelho

Dez horas da manhã, centro de São Paulo. Um rapaz carrega em sua mochila alguns CDs que precisa colocar no correio. Ele saiu para a rua, comprou os envelopes, e começou a procurar um netcafé para que pudesse pegar os endereços de que precisava. Na Avenida São João, pouco depois da Ipiranga, há um Centro de Atendimento ao Turista:

– Oi, bom dia. Você saberia me informar onde há um lugar em que eu possa acessar internet por aqui?
– Aqui mesmo. Na verdade, eu não sei se está aberto, mas é virando ali – diz a menina da recepção desculpando-se graciosamente na seqüência: – É o meu primeiro dia de trabalho…

O local indicado pela garota era um Telecentro. A pessoa vai, faz o cadastro e com um número de inscrição em mãos pode usar internet uma hora por dia em qualquer telecentro do país. O rapaz dá seu RG para o atendente, que preenche o cadastro e pergunta se o rapaz vai querer usar a internet de 11h às 12h. Resposta positiva, então é só aguardar 15 minutos pelo horário marcado.

Em um balcão lateral, enquanto lê um livro e observa o ambiente (não necessariamente nessa ordem), o rapaz percebe que um senhor (aparentando mais de 70 anos, com roupas simples e olhos tristes) deixa um computador e vem em sua direção. Antes, ele passa no balcão de atendimento, pega uma folha que mandou imprimir, e começa o diálogo/monologo:

– Eu já fiz vários cursos aqui nessa galeria, alguns duas vezes. Fiz um para consertar computadores. Era uma sala com vários computadores quebrados, e nós íamos lá, mexíamos aqui, ali, e então a tela acendia… ligava. Você sabe que esse Telecentro não é da Prefeitura? Não é. Eles entraram apenas com o nome. Foi um projeto da União Européia, que decidiu colocar Telecentros em 83 países. Houve um evento em Barcelona, no começo deste ano, e o diretor deste Telecentro, sabendo que sou ator, pediu para que eu gravasse um vídeo para que ele pudesse mandar para lá. Eu sentei naquele cantinho, e sem ter ensaiado nada, fiz um improviso. Acabaram de me enviar esse email. Olha aqui. Está dizendo que o vídeo que eu mandei foi escolhido o terceiro melhor de mais de 80 que foram enviados. O terceiro melhor do mundo. Então, meu filho, saiba que podem roubar tudo o que você tem, mas nunca vão roubar o que você sabe. Se algum dia você estiver mal, as coisas não estarem dando certo, lembre-se disso. Olhe no espelho e pense em tudo o que você sabe fazer, pois isso é seu e ninguém pode tirar. Deus te abençoe.

Ele estendeu a mão ao rapaz para um aperto e sumiu na imensidão dos 11 milhões de habitantes de uma cidade que muitas vezes não tem rosto e nem coração, mas que surpreende vez em quando por respirar e ter alma. Alma.

maio 30, 2009   No Comments

Cenas da vida em São Paulo – o colesterol

Quase oito da manhã de uma quarta-feira. O cara acorda atrasado para uma consulta médica e decide sabiamente pegar um taxi. Já dentro do veículo…

– Rua Marceleza foi o que o senhor disse?
– Isso (na verdade é Marselhesa), na Vila Mariana.
– A gente passa por tantos lugares trabalhando de motorista de taxi que eu até acho que já passei por essa rua ai, mas não estou me lembrando agora.

pausa – maldita hora em que esqueci de imprimir o mapa no Google – fecha pausa.

– É um pouco antes do Shopping Santa Cruz – arrisco.
– Ah, é perto do Shopping Santa Cruz. Então tá fácil.

É claro que ele ignorou o “um pouco antes” e entrou na primeira depois do shopping. Deu várias voltas até parar alguém, perguntar, e dizer:

– É mais lá atrás…

E o papo segue.

– Estou indo fazer um check-up para a firma.
– Eu não gosto de médicos, sabe. Tem um cara lá no nosso ponto que tinha um vida bem boa e nunca tinha ficado doente. A mulher dele encheu tanto o saco para ele ir ao médico, e ele foi. Ai descobriu que o colesterou estava alto, teve que entrar num regime, parou de beber, comer coisas gordurosas, essas coisas, e agora vive tomando remédio, está sempre doente, e reclama da mulher. Era feliz e não sabia.

– silêncio.
– Número 500, né? Chegamos, Bons exames.
– sorriso sem sal.

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Fui pegar hoje o resultado de meus exames de check-up. Fora o oftalmo, que encanou que não ando enxergando bem as coisas, o resto está tudo bem (viu, mulher!). O colesterou no geral está alto, mas nada alarmante. O desejável é até 200mg, e estou com 202mg (na faixa limite que vai de 200 até 239). Colesterol alto só acima de 239. Já o colesterou ruim (o LDL) está mais sossegado. O nível ótimo é 100. O desejável é de 100 a 129. O limite é de 130 a 159. Elevado vai de 160 a 189. Muito elevado de 189 para cima. Estou com apenas 127. \0/ Ou seja: vou comer sim essa baguetinha do post anterior em Florença. Ainda sou feliz.

maio 20, 2009   No Comments