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Europa 2013: Um passeio cervejeiro

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Geralmente, quando termino uma viagem, tento colocar as ideias em ordem escrevendo um resumo que busca unir os pontos perdidos entre uma cidade e outra, e encerrar a aventura no formato balanço. Desta vez, porém, o balanço será um pouco diferente. Esta viagem de junho para a Europa foi a minha primeira viagem após ter me formado Sommelier de Cerveja, e isso me fez olhar as coisas de um modo ligeiramente diferente, buscando as raízes (e curiosidades) de algumas escolas cervejeiras.

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Afinal, toda essa minha paixão por cervejas começou seis anos atrás numa cidadezinha da Bélgica, a Disneylândia dos cervejeiros. Por isso eu precisava resolver algumas questões: como pisei tantas vezes em Londres e nunca bebi uma Real Ale? Como em diversas passagens por Bruxelas, não enchi a minha taça de Lambic? E como tive a cara de pau de passar por Berlim e não beber Berliner Weisse? Chegou a hora de resolver tudo isso.

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Real Ale, Lambic e Berliner Weisse são estilos de cervejas característicos e totalmente ligados à cidade/país em que são produzidos. Impossível beber Lambic fora de Bruxelas, por exemplo. Porque a Lambic é uma cerveja feita através de fermentação espontânea, e depende do trabalho do fungo Brettanomyces, conhecido no meio pelo apelido carinhoso de Brett, que só é encontrado nos arredores da cidade belga, e não existe Lambic sem ela – pode até ser uma cerveja parecida, mas não é Lambic, é outra coisa.

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Já a Real Ale britânica (também conhecida como Cask Ale) é uma cerveja que passa por uma primeira fermentação rápida e morna, e depois, com provável adição de açúcar para que a levedura siga trabalhando, uma segunda fermentação (com o barril já lacrado) que gera gás carbônico. O processo continua no porão do pub, com o adegueiro (do pub) trabalhando no nível de carbonatação. A cerveja que chega ao copo do cliente, no bar, está vivíssima (e morna!).

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A Berliner Weisse, por sua vez, é uma cerveja de trigo que remete a champanhe (as tropas de Napoleão, quando invadiram a cidade e descobriram a Berliner, a apelidaram de “champanhe do norte”), por sua acidez pronunciada e seu leve aroma frutado. A acidez é tanta que em Berlim costuma-se adoça-la com essências e xaropes. Muita gente, inclusive, adoça lambics belgas com açúcar, e é preciso lembrar-se das versões Gueuze e Kriek. Está tudo em casa. Abaixo, o passeio, cidade por cidade.

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LONDRES
A ideia de passar por Londres desta vez era bater ponto nas duas principais defensoras da escola Cask Ale em atividade na cidade: o Cask Pub & Kitchen e o Craft Beer & Co. A primeira coisa que você precisa saber sobre Real Ale: elas são servidas em temperatura ambiente, mornas. O termo estúpido “estupidamente gelada” não existe aqui, porque eles não precisam esconder o sabor da cerveja sobre uma camada de gelo (e, é bom lembrar, eles passam cerca de 9 meses por ano enfrentando o frio).

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O Craft Beer & Co (82 Leather Ln, pertinho da St. Pauls – eles têm outros três endereços) é o típico pub britânico. No final de tarde destes raros dias ensolarados, sua calçada está tomada por clientes, o que torna fácil encontrar uma mesa vazia lá dentro (embora o barato seja mesmo ficar na rua com amigos). Eles mantêm no cardápio mais de 400 rótulos diferentes de cervejas em garrafa, mas viemos aqui para provar as Cask Ale (e também as Keg Ale, lote de cervejarias artesanais em barril de alumínio).

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Quem está acostumado ao modo brasileiro de servir cerveja (beeem gelada) vai estranhar, mas tente se concentrar no sabor. Minha primeira opção foi seguir a tradição e abrir os trabalhos com uma Tyne Bank Monument Bitter, que segue o estilo tradicional britânico. É uma cerveja levíssima, com bastante percepção de malte. Na sequencia, uma sensacional Partizan Black Coffee IPA, e, pra fechar, uma garrafa de Kernel Amarillo IPA. Pura felicidade líquida.

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Neste primeiro momento já fica claro que os novos cervejeiros britânicos querem seguir o modelo de servir cerveja como os antigos britânicos, mas não aquela mesma cerveja bitter. O que temos aqui é uma bonita encenação de influências. Os Estados Unidos, última grande escola cervejeira, foram imensamente influenciados pelos ingleses. Agora a coisa muda de figura: os ingleses deixam de ser influenciadores para serem influenciados pelos norte-americanos. O cenário só melhora.

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Já o Cask Pub & Kitchen (um dos primeiros pubs a levantarem a bandeira das cervejarias artesanais no Reino Unido) fica um pouco fora de mão, em Pimlico, mas é de fácil acesso (pertinho da estação de metrô Victoria) e basta olhar a placa com os prêmios e elogios na entrada para saber que a viagem valeu a pena. Uma pena que a cozinha não estivesse funcionando no dia (ok, havia tortas), mas o cardápio de cervejas da casa valeu a visita.

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Enquanto esperava amigos, decidi escolher uma cerveja leve, pra abrir a tarde com calma. Escolhi a Dark Star Golden Gate, uma boa American Pale Ale, cujo pint equivale a um almoço. Na sequencia, duas das melhores cervejas da viagem: a excelente Titanic Cappuccino Stout, de Leicestershire, seguida da ótima Espresso Coffee Stout, da Bexar County Brewery, de Cambridgeshire. Todas com menos de 6% de álcool (os ingleses ainda estão pegando leve).

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Como descobrir se o pub em que você está bebendo (ou querendo beber) tem Cask Ale? Simples: o braço da torneira é, normalmente, de madeira, e o barman precisa puxar (no braço) a cerveja do barril que está no porão para o copo (diferente dos chopps que estamos acostumados, em que essa função é mecânica). Duas puxadas enchem um copo de half pint; quatro equivalem a um pint (por isso o número maluco de 568 ml). É bem visual.

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A passagem por Londres ainda contou com uma visita ao Belgo Centraal (o bar belga da cidade), e outra ao The Rake, excelente pub ao lado da Borough Market em que bebi, anos atrás, uma das melhores cervejas em viagem, uma De Molen Amarillo sensacional, e que desta vez tinha, na pressão, a Brooklyn Sorachi Ace. Excelente. Ainda rolou uma passagem no ótimo empório de cervejas dentro da Borough Market – o que rendeu uma Snake Dog IPA, da Flying Dog, em latinha.

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BERLIM
Entre os séculos 16 e 19, a Berliner Weiße era a bebida alcoólica mais popular da Alemanha com cerca de 700 fábricas a produzindo para abastecer o mercado. Após duas grandes guerras, que devastaram a cidade, e a chegada de cervejas concorrentes da Baviera apresentando outros estilos ao público, a produção da Berliner Weiße caiu vertiginosamente a ponto de, hoje em dia, apenas duas fábricas em Berlim (da mesma empresa) a produzirem seguindo as receitas tradicionais.

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Porém, basta chegar o verão para que a Berliner Weiße retorne aos supermercados e a mesa dos bares berlinenses. Seu processo de produção inclui a adição de bactérias (Lactobacillus) na segunda fermentação com o intuito de deixa-la ácida e efervescente (como um champanhe). O resultado é uma cerveja de trigo de ataque violentamente seco e amargo, mas com um final levemente frutado. Que não conhece pode até achar que é uma cerveja estragada – ela é assim mesmo!

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Mas então qual a graça da Berliner Weiße? Seu baixíssimo nível alcoólico (3%) e sua acidez. Isso mesmo. O baixo nível alcoólico privilegia seu consumo no verão e sua enorme acidez fez com que os berlinenses misturassem xaropes de frutas e/ou ervas para abrandar seu ataque, criando um espécie de drink. Os mais tradicionais são os xaropes de framboesa (Himbeersirup) e de ervas (Waldmeistersirup), mas é possível encontrar desde aromatizantes de maçã, pêssego e abacaxi, entre outros.

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Em supermercado é possível comprar a mistura já pronta (em dezenas de versões), mas em bares e restaurantes a mistura pode ser feita na hora. Porém, na busca pelos sabores verdadeiros, decidi começar pela versão tradicional, pura, sem adição de aromatizante. Hora de encarar a história. Estava com o casal de amigos Rodrigo e Carol quando fiz o pedido, e o divertidíssimo garçom da Casa das 100 Cervejas, em Potsdamer Platz, Nemanja, um sérvio fã de cervejas belgas, recusou:

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– “Não, você não quer beber isso”;
– “Quero sim”;
– “É horrível”.
– “Eu preciso experimentar!”
– “Ok, mas não diga que não avisei” (após fazer uma cara de desagrado).

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Cerveja na taça, cerveja bebida. Em um mapa cervejeiro, a Berliner Weiße fica no meio do caminho entre uma lambic e uma saison belgas. No aroma já é possível perceber a força da acidez, mas também alguma sensação de trigo e cítrico (limão). O paladar é aquela paulada que remete desde sal de frutas até água tônica e, claro, champanhe. É terrível? De forma alguma. Diria que é provocante. Mas beber uma garrafa de 600 ml deve ser um belo desafio.

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Na sequencia – ainda sob protestos do Nemanja – vieram as versões com aromatizantes. A de framboesa é ótima e refrescante. A de pêssego também não decepciona, mas a de maçã verde é absolutamente intragável. “Lembra coco de neném”, definiu depois o garçom, com todos na mesa concordando. No saldo final, curti a Berliner Weiße (principalmente a de framboesa). No dia seguinte eu já tinha partido para Oslo, e Rodrigo e Carol voltaram a Casa das 100 Cervejas:

– “Onde está o seu amigo?”
– “Ele já viajou…”
– “Que nada, ele deve estar no hotel passando mal depois daquelas cervejas de ontem”…

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Ps. Se você for para Berlim, de uma passada na Das Haus der 100 Biere e peça Berliner Weiße ao Nemanja. Vale a experiência (e a amizade do garçom).

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OSLO
A Noruega é frequentemente descrita como um país com as bebidas com preços mais altos do mundo, mas eu não sabia disso quando cheguei a Oslo, e fui a um empório procurar cervejas locais. Dentro os pouco mais de 90 rótulos em exposição, absolutamente nenhuma ultrapassava 4,7% de álcool. No bar do mesmo empório, no mesmo mercado, havia belgas tradicionais (Duvel, La Trappe e outras) e várias locais, entre elas a Nøgne 500, de 10% de graduação alcoólica. Bora compra-la e leva-la para o hotel, certo. Errado.

– “Então, não posso vendê-la para você levar. A lei só permite que você consuma aqui no bar”, explicou o garçom.
– “Como assim?”
– “Há uma lei aqui na Noruega que limita a bebida vendida diretamente ao público em supermercados e empórios a até 4,75% de álcool. Acima disso só é possível comprar bebidas alcoólicas em restaurantes e bares autorizados para consumo no local, ou em liquid stores (Vinmonopolet) controladas pelo governo”.
– …
– “Vocês podem bebê-la aqui, mas há um liquid store logo na outra esquina”, informou, já avisando. “Aqui é até sossegado. Na Suécia, o limite de álcool é de 3,5%”…

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Bebemos ali, e depois partimos para a tal liquid store, que, em um belíssimo sábado de sol, mais parecia uma loja de atacado vendendo bebida pela metade do preço, tal a quantidade de noruegueses ensandecidos com garrafas e garrafas debaixo do braço para o fim de semana, afinal, a lei é rígida: as lojas fecham às 20h durante a semana e às 18h todos os dias antes dos feriados (incluindo domingos, em que não é possível comprar nada alcoólico acima de 4,75%).

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Eu já havia comprado algumas cervejas da nova escola norueguesa (vale ler essa coluna de Diego Cartier e Marcelo Cury) no primeiro empório pelo qual passei (escrevi sobre elas aqui), e aproveitei a liquid store para pegar rótulos mais alcoólicos da Nøgne, que começou a ser importada para o Brasil em abril deste ano, embora ainda assim saíssem mais em conta compradas em Oslo (cinco cervejas = 243,50 coroas norueguesas = R$ 98) do que em um empório brasileiro.

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ESTOCOLMO
No quesito “cerveja”, melhor esquecer a cidade mais linda da viagem (e uma das mais lindas do mundo). A passagem por Estocolmo foi rápida (apenas dois dias), as cervejas eram caras (havia um bar belga na rua paralela ao hostel, mas minha economia em frangalhos não permitiu que eu ousasse entrar no lugar), e, nos Seven Eleven, tanto a Carlsberg quanto a Heineken traziam em destaque em seus rótulos a graduação alcoólica: 3,5%. Melhor beber água, certo. Ok, não. Na dúvida, peguei uma de cada.

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EINDHOVEN / DELFT
Meu QG para cobertura do festival Best Kept Secret, a cidade da marca de eletrônicos Phillips e do time PSV é tomada pela cerveja local Bavaria (se eles soubessem o asco que um brasileiro sente ao ver este nome em uma cerveja, provavelmente processariam a nossa embaixada por manchar séculos de história), mas há também bares com cartas de cervejas interessantes (de norte-americanas a belgas) e churrascarias com carne argentina. Bela combinação, hein.

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Ainda assim preferi ir para a única vendinha indiana do centro, todos os dias, e abastecer o quarto toda noite com Hoegaarden Rosee, La Trappe e Duvel (preço máximo: 2,40 euros cada). Na ida para Delft, a caminho de Haia, encontrei duas cervejas em homenagem ao pintor Johannes Vermeer. Comprei um par para trazer pra casa e outro para beber na praça, e gostei muito da versão Gruyt, que segue uma receita do século 13, sem lúpulo.

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Porém, o ponto alto cervejeiro da passagem pela Holanda foi à visita ao mosteiro onde é produzida a La Trappe, uma das oito abadias que tem autorização para ostentar o título “trapista” em suas cervejas (a única abadia holandesa). Eu havia reservado o tour (10 euros com direito a uma cerveja no final) no dia anterior, e me juntei a mais 30 pessoas, dentre estes apenas eu de brasileiro, um casal de belgas, um de norte-americanos, e três russos (e todo o restante, holandês)

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O tour é em dutch (neerlandês, língua indo-europeia do ramo ocidental da família germânica), mas como éramos sete que não entendiam patavina do que o divertido guia estava falando, ele fazia um pequeno resumo em inglês (“Highlights, highlights”, ele dizia), contando anedotas da criação da cervejaria, explicando a produção das cervejas e tudo mais. Quem já fez dois tours em cervejaria sabe que todos os demais serão iguais. O interessante, na verdade, é ouvir uma ou outra curiosidade e conhecer o local. E, no caso da La Trappe, estar em um templo trapista arrepia.

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Como já fiz alguns tours por cervejarias, e conheço o processo clássico de produção de trás pra frente, em boa parte do passeio eu estava à frente do grupo, e o guia pedia: “Brasil, chame os outros para eu contar mais uma história”. No final, escolhi uma La Trappe Bock, e bebi mais três pints no restaurante da casa. Feliz, passei na lojinha e fiz um pequeno estrago. Comprei um pack com as oito cervejas da casa, chocolates para a esposa, duas versões de taças e uma blusa. Consegui resistir aos queijos. Ainda bem.

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Você deve estar se perguntando: por que comprar um pack da La Trappe se quase todas as cervejas do mosteiro são vendidas e encontradas com facilidade no Brasil? Porque, primeiramente, aqui as oito cervejas não custariam os 11 euros que custaram; segundo porque eu queria experimentar La Trappes que não ficaram meses no porto esperando liberação do governo brasileiro para ir para a prateleira de empórios e supermercados. Essas que eu trouxe demoraram seis dias entre o mosteiro e a minha casa.

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BRUXELAS
Ponto final do passeio cervejeiro, e não à toa. Já contei aqui sobre os bares que passei (e bebi), mas o grande motivo de voltar para Bruxelas (na minha quarta passagem pela cidade) era beber lambic direto da torneira. Questão de honra. E o passeio não foi desperdiçado. Com a compania do casal Leonardo e Aline (mais a amiga Suzane), passei uma tarde inteira na Brasserie Cantillon, cervejaria que defende em alguns de seus rótulos o posto de “Lambic mais autêntica da Bélgica”.

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Logo que entrei, já fui tratando de me embrenhar no tour (7 euros). Porém, me confundi. Ao invés de esperar o tour em inglês, acabei acompanhando o tour em francês. Se dutch é quase impossível de ser entendido para novatos, o francês do senhor grisalho que comandou o tour soou absolutamente tranquilo, e o passeio pela velha casa foi bastante especial, com a intervenção divertida de algumas pessoas que não entendiam de cara o processo para se fazer lambic:

– “Onde está a Brettanomyces?”, perguntou um rapaz.
– “Aqui. Ali. Em todo o lugar dentro desta casa. Você está respirando-a”, observou o guia.

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Ao final do tour, duas taças são cortesias para o freguês (encarei a Gueuze tradicional e a Rose Gambrinus e, na sequencia, ainda bebemos uma Cognac Gueuze, a Cantillon 50ºN-4ºE, que ainda nem rótulo tinha), e não espere facilidade: Jean-Pierre Van Roy, o dono da Cantillon, se recusa terminantemente a adoçar suas cervejas (para alegria dos puristas), o que justifica a definição matadora do mestre cervejeiro Garrett Oliver, “o cérebro diz ‘doce’, a língua diz ‘ácida’. Eis uma cerveja brilhante e inflexível”.

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Na hora de deixar Bruxelas, dor no coração… e nos braços, afinal 38 garrafas se acotovelavam em duas malas bastante pesadas (combinando 48 quilos no total), e por mais que o processo de “empacotamento” tenha sido cuidadoso, sempre fica a dúvida: será que elas vão chegar inteiras no Brasil? Sim, chegaram. E junto com elas mais 10 compradas no Duty Free de Bruxelas, uma perdição (10 euros o pack com quatro garrafas de La Chouffe mais taça é muita tentação – e nem falei dos queijos Chimay)…

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O balanço da passagem pelo território das três escolas cervejeiras clássicas foi altamente positivo. E viciante. Não sei se provarei novamente Berliner Weiße quando voltar para Berlim (embora ainda precise beber Kölsch em Colônia, Altbier em Düsseldorf, e Dunkles, Marzens e Helles em Munique), mas com certeza explorarei com mais cuidado o desenvolvimento da nova escola inglesa tanto quanto quero visitar outros mosteiros trapistas, e retornar para passar outras tardes na Brasserie Cantillon. Afinal, a sede é interminável…

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Leia mais: Diário de Viagem Europa 2013 (aqui)

julho 9, 2013   No Comments

Sobre o Best Kept Secret e Bruxelas

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“O que você fez depois da Holanda?”, perguntou um amigo a respeito do Diário Europa 2013. Hora de atualizar as histórias de viagem. Então, após conhecer a encantadora Delft e me decepcionar um tiquinho com Haia, parti em direção ao motivo que me levará para terras holandesas neste ano, o Best Kept Secret Festival, em Hilvarenbeek, do lado de Tilburg, vizinha de Eindhoven, local em que montei meu QG de cobertura.

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A rotina diária consistia em acordar, pegar o trem para Tilburg (22 minutos) e, na própria estação de trem, pegar o shuttle para o festival (11 minutos). Não houve muita coisa fora 10 horas de festival diários, sobre o qual publiquei a cobertura completa no site (leia aqui), as fotos numa galeria no meu flickr e alguns vídeos aqui mesmo no blog. Fora isso, cervejas belgas por 1,90 euros na vendinha e uma visita a La Trappe, que conto melhor depois.

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Na segunda, após os shows sensacionais de Portishead e Sigur Rós na noitada de domingo, parti para Bruxelas. Engraçado: eu já havia passado em quatro oportunidades pela cidade que tem uma das grandes praças mais lindas do mundo e mais cervejas à venda em tudo quanto é canto do que dias no calendário anual, mas nunca tinha dormido em Bruxelas. Sempre era uma coisa de passar o dia e ou ir pra Leuven (Rock Werchter), Bruges ou Paris.

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Desta vez consegui um quartinho perto da Grande Praça, oito lances de escada acima, que quase vitimou esse pobre coração, fraco e cansado. Na rua ao lado, na noite em que cheguei, Patti Smith fazia um show sold out, e as ruas cheiravam a batata frita. Foi uma passagem rápida e pra lá de especial em uma cidade que me mudou completamente nos últimos anos. O que sou hoje é um Marcelo pós ter conhecido cerveja belga, seis anos atrás. Aconteceu muita cois, mas vamos lembrando aos poucos. Bruxelas, um beijo.

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junho 29, 2013   No Comments

O conto de duas cidades (holandesas)

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Dormi na dúvida se iria para um lugar conhecido (Amsterdam) ou um desconhecido (Haia) no dia seguinte, e acordei decidido a encarar o novo. Amsterdam é uma das minhas cidades prediletas, e voltarei a ela oportunamente, com mais tempo e menos correria. Haia, por sua vez, tinha a sedução do novo e a possibilidade de reencontrar Johannes Vermeer, um dos pintores pelo qual meu apreço mais aumentou nos últimos anos. No fim do dia, um misto de decepção e euforia. Ainda assim, foi um daqueles dias pra lá de especiais.

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O dia amanheceu ensolarado, mas logo o céu ficou nublado, sem chuva, mas cinza. No trem, lendo o guia que me acompanha desde sempre (Guia Criativo Para o Viajante Independente – Europa), o pessoal destacava Delft, uma cidadezinha ao lado de Haia, que muitos chamam de mini Amsterdam por sua quantidade de canais, e tem como mérito ser a terra natal de Vermeer. Melhor: toda quinta-feira, a praça central, de característica medieval, recebe uma animada feirinha, que se estende pelas ruas paralelas. Na hora e local certos. Partiu.

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Delft é daquelas cidadezinhas pitorescas pelas quais a gente se apaixona nos primeiros passos pelas ruas de paralelepípedos. Os canais, sim, lembram Amsterdam, mas o clima de cidade do interior é o que mais encanta. A praça histórica – local de feiras e julgamentos públicos no século 13 – mantém o formato de antigamente com a igreja gótica de um lado (o poder religioso) e a prefeitura logo em frente, do outro (o poder administrativo). Entre uma e outra, dezenas de casinhas, restaurantes, cafés e tudo o mais.

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A feirinha estava fervendo quando cheguei. Barraquinhas com queijo holandês, roupas, doces, tortas, aparelhos eletrônicos, vinis e tudo mais chamavam a atenção dos transeuntes, mas quem estava fazendo o maior sucesso era o tiozinho da barraca de peixes. No modelo feirante que usa a voz pra chamar a atenção do freguês, ele limpava o Arenque (pequeno peixe gordoruso e famoso por estes lados), jogava no sal e na cebola, e quem quisesse era só pegar o bicho cru e mandar ver. Fiquei quatro horas na cidade, e a barraca sempre esteve lotada.

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No quesito vinis, encontrei uma barraca bacana. Após o dono perguntar se eu era norte-americano (pela minha camiseta da Third Man Records, Nashville, Tennessee), e eu responder que não, ele já foi me oferecendo um álbum do Johnny Cash com June Carter. Gostei. Ainda levei uma coletânea de Django Reinhardt e o terceiro grande álbum solo de Rod Stewart. Chorei um desconto e a brincadeira saiu por 13 euros. Na barraca seguinte achei o “Deja Vu”, de Crosby, Stills, Nash & Young, edição original. Saiu mais caro: 7 euros.

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E lá fui eu para um dos cafés beber uma cerveja e admirar as aquisições. Escolhi uma Vermeer Gruyt Bier (já tinha pego duas cervejas Vermeer na lojinha sobre o pintor), segunda cerveja feita com gruit (e não com lúpulo) que bebo. Para contrabalançar o malte e conservar a cerveja durante mais tempo, no desconhecimento das propriedades do lúpulo (descoberto no século 12), era usado um gruit, mistura de ervas aromáticas que funcionavam como tempero e concediam a cada cerveja um sabor particular. Gostei da Vermeer Gruyt. 

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E tô eu ali, namorando os vinis, e uma senhora holandesa da mesa ao lado começa a puxar papo. Assim que digo que sou de São Paulo, ela emenda: “As coisas estão sérias lá, hein”. O bate papo animado (vinis x CDs, Johnny Cash, espuma da cerveja) durou uma meia-hora, e ela se despediu pedindo para eu aproveitar a Holanda. “Tome cuidado quando voltar para São Paulo. Estou acompanhando pela TV”, ela disse. “É um momento muito importante para nós”, comentei. “Eu sei, é muito bom ver o povo reagindo”, ela finalizou. Segurei as lágrimas, mas elas me venceram uns três minutos depois.

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Encantado com Delft esqueci que havia um museu a ser visto na próxima cidade. Parti em direção a Den Haag (que é como os holandeses conhecem Haia) e ao museu Mauritshuis, mas como o Jonas Lopes já havia comentado em um post anterior, ele está fechado para reforma, e “emprestou” 100 obras suas para o Gemeente Museum, e para alguns outros museus ao redor do mundo. Duas horas apenas para encontra-lo, então bora atrás do Museu Municipal. Encontrei, vi toda exposição, e sai um pouco frustrado.

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Primeiro porque uma das principais obras do Mauritshuis, a Scarlett Johansson com Brinco de Pérola (hehe), não estava no Gemeente, e sim passeando pelo mundo (último paradeiro: São Francisco). Segundo porque só há dois quadros de Vermeer na mostra. “Vermeer é conhecido pelos quadros pequenos de cenas cotidianas”, explicava o texto de um deles. “Este, de sua primeira fase, é diferente”. Ou seja, além de ter apenas dois Vermeer em exposição, nenhum dos dois traz os traços clássicos pelos quais o pintor veio a ser conhecido.

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A obra de Vermeer é pequena. Consta aproximadamente 45 quadros em seu nome, e destes já tive o prazer de ver “A Leiteira”, “Mulher de Azul, Lendo uma Carta” (que esteve no MASP no começo do ano), “Mulher Tocando Guitarra”, “Senhora diante do Virginal”, “O Astrônomo” e “A Rendeira”. Estava com expectativa de ver “A Moça com Brinco de Pérola” (conhecido por estes lados como “A MonaLisa Holandesa”), mas vai ficar para uma próxima vez, afinal pretendo voltar a Delft, e estando aqui esticar para Haia – e também para Rotterdam, a fim de ver as casas cubistas de Piet Blom.

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Não que o passeio pelo Gemeente Museum tenha sido em vão. Vários Rembrandt (incluindo “Aula de Anatomia do Dr. Tulp”), alguns Francis Bacon, mais Picasso, Van Gogh, Cezanne, Kandinski e Monet credenciam o museu. Entre os meus preferidos, alguns de Peter Paul Rubens e outros de Frans van Mieris (este último lembrando cenas de Vermeer, mas com um toque de ironia que inexiste na obra do mais famoso). Na verdade, gostei mais da exposição de arte moderna do que dos clássicos. A versão 2013 de “Eva”, com cueca, seminua, gata, e segurando uma folha de maconha na mão ao invés de uma maçã, é uma baita tentação.

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O saldo final do dia foi mais uma cidade apaixonante, quatro vinis, três CDs (“On Stage”, um show do Elvis Costello de 1996; “At The Beacon Theatre 2003”, do Radiohead; “Live Germany 1985”, do R.E.M.), duas cervejas (além da Vermeer Gruyt, peguei também a Vermeer Mueselare) e algumas lágrimas. Nesta sexta-feira começa o Best Kept Secret Festival, e a programação destaca shows de Maccabees, Fuck Buttons, Surf Blood e Arctic Monkeys. Antes, porém, tenho um tour reservado na Abadia de La Trappe. O dia promete…

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Leia mais: Diário de Viagem Europa 2013 (aqui)

junho 20, 2013   1 Comment

Completamente apaixonado por Estocolmo

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Fazer mochilão é algo cansativo, ainda mais no modo que gosto de fazer, que é aquele de ficar no máximo quatro ou cinco dias numa cidade, e pular para outra na sequencia. É um fazer malas (pesadas), pegar avião/trem, achar o hostel, desfazer a mala, curtir a cidade e começar tudo de novo. Cansa pacas, mas se justifica completamente quando encontro uma cidade apaixonante. Dai eu penso que queria ficar um mês, um ano, uma vida, e planejo uma volta.

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Fiz essa escolha de viagens longas com estadias curtas porque tenho plena consciência de que não terei tempo útil para conhecer todas as cidades que quero conhecer, e se um dia a vida estabilizar, volto com mais tempo para aquelas que tomaram meu coração. A nova candidata ao posto de paixão é Estocolmo, e ela se junta a algumas paixões sem fim de viagens anteriores como Praga, Veneza, Santorini, Paris, New Orleans e Amsterdã.

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Meu plano inicial era ficar cinco dias em Estocolmo, mas alterei o roteiro após certo desencanto com Oslo, e susto com os preços escandinavos, mais a loucura de decidir em qual festival eu iria. Tanto o South Side, na Alemanha, quanto o Best Kept Secret, na Holanda, me credenciaram, e escolhi aquele que fosse mais em conta financeiramente no conjunto voo+hotel+saída pra Bélgica (última parada antes de voltar ao Brasil). Venceu o festival holandês, e Estocolmo perdeu três dias.

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Se eu soubesse que iria me apaixonar tanto pela cidade teria buscado uma solução alternativa, ou mesmo pago um pouco mais pelo conjunto “voo+hotel+saída pra Bélgica” para curtir outros dois dias aqui, mas nada de chorar sobre o uísque derramado. O que me restava era aproveitar as 48 horas que eu teria na capital da Suécia, e bati tanta perna pra lá e pra cá que já alivei o peso da mala na quantidade de Dorflex que ingeri nas últimas horas (risos).

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Estocolmo é linda. Lembra bastante Amsterdam, mas sem o turismo maconheiro, o que, para mim, é um ponto positivo (desculpe amigos fãs da erva). Tem uma desvantagem de ser uma cidade mais cara, e ter uma forte restrição ao consumo de álcool, mas ainda assim encanta. Localizada sobre 14 ilhas no centro-sul da costa leste da Suécia, é uma cidade daquelas de fazer a gente suspirar, principalmente no verão (no inverno, claro, as coisas são tensas por aqui).

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Passei boa parte do primeiro dia na ilha de Stadsholmen, onde fica Gamla Stan, a cidade velha, com ruazinhas e becos medievais que remetem a Praga e ao Barri Gotic de Barcelona. Datada do século XIII, Gamla Stan destaca uma arquitetura gótica de influência alemã e ostenta a Catedral de Estocolmo, o Castelo Real e o Musel Nobel, onde todos os anos são entregues os Prêmios Nobel. E também o restaurante Den Gyldene Freden, em atividade desde 1722!

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É uma área extremamente turística, claro, mas é possível encontrar ruas, bares e cafés para aproveitar um fim de tarde em paz (mesmo no verão). Não na Södermalm, a ruazinha principal, lotada de comércio para turistas, mas também restaurantes, sorveterias e creperias – além de uma loja de discos voltada para jazz e blues. Há algumas pracinhas encantadoras que são o paraíso num fim de tarde ensolarado de verão europeu.

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Também fui ao distrito de Södermalm atrás de alguns vinis na Pet Sounds (obrigado pela dica, André Takeda) e rodei bastante a área central, parando aqui para um sorvete, ali para uma cerveja, acolá para um hot dog – e até para um bife na churrascaria Jensen Bofhus, pertinho da estação central (que acompanhado de um pint da cerveja tcheca Staropramen saiu por pagáveis R$ 60 – a melhor refeição da viagem até agora).

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Não sou muito fã daqueles ônibus Hop on Hop Off, mas quando o tempo é curto e a cidade é grande, eles até ajudam bastante. Havia usado um uma vez em Bruxelas (quebrou um galho nas quatro horas que eu tinha livre) e outro em Los Angeles (quem manda não dirigir), e acabei por encarar um em Estocolmo, mas não a versão ônibus, e sim a versão barco, que passeia pela cidade parando em seis das quatorze ilhas. Lembrou Veneza. E foi bem legal.

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Um dos grandes momentos do dia foi conhecer o museu mais visitado da Escandinávia, o Vasamuseet, que nada mais é do que um museu marítimo. O destaque é o enorme navio de guerra Vasa, que naufragou na baia de Estocolmo no dia de sua viagem inaugural em… 1628. O Vasa permaneceu no fundo do mar por 333 anos, até ser retirado intacto em 1961. O projeto de recuperação demorou mais 29 anos, e, em 1990, o museu foi inaugurado. 

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Impressiona absurdamente o quanto o navio permaneceu inteiro debaixo d’agua, e sua grandiosidade enche os olhos. O museu, porém, não trata apenas do navio, mas de tudo que é ligado a ele. Desta forma, réplicas dos desenhos de proa, utensílios e mesmo esqueletos da tripulação estão exibidos para o público, que praticamente entra em uma capsula do tempo e retorna até os primeiros anos de 1600. Um dos museus mais impressionantes que já visitei.

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Despeço-me de Estocolmo com a sensação de quero voltar para cá o mais rápido possível, com mais tempo, com mais calma, com mais planejamento. Em agosto rola o Way Out West Festival, em Gotemburgo (com Neil Youg & Crazy Horse encabeçando o line-up), e seria uma ótima pedida ir ao festival e esticar para cá, mas melhor não pensar em viagens agora – e sim nas contas a pagar. Amanhã acordo em Eindhoven, na Holanda, e o trecho final da viagem começa, mas deixo um pedaço do meu coração em Estocolmo.

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Estocolmo, já estou com saudades.

Ps. Sim, as mulheres suecas são lindas… praticamente todas.

junho 18, 2013   No Comments

No trem de Oslo para Estocolmo

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Noite complicada de sono em Oslo. O sol da meia-noite, bastante comum por estes lados nórdicos nessa época do ano, chegou um pouco atrasado e, ali pelas duas e pouco da manhã, começou a invadir o quarto pelas frestas da cortina. Acordei assustado várias vezes durante a “madrugada” ensolarada acreditando que já era 9h da manhã e eu tinha perdido o trem que me levaria para Estocolmo. Desisti do sono às 6h (o trem só saia às 7h30).

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Na estação, a ideia era trocar as coroas norueguesas (uma nota de 200 que equivale a, tipo, uns R$ 75) que ainda tenho por coroas suecas. Há uma máquina ali exatamente para isso e você pode trocar o dinheiro que tiver (sendo euro, coroa norueguesa ou sueca) por um dos três disponíveis. É sensacional. Cada vez mais, as máquinas parecem tomar o lugar das pessoas, mas, neste caso em particular, a máquina não estava funcionando.

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Raramente escolho lugares quando compro passagens de trens e avião (nunca quando tenho que pagar um valor a mais para isso), mas desta vez decidi garantir um lugar na janela para admirar a paisagem. A planta do trem no site mostrava que todos os lugares pares eram na janela, paguei uns 40 krones a mais por uma vaga e não é que chegando no local, os lugares pares são no corredor? Nunca mais reservo algo assim.

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Tudo bem que o vagão está vazio e arranjei uma janelinha com tomada para carregar o computador enquanto escrevo e observo a paisagem. A Noruega, lembrando uma definição semelhante de Lili sobre o Chile, é um país alto e magro, desta forma, como a viagem é vertical, devemos sair rapidamente de seu território e adentrar a Suécia. A paisagem de casinhas é bonita e me lembra o quanto gosto de viajar de trem.

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Houve um tempo em que meu pai foi tentar a sorte numa cidadezinha do interior paulista chamada Bernardino de Campo, e várias vezes fiz o trecho “São Paulo / Bernardino” de trem (algumas à noite). É lamentável que a malha ferroviária brasileira esteja às moscas, e que o Governo não invista no setor. Adoraria viajar de São Paulo para o Rio de Janeiro, ou, quem sabe, para o Nordeste, em um trem observando a paisagem pela janela.

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No vagão restaurante não encontrei nenhuma Julie Delpy, mas sim um grupo de mineiros (imagino pelo sotaque inconfundível) de terceira idade se embananando para comprar o café da manhã. Uma das senhoras estava radiante por ter pego uma barra de chocolate suíço por 25 kr enquanto a outra se perdia numa confusão de notas norueguesas, suecas e de euros na hora de pagar. A senhora do caixa, atenciosa, explicava as diferenças.

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Voltei a ler algumas páginas de “Como é Bela a Puta da Vida”, livro novo do português Miguel Esteves Cardoso, presente do amigo Bruno Capelas. O livro, compilação de crônicas do autor publicadas em jornal, é uma declaração de amor do jornalista à sua esposa, e narra, na primeira parte, a descoberta de seu câncer, e o tratamento. “Logo Maria João poderá tocar as flores sem que estas fiquem azuis”, descreve Miguel ao fim da quimioterapia da mulher.

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Além da escrita emocional do autor, o que me comove é a maneira leve com que ele (e principalmente ela, que o ensinou a levar a vida com calma) narra o tratamento e a expectativa de que o casal saísse vencedor deste combate cruel. No último texto que li, Miguel conta que começou a valorizar o “tempo perdido”, mesmo em frente a semáforos. “Se somarmos o tempo parado em faróis esperando o verde, quantos verões daria?”, questiona.

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Aproveitar o tempo, ele faz questão de frisar, não é ligar para amigos no meio de um congestionamento, mas sim aprender a não fazer nada e admirar um jardim. Olhar a pessoa amada, saborear um café, escutar uma canção sem se preocupar que existam mais não sei lá quantos discos novos disponíveis. A velocidade do tempo, turbinada pela necessidade de estar atualizado a respeito de tudo e todos, está atropelando a calma. Precisamos combater isso.

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Oslo foi uma surpresa. Esperava (acho que todo mundo espera) um país de loiros e loiras, ruivos e ruivas nórdicas, e, claro, eles existem, mas a população (ao menos na capital) é bem dividida entre negros, indianos, turcos, japoneses e tudo mais. A cidade parece conviver bem com isso, embora em Malmo, na ponta do país, a diáspora racial ainda seja forte e latente. Algumas loiras são encantadoramente lindas, mas as norueguesas morenas não ficam atrás.

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A paisagem da janela do trem é verde e exuberante, e as casas são simples. Meu vizinho de poltrona sai do trem em toda parada para dar duas ou três baforadas em seu cachimbo, o que transforma esse fundo do vagão em um enorme cinzeiro. Logo fugirei e retornarei ao vagão restaurante para provar a cerveja de 2.1% de álcool servida no local. Segundo o garçom no Mathallen, a lei sueca é ainda mais rígida em relação á bebida. Sem muita expectativa.

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As cidades passam pela janela. Arvika, Kil, Kristinehamn. Todas muito charmosas e sedutoras. A vida parece calma aqui, e penso se conseguiria domar minha ansiedade morando em lugares assim. Sinto vontade, mas não de viver aqui, claro. O verão é algo único, mas o inverno me destruiria facilmente. Não sei o que seria mais difícil: conviver com o frio e a neve ou comigo mesmo e meus pensamentos trancado numa casinha de uma vilinha qualquer sueca.

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A trilha sonora da viagem é “Vazio Tropical”, novo disco do amigo Wado, aqui produzido por Marcelo Camelo. Eu já gostava de “Cidade Grande” na versão de Cris Braun, e a versão de Wado valoriza a boa letra. “Rosa” é Wado em seu melhor: “Os olhos dela ensinam estrelas a brilhar, vai doer / Os braços dela ensinam ondas a quebrar, vai doer / Vai doer, mas depois vai passar”. A dor está intrinsicamente ligada ao amor. Vai doer, mas depois vai passar.

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Há algo de Chico Buarque em “Flores do Bem”, talvez seja o vocal de MoMo, que engrandece a ótima letra. “Minha mãe me queria grande, eu preferi comprar minhocas, eu decidi pescar uns peixes / Meu pai me queria homem, eu preferi regar as plantas, eu decidi colher as flores / Minha mãe me queria santo, eu descobri que amava os vícios, eu precisei andar com as bruxas / Meu pai me queria impávido, eu preferi correr das brigas, eu aceitei levar uns socos”.

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Ainda não tenho uma opinião formada sobre o álbum, o mais sútil de toda carreira de Wado, com uma sonoridade despida que remete aos discos solo da carreira solo de Marcelo Camelo – aqui com a vantagem das canções terem foco e proposito, e não serem apenas rascunhos como nos trabalhos do ex-Los Hermanos. Além de Wado ando ouvindo muito “Antes Que Tu Conte Outra”, disco forte do Apanhador Só que cresce absurdos a cada nova audição.

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Terei apenas um dia e meio em Estocolmo, e terei que aproveitar ao máximo o sol se pondo quase às 23h. Na quarta, durante a madrugada (provavelmente ensolarada) estarei a caminho de Eindhoven, na Holanda, onde montarei meu quarto general particular para acompanhar o Best Kept Secret Festival. Dali para Bruxelas, na segunda, e dois dias depois estarei de volta a São Paulo. O segundo semestre promete mudanças, e que elas venham para o bem.

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É só nisso que consigo pensar…

junho 17, 2013   2 Comments

E no segundo dia, o sol saiu em Oslo

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Não há como: um dia de sol na vida é algo especial. Ainda mais destes lados nórdicos, em que a neve, a chuva e o frio são parceiros constantes em boa parte do ano. Apenas um dia nublado e com garoa, o sol saiu vitorioso em Christiania, antigo nome de Oslo, para alegria de turistas e, principalmente, dos noruegueses que tiraram os shorts e bermudas do armário e foram para a rua – boa parte das meninas optou pelo biquíni e partiu em direção a praça mais próxima.

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É muito difícil para um estrangeiro desligar-se do fator econômico na Noruega. Tudo aqui é caro demais para o custo de vida de qualquer outro país do mundo. Afinal estamos na terra em que uma latinha de coca-cola pode custar até R$ 10, uma boa cerveja pode sair por R$ 50, a passagem de ônibus é R$ 18 (valida por duas horas) e um prato em um restaurante não sai por menos de R$ 100 por pessoa. Assusta, mas não atrapalha o charme da cidade.

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A primeira sensação que tive é de que Oslo lembrava muito Budapeste. Claro, uma Budapeste de maior custo de vida, mas com algumas semelhanças. Talvez porque meu hotel seja no lado central da cidade em que drogas e prostituição estão à vista. Em Budapeste, as prostitutas trabalhavam no saguão do Ibis. Aqui não chega a acontecer isso, mas basta colocar a cabeça na rua pós 23h para ser apresentado a toda sorte de ofertas de sexo e drogas.

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Assim como Budapeste, em que os meus dois primeiros dias na cidade foram abençoados por uma chuva torrencial, e, após alguns dias em Praga, na volta o sol nos recebeu de braços abertos e a cidade exibiu seu sorriso mais charmoso, Oslo também fez o mesmo, permitindo um passeio de barco na baia da cidade e visitas a pontos turísticos como o Museu Kon-Tiki (já viu o filme?), o Museu de Barcos Vikings, o forte Akershus e a impressionante Opera House.

No primeiro dia achei a Opera House, projeto do escritório Snøhetta, um monstrengo meio sem sentido, mas basta passar uma tarde de pôr-do-sol caminhando sobre seu telhado que a admiração surge (apesar que ela deve ser deslumbrante nos dias de neve). Foram oito anos (2000 a 2008) de construção desta geleira escalável incrustrada no porto de Oslo, ao lado da estação central de trens. Acabou se tornando um dos meus lugares preferidos na cidade.

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Entre os pontos altos desta viagem está à visita a National Gallery, que destaca nestes dias uma exposição especial e imperdível comemorando 150 anos de Edward Munch (há um calendário com dezenas de comemorações da data). A mostra, dividida com o Museu Munch, exibe uma coleção emocional de obras do pintor norueguês, e gostei demais da primeira fase do artista, menos psicodélica que a segunda, mas tão melancólica quanto.

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Quando criaram a comunidade do Scream & Yell no Orkut, optaram pelo quadro “O Grito”, de Munch, como símbolo do grupo. Achei a escolha perfeita embora não goste tanto assim da obra (que após ser roubada do Museu Munch, foi recuperada bastante danificada e está presente no acervo da National Gallery). Entre os meus quadros preferidos da mostra estão “Morning“, o darkissimo “Night at St. Cloud“, “The Day After” (acima), “The Kiss” e “White Night“.

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Outro destaque de Oslo foi uma visita ao Mathallen, um pequeno e charmoso mercado (no estilo do Chelsea Market, em Nova York) que exibe desde variedades de queijos e chocolates assim como frutos do mar, lanches, padaria e tudo mais. É uma ótima maneira se fugir da Karl Johans Gate, a avenida principal tomada por turistas, e encontrar noruegueses curtindo sua própria cidade. E os preços são mais em conta (mas nem tanto) do que nas ruas principais.

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Descobri o Mathallen porque estava procurando um local para comprar cervejas norueguesas para trazer para o Brasil. O Ratebeer indicava, entre outros locais, o Akersberget, um empório que também tem um restaurante e um bar no mercado. Peguei duas cervejas às cegas (indicadas pela simpática atendente Nicolina) e uma Nøgne Ø, mas fiquei intrigado pelo fato de não existir no empório nenhuma cerveja acima de 4,7% de álcool.

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No restaurante, ao pedir uma Nøgne Ø 500, uma Imperial IPA de 10%, para levar pro hotel, o garçom nos explicou: cervejas acima de 4,7% só podem ser compradas em Liquid Stores controladas pelo governo. A taxação sobre bebidas alcoólicas (e cigarro) é altíssima, o que eleva o preço. É proibido beber em público (mesmo que seja na varanda da sua casa). Menores de 18 anos são proibidos de comprar bebida alcoólica, e entre 18 e 20, apenas cerveja e vinho. E você só pode comprar álcool no domingo e feriados em bares, pubs e restaurantes.

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Funciona? Mais ou menos. As pessoas bebem moderadamente nos parques, mas o reflexo de uma lei tão rígida é o aumento no consumo de drogas sintéticas. Oslo apresenta uma das maiores taxas de morte por overdose per capita da Europa, e a maior da Escandinávia. A cidade possui o título de “capital europeia da heroína”, e, segundo o jornal britânico The Guardian, 10 gramas de heroína custa o mesmo valor que um pacote com 20 cigarros (afinal, ao contrário de bebida e cigarros, as drogas entram no país sem imposto). Complicado.

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Outro grande momento da viagem foi visitar a Rakk & Ralls (Rock & Roll), loja espetacular de vinis e CDs usados e novos em Oslo que merece o título de Amoeba norueguesa. De compactos de época dos Beatles, Stones, Clash e Sex Pistols, a boxes e CDs raros novos, a loja (que oferta bons preços) pode falir economias claudicantes. A dica esperta do amigo Fernando Augusto Lopes rendeu algumas preciosidades para o acervo pessoal, e se um dia eu voltar a essa cidade, passar na Rakk & Ralls será obrigatório.

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Hoje é meu último dia em Oslo, e apesar de respirar aliviado (pero no mucho, já que vou passar dois dias em Estocolmo, outra cidade de economia não praticável para cidadãos comuns do resto do mundo), já começo a sentir um carinho pela cidade. De 06 a 10 de agosto acontece o Øya Festival (com Blur, Slayer, Kraftwerk, Rodriguez, Cat Power e mais), e se pudesse voltaria pra cá pra conferir esse festival, que deve ser mais intenso que o pequeno Norwegian Wood Festival, mas isso é assunto para o próximo post…

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junho 16, 2013   No Comments

Bora para a Holanda

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Passeio boa poarte da quinta-feira em Oslo comparando preços de hotéis, voos e translado para decidir em qual festival ir, e o pequeno Best Kept Secret, na Holanda, venceu o enorme South Side, na Alemanha (eu queria muito ver o novo show do QOTSA, mas fica pra próxima). Na mudança de roteiro, Estocolmo perdeu dois dias de viagem. Agora chego lá na segunda e já na quarta parto para Eindhoven, na Holanda, onde montarei o QG Scream & Yell para acompanhar o festival (trem para ir e voltar mais shuttle de ônibus do festival todos os dias).

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O último trecho da viagem ficou assim:

17/06 – Estocolmo
18/06 – Estocolmo
19/06 – Eindhoven
20/06 – Eindhoven
21/06 – Hilvarenbeek Best Kept Secret
22/06 – Hilvarenbeek / Best Kept Secret
23/06 – Hilvarenbeek / Best Kept Secret
24/06 – Bruxelas
25/06 – Bruxelas
26/06 – Bruxelas / São Paulo

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Após dois dias nublados, com vento e chuva leve, Oslo amanheceu ensolarada nesta-feira. Na verdade, nem escureceu. A foto abaixo é a vista da janela do meu quarto ás duas da manhã. Hoje tem Nick Cave & The Bad Seeds com Band of Horses no Norwegian Wood Festival, mas os preços proibitivos para brasileiros (quase R$ 300 o ingresso) estão vencendo o desej0 de ir ao show, afinal amanhã tem Manic Street Preachers com My Bloody Valentine, e não há bolso que aguente dois shows seguidos nesse preço escandinavo…

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junho 14, 2013   No Comments

Best Kept Secret, na Holanda. Será?

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Os ingressos para os festivais alemães irmãos Hurricane e South Side estão sold outs. Ok, há disponíveis em sites (no Via Gogo, por exemplo, o passe para os três dias sai por 196 euros), mas encontrei o line-up desse festival acima, e me interessei. O Best Kept Secret Festival acontece em Hilvarenbeek, na Holanda, em seu primeiro ano de atividade (enquanto os festivais alemães já somam 40 anos nas costas). É a única indecisão do roteiro de viagem europeu.

Comparativamente, optando pela Holanda deixo de ver alguns shows que estava bastante animado em assistir: QOTSA tocando o grande disco novo, The Gaslight Anthem, The National (apesar que cruzo com eles em Bruxelas e vou tentar a sorte na porta – está sold out), The Hives (sim, de novo), Gogol Bordello, British Sea Power (que adoro) e The Vaccines (vi no sábado e foi tão bom). Dispenso o Smashing Pumpkins (apesar do “Oceania” ser legalzim).

A vantagem holandesa, além do ensurdecedor Swans, é que as duas principais bandas que quero ver no Hurricane (Portishead e Sigur Rós) estão no Best Kept Secret. Melhor: o timetable do festival é extremamente amigável (confira aqui). Por fim, os ingressos ainda estão à venda e meu próximo destino, acordando na Holanda na manhã de segunda, 24 de junho, seria a Bélgica. Rola atravessar a fronteira a pé (risos). Bora pensar, mas fiquei animado.

maio 22, 2013   No Comments

Europa 2013: 2º rascunho de viagem

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Não sei onde eu estava com a cabeça quando decidi emendar duas viagens internacionais seguidas, mas, vá lá, a passagem já está comprada (só metade paga, mas já comprada – risos), e essa Tour Europa 2013 será a viagem mais pindaíba ever, daquelas de dormir em quarto com 16 camas em hostel e fazer vários trechos de ônibus. Apesar de que, de Londres para Berlim e de Berlim para Oslo, estava muito mais barato ir de avião do que de trem (em média, R$ 150), e decidi já garantir estes voos.

Algumas pequenas mudanças na segunda parte do roteiro: de Oslo ainda não decidi se vou para Helsinqui ou Estocolmo. Tenho vontade de conhecer ambas, os trechos de avião de Oslo para qualquer uma delas sai por volta de R$ 150, e delas para Hamburgo (cidade próxima onde irá acontecer o Hurricane Festival), também R$ 150. Um dos fatores que sempre pesam são os shows que vão acontecer em cada cidade no período da viagem, mas as duas estão fora do roteiro das bandas. Será na moedinha.

Também decidi trocar o Sul da Alemanha pelo Norte, ou melhor, o Southside pelo Hurricane. É praticamente o mesmo festival, e assim que fui procurar informações sobre o segundo, descobri que ele completa 40 anos em 2013, e que foi neste festival que David Bowie fez, em 2004, seu último show completo, pois com fortes dores no peito, teve que antecipar o bis e deixar o palco, sendo diagnosticado depois como ataque cardíaco. Beth Gibbons, se cuida, por favor. Detalhe: os dois estão sold-outs, então vou tentar a sorte.

06/06 – Londres (Elvis Costello no Royal Albert Hall)
07/06 – Londres
08/06 – Londres
09/06 – Londres
10/06 – Berlim
11/06 – Berlim
12/06 – Berlim
13/06 – Oslo – Norwegian Wood Festival
14/06 – Oslo – Norwegian Wood Festival
15/06 – Oslo – Norwegian Wood Festival
16/06 – Oslo – Norwegian Wood Festival
17/06 – Helsinqui ou Estocolmo
18/06 – Helsinqui ou Estocolmo
19/06 – Helsinqui ou Estocolmo
20/06 – Helsinqui ou Estocolmo
21/06 – Scheeßel, Alemanha – Hurricane
22/06 – Scheeßel, Alemanha – Hurricane
23/06 – Scheeßel, Alemanha – Hurricane
24/06 – Bruxelas
25/06 – Bruxelas
26/06 – Bruxelas / São Paulo

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maio 16, 2013   No Comments

EUA 2013: Algumas coisas em Nova York

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Na primeira vez que estive em Nova York, em 2011, cheguei à cidade no começo do mês de abril, e a primavera havia acabado de começar, mas o tempo cinza e as árvores nuas ainda eram retrato de um frio e longo inverno. Desta vez, porém, pisei na cidade um mês depois, já em maio, e a situação mudou completamente: as árvores estão tomadas por folhas e flores e a cidade parece mais animada, ainda que os dias comecem frios na parte da manhã para ir esquentando levemente durante o dia.

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É nesse período que uma cidade tão bem desenhada como Nova York, e principalmente Manhattan, ganha vida em seus parques e áreas de lazer. A High Line, por exemplo, um parque suspenso com mais de 16 quadras de extensão feito sobre um antigo trecho de linha de trens (é o mesmo que fechassem o Minhocão, em São Paulo, e fizessem uma grande área de lazer), que já é um dos novos cartões postais da cidade, estava lotada no meio de uma sexta-feira ensolarada com pessoas lendo, tomando sol ou simplesmente caminhando.

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Dois dias antes, porém, a cidade amanheceu chuvosa, e a melhor saída era escolher um museu, e no nosso caso optamos pelo The Museum of Modern Art, o MoMA – desde então, um de meus museus preferidos. Filas imensas surgiam calçada afora (por este dia até vale recomendar chegar ao museu na parte da tarde), mas assim que se começa a andar pelos corredores do belíssimo e cruzar com tantas obras de arte clássicas, entende-se a loucura de pessoas pelos corredores do prédio, e aceita-se (embora o desejo de voltar em um dia vazio – deve existir algum no ano – tome o coração).

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O sexto andar do prédio (assim como no Gugheihem Museum, recomenda-se a visita invertida) abrigava uma interessante mostra pop com obras do sueco naturalizado norte-americano Claes Oldenburg, escultor que ao lado de Andy Warhol e Roy Lichtenstein forma o trio de ferro da Pop Art. Esculturas de hambúrgueres, sorvetes, bolos e objetos comuns do dia a dia ganham vida em formatos exagerados e cores berrantes criando uma sensação de que a cultura de massa, na sociedade de consumo, é como um exagerado prato de comida.

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Porém, o crème de la crème do MoMA está no quinto andar do prédio, e é de deixar mesmo quem já frequentou alguns dos maiores museus do mundo de boca aberta. Estão aqui o magnifico “Noite Estrelada” (1889), de Van Gogh, um dos mais concorridos do acervo, e ainda assim tão sossegado e tão próximo do espectador que comove. Na sala ao lado, mas no mesmo campo de visão, apenas o quadro que inaugurou o cubismo, “Les Demoiselles d’Avignon” (1907), de Picasso. A série de quadros de “Latas de Sopa Campbell” (1962), de Andy Warhol, está na entrada de uma das cantinas do prédio.

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Entre os meus preferidos destaco “Still Life of Three Puppies” (1888), quadro cômico de Gauguin; “Still Life with Flowers” (1912), de Juan Gris; o sublime “The Empire of Light 2” (1950), de René Magritte; “Carta Fantasma” (1937), de Paul Klee; um desenho da Monalisa de bigode, que compõe a obra “Boîte-en-Valise” (1935-1941), de Marcel Duchamp, o maior de todos; mais o espetacular “Number 1A” (1948), de Jackson Pollock. O quadro “A Persistência da Memória” (1931), de Dali, também é do MoMA, mas estava emprestado…

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Fizemos um pouco de tudo nestes últimos dias. Comemos no Soup Man (carinhosamente apelidado de Soup Nazi pelos personagens da série Seinfeld – e a sopa é realmente excelente), caminhamos pelo Battery Park, com a Estátua da Liberdade ao fundo, atravessamos a Brooklyn Bridge, provamos a melhor tira de carne da viagem em um bar no Brooklyn (Sweet Water, recomendo) ao preço de 17 dólares para, no dia seguinte, economizar comendo a pizza de 0,99 cents elogiada pelo The New York Times (“Pelo preço é surpreendemente ótima).

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Passei rapidamente em algumas lojas de CDs e vinis, mas adquiri muito menos do que eu imaginava. No entanto, fiz a festa no New Beer Distributors of New York City, a meca de cerveja artesanal na cidade. Aliás, boa parte dos novos restaurantes tem cervejas locais em cardápio. A Cantina Corsino, bom italiano no Meatpacking, exibe com orgulho a premiada Brooklyn Wit, de Garrett Oliver, que só existe em torneira, não em garrafa, mas ainda devemos esticar até a cervejaria neste sábado (embora o tempo nublado desanime um pouco).

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No quesito comida é importante citar o Chelsea Market, shopping gastronômico montado em um prédio que pertencia a Companhia Nacional de Biscoitos, a NaBisCo, e que agora reúne um bom número de locais notáveis em bons pratos. Quem se anima com frutos do mar tem que bater cartão no Chelsea Market (eles preparam lagosta na hora), mas há opções para todos os gostos em um local charmoso, com q de futurista e hipster, mas você nem dá bola para isso assim que começa a caminhar pela oficina de cheiros que se transforma o shopping.

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A viagem está chegando ao fim. Neste domingo à noite partimos para São Paulo, e a loucura da vida recomeça – embora eu vá retardar alguns compromissos até julho, já que viajo para a Europa no começo de junho para uma segunda perna de viagens em 2013 – antes, ainda, estarei em Porto Velho para o Festival Casarão 2013 e participarei de um ciclo de debates e ideias em Belo Horizonte, no começo de junho. Mas, voltando à Nova York, a viagem está chegando ao fim, e o balanço completo virá ali pela segunda-feira, mas já posso dizer que estou cada vez mais enamorado dessa megalópole barulhenta e instigante. São Paulo, se cuida.

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Leia mais: Diário de Viagem Estados Unidos 2013 (aqui)

maio 11, 2013   No Comments