Category — Cinema
“Se Beber, Não Case” e “The Doors”
“Se Beber, Não Case”, Todd Phillips (2009)
O Omelete cravou (aqui) e eu não discordo: estamos diante da melhor comédia do ano (Brüno, infelizmente, rodou). A última vez que ri tanto em uma sala de cinema foi no pastelão “Quem Vai Ficar com Mary?”, e por mais absurda que pareça a história de “Se Beber, Não Case” (que não é pastelão!), há uma explicação para tudo aquilo que está acontecendo. Ou quase tudo. Preciso rever para juntar algumas coisas perdidas. Uma na verdade. Ainda vou escrever sobre o filme, então não vou gastar toques agora. Mas o final é… sensacional. Sensacional. Leve um lenço. Você pode chorar de rir.
“The Doors”, Oliver Stone (1991)
A cinebiografia assinada pelo polêmico Oliver Stone retorna às lojas em versão de luxo com dois DVDs, um deles apenas de extras que destacam dois excelentes documentários sobre a produção e 15 cenas deletadas. O tecladista Ray Manzarek odiou a adaptação e não dá nenhum depoimento nos documentários, mas a tal jornalista que diz que casou com Jim Morrison em uma cerimônia pagã aparece e desce a lenha no diretor.
Oliver Stone, no entanto, se protege dizendo que juntou vários personagens reais em um no filme e que todo mundo tinha uma visão de Jim Morrison, e essa é a dele. Por mais que soe escapista, não dá para desvalorizar o filme, que não chega ao brilhantismo de “Ray” nem de “Johnny and June”, mas traz algumas cenas fabulosas e histórias imperdíveis de uma das maiores bandas da história do rock. E Val Kilmer brilha no papel principal.
Vi no cinema na época do lançamento, e depois em VHS. Eu tinha um pôster do filme em meu quarto, com marcas de batom que algumas amigas deixaram. Dúvidas que o mito continua vivo?
agosto 28, 2009 No Comments
Banzé no Oeste, Macho Alfa e Aimee Mann
“Banzé no Oeste”, de Mel Brooks (1974)
Para a American Film Institut, “Banzé no Oeste” (“Blazing Saddles”) é uma das dez melhores comédias de todos os tempos. Mel Brooks é uma das poucas pessoas a terem recebido um Oscar (cinema), um Grammy (música), um Emmy (TV) e um Tony (teatro) e está totalmente à vontade neste que é o seu quinto filme, e que bateu forte (mas muita forte) na turma Monty Python (o final de “Calice Sagrado” é uma homenagem clara para “Banzé no Oeste”).
Mel Brooks avacalha os filmes de diligência e faroestes com passagens cômicas e ainda provoca os racistas ao fazer de um negro (Cleavon Little) o xerife de uma cidadezinha do velho oeste. Gene Wilder está ótimo, o próprio Mel Brooks rouba algumas cenas coom governador (foto), mas é Harvey Korman quem brilha. O texto é excelente, embora haja um certo vácuo entre algumas piadas, mas nada que diminua o filme, muito menos o final surreal e arrasador. Um clássico.
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Como JJ Bronson, grande amigo que assina a coluna Macha Alfa no iG, está de férias em paisagens idílicas, fiquei responsável por escrever a coluna desta semana. Assino com o singelo pseudônimo de JR Durão, e o tema é “Mulher tem que ter pegada?”. Leia a coluna aqui.
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A queridissima Ligilena esteve em Buenos Aires semana passada para, entre outras coisas, assistir ao show de Aimee Mann. Abaixo um relato descompromissado que ela fez aqui para o blog. A foto é dela. No flickr (http://www.flickr.com/photos/ligelena) tem mais.
“Bom, como eu disse pro Mac, não sou crítica de música. E sou muito, muito, muuuuito fã da Aimee Mann. Então posso contar como foi o show, mas vai ser em primeira pessoa. Se vocês quiserem podem baixar uns dois tons do meu texto pra terem a real noção do que foi aquela apresentação.
Quando eu decidi ir pra lá pra ver a Aimee, resolvi fazer a loucura completa e comprei o ingresso mais caro, na segunda fileira (a primeira já estava lotada) do Teatro Gran Rex. É um teatro gigante, que já recebeu a Björk, o Coldplay, o Muse, entre outros grandes. E a platéia estava quase completa pra ver Aimee na América do Sul pela primeira vez.
Minhas impressões da segunda fila foram completamente diferentes das impressões dos meus amigos que assistiram do fundão. Eles assistiram a um show introspectivo e melancólico. Eu assisti a um show descontraído e feliz. Acho que conseguir ver as expressões da Aimee foi o que fez a diferença. Ela é alta, magrela e desajeitada, daquele tipo de pessoa que não sabe bem onde colocar as mãos e tropeça em tudo, sabe? A cada música ela fazia questão de agradecer, sorrindo muito, feliz da vida. Não tentou fazer média, não disse “hola” nem “gracias”, mas cativou todo mundo.
No palco, ela e mais dois músicos se revezavam entre piano, órgão, escaleta, bateria, violão, guitarra e baixo. Até flauta doce ela tentou tocar, sem muito sucesso. Pediu desculpas, estava aprendendo a tocar “aquilo” havia só duas semanas.
O setlist foi muito generoso, com músicas de todos os discos e até um lado B do Lost in Space, “Nightmare Girl”. A platéia veio abaixo a cada canção da trilha de Magnolia, especialmente com a dobradinha de Wise Up e Save Me. De matar. Ainda rolou Momentum, One, Deathly (essa, no bis, serviu pra me arrancar as últimas lágrimas). Do “Whatever”, rolou “Stupid Thing”. Do I’m With Stupid, rolou “You Could Make a Killing” e “Amateur”. Do Bachelor no. 2, Deathly, que eu já tinha dito. Do Lost in Space, “The Moth” (que abriu o show) e “Today’s the Day”. Do Forgotten Arm, “Going Through the Motions” e “Little Bombs”. E do último, Smilers, “Little Tornado”, “31 Today”, “Freeway”. Ela fechou o show cantando “Voices Carry”, do Til Tuesday. Generosa ou não?
Eu não anotei o setlist, eu nem sei se aí em cima estão sobrando ou faltando canções. Porque eu estava completamente encantada e entorpecida pelo show. No dia seguinte ela partiu para Santiago, no Chile, e minha vontade era ir atrás pra ver mais um show. E a pergunta que ficou martelando na minha cabeça foi: por que ninguém trouxe essa mulher pro Brasil? E a certeza que ficou foi: se eu tiver qualquer chance de ver um show dela de novo, vou de olhos fechados. “
agosto 19, 2009 No Comments
Sobre o fim – de semana e de romances
Uma das coisas que eu pensava ao dormir na noite de quarta era de que iria aproveitar o feriadão para dormir e descansar. Me esconder do frio com Lili debaixo de edredons. Ledo engano. É impressionante como gostamos de nos enganar. Ficar sem fazer nada é algo que me incomoda ferozmente. Adoraria ficar deitado o dia todo vendo filmes, comendo pipoca e me enrolando com a namorada (não necessariamente nessa ordem), mas quem diz que consigo.
Desta forma, assim que acordamos e percebi o sol quente pela janela, já tirei Lili da cama para tomarmos café na Padaria Boulevard (pare no balcão e peça a “Boa” com um capuccino! Seu dia vai ficar muuuuito melhor), e depois seguirmos para o centro da cidade para pesquisarmos preços de aquecedores e netbooks. Acabamos comprando o primeiro, afinal, como você sabe, a sensação térmica do meu apartamento é de 5 graus (Bianca e Fernando, vocês chegaram com o aquecedor ligado, não vale!).
No fim da tarde de quinta, várias mensagens chegaram ao celular. “Vamos beber? “. E eu: “Talvez”. “Vamos para um boteco?”. E eu: “Talvez”. Por fim acabamos indo para o Fuad jantar picanha no saralho e jogar conversa fora. Quase perdi minha cabeça quando Ligilena, do alto de sua tarde entornando vinho e da noite a base de cerveja, não se conformou em eu nunca ter assistido “ET”, e arremessou o DVD pirata de “Se eu Fosse Você 2”, que passou tirando lasca de meu pescoço. Morrer tudo bem, mas com a cabeça decepada por Tony Ramos e Glória Pires não. (hehe). Vou assistir ao filme. Prometo.
A sexta prometia. Era dia dos namorados (com direito a abrirmos a última garrafa de vinho que trouxemos de Santiago dois anos atrás), tinha uma festa mexicana para ir, show do Caetano no Credicard Hall, mas tudo se resumiu a rodar alguns sebos, conhecer a pequena (apenas 45 cm) e linda Olivia (seja bem-vinda, princesa), de dois dias, filha da Dre e do Marco, que me tirou algumas lágrimas dos olhos, e conferir o novo show de Cae mais à noite, sobre o qual escrevi aqui. Nem o vinho abrimos, mas já marcamos outra data para tirar a rolha da garrafa.
O sábado foi o dia mais corrido do feriadão. Fiquei um tempo na Velvet CDs, e depois corri para o Veloso, para encontrar vários amigos e o sensacional bife de tira (bati a foto que abre o post com a máquina da Capitu). Ficamos de 12h30 até às 19h no lugar, e bebi seis caipirinhas de cachaça (Lili diz que foram sete, onde já se viu: eu bebo, e ela que perde a conta). Deu tempo de voltar pra casa e dormir duas horas antes do esquenta para o show de Jens Lekman, no Studio SP. Eu acordei às 22h03, coloquei os pés no chão, e um amigo ligou: “Vai rolar? Tô chegando”. Levantei, caminhei até a sala e o interfone toca com outro amigo na porta.
Um tempo depois, já com o Fernando, a Bianca e os Tiagos na sala vendo DVDs do programa de Jools Holland, liga a Ligelina. “Mac, chamei um pessoal para ir ai? Tudo bem?”. Resposta afirmativa. “Mas é uma turma grande”. Outra resposta afirmativa e acho que desde o dia que abrimos a casa não havia tanta gente bacana reunida no mesmo lugar. Era uma vez três Patricia, algumas Leffe, outras Baker de trigo e felizmente alguns gostaram da cachaça forte Milagre de Minas, que eu e Lili trouxemos de Ouro Preto. Foi bem divertido.
Já o show do Jens foi… interessante (a foto é da Lili; mais aqui). No palco, só ele (na voz belíssima e na guitarra ocasional) acompanhado do amigo Victor, que soltava via laptop a base das canções. Sim, é isso que você pensou mesmo: quase um playback. Os arranjos são lindos, alguns de chorar, mas a apresentação é quase como uma noite em uma churrascaria. Jens pode ser definido canhestramente como o Wando da Suécia. Wando, aliás, que na Virada Cultural tocou a clássica “Fogo e Paixão” acompanhado de bateria eletrônica e uma guitarra. Como Jens. “Black Cab”, “The Opposite Of Hallelujah”, “You Are The Light” e a hilária versão de “A Postcard To Nina” (com Ana Garcia, do Coquetel Molotov, traduzindo no segundo microfone) foram os grandes momentos da noite.
Domingo eu deveria ir a Taubaté visitar as três mulheres da minha vida que residem lá (a mãe Vilma, a irmã Cristiane e a sobrinha Gabriela), e tentar dar um olá para a quarta (a afilhada Amanda), mas não rolou. Minha irmã estava de mudança, e ninguém precisa de visitas em dia de mudança. Acabamos ficando em casa e fomos à tarde, na companhia de Tiago Agostini e Marina Person, conferir a sensação indie “Apenas o Fim” (assista ao trailer), longa-metragem de estréia do estudante universitário Matheus Souza, da PUC-RJ, um interessantíssimo retrato de geração cujo pano de fundo é o fim de uma história de amor (conhecido por todos aqueles, de 8 a 80, que já viveram algum romance na vida).
O roteiro assim como as boas atuações de Érika Mader e Gregório Duvivier credenciam – e muito – o filme. Lembrou-me claramente a primeira vez que li “O Clube dos Corações Solitários”, romance de estréia do amigo André Takeda, no que aquilo mais representava pra mim: alguém como eu escrevendo no terreno que já foi habitado por deuses do quilate de Rimbaud, Shakespeare e Huxley. É o velho sintoma de “não estou sozinho no mundo”, sabe. Afinal, por mais que Lygia Fagundes Telles e Vinicius tenham me traduzido dezenas de vezes em momentos especiais de minha vida, eles estão no cerne da dor, lá no fundo do âmago, enquanto Takeda e Matheus Souza mostram a timidez no olhar. Eles exteriorizam algo que só quem está vivendo a mesma época que eles consegue perceber – e rir e se envergonhar.
Já faz tempo que deixei de viver a mesma época de Matheus Souza, por isso mesmo que as referencias a coisas como Tartarugas Ninjas e Nintendo não me comovem, mas já estive tantas vezes face a face com o fim do amor que é impossível não sentir um arrepio na espinha quando observo uma história chegando ao fim. É extremamente natural que, conforme envelhecemos e passemos pela faculdade, deixemos de ser inocentes para nos transformarmos em cínicos, mas a dor do fim do amor, meu (minha) caro (a) amigo(a) continua doendo aos 12, aos 21 , aos 34 e, acredito eu, aos 50 e tantos (Caetano, sofrendo e compondo como um menino é um bom exemplo disso).
Tirando a história de amor e dor, “Apenas o Fim” ainda me assustou ao imaginar a força com que os Los Hermanos bateram na geração estudantil desta década. Eu que acredito que o “Bloco do Eu Sozinho” seja o disco dos anos 00 fico triste pela postura da banda, grandiosa demais, posada demais, em que os personagens se agigantaram ignorando a história (que eles mesmos admiravam). Como Marcelo Camelo pode se sentir grande perante a obra de Chico Buarque? Desculpe-me, mas a humildade (com H maiúsculo e dourado? – risos) deveria ser exemplo. Para mim, o sucesso do Los Hermanos foi mais maléfico do que benéfico, mas não se preocupe, é meu lado cínico reclamando do estado das coisas. Veja o filme. Leia o livro do Takeda. Jogue fora seus discos do Los Hermanos. Sonhe. E me desculpe pelo post confuso. Devo estar bêbado… ainda (risos).
junho 15, 2009 No Comments
Paixões cinéfilas
Uma votação na Inglaterra elegeu Audrey Hepburn a atriz mais bonita da história do cinema (leia aqui). Bem, eu já tinha comentado minha paixão por ela tempos atrás, quando disse que entre ela e Deneuve, ficava com Audrey (aqui). Porém, é preciso colocar os pingos nos ís: Ingrid Bergman me desmonta com um sorriso, Jean Seberg (aqui) deu uma boa balançada na casa e a Irene Jacob… ahhhh, a Irene. Não tem pingos nos ís não. São elas.
fevereiro 12, 2009 No Comments
Titãs e Sonic Youth nas telonas
“A Vida Até Parece Uma Festa”, de Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves
Cotação: 1/5
Uma das principais formações de rock do país, o Titãs chega às telonas (via Mostra RJ e SP – estréia oficial apenas em janeiro) com um documentário caseiro que procura contar a trajetoria da banda através de imagens de programas de TV e registros que Branco Mello começou a fazer quando comprou sua primeira câmera VHS em 1986. Dividido a quatro mãos entre o titã e o diretor Oscar Rodrigues Alves, “A Vida Até Parece Uma Festa” tropeça enquanto cinema, mas fãs vão adorar.
Os melhores momentos do filme são quase que exclusivamente retirados de programas de televisão em imagens de (90%) péssima qualidade. Mesmo assim é hilário ver o grupo pulando do Barros de Alencar para o Qual é a Música de Silvio Santos, gastando adrenalina no Cassino do Chacrinha, divertindo-se no Programa do Bolinha e Perdidos na Noite, programa do Faustão na Band. E o raro flagra do Trio Mamão (Bellotto, Mello e Fromer) e as Mamonetes em um programa da TV Tupi é histórico.
Porém, se forem retiradas as imagens de TV, pouca coisa relevante sobra em “A Vida Até Parece Uma Festa”. A edição caótica também não ajuda. Não há um fio condutor que dirija a história, e sim idas e vindas que só não vão confundir quem realmente é fã da banda. As cenas extensas são outro ponto negativo. Exemplo: a cena seguinte após o caso da prisão de Arnaldo e Belloto com drogas é ilustrada com uma colagem da música “Polícia” em diversos lugares que poderia ser muuuuuito mais curta. Outra, com a banda enlameada na Chapada das Guimarães, também poderia ser cortada pela metade.
Para fazer a ligação entre alguns trechos carentes de imagens de arquivo, Alves filma o que restou da banda no ônibus de turnê a caminho de algum show, o que poderia ter sido um ótimo vértice para a história, mas é usado raramente e poderia valorizar passagens interessantes como uma em que a banda vota para escolher quais canções vão entrar num álbum (com Nando Reis frustrado diante da câmera), outra em que Charles Gavin leva um esporro do produtor Liminha ou, ainda, uma terceira, mais recente, com Arnaldo quase caindo da cadeira ao passar uma canção em casa com outros titãs.
Os pontos primordiais da história da banda ganham espaço na tela – a saída de Arnaldo Antunes e Nando Reis; a morte de Marcelo Frommer; o começo, meio e momento atual da banda; a vida na estrada – mas poderiam ser melhor explorados. No fim fica a impressão que “A Vida Até Parece Uma Festa” foi feito exclusivamente para fãs com mais foco na história musical do que no cinema. Até por isso destaca o roteiro capenga. Há bons momentos no documentário, mas uma banda do porte e trajetória do Titãs merecia muito mais. A gente não quer só comida.
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“Sonic Youth: Sleeping Nights Awake”, de Projeto Moonshine
Cotação: 3/5
Imagine a cena: sete estudantes do segundo grau têm uma “tarefa” para o fim de semana: registrar a passagem da turnê “Rither Ripped”, do Sonic Youth, por sua cidade, a pequena Reno, no estado de Nevada, Estados Unidos. O trabalho faz parte do Projeto Moonshine (http://www.projectmoonshine.org), uma organização sem fins lucrativos que visa ensinar cinema a adolescentes para que eles possam documentar importantes eventos em suas comunidades. “Sonic Youth: Sleeping Nights Awake” foi o primeiro longa do grupo, e o Projeto se saiu muito bem.
Não há nada de revolucionário no método de filmagem e roteiro de “Sonic Youth: Sleeping Nights Awake”, pressuposto correto para um grupo iniciante na arte de cinematografia. O grupo parte do básico nos registros e captações de imagens: acompanha a banda de sua chegada em Reno até a partida com reveladoras entrevistas com membros da equipe técnica e com os próprios músicos até imagens dos shows (com a integra de canções como: “Tom Violence”, “Shaking Hell”, “Mote”, “Incinerate” e “Kool Thing”).
A edição é primorosa e valoriza imensamente o resultado final. Com sete câmeras nas mãos de estudantes, o Projeto mixa várias imagens (todas em PB) estilosas que muitas vezes começam e/ou terminam desfocadas, opção que casa à perfeição com a pouca experiência do grupo de estudo e também com a sonoridade do Sonic Youth. Outro ponto alto é a relação dos integrantes – principalmente Thurston Moore – com a filmagem, agindo numa naturalidade raras vezes vista em um documentário.
“Já faz 17 anos desde a última vez que tocamos aqui, não lembro o nome do lugar”, diz Thurston em certo momento do show. Um fã, no meio da platéia, grita o nome do local, e Thurston emenda: “Esse ai. Obrigado por terem nos trazido de volta”. E começa o massacre com “Kool Thing”. O Projeto entrevista uma garota cujo pai tem o nome do grupo tatuado na perna. Minutos depois o encontra para que ele mostre a tatuagem para ás câmeras. O descompromisso toma conta e contagia.
Kim Gordon fala sobre a dificuldade de cantar, a vida na estrada e filhos, um deles trabalhando na turnê, na banca de camisetas da banda. Lee Ranaldo tenta explicar como a banda dura tanto e o ex-baixista do Pavement, Mark Ibold, fala sobre a adaptação ao grupo. Mas os melhores momentos são de Thurston, que parece não levar à sério o documentário. “Vocês são estudantes da high school? Legal. Querem Hersheys?”, pergunta no camarim. “Só tem dois. Vocês vão ter que dividir”, diz o guitarrista já de mochila nas costas enquanto Kim comenta: “Vou levar um pouco de comida para o ônibus”.
Um dos momentos reveladores do longa, porém, parte de um dos membros da equipe técnica. O entrevistador pergunta: “Como você sabe que eles estão felizes no palco, que a noite está sendo boa?”. O rapaz hesita, mas responde: “Eu sei quando eles não estão felizes. Por exemplo: na turnê do álbum ‘Sonic Nurse’, ainda com o Jim O’Rourke na banda, o clima não estava bom… então eles tocavam versões de 20 minutos de uma música, só microfonia, nenhum movimento. Eles estavam jogando sobre o público todas as suas frustrações”, diz, explicando por tabela a frustrante apresentação no Claro Que é Rock, em 2005, após a primeira passagem antológica, no Free Jazz, em 2000.
O intimismo e a espontaneidade valorizam “Sonic Youth: Sleeping Nights Awake”, um documentário jovem que flagra uma das bandas mais importantes do cenário independente mundial. Apesar de ter por base a execução ao vivo das canções do grupo – as entrevistas surgem entre uma música e outra, o documentário soa interessante também para aquele público que não conhece e/ou nem é fã do Sonic Youth, mas tenha curiosidade pelos bastidores de uma banda de rock em turnê, num registro que merece ser visto.
Leia também:
– “Sonic Nurse” exibe as cicatrizes do Sonic Youth, por Marcelo Costa (aqui)
– “Murray Street”, do Sonic Youth, faixa a faixa, por Marcelo Costa (aqui)
– Claro Que é Rock em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)
novembro 21, 2008 No Comments
Woody Allen de 0 a 10 (atualizado)
10
– “Hannah e Suas Irmãs”, 1986 (resenha)
– “Manhattan”, 1979 (resenha)
– “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, 1977 (resenha)
9,5
– “Crimes e Pecados”, 1989
– “Ponto Final”, 2005 (resenha)
– “Zelig”, 1983
9
– “A Era do Rádio”, 1987
– “A Rosa Púrpura do Cairo”, 1985
– “Tiros na Broadway”, 1994 (comentário)
8,5
– “Desconstruindo Harry”, 1997
– “Vicky Cristina Barcelona”, 2008 (resenha)
8
– “Memórias” , 1980
– “Poderosa Afrodite”, 1995
7,5
– “A Outra”, 1988
– “A Última Noite de Bóris Grushenko”, 1975
– “Blue Jasmine”, 2013 (resenha)
– “Contos de Nova York”, 1989
– “Meia-Noite em Paris”, 2011 (resenha)
– “Poucas e Boas”, 1999
– “Tudo Pode Dar Certo”, 2009 (resenha)
7
– “Bananas”, 1971
– “Broadway Danny Rose”, 1984
– “Café Society”, 2016 (resenha)
– “Dorminhoco”, 1973
– “Interiores”, 1978
– “Misterioso Assassinato em Manhattan”, 1993
6,5
– “Homem Irracional”, 2015 (resenha)
– “Melinda e Melinda”, 2004 (resenha)
– “Sonhos de Um Sedutor”, 1972
– “Trapaceiros”, 2000 (resenha)
6
– “Celebridades”, 1999
– “Para Roma com Amor”, 2012 (resenha)
– “O Sonho de Cassandra”, 2007 (resenha)
– “Testa de Ferro Por Acaso”, 1976
– “Todos Dizem Eu Te Amo”, 1996
– “Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo”, 1972
– “Um Assaltante Bem Trapalhão”, 1969
5,5
– “Dirigindo no Escuro”, 2002 (resenha)
– “Magia ao Luar”, 2014 (resenha)
– “Men of Crisis: The Harvey Wallinger Story”, 1971
– “O Que Que Há, Gatinha?”, 1965
– “Setembro”, 1987
– “Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão”, 1982
5
– “Scoop – O Grande Furo” , 2006 (resenha)
– “Simplesmente Alice”, 1990
– “O Escorpião de Jade”, 2001 (resenha)
4,5
– “Maridos e Esposas”, 1992
– “Neblinas e Sombras”, 1992
4
– “O Que Há, Tigreza?”, 1966
– “Igual a Tudo na Vida”, 2003 (resenha)
3.5
– “Cassino Royale”, 1966
3
– “Você Vai Encontrar o Homem dos Seus Sonhos”, 2010
Leia também:
– “Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens”, Woody Allen (aqui)
– Os filmes prediletos de Woody Allen em todos os tempos (aqui)
– Cenas da Vida em São Paulo, parte 3, por Marcelo Costa (aqui)
novembro 4, 2008 No Comments
Mostra SP: “45 RPM”
“45 RPM”, de David Schultz – Cotação 1,5/5
Em uma cidadezinha dos cafundós do norte do Canadá, sem esperanças e completamente a parte do mundo vive Parry Tender, um garoto que mata aulas para ir pescar ou simplesmente para ficar no teto de sua casa tentando sintonizar uma rádio de Nova York cuja uma promoção está chacoalhando a América: são 30 canções em 30 segundos. Quem acertar as 30 ganha um convite duplo para ir assistir a um show especial com as maiores lendas do nascente rock and roll. Estamos em 1960.
A pessoa mais próxima de Parry é Luke, uma menina que se veste de menino e anda com cinto de cowboy e uma arma de brinquedo para cima e para baixo. Parry e Luke cresceram juntos, e Luke acaba de descobrir que está apaixonada pelo amigo. Entra em cena Debbie, uma loirinha que já rodou Canadá e EUA acompanhada pelo pai major da aeronáutica, que se interessa a primeira vista pelo rapaz que todos na escola dão como um caso perdido. Está formado o núcleo narrativo de “45 RPM”.
Assim que o filme começa, com os acordes de “Roll Over Beethoven” e a voz de Chuck Berry preenchendo o espaço, percebe-se que estamos diante de um leve drama adolescente com jeitão de Sessão da Tarde. A dupla de amigos tenta adivinhar as 30 canções que o tiraram daquele lugar no meio do nada, e a loirinha Debbie chega para dividir o coração de Parry e causar ciúmes em Luke. Tudo bem, tudo bom, mas “45 RPM” guarda surpresas para o trecho final.
Parry não conheceu sua mãe, que sofreu abuso infantil na adolescência, engravidou, e deu o filho para o índio Peter George criar. A história volta a se repetir (e outra cena sugere que o fato repete-se com freqüência), agora com uma de suas amigas, que engravida e separa-se dele. O rock and roll, a promoção, a escola, o coração dividido, tudo fica em segundo plano, e o rapaz deixa tudo para trás em busca do seu verdadeiro amor.
Lendo assim parece bonito e um bocado piegas, vamos combinar. O diretor canadense Dave Schultz tenta armar uma armadilha para o espectador, aconchegando-o numa história juvenil de temática largamente conhecida para, depois, criar o ambiente do abuso infantil, mas algo se perde pelo caminho. A leveza acaba se sobrepondo e a violência que sofre um dos personagens não chega a ganhar força na trama. Fica a sensação de que o recado foi dado, mas o filme não decolou. Basta? Não para o cinema.
novembro 2, 2008 No Comments
Mostra SP: “Loki – Arnaldo Baptista”
“Loki”, de Paulo Henrique Fontenelle – Cotação 5/5
Nas ruas de Londres, um fã (aparentemente) britânico pára Arnaldo Baptista e começa um discurso emocionado que enaltece a grandiosidade do’s Mutantes, grupo que Arnaldo formou com seu irmão Sérgio e, aquela que viria a ser sua primeira namorada e mulher, Rita Lee. Na seqüência, um brasileiro passa por Arnaldo, caminha uns dez passos e volta gritando: “Mutantes, porra, você é foda demais”. A palavra é exatamente essa: Arnaldo Baptista é foda demais.
“Loki”, documentário emocional de Paulo Henrique Fontenelle, lança luz com devoção sobre a carreira do homem responsável por uma das maiores – se não a maior – e mais geniais formações de rock do lado debaixo do Equador. Fontenelle busca amigos, parceiros e produtores que abrem o coração para a câmera detalhando histórias e causos da vida de Arnaldo Baptista. Mais: resgata imagens raríssimas de época, trechos de entrevistas e aparições em TV que soam como pepitas de ouro visuais que dão um colorido especial ao passado.
O filme começa com um amigo de escola, Raphael Villardi, que lembra o momento em que Arnaldo comprou um baixo e decidiu formar um grupo de rock. Estava criado O’Seis, grupo que viria a ser um dos embriões do’s Mutantes. Daí em diante entra em cena a Tropicália, os grandes festivais da Record, raras entrevistas e a viagem para a Europa que rendeu a gravação do álbum “Technicolor”, gravado em 1970 e lançado apenas em 2000.
Em um dos trechos mais tocantes da película, Arnaldo comenta sobre a relação com Rita Lee, o casamento e a separação, pede desculpas e assume que não pôde dar a atenção que ela merecia naquele momento. Dinho (baterista) e Liminha (baixo) relembram – emocionados – o dia em que Rita avisou que estava pulando fora do barco. “Eu sai para fora da casa do Arnaldo e comecei a chorar”, conta Liminha. “Era o fim”, sentencia Dinho (de olhos marejados). Não foi ao menos por um tempo, enquanto Arnaldo segurou a formação ao lado de Sérgio.
O irmão é outro que dá a cara a bater no filme. “Ele saiu e eu fiquei com os Mutantes, e eu não sabia o que fazer. Eu estava perdido e segui com a banda porque era o que eu achava que tinha que fazer”, desabafa o guitarrista, que em um dos momentos mais intensos do documentário culpa a imprensa, os amigos e a si mesmo pela falta de tato com o irmão. “Ele é um gênio e a imprensa… e as pessoas ficavam falando coisas que confundiram e atrapalharam ele. São todos uns cretinos. E eu também sou um cretino por não conseguir entende-lo e quero pedir desculpas publicamente por isso”, diz Sérgio.
Após sua saída do’s Mutantes, Arnaldo lançou seu primeiro disco solo, “Loki”, que dá título ao filme e é considerado por muitos como um dos dez maiores álbuns da música popular brasileiro, um flagrante de sofrimento e dor que impressiona e comove por sua sinceridade. A partir daí, ele segue com projetos paralelos com a banda Patrulha do Espaço (registros lançados no ótimo álbum “O Elo Perdido”) até lançar o segundo álbum solo, “Singin Alone”, em 1980, e caminhar até a janela do Hospital do Servidor Publico, em São Paulo, quebrar o vidro e pular do terceiro andar atirando-se numa tentativa de suicídio.
O resultado do vôo: sete costelas fraturadas, várias lesões pelo corpo e dois edemas: um cerebral – seríssimo – e um pulmonar. O músico ficou quase dois meses em estado de coma, e quando retornou a si, precisou de mais dois meses para se recuperar (a traqueotomia a que fora submetido afetara suas cordas vocais alterando seu timbre de voz). Amparado por Lucinha Barbosa, Arnaldo renasceu e foi morar em Juiz de Fora, em Minas Gerais, afastado da mídia e do público em busca de paz. De lá pra cá aparições esporádicas em pequenos shows em São Paulo e no Free Jazz Festival, ao lado de Sean Lennon, fã confesso do’s Mutantes, até o álbum “Let It Bed” em 2004 e a reunião consagradora do grupo em 2007.
“Loki” é um dos daqueles documentários que vangloriam o cinebiografado, mas exibe uma sinceridade tão tocável que anula qualquer comentário contrário a sua imensa qualidade. Rita Lee não topou dar entrevistas para o filme, mas liberou o uso de suas imagens. Bancado pelo canal fechado TV Brasil, “Loki” terá raras e esparsas exibições nos cinemas (em sessões especiais e festivais ao redor do país) até estrear definitivamente na telinha. Uma pena. “Loki” é daqueles filmes que deveriam ficar semanas e semanas em cartaz com grande divulgação e grande público em uma telona. Fique atento e não perca a oportunidade de assisti-lo.
outubro 29, 2008 No Comments
Mostra SP: “Segurando as Pontas”
“Segurando as Pontas”, de David Gordon Green – Cotação 3/5
Dale Denton é um funcionário do governo encarregado de entregar intimações. Não só. Denton também é maconheiro e namora uma das garotas mais bonitas da escola (embora seja bem mais velho e já tenha saído da escola). Em uma de suas visitas ao seu fornecedor de marijuana, Saul (James Franco), Denton sai da casa do traficante com um pacote da excelente Pineapple Express, fumo de altíssima qualidade que só Saul tem na cidade.
Porém, a sorte não está do lado dos nossos amigos chapados. Denton vai entregar uma intimação para um dos chefes do tráfico na cidade, e acaba presenciando um assassinato. Ao sair da cena do crime, deixa uma ponta do baseado para trás, o que basta para o chefão descobrir que aquele baseado é nada mais nada menos do que Pineapple Express. Dai pra frente, o óbvio. Os traficantes partem atrás de Denton e Saul que numa fuga tresloucada causam confusão atrás de confusão.
“Segurando as Pontas” é mais uma comédia da grife Judd Apatow (“O Virgem de 40 Anos”, “Superbad”) e é impossível sair mal-humorado da sala de cinema. Beirando o cinema pastelão, “Segurando as Pontas” cria situações cômicas e surreais que fazem o espectador rir desesperadamente. O carisma da dupla Seth Rogen e James Franco brilha em um filme que se faz de idiota, mas levanta bandeira contra o uso de drogas culpando-a por todas as bobagens acontecidas na tela.
O filme estreou bem nos EUA, e apesar de toda maconha queimada na tela até a última ponta sugere carolice e valoriza a amizade de uma forma tão sutil que até espanta a manada de elefantes que passa pela tela a todo o momento arrancando gargalhadas do público. Há méritos no jovem cinema pipoca de Judd Apatow, que se sai bem ao enfrentar as armadilhas do tema permitindo a comparação ilícita: como filme, “Segurando as Pontas” faz você rir sem parar. Só não vicie!
Foto: Divulgação
outubro 26, 2008 No Comments
Mostra SP: “Monogamia para Principiantes”
“Monogamia para Principiantes”, Marc Malze – Cotação: 3/5
Felix tem 29 anos, é fotógrafo esportivo e namora Fabienne, 26, que trabalha numa galeria de arte. Eles namoram há seis anos, já tiveram vários contratempos (inclusive um rompimento em uma época em que Felix se apaixonou por uma modelo), mas vivem juntos uma vidinha feliz em Berlim até que, em férias em Paris, ele decide oficializar a relação e pede Fabi em casamento.
Fabi, com muito mais pé no chão que o namorado, reluta, mas acaba cedendo e ambos seguem a rotina de se armar um casório (avisar as famílias, escolher as flores, conversar com o padre, pensar nos padrinhos, os nomes de casado, essas coisas), e tudo corre bem até que um ex-affair de Felix retorna de Nova York e a cabeça de nosso amigo gira em falso enquanto a data da cerimônia se aproxima.
Em seu primeiro longa, o cineasta alemão Marc Malze fotografa com perfeição aquele momento em que todo homem percebe que ao declarar amor eterno para uma mulher, estará abrindo mão de todas as outras, e o que esse simples gesto acarreta. Em um roteiro simples e bem resolvido (assinado por Lars Kraume), “Monogamia para Principiantes” reluz o brilho inocente das boas comédias românticas.
Felix não sabe direito o que quer da vida. Ama o trabalho de Sebastião Salgado, mas no primeiro momento em que se vê em um campo de guerra retorna correndo para as odiosas pautas de esporte. Ele ama Fabi, mas gostaria de poder se apaixonar por Johanna, embora descubra que a paixão fugaz não substitui um verdadeiro amor numa relação que lembra muito o obrigatório texto “Compromisso”, do livro do Tony Parsons.
Em certo trecho, Parsons diz que “encontros de uma noite nunca deveriam acontecer. Ou a experiência é boa o suficiente que deveria ser repetida. Ou é ruim e nunca deveria ter rolado”. Quando, em certo momento do filme, Felix encontra Johanna, o espectador torce para que ele não cometa o erro (óbvio e clichê), mas erros óbvios e clichês foram criados para serem cometidos, e vai de cada um lidar com as conseqüências.
No fim, o mundo acaba (e não acaba sempre?) para recomeçar um dia (e recomeça, você sabe). Entre as dúvidas eternas do amor eterno e a felicidade de se ver traduzido no olhar de uma outra pessoa, “Monogamia para Principiantes” funciona como um divertido dicionário de erros românticos. Quer saber uma coisa: enquanto você for principiante, você vai errar. Mas não tem problema, a gente nunca aprende mesmo. Amém.
Leia também:
– “Disparos do Front da Cultura Pop”, de Tony Parsons, por Marcelo Costa (aqui)
outubro 22, 2008 No Comments