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Dylan com Café, dia 23: Saved
Bob Dylan com café, dia 23 – Apesar do sucesso de vendas e do Grammy conquistado com “Slow Train Coming” (o café de ontem), grande parte da crítica, John Lennon e a maioria dos antigos fãs não recebeu muito bem a fase cristã de Dylan. E, como um bom provocador, o que ele fez? Foi lá e gravou um disco ainda mais evangélico! Resultado: fracasso imenso de vendas e o ódio ainda maior dos fãs antigos, que renegam “Saved” (lançado em junho de 1980) tal qual o demonho renega a cruz dizendo ser este o pior disco do homem. Amém, mas não é para tanto.
Ok, Deus continuou ao lado de Bob, porém o guitarrista Mark Knopfler e o baterista Pick Withers precisavam “cuidar” do Dire Straits, e a saída deles bastou para mudar o rumo do disco gravado no mesmo mítico Muscle Shoals Sound Studio com a mesma dupla de produtores do disco anterior, mas com Jim Keltner nas baquetas (o grande problema do álbum: ela soa gravada dentro de uma caixinha de fósforos!) e dois guitarristas que juntos não conseguiram fazer o que Knopfler havia feito sozinho (coitado do Spooner Oldham, organista que tocou “apenas” nos hits “Mustang Sally” e “I Never Loved a Man”, e aqui teve de assumir a guitarra junto a Fred Tackett). A banda saiu de uma intensa turnê tocando por quase três meses seguidos direto para o estúdio e parece ter sentido falta do clima de guerra dos shows já que Bob tentava catequizar a audiência nos intervalos das canções, não tocava NENHUMA MÚSICA dos seus discos judeus (ou seja, pré 1978; ou seja, nenhuma das músicas pelas quais ele ficou conhecido) e, claro, era constantemente vaiado (saudades de 66).
A capa é indefensável (único ponto para o “Dylan” 73), mas o repertório traz ótimas gospel songs que se não renderam no estúdio e soam apenas honestas, ao vivo ganham corpo e intensidade. Faça o teste: coloque-as ao lado das versões do recém-lançado “Bootleg Series 13 – Trouble No More” (há uma versão com 10 CDs – e três shows diferentes completos da época). “Saved” é um bom disco sim, mas padece de má-produção. Será Mark Knopfler um Deus? “He got the action / He got the motion / Oh yeah, the boy can play / Dedication, devotion”. Bem, Jokerman, isso é assunto para o café de depois de amanhã…
março 15, 2018 No Comments
Dylan com Café, dia 18: Desire
Bob Dylan com café, dia 18: o cara não aquieta o facho! Seis meses após lançar o grandioso “Blood On The Tracks” e no mesmo momento em que as “Basement Tapes” eram liberadas, Bob Dylan entra em estúdio (em julho de 1975) para gravar um novo álbum. Inquieto, Dylan radicaliza o modus operandi e pela primeira vez na carreira abre espaço a um parceiro fixo e Jacques Levy divide com Dylan sete das nove composições de “Desire”. As primeiras sessões com banda (incluindo Eric Clapton) não deixaram Dylan satisfeito, e ele radicaliza gravando tudo novamente com um núcleo de voz, violão, gaita, violino (de Scarlet Rivera) e backings (Emmylou Harris). Bob procurava uma sonoridade cigana para o disco e a tour que seguiria e cujo repertório será baseado neste disco, que, assim como “Planet Waves”, sairá comercialmente na metade da turnê, em janeiro de 1976 – na capa ela já posa com a roupa da “The Rolling Thunder Revue”, que o levaria para a estrada com Joan Baez, Jack Elliott, Bob Neuwirth, Roger McGuinn, T-Bone Burnett, Mick Ronson e Scarlet Rivera. Uma das melhores (senão a melhor!) de todas as turnês de Dylan, a The Rolling Thunder Revue será o tema das Bootleg Series Vol. 5, mas a gente chegará lá daqui uns 30 cafés. É de “Desire” diamantes como “Hurricane”, a mariachi “Romance In Durango” e as duas canções assinadas apenas por Bob: “Sara” e “One More Cup of Coffee”. O biógrafo Brian Hinton pede licença para incluir “Mozambique” com a seguinte justificativa: “Dylan descobre, como Gram Parsons antes dele, que Emmylou Harris é o ingrediente mágico capaz de salpicar qualquer canção com um pouco de pó de ouro”. 💖
março 9, 2018 No Comments
Dylan com Café, dia 17: Basement
Bob Dylan com café, dia 17: seis meses após colocar “Blood On The Tracks” nas lojas, um novo lançamento de Bob Dylan chegava ao mercado. Para combater a pirataria, que estava fazendo festa com as músicas das sessões que Dylan havia gravado com a The Band no porão da Big Pink em 1967, foi lançado o álbum duplo “The Basement Tapes” em julho de 1975. Rick Danko alugou a Big Pink para a The Band em West Saugerties, Nova York, após o cancelamento da turnê de Dylan devido ao acidente de moto de 1966. Bob vivia em Woodstock, a cerca de 15 minutos da Big Pink, e durante cinco meses (de julho a outubro de 1967) visitou os amigos da The Band para tocar no porão da casa tanto standarts (como “You Win Again”, de Hank Williams; “Tupelo”, de John Lee Hooker e “Folsom Prison Blues”, de Johnny Cash) quanto músicas inéditas de Dylan que seriam destinadas por empresários a outros artistas.
De maneira inexplicável, na hora de fechar o set do álbum em 1975 foram acrescidas 8 canções da The Band entre as 24 do disco, quatro delas nem gravadas na Big Pink (as outras quatro sairam de sessões posteriores a passagem de Dylan pelo local). Na época, quem tinha o bootleg reclamou que os overdubs de estúdio e a limpeza do som da fita original matou o clima rústico do porão, e os piratas continuaram fazendo sucesso. Em 2014, finalmente, Dylan liberou as sessões completas dentro de suas Bootleg Series (número 11) numa edição de luxo com 6 CDs e 115 músicas (das 8 da The Band “forçadas” no lançamento de 1975 apenas 2 aparecem aqui)! Detalhe: na capa (uma foto que não foi feita no porão da Big Pink, mas sim da YMCA em L.A.) ao lado de vários personagens do disco (Mrs Henry, o Esquimó, o engolidor de fogo, entre outros), estão a The Band e Neil Young (também interpretando personagens do álbum).
março 8, 2018 No Comments
Dylan com Café, dia 10: Self Portrait
Bob Dylan com café, dia 10: lançado em junho de 1970, o anti-álbum “Self Portrait” nasceu de três sessões em 1969, quatro em 1970 mais seis sessões de overdubs e quatro faixas ao vivo retiradas do show de Dylan com a The Band no Isle of Wight Festival de 1969. O resultado, sim, é uma enorme colcha de retalhos que se peca por falta de concisão, ganha pontos pela provocação: cansado da perseguição de fãs e também da imprensa, Dylan fez um álbum para desagradar todo mundo. A resenha de Greil Marcus na Rolling Stone tornou-se clássica com seu título: “Que merda é essa?”. Bob se justifica: “Fizemos este álbum para que as pessoas parassem de comprar meus discos. E elas deixaram de comprar”. No entanto, quase 50 anos depois, “Self Portrait” soa sim um grande disco que alterna bobagens (como “I Forgot More Than You’ll Ever Know”, que Brian Hilton define como Dylan cantando como se fosse um Elvis gripado) e grandes canções (“Days of ’49”, abaixo num remix dubstep). A revisão desta fase na série “The Bootleg Series Vol. 10: Another Self Portrait”, lançada em 2013, mostra que Dylan não estava brincando quando disse que planejou o afastamento de seu público, afinal há grandes canções das mesmas sessões que foram deixadas de lado em favor do repertório… difícil. Ainda assim, um álbum curioso.
março 1, 2018 No Comments
Matando saudade dos velhos tempos…
Quando fui escrever sobre o sétimo apartamento que morei em São Paulo, acabei recorrendo a posts que eu havia escrito na primeira versão deste blog, uma imitação tosca que me permitia ser um pouco mais pessoal (o que, na verdade, sempre foi a ideia da Calmantes com Champagne, sinceridade quase suicida). E dai me perdi lendo e relendo várias coisas que eu mesmo não lembrava. Bons tempos. E veio a questão: será que eu conseguiria retomar aquela escrita novamente, 10 anos depois? A gente só vai descobrir se tentar, né mesmo. Bora.
…
Segundas-feiras são sempre cansativas para mim. Apesar dos sábados e domingos costumarem serem intensos, na minha cabeça a segunda-feira é o dia internacional de colocar as coisas em ordem, o que, sempre, me deixa um pouco atrapalhado, ansioso e, consequentemente cansado. No caso de hoje ajuda o fato do Scream & Yell estar baleando bastante desde a quarta passada, quando deu alguma pane no data center do servidor – e isso me angustia ferozmente, até porque há tanta coisa legal para ser publicada.
Ainda assim o dia foi ok. Consegui organizar algumas coisas (incluindo uma lista de CDs e DVDs para venda, juntando coisas que um amigo deixou aqui com coisas minhas que tenho repetida – acredita que comprei o “Bootleg Series 10”, do Bob Dylan, na Second Spin, achando que era o 11? E quando chegou, ao abrir o pacote, veio aquela sensação de “hummm, não era você que eu queria”), publicar uma entrevista com a Dulce Quental (que eu adoro) e uma resenha do Leo sobre o novo disco dos Paralamas.
Essa resenha do Leo me fez ir atrás do disco, e passei a manhã toda ouvindo. Gostei, viu. E acho que já deve ser o segundo disco dos Paralamas neste século que mais ouço, só perdendo para o “Brasil Afora” (que grande canção é “Mormaço”!). Do disco novo gostei muito da versão pesada que eles fizeram para “Medo do Medo”, da Capicua, ainda que eu prefira a versão original – já conhece a obra dessa baita rapper portuguesa? Não? Baixa gratuitamente (e já) o disco “Sereia Louca” no site dela. É incrível! Voltando aos Paralamas, gostei também de “Itaquaquecetuba” e de “Cuando Pase El Temblor”.
Outro disco que rodou bastante aqui hoje, como comprova minha LastFM, foi o novo do Apanhador Só (já baixou?), que está crescendo e crescendo a cada audição. Também ouvi, por cima, o disco do Otto (enquanto inventava de fazer braciola no almoço), e quero ouvir com mais calma. Depois na sequencia vieram os discos novos do Adriano Cintra (download aqui), Trupe Chá de Boldo (download aqui), Picassos Falsos, Camila Honda e Rincon Sapiencia. Ao menos musicalmente o dia rendeu.
A semana promete. Lili está de férias, e vamos tentar conferir a mostra do Henri de Toulouse-Lautrec, no MASP, nesta terça, aproveitando a gratuidade da visita (nesse Brasil pós-golpe afundado na crise, qualquer economia é muito bem-vinda). E ainda tenho que preparar a pauta das gravações do Scream & Yell Vídeos, que devem ocorrer na quarta. Nem sei ainda sobre o que vou falar…
Ainda quero tentar ver Eddie Allen na quinta no Sesc Pompeia, dentro do Jazz na Fábrica, Natália Matos sexta na Casa do Mancha, o festival Coala no sábado e Hermeto no domingo. E, nesse meio tempo, rever “Amor à Flor da Pele”, do Wong Kar Wai, para escrever um segundo post com três filmes dele, agora focando nessa trilogia da qual ainda fazem parte “Dias Selvagens” e “2046” (aqui o primeiro post); e também “Match Point”, do Woody Allen, para a filmografia comentada dele que estou quase terminando (já foram 48, faltam “apenas” 15)…
Que a sinusite vá embora e que a força esteja conosco (e traga freelas!).
Ps. A cerveja do dia foi a neozelandesa 8 Wired Super Conductor Double IPA, mais uma boa replicação de estilo por parte dos caras, mas sem nenhuma novidade. Eu estava tão curioso para beber as 8 Wired e, seis cervejas depois, posso dizer que estou meio decepcionado com uma série de boas cervejas, mas com pouca personalidade. Tem mais uma ainda na geladeira… quem sabe.
agosto 8, 2017 No Comments