Category — Cinema
Ida. Ou Agata Trzebuchowska, 23 anos
“Não fiz nenhuma audição para o papel. Eu estava em uma cafeteria em Varsóvia, e uma diretora, amiga do Pawel (diretor de “Ida”), me viu e fez uma foto. Pawel me ligou depois, conversamos e ele pediu para que eu fizesse um teste de tela. As coisas começaram assim. Eu estava um pouco com medo, não vou negar. Pawel me pediu que eu fosse natural. Ele sabia que não estava trabalhando com uma atriz profissional e tinha noção das consequências disso. Não estou segura de seguir a carreira de atriz. As vezes acho que esse mundo não é pra mim. Tive que parar meus estudos por um tempo. Faço especialização em Antropologia Cultural na Faculdade de Ciências Humanas de Varsóvia”.
Leia a entrevista do jornal argentino La Nacion na integra aqui
fevereiro 18, 2015 No Comments
Roteiros: Birdman, Boyhood, Whiplash
Leia online ou baixe os roteiros originais clicando no nome dos filmes: “Birdman“, “Boyhood“, “Whiplash” e “O Grande Hotel Budapeste”. Os demais filmes da safra 2014 do Oscar (”Garota Exemplar”, “Grandes Olhos”, O Jogo da Imitação”, “O Abutre”…) podem ser conferidos no mesmo esquema aqui.
janeiro 31, 2015 No Comments
Conheça os cigarros Novo Testamento
“Bananas”, de Woody Allen, foi lançado em 1971 nos EUA, e, vetado pela ditadura e pela Igreja no Brasil, estreou aqui apenas em 1975, mas com uma cena/piada cortada pela censura, a dos cigarros New Testament…
janeiro 13, 2015 No Comments
Boyhood no Jornal Opção, de Goiânia
Leia esse texto aqui
dezembro 6, 2014 No Comments
Stanley Kubrick por Martin Scorsese
Em 1999, alguns meses após a morte de Stanley Kubrick, não foi surpresa, no momento da estreia de “De Olhos Bem Fechados”, o fato de o filme ser tão mal compreendido. Quando olhamos para o passado e nos interessamos pelas reações, na época, aos filmes de Kubrick (com exceção dos mais recentes), percebemos que, a princípio, todos foram mal compreendidos. Somente depois de cinco ou dez anos acabávamos nos dando conta de que “2001: Uma Odisseia no Espaço” ou “Barry Lyndon” ou “O Iluminado” não eram parecidos com nada do que os havia precedido ou seguido.
Se Kubrick tivesse vivido o bastante para assistir ao lançamento de seu último filme, sem dúvida alguma teria ficado decepcionado com as reações hostis que ele provocou. Mas, certamente, no final das contas, teria relativizado esse fato e passado a outra coisa. É a sina de todos os verdadeiros visionários que não tomam caminhos repisados. Artistas do calibre de Kubrick têm mentes brilhantes e dinâmicas para imaginar o mundo em movimento, para compreender não apenas de onde vem, mas para onde vai.
Consideremos “De Olhos Bem Fechados”. Muitas pessoas foram desestimuladas pelo lado irreal do filme: as ruas largas demais de Nova York, a cena pouco crível da orgia, o desenrolar propositalmente lento da ação. Tudo isso é verdade, e, se o filme tivesse a pretensão de ser realista, essas críticas seriam perfeitamente aceitáveis. Mas “De Olhos Bem Fechados” inspira-se numa novela de Arthur Schnitzler intitulada “Breve Romance de Sonho”, a história da ruptura de um casamento contada com a lógica de um sonho. E como em todo sonho, você não sabe realmente quando entrou nele. Tudo parece verdadeiro, como na vida, mas diferente, um pouco exagerado, um pouco defasado; as coisas parecem acontecer como se tivessem sido programadas, às vezes em um ritmo estranho, do qual é impossível escapar.
O público não estava nem um pouco preparado para um filme onírico que não se apresentava como tal, não dava os sinais habituais – névoa, pessoas aparecendo ou desaparecendo à vontade, ou levitando. Como “Viagem à Itália”, de Rosselini, um filme também completamente incompreendido em sua época, “De Olhos Bem Fechados” conta a dolorosa jornada de um homem e de uma mulher que, no fim, agarram-se um ao outro. Os dois filmes são de uma aterradora autoexposição. Ambos perguntam: até que ponto pode se confiar em outro ser humano? E acabam de modo hesitante, mas também esperançoso, honesto.
Assistir a um filme de Kubrick é como ver o cume de uma montanha a partir do vale. Nós nos perguntamos como alguém pôde subir tão alto. Há em seus filmes trechos, imagens e espaços carregados de emoção que têm uma potência inexplicável, uma força magnética que nos aspira lenta e misteriosamente: o itinerário do menino percorrendo os intermináveis corredores do hotel em seu velocípede em “O Iluminado”; o silencio monumental do espaço sideral em “2001, Uma Odisseia no Espaço”; o ritmo inumano da primeira metade de “Nascido Para Matar”, que vai num crescendo até sua resolução lógica e sangrenta; a espetacular sala de guerra de “Dr. Fantástico”, a um só tempo aterrorizante e cômica; o futuro brutalmente pop de “Laranja Mecânica”; a intimidade crua dos diálogos entre Tom Cruise e Nicole Kidman em “De Olhos Bem Fechados”.
Eu não poderia dizer se há um filme de Kubrick que eu prefira, mas o fato é que “Barry Lyndon” exerce sobre mim um fascínio particular. Acho que isso se deve à emoção que caracteriza esse filme. A emoção é veiculada pelo movimento da câmera, a lentidão do ritmo, a maneira como os personagens evoluem em relação ao seu entorno. Ninguém entendeu isso quando o filme foi lançado. Ainda hoje, alguns não o compreendem. Assistimos, um plano cativante atrás do outro, à metamorfose de um homem que passa da mais pura inocência ao refinamento mais glacial, e, para terminar, à amargura mais fúnebre – pois sua sobrevivência depende disso, simplesmente. É um filme terrível, pois toda aquela beleza iluminada por velas é apenas um véu dissimulando a crueldade mais abjeta. Mas uma crueldade verdadeira, daquelas cujos estragos podemos constatar todos os dias na boa sociedade.
Stanley Kubrick era um dos únicos mestres modernos que tínhamos, e esta última edição do livro definitivo de Michel Ciment, “Conversas com Kubrick”, é uma contribuição inestimável. Acompanhei e estudei regularmente a obra de Kubrick durante anos. Ele era único, na medida em que, a cada novo filme, redefinia esse meio de expressão e suas possibilidades. Mas era mais que um simples inovador técnico. Como todos os visionários, ele dizia a verdade. E, por mais que fiquemos à vontade com a verdade, ela sempre provoca um choque profundo quando somos obrigados a encara-la.
Martin Scorsese, junho de 2002. Prefácio de “Conversas com Kubrick“.
Leia também:
– “Laranja Mecânica”, o filme, é filosofia pura (aqui)
– “De Olhos Bem Fechados”: provocativo e genial (aqui)
– “Inteligência Artificial”: saber a hora de parar é virtude (aqui)
– Frederic Raphael fala sobre “De Olhos Bem Fechados” (aqui)
– Sobre Scorsese e filmes que salvam almas (aqui)
agosto 26, 2014 No Comments
Top 25 filmes no Brasil em 2013
Um amigo pediu a tradicional listinha de melhores filmes do ano, e acho que tem coisa que ainda pode entrar aqui, mas taí o meu top momentâneo, feito com aqueles que considero os melhores entre os filmes que estrearam no Brasil em 2013 (e mais sete da Mostra SP que só entram em cartaz aqui em 2014):
Top 15
1) “A Grande Beleza”, Paolo Sorrentino (texto)
2) “Amor”, Michael Haneke (texto)
3) “O Mestre”, Paul Thomas Anderson (texto)
4) “Gravidade”, Alfonso Cuarón
5) “Jogos Vorazes – Em Chamas”, Francis Lawrence (texto)
6) “Hannah Arendt”, Margarethe Von Trotta (texto)
7) “Tabu”, de Miguel Gomes (texto)
8 ) “Antes da Meia-noite”, de Richard Linklater (texto)
9) “Os Suspeitos”, Denis Villeneuve
10) “Blue Jasmine”, Woody Allen (texto)
11) “Django Livre”, Quentin Tarantino (texto)
12) “O Amante da Rainha”, de Nikolaj Arcel (texto)
13) “A Caça”, de Thomas Vinterberg (texto)
14) “Um Toque de Pecado”, de Jia Zhang Ke (texto)
15) “Azul é a Cor Mais Quente”, de Abdellatif Kechiche (texto)
16) “À Procura do Amor”, de Nicole Holofcener (texto)
17) “O Capital”, Costa-Gavras (texto)
Top 7 Mostra SP (textos aqui)
1) “Miss Violence”, Alexander Avranas
2) “Lições de Harmonia”, Emir Baigazin
3) “Que Estranho Chamar-se Federico!”, Ettore Scola
4) “Cortinas Fechadas”, Jafar Panahi
5) “Inside Llewyn Davis”, Irmãos Coen
6) “La Jaula de Oro”, Diego Quemada-Díez
6) “O Grande Mestre”, Won Kar Wai
Menção) “Que Estranho Chamar-se Federico! Scola conta Fellini”
Ps: Há ainda o caso “Killer Joe”, de William Friedkin. O filme é de 2011, assisti em 2012, mas estreou no Brasil apenas em 2013… Tô buscando um lugar pra ele na listinha…
Leia também:
– Top 20 Filmes entre 2001 e 2010 (aqui)
– Melhores do Ano Scream & Yell 2012: Nacional / Internacional
novembro 23, 2013 No Comments
Trilogia das Cores, de Kieslowski
Escrevi este texto em 1998, e deve ter sido um dos primeiros textos sobre cinema que publiquei, ainda na terceira edição da versão on paper do fanzine Scream & Yell. Eu havia rabiscado algumas coisas antes, e publicado aqui e ali (havia um site em Taubaté na segunda metade dos anos 90 que aceitava colaborações, mas guardei pouca coisa do que publiquei lá). Logo que o Scream & Yell veio para a internet, em 2000, puxei ele do jeito que estava na versão em papel, e republiquei. Ontem à noite, vasculhando vídeos do Youtube, encontrei os três filmes na integra e legendados (assista abaixo), e resolvi recuperar o texto (do jeito que escrevi 15 anos atrás – com direito a erros, vícios, inocência, desconhecimento e utopias).
Importante dizer: a “Trilogia das Cores”, de Krzystof Kieslowski, é bastante acessível em DVD. Primeiramente saiu uma edição caprichadíssima da Versátil em 2006, com um box contendo os três filmes e extras interessantíssimos (como o quarto vídeo deste post). Questão de dois ou três anos depois, os três filmes apareceram em edições mais simples (e mais em conta) via Spectra Nova, e você pode encontrar as duas edições em sites como Submarino e Mercado Livre (com preços entre R$ 10 e R$ 15 cada DVD no relançamento da Spectra, e R$ 30 e R$ 40 no da Versátil). Ainda que você opte por vê-los nos links abaixo, recomendo fortemente ter os DVDs em casa, pois estes três filmes são obras primas que merecem serem vistas e revistas. Sempre.
Trilogia das Cores, de Krzystof Kieslowski
por Marcelo Costa
1998/1999
Talvez você, assim como muita gente, não goste do cinema europeu por achá-lo chato demais. E, na maioria das vezes, é chato mesmo. Mas, se toda regra tem uma exceção, Krzystof Kieslowski, cineasta polonês, é a exceção desse caso. Kieslowski filmou um total de 23 filmes, dentre os quais se destacam “Amator” (1979) – que conta a história de um cineasta abandonado pela mulher – e o “Decálogo” (1988 – feito para tv), dividido em dez partes contando cada uma, um mandamento bíblico. O destaque é o sexto mandamento, “Não Amarás”, que conta a história de um jovem (”Entre o amor platônico e a violência do desejo”, conforme anuncia o cartaz) que corta os pulsos ao ser rejeitado por uma mulher mais velha.
Mas sua obra-prima ainda estava por vir. Morando em Paris e desiludido com a política, Krzystof resolveu filmar as dores do mundo. A Trilogia das Cores, inspirada nas cores da bandeira francesa, e em seus significados, é um dos momentos mais poéticos do cinema nessa década.
“Bleu, A Liberdade é Azul” (1993) é o primeiro e é um drama. Julie (a bela Juliette Binoche de “O Paciente Inglês”) perde o marido (famoso compositor) e a filha pequena em um acidente de carro. Tenta se matar, mas não consegue, pois se acha fraca até para fazer isso. Fica só. Livre. E ser livre é, muitas vezes, difícil. Um flautista de rua lhe diz que é preciso se agarrar a algo, mas ela já não quer mais nada, pois bens, recordações, amigos, vínculos são tudo armadilha. Gostaria mesmo é de pular no espaço, no céu azul, mas no fundo sabe que não se pode renunciar a tudo. Kieslowski transforma dor em sublimação. “Bleu” é um filme silencioso, mas todos os sentimentos são para qualquer um tocar. Cada um é livre para fazer o que quiser embora a liberdade maior seja estar vivo. A fotografia é linda e a trilha sonora, do inseparável Zbigniew Preisner, sinfônica e imponente.
“Blanc, A Igualdade é Branca” (1993) é o segundo e o mais perto que Kieslowski chega de uma comédia. Para Karol Karol (Zbigniew Zamachowski), estar vivo não é nada fácil. Polonês de Varsóvia, ela vai à Paris e é humilhado. Sua mulher, Dominique (a linda Julie Delpy de “Antes do Amanhecer”), pede o divorcio, pois diz que Karol Karol não “consumou” o casamento – o que já é comédia demais, afinal, imagina ser impotente com uma mulher linda como Julie, que, diz em francês algo tipo “Se digo que te amo, você não entende”. Em Paris, tudo dá errado, desde seu cartão de crédito ser cancelado até ser alvo de um tiro certeiro de um pombo. Acaba sem dinheiro, sem passaporte e sem esposa. Consegue voltar para a Polônia dentro de uma mala, mas, ao chegar lá, a mala é roubada (sujeito de sorte). Quando, enfim, consegue chegar a sua casa, está todo arrebentado. Volta a trabalhar normalmente e com o tempo arquiteta um plano para montar uma fortuna que o possibilite aplicar as mesmas peças na ex-esposa, afinal, a igualdade é branca, como um véu de noiva, como a neve, como pombos voando e como um orgasmo. “Blanc” é cômico, mas não chega a ser uma comédia. Kieslowski fez um belo filme que, se não fica a altura de “Bleu” e “Rouge”, com certeza alegra coração e alma. A trilha de Preisner é pontuada por tons melancólicos extraídos de clarinete com suavidade e, ás vezes, silêncios. Ah, já ia me esquecendo. A profissão de Karol Karol no inicio do filme era cabelereiro…
“Rouge, A Fraternidade é Vermelha” (1994) é o terceiro e último e é simplesmente sublime. Parece mais uma poesia sem palavras amparada em uma fotografia magistral e no rosto de Irene Jacob (musa de Kieslowski que havia feito com ele, dois anos antes, o misterioso “A Dupla Vida de Verónique”) flutuando em tons vermelhos de carros, sinais fechados, bolas de boliche, outdoors, cerejas e sangue. Irene é Valentine, modelo suíça vivendo em Paris, longe do namorado ciumento. Sua história é interligada a de um jovem que estuda para ser juiz. Certa noite, Valentine atropela uma cadela e ao leva-la ao endereço da coleira, conhece um estranho senhor que passa seus dias ouvindo ligações telefônicas dos vizinhos. Desse encontro surge uma amizade iniciada em repulsa, mas que, aos poucos, modifica a vida dos dois personagens. Kieslowski brinca e se diverte com os acasos, com destinos marcados para se cruzar, pois a inevitabilidade existe, embora cada um tenha que viver a sua própria vida. Para ele não é difícil adivinhar os caminhos da vida. Basta se comunicar. Olhar nos olhos. “Rouge” é arrepiante e sua cena final, uma pequena surpresa, mas só para quem assistiu aos outros dois. Ravel passeia com seu Bolero em várias cenas e é a base da excelente trilha sonora de Preisner. “Rouge” transborda poesia e possibilidades, em silêncios comoventes, mesmo quando caí um cinzeiro, mesmo quando vidraças se quebram, mesmo quando um alarme de carro dispara. É tudo como se incendiássemos gelo. Água que escorre entre os dedos e deixa, por fim, as mãos molhadas…
Consagrado internacionalmente após a trilogia, em 1995, Kieslowski abandonou as câmeras dizendo que estava achando tudo muito chato e preferia viver ao invés de fazer cinema. E não fez mesmo. Não teve mais tempo. Morreu de enfarto, aos 55 anos, em março de 1996. “A Liberdade é Azul” ganhou o Leão de Ouro em Veneza como melhor filme e melhor fotografia, tendo ainda Juliette Binoche como melhor atriz. Binoche também ganhou o Cesar que também foi concedido ao filme nas categorias melhor montagem e melhor som. Para fechar, três indicações ao Globo de Ouro: Melhor filme estrangeiro, melhor música e melhor atriz. “A Igualdade é Branca” deu o Urso de Prata em Berlim para Kieslowski como melhor diretor. “A Fraternidade é Vermelha” ganhou Cannes como melhor filme, o Cesar por melhor trilha sonora e foi indicado ao Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro e ao Oscar como melhor direção, melhor roteiro e melhor fotografia.
abril 24, 2013 No Comments
Baixe: 22 roteiros incluindo O Mestre
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Quem já assistiu ou ainda vai assistir a “O Mestre”, novo grande filme de Paul Thomas Anderson, pode comparar o filme com essa versão do roteiro, que é completa, mas não é a versão final, e traz razoáveis modificações na trama (incluindo nomes de alguns personagens além de retirada e inclusão de cenas).
Além deste roteiro você pode baixar neste link outros 20 roteiros originais incluindo “Amor”, de Michael Haneke, “Moonrise Kingdom”, de Wes Anderson e Roman Coppola, “Lincoln”, de Tony Kushner, “As Vantagens de Ser Invisivel”, de Stephen Chbosky, e “Ted”, de Seth MacFarlane, entre outros. Baixe aqui.
Ps. O roteiro de “Django Livre”, do Tarantino, pode ser baixado aqui
janeiro 27, 2013 No Comments
Três filmes que eu tinha receio de ver
“360” (360, 2011)
Minha expectativa em relação ao novo filme de Fernando Meirelles não era das melhores. Vários amigos e conhecidos de redes sociais haviam criticado duramente o filme, mas eis que “360” surge como uma bela surpresa. A assinatura principal, no entanto, é do roteirista Peter Morgan (“A Rainha” e “Frost/Nixon”), que costurou várias histórias que poderiam ter o subtítulo de “O Mundo é um Ovo”. “360” começa em Viena, com uma jovem garota eslovaca (Lucia Siposová) posando para um cafetão sob o olhar reprovador de sua jovem irmã (Gabriela Marcinkova). O primeiro cliente de Blanka é Michael (Jude Law), um empresário britânico casado com uma diretora de galeria de arte, Rose (Rachel Weisz), que tem um caso com o fotógrafo brasileiro Rui (Juliano Cazarré), que namora Laura (Maria Flor), que descobre a traição e foge para o Brasil encontrando pelo caminho o pai alcoólatra de uma garota que desapareceu (Anthony Hopkins) e um recém liberto ex-criminoso por abuso sexual (Ben Foster). A trama não para por ai, e Peter Morgan pula de uma história para outra com leveza, abandonando personagens e focando apenas no acaso. A vida, como sabemos, segue. Eis um filme que não soa pretensioso – apesar de ser. Recomendo.
“A Viagem” (Cloud Atlas, 2012)
Um dos filmes indies mais caros de todos os tempos tornou-se um dos grandes fracassos da temporada (custou 100 milhões de dólares e arrecadou 27 milhões) muito pela dificuldade do trio de diretores, os irmãos Andy e Lana Wachowski (“Matrix”) e o alemão Tom Tykwer (“Corra, Lola, Corra”) em adaptar a contento o complicado romance “Cloud Atlas”, de David Mitchell (lançado em 2004). E era realmente difícil. “Cloud Atlas” compila seis histórias paralelas em períodos diferentes de tempo – que começam em um navio no Pacifico em 1850 e seguem até um período futurista pós-apocalíptico. A reencarnação une cada um dos personagens, e, por isso, vários atores tiveram que se dividir em diversos papeis. Tom Hanks, por exemplo, é um senhor no mundo futurista, um gerente de hotel no período pré-Segunda Guerra Mundial, um médico leviano no final do século 19, um péssimo escritor em 2012 (numa das cenas impactantes do filme – principalmente se você for um crítico – risos) e por ai vai. O texto utópico e sonhador aliado a critica forte ao capitalismo comovem em vários bons momentos, mas maquiagens terríveis, um demônio verde ridículo e trechos piegas fazem de “Cloud Atlas” uma montanha russa de altos e baixos. Não desista. É ruim, mas é bom (e tem Halle Berry!)
“Jogos Vorazes” (The Hunger Games, 2012)
Dos três filmes deste post é bem provável que este tenha sido o que tenha me causado mais receio em ver. Aliás, muitos amigos deixaram passar, e perderam uma boa história que desperdiça passagens (e personagens) com bobagens futuristas (tal qual como “Cloud Atlas”, embora até este tenha bons momentos neste quesito), mas cujo saldo final é positivo. Inspirado no primeiro livro da trilogia lançada pela escritora norte-americana Suzanne Collins a partir de 2008 (ou seja, vêm mais adaptações pela frente), “Jogos Vorazes” flagra uma nação pós-apocalíptica chamada Panem constituída por 12 distritos que são governados por uma Capital, que para mostrar seu poder, realiza anualmente um “jogo” onde são escolhidos um menino e uma menina de cada distrito, e estes 24 jovens entre 12 e 18 anos precisam lutar pela sobrevivência – e matar seus adversários. A adaptação correta de Gary Ross valoriza a crítica de Suzanne Collins (que assina o roteiro junto com o diretor e Billy Ray) ao mundo Big Brother que vivemos. Em uma das grandes cenas do filme, o canal que transmite os jogos (semelhante a um BBB) manipula imagens (e os próprios personagens do jogo) para conseguir mais audiência. Jennifer Lawrence está ok e a trilha sonora, com músicas inéditas de Decemberists e Arcade Fire, merece atenção em um filme correto (e piegas) para ver e pensar.
janeiro 25, 2013 No Comments
Três filmes: entre Paris e Buenos Aires
“Intocáveis” (Intouchables, 2011)
Filme francês mais visto na história com mais 32,5 milhões de espectadores na Europa (e mais de 1 milhão de público no Brasil), “Intocáveis” é a adaptação do livro “O Segundo Suspiro” (lançado no Brasil pela Editora Intrinseca), de Philippe Pozzo di Borgo, ex-executivo da casa de champanhe Pomery que ficou tetraplégico após um acidente de parapente. A direção correta de Eric Toledano e Olivier Nakache valoriza a química entre os excelentes atores François Cluzet (Philippe) e Omar Sy, este no papel do desempregado Driss, um senegalês que necessita de um carimbo dizendo que participou de uma seleção de emprego para continuar recebendo o auxilio desemprego francês. Philippe decide contratar Driss, o que causa uma reviravolta em sua vida de tetraplégico. De origem humilde, Driss trata Phillipe como uma pessoa comum (quando a tendência é a pena) e uma forte amizade surge num mundo de diferenças. Driss gosta de música negra (a cena ao som de “Boogie Wonderland”, do Earth, Wind & Fire, é ótima) enquanto Phillipe ama música clássica. Apesar de não existir um clímax na trama, o relato é comovente e a leveza da inocência conquista.
“Elefante Branco” (Elefante Blanco, 2012)
Apelidado erroneamente como “Cidade de Deus argentino”, o sétimo filme de Pablo Trapero adentra a favela de Villa Lugano, na região periférica de uma Buenos Aires não europeia, para mostrar o cotidiano de dois padres e uma assistente social na tentativa de melhorar a vida dos cidadãos locais, a grande maioria vivendo em um edifício gigantesco projetado nos anos 1920 para ser o maior hospital da América Latina, mas que, abandonado, tornou-se uma imensa ocupação habitacional. Semelhante ao filme de Fernando Meirelles só a favela e suas ruas estreitas. Trapero não cede ao humor de seu vizinho brasileiro, o que de certa forma acaba cansando em “Elefante Branco”. Seus personagens (Ricardo Darin como Padre Julian, o belga Jérémie Renier como Padre Nicolás e Martina Gusman como a assistente social Luciana) vivem uma constante tensão que aponta para um único fim. Em seu filme mais direto (seguindo uma porta aberta por “Abutres”, de 2010, que ainda trazia jogos de cena e as cartas na manga inexistentes aqui) e praticamente sem nuances, Pablo Trapero tenta focar culpa católica, dever social, narcotráfico, responsabilidade e politicagem, mas não consegue acrescentar nada a nenhum destes temas batidos.
“Paris Manhattan” (Paris Manhattan, 2011)
Em seu filme de estreia, a diretora e roteirista Sophie Lellouche decidiu mostrar seu amor pelo cinema de Woody Allen. Em “Paris Manhattan”, Alice (Alice Taglioni) é daquelas mulheres bonitas, ricas e solteiras que só existem em filmes. Além de tudo isso, ela é uma farmacêutica apaixonada pelos filmes de Woody Allen (que muitas vezes receita filmes do diretor ao invés de remédios). Lellouche brinca com Allen numa divertida recriação de “Sonhos de Um Sedutor”, em que o personagem do cineasta recebia conselhos de um Humphrey Bogart imaginário. Em “Paris Manhattan” é Alice que recebe conselhos imaginários de Woody, muitos deles as melhores tiradas do filme. Apesar da boa ideia, Sophie Lellouche transforma sua comédia romântica francesa e um filmezinho óbvio cujo final está escrito na testa de todos os personagens (principalmente daquele que age e fala coisas como se fosse Woody). Assim como sua personagem principal, que amava Woody Allen, mas parecia não transpor as coisas que via na tela para a vida real (e poucos cineastas são tão reais quanto Woody), Lellouche mostra que também como não aprendeu nada com o cineasta norte-americano. Uma pena. Melhor rever qualquer outro do próprio Woody…
Leia também:
– Woody Allen de 0 a 10, por Marcelo Costa (aqui)
janeiro 7, 2013 No Comments