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Tim Festival: Gogol Bordello, National e MGMT


Foto: Divulgação / Tim Festival

Na quarta noite do Tim Festival em São Paulo (sexta, 24), a Arena montada no Parque do Ibirapuera recebeu DJs para o palco Tim Festa. E foi mais ou menos isso que aconteceu em duas das apresentações. O norte-americano Dan Deacon chegou quebrando tudo e colocando todo o som do palco no último volume. Ouvidos foram desvirginados nas três primeiras músicas com o som alcançando decibéis mais altos dos que os que o My Bloody Valentine vem executando em sua recente turnê.

Como apenas barulho não basta para garantir uma boa apresentação, Dan Deacon abaixou o som, desceu para a pista e ali, no meio da galera, montou uma quadrilha eletrônica que alternava momentos que lembravam tanto Four Tet quanto Nine Inch Nails enquanto os presentes faziam brincadeiras, um perfeito aquecimento para o que viria a seguir. O punk cigano de Gogol Bordello foi recebido com histeria – merecidissima – pela platéia paulistana.

Liderados pelo vocalista e ator Eugene Hutz (foto), o grupo promoveu um baile punk com dançarinas vestidas com top do Santos Futebol Clube, guitarras metalizadas, bateria hardcore, acordeon, violino e muito vinho. O som parece uma porrada de carros entre o pessoal do Pogues com a turma de Henry Rollins. Em vários momentos é possível reconhecer passagens do Clash, mas a grande referência é o Mano Negra, que por sinal foi homenageado na última canção do show, “Mala Vida”, simplesmente sensacional. Um dos shows do ano.

  

Fotos: S&Y/Marcelo Costa (http://www.flickr.com/photos/maccosta/)

No sábado de manhã, a provável última oportunidade para ver a lenda Sonny Rollins ao vivo no Brasil. Após o elogiado desempenho no Auditório do Ibirapuera, na terça-feira, um dos últimos remanescentes da época de ouro do jazz retornou ao local, mas desta vez para se apresentar virado para o parque, ao ar livre. Um sol forte castigava a pele paulistana enquanto meninas tentavam pegar um bronzeado de biquíni e homens buscavam cerveja. O show foi arrebatador, mas a constante movimentação do público e as conversas paralelas atrapalharam a audição, principalmente em números mais lentos.

  

Fotos: S&Y/Liliane Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/)

À noite, encerramento da edição paulista. Comandados por Matt Berninger, o National fez uma apresentação absolutamente perfeita na Arena. O show foi um repeteco das apresentações que vi no Rock Werchter 2008 e no FIB, com a vantagem de que no Brasil o grupo se apresentou à noite, e não no meio de uma tarde européia com sol a pino e tenda abafada. O som atmosférico, às vezes gélido e quase sempre épico, do grupo de Nova York pede a escuridão como complemento como se precisasse dela para dançar apaixonado entre sorrisos e lágrimas.

Não à toa, Matt trava durante todo o show um duelo contra o microfone. Ele agarra o objeto de uma forma que lembra muito Beth Gibbons, do Portishead, e solta sua voz forte que corta a atmosfera como se fosse um machado. Há resquícios de Joy Division, Leonard Cohen e Nick Cave, mas o parente mais próximo é a elegância do Tindersticks. O repertório alterna grandes momentos dos dois últimos álbuns como “Start a War” e os quase hinos “Secret Meeting”, “Baby, We’ll Be Fine”, “Squalor Victoria”, “Mistaken for Strangers”, “Apartment Story”, “Fake Empire” e “Mr. November”.

Para o final da apresentação, valorizando o duo de metais que deu um colorido especial ao show, um presente para o público paulista (e brasileiro) que não foi dado aos belgas e espanhóis: “About Today”, do raro EP “Cherry Tree”, em versão jam session dedicada a um fã brasileiro. Extremamente soltos no palco, os músicos levaram a canção ao ápice instrumental para estilhaçá-la em barulho na frente de todos. Após entregar a garrafa de vinho que bebia (e set list, e autógrafos, e toalhas) para uma fã na frente do palco, Matt deixou o local aclamado pela audiência. Show inesquecível.

Foto: S&Y/Liliane Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/)

O mesmo não pode ser dito do MGMT. Ao vivo, a veia eletrônica da dupla Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden foi trocada por psicodelia progressiva setentista em formato banda (acompanhados por James Richardson na guitarra, Matthew Asti no baixo e Will Berman na bateria). Longos solos de guitarra marcaram a apresentação, que poderia ter feito bonito no Monterey Festival 67. O timbre vocal de Ben Goldwasser lembra em alguns momentos o de Geddy Lee, do Rush, enquanto a tecladeira emulava ícones prog numa mistura estranha e cansativa.

Metade do público vibrava enquanto a outra bocejava. Nem o cirquinho armado no começo do show – que culminou no julgamento e enforcamento de três bichinhos de pelúcia – serviu para aproximar o quinteto do público. O cenário mudou radicalmente nas duas últimas canções, os hits “Time To Pretend” (tocado com banda, mas de forma econômica e muito parecida com a original) e “Kids” (sem banda, com playback instrumental, programação e um solo metaleiro no final). Serviu para mostrar que a banda poderia ter feito um bom show, mas não fez.

Amargando o descaso do público, que aumentou nesta última noite, mas faltou nas anteriores, o Tim 2008 mostra que preços altos e artistas pouco conhecidos não garantem um festival. Mais: bons shows como os de Klaxons, Gogol e National mereciam um público maior, mas após três anos de desorganização em São Paulo, a grife Tim viu o público abandonar o evento. Pena. A produção melhorou: a tenda montada no Ibirapuera funcionou (embora na última noite, com um público maior, houvesse filas imensas no banheiro) e o som estava ok. Resta à produção manter os acertos de 2008 e repensar a proposta para 2009 para voltar a ser o melhor festival do país. O público agradece.

Leia também:

– Tim 2008: Punk rave do Klaxon vs tristeza de Marcelo Camelo (aqui)
– Tim 2008: Kanye West faz “showzinho” (aqui)
– Tim 2007: Björk brilha no fraco Tim Festival SP 2007 (aqui)
– Tim 2006: Patti Smith, Devendra, Yeah Yeah Yeahs (aqui)
– Tim 2006: Beastie Boys são aclamados no Tim Curitiba (aqui)
– Tim 2005: Strokes, Costello e Television (Weezer e Mercury Rev) (aqui)
– Tim 2004: Libertines e Brian Wilson (PJ Harvey e Morrissey) (aqui)
– Tim 2003: White Stripes, Los Hermanos e Beth Gibbons (aqui)

outubro 26, 2008   No Comments

Tim Festival: A punk rave do Klaxons e a tristeza de Marcelo Camelo

Marcada pelo cancelamento de dois headliners (Paul Weller e Gossip), a terceira noite da edição paulista do Tim Festival começou com o samba jeitoso de Roberta Sá no Auditório Ibirapuera. De vestidinho “Emília”, a cantora misturou canções de seus dois álbuns (“Braseiro” e “Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria no Show”) lembrando em alguns momentos Marisa Monte. Sai do Auditório cantando “Alo Fevereiro” (“Tamborim avisou, cuidado / Violão respondeu, me espera / Cavaquinho atacou, dobrado / Quando o apito chegou, já era”).

Do outro lado, na tenda Novas Raves, a responsabilidade de abrir os trabalhos ficou a cargo do Neon Neon, grupo que chama a atenção por ser um projeto paralelo do gente boa Gruff Rhys, vocalista do Super Furry Animals, em parceria com o produtor Boom Bip, que embarca em uma viagem estranha aos anos 80 temperada com momentos de hip-hop. Quem roubou a noite, no entanto, foi o artista performático Har Mar Superstar, baixinho, gordinho, cabeludo e careca, com uma camiseta do Menudo e muito pique para agitar a galera mais do que o Neon Neon. No mínimo, rendeu boas risadas.

De volta ao Auditório, a quantidade de espaços vazios impressionava. Quem apostava em uma invasão de fã dos Los Hermanos errou. Em sua primeira apresentação em São Paulo, Marcelo Camelo amplificou as qualidades e defeitos de “Sou”, sua estréia solo. As músicas tristes (e chatas) ficaram mais tristes (e muito mais chatas) e temas alegres como “Menina Bordada” ganharam com os bons improvisos do sexteto Hurtmold (acrescidos do trompetista Rob Manzurek, de Chicago).

A jovem cantora Mallu Magalhães, sentada na primeira fila, viu Marcelo Camelo tocar “Janta” (que conta com sua participação no álbum) e duas canções dos Hermanos surgiram (“Pois É” e “Morena”) numa apresentação marcada pela monotonia e com algumas boas intervenções do Hurtmold. O show ainda está cru, mas deve crescer conforme banda e artista se entrosarem, o que talvez melhore até as faixas mais fracas de “Sou”, o que dúvido. O próprio Marcelo Camelo percebeu o excesso de calma no palco ao dizer, em certo momento, que “falta um pouco de desordem” no show. Falta mesmo.

Novamente na tenda, o Klaxons baixou em São Paulo para fazer demônios dançarem com sua punk rave (muito mais punk que rave). Os ingleses baixaram em São Paulo para apresentar as grandes canções do ótimo álbum “Myths of the Near Future” em versões rápidas, pesadas e diretas de “Totem On The Timeline”, “Gravitys Rainbow”, “Its Not Over Yet”, “Atlantis To Interzone”, “Magick” e ainda duas inéditas (fraquinhas numa primeira audição): “Moonhead” e “Calm Trees”. Har Mar Superstar voltou para encoxar os músicos e botar fogo no final da apresentação, 55 minutos vigorosos que valeram a noite, mas o Tim Festival 2008 continua devendo.

Fotos: Lili Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari)

  

outubro 24, 2008   No Comments

Tim Festival: Kanye West faz “showzinho”

O míni dicionário Houaiss define a palavra “show” da seguinte forma: “espetáculo de entretenimento apresentado para uma platéia”. Olhando por este prisma reducionista, Kanye West cumpriu todos os requisitos na apresentação que fez no Tim Festival: era um espetáculo e ele entreteve a platéia. Porém, foi tudo tão pobre (telão, palco, músicas, apresentação) que dizer que foi um show seria exagerado demais.

O público era formado por pessoas que pagaram o superfaturado preço de R$ 250 pelo ingresso e iriam cantar todas as músicas de qualquer jeito. Muitos fãs – pessoas que já saem de casa gostando do show – e curiosos também foram conferir o que revistas gringas apontaram como o espetáculo do ano, e juntos estes públicos deixaram metade da nova Arena do festival em São Paulo – agora no Ibirapuera – vazia.

Não dá para entender o motivo de tanta balbúrdia sobre a turnê Glow In The Dark. O palco tenta criar um território acidentado no espaço, mas não convence e fica parecendo mais uma pista de aeróbica. As imagens no telão em 80% do show são ridículas e lembram tanto telas de descanso do Windows quanto projeções distorcidas e em pior qualidade de um Planetário.

Kanye West passa todo o tempo do show contracenando com o telão enquanto corre de lá para cá na pista de aeróbica. Ele é, segundo a voz do telão, o maior astro pop do Planeta Terra, e talvez se convença disso, tanto que fica sozinho à frente do público enquanto uma banda (hipotética, já que 99,5% do público não a viu) de nove integrantes faz a cama sonora para seu passeio pelo Universo.

A impressão que fica, após o show, é que voltamos dez anos em termos de produção de espetáculos. O show de Kanye West consegue se adaptar ao Houaiss, mas está longe de ser algo que pudesse concorrer ao título de melhor do ano, quando mais ser apontado como tal. É entretenimento que atola os dois pés no piegas enquanto posa de inventivo deixando o mais importante em segundo plano: a música. Quer uma super-produção de verdade? Espere Madonna ou U2. Kanye West é pura enganação.

– Tim 2008: Punk rave do Klaxon vs tristeza de Marcelo Camelo (aqui)
– Tim 2008: Gogol Bordello, National e MGMT (aqui)
– Tim 2007: Björk brilha no fraco Tim Festival SP 2007 (aqui)
– Tim 2006: Patti Smith, Devendra, Yeah Yeah Yeahs (aqui)
– Tim 2006: Beastie Boys são aclamados no Tim Curitiba (aqui)
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– Tim 2004: Libertines e Brian Wilson (PJ Harvey e Morrissey) (aqui)
– Tim 2003: White Stripes, Los Hermanos e Beth Gibbons (aqui)

Crédito da foto: Divulgação/Tim Festival

outubro 23, 2008   No Comments

Björk brilha no fraco Tim Festival 2007 em SP

Quando surgiu, ainda como Free Jazz, o Tim Festival conseguia aliar novidades musicais com a apresentação de grandes nomes da música mundial. Aos poucos, o festival que era apontado como melhor do país por muitos críticos cresceu de tamanho, mas a qualidade da produção intimista e bacana das edições menores não acompanhou (em São Paulo) seu crescimento, e assistiu duas edições frustrantes em 2005 e 2006 (a primeira com nítidos problemas de som; a segunda transferida da Arena do Anhembi e encaixotada no Tom Brasil na última hora).

A notícia do retorno para a Arena do Anhembi neste ano foi recebida com frieza, mas a expectativa era de que a produção do festival tivesse aprendido com os dois anos anteriores, quando o Tim saltou dos palcos pequeninos, aconchegantes e de som excelente do Jóquei Clube de São Paulo para o palco enorme da Arena do Anhembi. A rigor, os problemas de som foram sanados, mas muitos outros surgiram em seu encalço como a superlotação da área VIP (em si, uma agressão a grande maioria do público, que foi “obrigado” a assistir aos shows de uma distância muito maior do palco).

A desorganização dos poucos caixas disponibilizados para atender a mais de 20 mil pessoas (além de desinformados – não sabiam explicar em que lugar a pessoa deveria retirar o que comprou – eles tinham que lidar com uma estrutura precária cujo maior exemplo reside no fato do comprador ter que falar sua senha de cartão de débito para a vendedora, já que não havia como ela passar a máquina de cartão por baixo da grade de atendimento), os banheiros que deveriam receber limpeza constante (o que não aconteceu) e a longa espera entre um show e outro – que culminou num atraso total de três horas e levou o último show a terminar pós 5 da manhã – são sintomas de um festival que cresceu em público, mas não em qualidade.

Um pouco antes das 4 da manhã, no serviço de recados que aparecia no telão do palco, alguém do público brincava: “Eu tenho uma vida fora daqui”. A produção se esqueceu disso. Fora a lista de problemas, o line-up deste ano se mostrou confuso e de qualidade questionável. Se nenhuma das seis atrações fez um show ruim, também nenhuma impressionou mais do que o esperado. Faltou “show” no sentido estrito da palavra em um festival antes caracterizado por apresentações antológicas e line-ups atenciosos com o que de melhor estava se fazendo em música no mundo. Se o que se viu na Arena do Anhembi é o melhor da música neste momento da história estamos, definitivamente, órfãos. E viva a diluição. E salve Björk.

O Hot Chip entrou no palco às 20h depois que integrantes do Spank Rock fizeram até stage dive para animar o público. Ao vivo, o electro rock do Hot Chip cresce em impacto, mas perde em detalhes e nuances. O quinteto tem carisma, conta com um sósia do Vinny se alternando entre guitarras e teclados, um gordinho com uma camiseta do Flaming Lips fazendo efeitos e vozes, e um outro rapaz com cara de nerd no comando da bagunça, mas o show parece que vai virar algo, parece que vai virar algo, parece… e fica nisso. Com exceção, claro, do hit “Over and Over”, cantado em coro pelo público. Pouco para um show em que até uma cover do New Order (”Temptation”) passa totalmente despercebida.

Uma hora de intervalo (que atrasou todo o festival) foi o tempo que Björk precisou para encher seu palco de bandeirolas coloridas de temática animal (sapos, coelhos, peixes) e um naipe islandês de sopro. A demora, no entanto, foi compensada por uma apresentação irrepreensível. Dançando sem parar, a cantora apresentou seu caleidoscópio musical esquizofrênico em forma de música pop centrando foco em um repertório quase best of: “Hunter”, “Pagan Poetry”, “Jóga”, “Army of Me”, “Hyper-Ballad”, “Pluto”, entre outras, animaram o público. De vestido colorido e repetindo “obrigato” a cada final de canção com seu sotaque delicado e charmoso, Björk cativou a audiência e fez um grande show. Só faltou “It’s Oh So Quiet”…

Mais de uma hora de espera e surge Juliette Lewis and The Licks para uma apresentação de rock’n’roll, baby. Porém, por mais que a cantora atriz se esforce, e sua banda tente acompanhar, o show é uma caricatura dos cacoetes mais engraçados do rock: a vocalista que rola no chão dando sangue pela banda, o guitarrista bonitinho que faz pose de homem mau; as canções sustentadas por riffs atolados em barris de formol. É tudo bonitinho, engraçado, divertido, mas a gente esquece assim que ela deixa o palco. E não vai se lembrar tão cedo.

Hype dos últimos dois anos na Inglaterra, o Arctic Monkeys chegou a São Paulo com a grande vantagem de estar em seu melhor momento: lançaram este ano um segundo álbum tão bom quanto o primeiro, e são novidade fresquinha no movimentado mundo pop. Porém, o que é a grande vantagem da banda (ser nova, ter apenas dois discos, e já estar tocando no Brasil) também funciona contra: falta punch de palco ao quarteto, que não se mexe, não inspira, não comove, a não ser nos poderosos e ultra-pesados hits do primeiro álbum. Aliás, as canções do primeiro álbum soam muito melhores ao vivo do que as do segundo (exemplo: “Fake Tales of San Francisco” ficou arrasadora enquanto a ótima “Teddy Picker” parecia um rascunho). Mesmo assim, ouvir “I Bet That You Look Good On The Dancefloor”, um pretendente a clássico dos anos 00, é de encher os olhos e arrepiar a alma.

Antes mesmo de começar o show, o Killers já rendia comentários divertidos via SMS no telão: “Feliz Natal, por The Killers”, mandou alguém do público, visivelmente inspirado pela overdose de luzes da decoração do palco inspirada em um casino de Las Vegas. Se o Capitão Nascimento estivesse por ali teria dito: “O senhor é um fanfarrão, Sr. Brandon Flowers”. Com toda razão. O Killers regurgita – sem medo nenhum de ser feliz – o lado brega dos anos 80 com tudo o que tem direito. E dá-lhe ramalhetes de flores na bateria, que o vocalista vai atirar ao público – no melhor estilo Roberto Carlos – no meio do show. E dá-lhe mão no coração no meio da música, punho fechado quanto um trecho da letra fala de ciúmes, e por ai vai. Apesar da demora na montagem do palco, durante as primeiras músicas ajudantes ainda levavam plantas para dentro do cenário. A pergunta final era: “Que horas o Papai Noel irá chegar em “Sam’s Town”?

Se não há a mínima chance de levar o Killers a sério por seu visual e messianismo, a seu favor o fanfarrão Brandon Flowers tem um repertório de hits debaixo da manga de causar inveja em muita gente: “When You Were Young”, “Somebody Told Me”, “Smile Like You Mean It”, “Jenny Was A Friend of Mine”, “Mr. Brightside”, “Bones” e “For Reasons Unknown” são capazes de chacoalhar uma multidão mesmo que o show esteja acontecendo às 5 da manhã de uma segunda-feira em uma megalópole que acorda cedo no começo da semana. Só o Killers tem mais hits que todo o novo rock junto. Com esse fato, tirando a versão fraquíssima de “Shadowplay”, do Joy Division, o show foi correto e não desandou. Deixo a Arena do Anhembi quatro músicas antes do final pensando na frase do Capitão Nascimento e na promessa não concretizada da visita de Papai Noel. Da rua ainda consigo ouvir Brandon Flowers cantando. Rio. Se o intuito de um show é – entre outras coisas – divertir e entreter o espectador, o Killers deixa São Paulo com a dívida paga. Tudo bem, o preço não era alto, não é mesmo Sr. Fanfarrão?

O saldo final do festival é fraco, um tanto pela desorganização, outro tanto pelo line-up fraco que talvez seja um reflexo do cenário atual da música pop, muito mais preocupado em diluir velhas fórmulas do que criar outras novas. Por mais que o Killers tenha feito um show competente, sua escalação soa deslocada da proposta que o Tim Festival ostentava anos atrás. Brandon Flowers e cia mereciam um show só deles em um Credicard Hall ao invés de surgir como banda principal de um festival que se caracterizava por destacar novas tendências de uma música sem fronteiras. Pelo panorama exibido na Arena do Anhembi, no domingo, as fronteiras não andam sendo bem exploradas. Uma pena.

Texto: Marcelo Costa / Fotos: Liliane Callegari

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outubro 29, 2007   No Comments

Assista aos três dias do Coala Festival 2022

setembro 19, 2022   No Comments

Duas perguntas: Festival Magnéticos 90

Respostas para Carol Vidal, do Sesc Pompeia

Existe um revival dos anos 90 atualmente? Se sim, de onde você acha que este sentimento vem?
Todo mundo gosta de curtir uma saudade, e revivals são sempre uma oportunidade para nos conectarmos com um eu nosso que pode ter mudado radicalmente. Ou não. Isso sem contar a oportunidade de dar a novas gerações uma pequena ideia de como as coisas soavam. No caso do Magnéticos 90, porém, eu não diria que revival é a principal força motriz do festival, mas sim a preocupação com uma história que foi contada em fitas cassetes, e que está desaparecendo. Há muita música independente que nos anos 90 foi registrada apenas em fitas demo, e nos interessa lançar luz sobre esse material, mostra-lo, recupera-lo. Tanto eu quanto o Rafael Cortes, da Assustado Discos, e o Gabriel Thomaz, que lançou o livro “Magnéticos 90”, gostamos de pensar que esse é apenas o primeiro Magnéticos 90, e que outros virão com exposições, debates, ciclo de cinema e, principalmente, um lançamento em vinil com canções gravadas em demo na época. Estamos trabalhando para isso, e essa grande parceria com o SESC Pompeia é o primeiro passo.

De que forma surgiu a escolha das bandas para esse festival?

A gente tinha um leque imenso de artistas que gostaríamos de ter no Magnéticos 90, o que facilitou bastante a escolha das bandas. A ideia inicial foi focar em algumas das principais demo tapes do período, e nesse quesito se destacaram a “Pato Fu Demo”, do Pato Fu, a primeira demo dos Autoramas (que marcou a passagem do Gabriel do Little Quail para a sua nova banda), e as clássicas fitinhas da Graforréia Xilarmônica (“Com Amor Muito Carinho” é um best of!), da Maskavo Roots (que rendeu praticamente todo o disco de estreia deles) e da Gangrena Gasosa. Nesse cenário surgiu a oportunidade de ter a Comunidade Nin-Jitsu, que lançou um CD demo, algo que amplia a discussão de como a música circulava na época e como as bandas tentavam se conectar com fãs, rádios e gravadoras. Nos interessa discutir isso até para entender o momento musical que a gente vive. Nos fechamos nesse grupo excelente de artistas, mas já sonhamos alguns nomes para futuras edições. Tem tanta gente boa que gravou fita demo! Los Hermanos, Planet Hemp, Video Hits, Kleiderman, Raimundos… A lista é imperdível.

Festival Magnéticos 90
Realização Sesc Pompeia

Concepção: Gabriel Thomaz (Autoramas) e Rafael Cortes (Assustado Discos)
Curadoria: Marcelo Costa (Scream & Yell) e Rafael Cortes
Produção Executiva: Pamela Leme (Agência Alavanca)
Produção: Marcelo Costa
Direção Técnica: Iuri Freiberger

Festival Magnéticos – de 18 a 21/05 no Sesc Pompeia

maio 17, 2017   No Comments

O melhor festival de todos os tempos?

monterey

Nunca tinha pensando nisso, mas assistindo ao ótimo e delicadíssimo documentário sobre Janis Joplin (“Janis – Little Girl Blue”, com narração de Chan Marshall, em cartaz em vários cinemas do país) caiu a ficha de que se eu pudesse voltar no tempo e escolher apenas 1 festival para estar presente, eu não teria duvida: Monterey Pop Festival 1967. Dose dupla de Janis Joplin & Big Brother and the Holding Company (eles não permitiram gravar o show no sábado e a coisa foi tão foda que deram um jeito de eles repetirem o show no domingo pro D. A. Pennebaker registrar pra posteridade), Pete Townshend destruindo sua guitarra e Keith Moon o seu kit de bateria em “My Generation” (é hilário no vídeo o rapaz do som tirando coisas do palco com medo da destruição do Who), Jimi Hendrix incendiando sua guitarra (!!!!!!), e, ainda, Eric Burdon & The Animals; Simon and Garfunkel; The Byrds; Jefferson Airplane; Ravi Shankar; Buffalo Springfield; Grateful Dead; The Mamas & The Papas; Booker T. & the MG’s e, mama mia, Otis Redding. Sensacional!

E era pra ter sido ainda melhor. O Beach Boys, um ano depois de “Pet Sounds” e no auge da piração de “Smile”, cancelou. A produção sondou os Beatles, mas eles não estavam seguros de reproduzir a loucura de “Revolver” e “Sgt Peppers” ao vivo. No entanto, Paul indicou The Who e The Jimi Hendrix Experience. A produção tentou os Kinks, mas eles não obteram visto de trabalho em tempo. Stones e Donovan ficaram de fora por causa de visto de trabalho também, mas dessa vez negados antecipadamente pelas prisões deles com drogas; Bob Dylan não aceitou porque estava se recuperando do tal acidente de moto que quase lhe custou a vida em 1966; Frank Zappa se recusou a tocar no mesmo palco que outras bandas “menores” de São Francisco; e o Captain Beefheart não tocou porque o Ry Cooder achou que a banda não estava pronta (o Love estava, mas a produção do festival recusou eles). Era pra ter sido ainda melhor… risos

Ps. Ficou famosa a história de que The Who e a Jimi Hendrix Experience tiraram na moedinha quem deveria tocar antes. O The Who ganhou e destruiu o palco. Na sequencia, Jimi Hendrix fez história. Automaticamente me lembro de Pete Townshend em sua autobiografia “lamentando” (de brincadeira) ter indicado para Jimi Hendrix “armas tão potentes“…

Leia também:
– Cinco momentos inesquecíveis de cinco grandes shows (aqui)

julho 12, 2016   1 Comment

Norwegian Wood Festival 2013, Oslo

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A vantagem de ir a um festival pequeno em um país sem tradição em festivais é que, facilmente, você vê a banda que você mais ama no mundo colado na grade, sem ninguém, absolutamente ninguém, enchendo o saco. É você, seu ídolo e a música (se o som não atrapalhar). A desvantagem é que essa falta de interesse do público local não faz com que a banda que você ama se entregue, assim aquela apresentação que você esperava ser sensacional corre o risco de ser apenas boa.

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Foi mais isso que aconteceu com Manic Street Preachers e My Bloody Valentine no terceiro dia do minúsculo Norwegian Wood, em Oslo, festival que completa 21 anos de existência em 2013. Com uma estrutura preparada para atender cerca de 5 mil pessoas, o Norwegian Wood não recebeu nem um terço desse povo. A cidade, provavelmente, gira em torno do sol, um concorrente sério nesses dias raramente quentes da Noruega, e o festival é só mais um evento de verão a ocupar o calendário.

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E é um evento feito por e para noruegueses. Com exceção de uma ou outra barraca (duas de todo o festival até onde pudemos averiguar) que aceitam cartão internacional, da entrada na hora de comprar o ingresso até o balcão do bar, do merchandising, da barraquinha de hambúrguer de alce, todos só aceitam cartões noruegueses. “Às vezes nem cartão norueguês”, diz a atendente na entrada, correndo o risco de espantar estrangeiros que gostariam de adentrar ao festival que acontece na piscina pública do parque Vigeland.

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O preço do ingresso não colabora para o turista: são 750 krones, aproximadamente R$ 280 por dia. Se multiplicarmos pelos quatro dias do festival temos um montante de R$ 1120, o que aproxima o minúsculo Norwegian Wood Festival (que é feito com ajuda do Fundo de Cultura da Noruega) de mega-festivais brasileiros como o Lollapalooza, com a diferença que a renda per capita norueguesa é bem maior que a nossa, e transforme R$ 280 em uma pechincha para os padrões locais, e um atentado ao bolso do fã de música brasileiro.

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Ainda assim, surpreende ver bandas como Manic Street Preachers, My Bloody Valentine, Keane, Band of Horses, Rod Stewart e Nick Cave se apresentando para plateias tão diminutas, que não estão aqui para ver o show da vida delas, mas sim para curtir o astro rei, beber uma cervejinha, comer hambúrguer de alce e, claro, ouvir música (nessa ordem). É um alento para fanáticos brasileiros por festivais conseguir assistir a um show prestando atenção à música, e não a conversa ao lado ou com o cotovelo da pessoa que está logo à frente.

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Foi nesse cenário que o Manics enfrentou muitos problemas no som, a ponto de James Dean Bradfield ter que “cantar” o solo de “Motorcycle Emptiness”, já que o som de sua guitarra tinha ido pro brejo (a Gibson creme, aliás, foi parar nas mãos de um fã, na grade, ao fim da apresentação). Ainda assim é impossível dizer que um show com “Ocean Spray”, “Everything Must Go”, “A Design For Life”, “You Love Us”, “You Stole the Sun From My Heart”, “The Everlasting” em versão acústica e “If You Tolerate This Your Children Will Be Next” no encerramento, seja ruim. Foi legalzim, bonito, mas curto demais. Uma hora (contando os contratempos) e bye bye. Só atiçou a vontade de vê-los novamente, de preferência na Inglaterra.

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Já o My Bloody Valentine repetiu tin tin por tin tin o set list que vem tocando por ai. A banda é uma briguinha de menino e menina. O menino diz “eu vou tocar guitarra”. A menina diz “eu vou cantar”. O menino responde: “Pode cantar, mas eu vou tocar tão alto que ninguém vai te ouvir”. E a vida “psico-romântica” segue. É um showzinho meio indecente (desculpe a franqueza, dezena de amigos fãs), mas diverte principalmente porque é alto pra dedeu, e ver pessoas incomodadas com a altura do volume que sai das caixas me agrada.

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Ainda assim é tudo preguiçoso, desengonçado e até bobo demais. Velvet Underground, o pai deles, tinha um propósito. Kevin Shields só tem uma paredezinha de amplis, e os usa no limite, mas é muito pouco. Diverte, distrai e incomoda alguns ouvidos, mas não sustenta a alma. Semana que vem tem Swans ao vivo no Best Kept Secret, festival na Holanda. Dai a coisa muda de figura e fica séria. Hoje o barulho foi passatempo, não catarse. Mas não terá sido sempre assim?

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O saldo final é divergente. Os shows foram ok, mas o público não ajuda. Essa constatação somada ao valor dos ingressos e ao investimento para vir e sobreviver alguns dias em Oslo torna o Norwegian Wood um festival pouquíssimo atrativo, daqueles que a gente não indica para o amigo, porque sabe que o festival fica devendo. A não ser que a banda que você mais ame no mundo venha tocar aqui, e você queira pagar o preço para estar mais perto e a vontade com ela, Oslo merece sua visita. Caso contrário, escolha outro público. A coisa aqui é de norueguês para norueguês. Infelizmente. Uma pena.

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junho 16, 2013   No Comments

O penúltimo dia do New Orleans Jazz Fest

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A primeira edição do New Orleans Jazz & Heritage Festival aconteceu em 1970, e nestes mais de 40 anos de história, o evento se fixou no calendário oficial da cidade como uma datal para comemorar a chegada da primavera. Assim como o Rock in Rio, o Jazz Fest acontece em dois fins de semana, mas a semelhança com o festival carioca de line-up óbvio para por ai, já que a escalação do Jazz Fest privilegia artistas desconhecidos das regiões da Louisiana e Mississipi (e de outros Estados em menor escala) numa escalação de mais de 60 atrações diárias sempre encabeçada por artistas de renome distribuídos por 12 palcos.

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Em 2012, Beach Boys, Neil Young & Crazy Horse, Bruce Springsteen, Tom Petty & The Heartbreakers, Bon Iver, Foo Fighters, Florence e muitos outros se dividiram nos sete dias do festival. Em 2013, a escalação reunia Fleetwood Mac, Phoenix, Frank Ocean, Patti Smith, Billy Joel, Black Keys, Los Lobos, Stanley Clarke, B.B. King e muito mais numa maratona que começa todos os dias às 11 da manhã e se encerra pontualmente às 19h visando não prejudicar a centena de casas noturnas espalhadas pela cidade – e que continua a programação do festival até altas horas da madrugada, dependendo da disposição do freguês.

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Desde 1972 que o Jazz Fest acontece no Fair Grounds Race Course, terceiro Jóquei Clube mais antigo da América. Os últimos dias do outono trouxeram chuvas, e a decantada reclamação de uma parte do público brasileiro sobre a lama no Lollapalooza Brasil 2013 seria motivo de chacota aqui, já que o barreiro se forma em boa parte dos palcos, assim como o cheiro de estrume de cavalo se espalha pelo ambiente competindo com os aromas deliciosos das mais de 50 barraquinhas de comida cajun e creole espalhadas pelo espaço, mas a grande maioria parece não se importar. Aqui, ao menos, os cavalos não reclamaram do cheiro dos hispsters.

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É óbvio que não há como comparar uma cidade apaixonadamente musical, deliciosamente caipira, extremamente arborizada e de população que não passa dos 400 mil habitantes atualmente (embora estivesse com quase 550 mil antes do Furacão Katrina – a migração foi enorme) como New Orleans com uma megalópole de pedra como São Paulo, onde sujar os pés no barro e sentir a presença de animais (fora gatos e cachorros mais bem tratados – muitos deles vestidos – que muita criança) não faz parte da rotina diária. A questão é enfrentar as intempéries da melhor maneira possível, e receber a primavera de braços abertos. Não é agradável, mas também não é o fim do mundo (ainda mais se você está preparado).

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Desta forma, os locais se armam de cadeirinhas (vendidas a 13 dólares no centro), galochas e muito bom humor e partem para o Fair Grounds Race Course logo que os portões abrem. A vizinhança recebe os visitantes de forma alegre e cordial com dezenas de casas ostentando mensagens de boas vindas. Em certo momento, um senhor abre a porta de sua casa, chega ao jardim e, diante da multidão, brinca: “Até que enfim vocês chegaram”. Os ingressos, que custavam 50 dólares por dia, estão saindo por 65 dólares na porta, mas as filas são comportadas e rápidas. A segurança olha rapidamente as bolsas e quando menos se percebe você já está dentro ao lado da Tenda Gospel.

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Mahalia Jackson, criadora do festival em 1970, era uma grande cantora gospel, e a tenda recebe músicos, pastores e ministros da fé numa vibe “God is Good”. O coral gospel da Arquidiocese de New Orleans emocionou os presentes, mas quem botou pra quebrar foi o Ministro Jai Reed, com cinco backings vocals, uma voz intensa e uma performance que exibe estudos do trabalho de gente como Otis Redding e James Brown (só faltou o homem ajoelhar) arrasando em um som que pescava influências de soul, funk, jazz e blues. Na primeira fila, sentada, uma freira já senhora parecia aprovar a apresentação.

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Junto a Tenda Gospel ainda há a Tenda Blues e a Tenda Jazz, as três com cerca de 1500 cadeiras mais arquibancadas e as laterais tomadas nos shows mais concorridos, como a excelente apresentação da Fleur Debris Superband e a desconstrução sonora de Terence Blanchard, que trouxe seu filho, recém-formado numa escola de canto, para um dueto emocionante. “Vou contar um segredo para vocês: essa foi a primeira vez que fizemos isso ao vivo na frente de um público”, disse depois. O repertório de apenas cinco canções em 1h15 de show trouxe muitos improvisos valorizando a qualidade impecável do quinteto. Aguarde vídeo.

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De hora em hora, enquanto os shows ocorrem, paradas saem arrastando uma multidão festival adentro. Quem abriu a programação foi a Cherokee Hunters & Wild Red Flame Mardi Grass Indians seguida pela Kinkfolk Brass Band with Nine Times Ladies e, depois, pelo grupo Malê Debalê, da Bahia. Há música em quase todo o espaço do Jóquei, que é absolutamente tomado por caminhões de cerveja (em New Orleans, ao contrário da maioria das capitais norte-americanas, é autorizado consumir álcool na rua e em eventos públicos), da produção dos shows e pelas cadeiras trazidas por cerca de 70% dos mais de 70 mil presentes.

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Para organizar a coisa toda, a produção cria pequenas vilas com palcos, alimentação e dezenas de lojinhas de badulaques. No quesito comida a coisa toda é imbatível. O forte aqui são os frutos do mar (camarão, peixes, mariscos e até mesmo carne de jacaré nas mais diversas formas), mas há também sanduiches com carne de porco, linguiças e frango deliciosamente fritos além de tomates verdes fritos, batata doce e o melhor da culinária cajun e creole. Opto por um Jambalaya, que em Minas Gerais é conhecido como Galinhada, mas aqui recebe pimenta Cayenne e fica uma delícia. Lili encarou um Schrimp & Duck Cajun Pasta, algo como macarrão cajun com camarão e pato.

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Os shows seguem nos diversos palcos: The New Orleans Bingo Show faz uma apresentação performática no Gentilly Stage (que mais tarde irá receber Phoenix) enquanto a Congo Square está cheia para ver Davell Crawford (logo mais este palco terá Frank Ocean) e dezenas de velhinhos dançam animadamente com a Lars Edegran’s New Orleans Ragtime Orchestra no Hall Tent. A hora, no entanto, se aproxima, e quase todo o público do festival parte para o Acura Stage, local em que o Fleetwood Mac se apresentará para um público aparentemente tão grande quanto, ou senão maior, que os de Foo Fighters e Pearl Jam no Lolla Brasil.

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A região próxima ao palco está absolutamente enlameada, e como não viemos a rigor (com galocha) decidimos ir para o fundo, que está completamente tomado por um público majoritariamente mais velho, mas que canta “Second Hand News” a plenos pulmões e reconhece “The Chain” nos primeiros segundos da marcação de bateria. O set list é idêntico ao dos shows recentes da banda, e seguem-se “Dreams”, a nova “Sad Angel” e “Rhiannon” em grandes versões, mas Stevie Nicks improvisa um trecho de uma canção chamada “New Orleans”, que ela escreveu após o Katrina, em 2005: “Eu quero alugar um quarto em New Orleans / Quero cantar nas ruas do French Quarter”, diz a letra, que conquista ainda mais o público – como se isso fosse possível.

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Cerca de sete músicas depois já estamos nos deslocando para os outros palcos, afinal, com o intuito de dividir a enorme audiência, o Jazz Fest escala suas principais atrações praticamente ao mesmo tempo. O Fleetwood Mac começou às 16h40, Frank Ocean às 17h25, Phoenix as 17h30 e Los Lobos às 17h40. Não conseguimos chegar no Frank Ocean (o palco estava do outro lado do jóquei), mas conseguimos confirmar que o Phoenix continua fazendo aquele show coxinha que vimos no Planeta Terra anos atrás. Eles abre com o novo single, “Entertainment”, gastam “Lisztomania” nos primeiros 15 minutos de set, e então Thomas Mars vai tirar sua tradicional soneca nas caixas de som enquanto a banda dispersa o bom público.

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Por sua vez, em uma Tenda Blues absolutamente lotada, a audiência urra enquanto no palco, abastecido de três guitarras, o Los Lobos distribui riffs e mais riffs de rock and roll cru e festeiro. O repertório, comandado por David Hidalgo – que selecionava boa parte das canções na hora e depois trocaria a guitarra pela sanfona, trouxe “The Neighborhood” em versão sujoma, mais a deliciosa “Rosa Lee”, o agito rockabilly de “I Got to Let You Know”, a chicana “Volver, Volver” e covers sensacionais de “Dear Mr. Fantasy” (Traffic) e “Papa Was a Rolling Stone”, dos Temptations. No bis, uma versão de “Not Fade Away”, de Buddy Holly, e “Bertha” encerraram um dos grandes shows do antepenúltimo dia do festival.

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Acabou? Não. Já fora do festival, bandas se apresentavam nos quintais das casas estendendo a experiência do festival adiante, mas a noitada ainda teria diversos shows pelas casas noturnas da cidade. Terence Blanchard, por exemplo, se apresentaria no Snug Harbor, a casa dos Marsallis na cidade, e o Mahalia Jackson Center receberia Black Crowes. Mas após oito horas de festival, nada melhor que ir para o hotel descansar. A saída, um pouco confusa, foi rápida, com filas para taxi e ônibus se dispersando rapidamente, e em 40 minutos já estávamos na Canal Street, rua central de New Orleans, em direção ao descanso. Domingo tem mais.

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Leia mais: Diário de Viagem Estados Unidos 2013 (aqui)

maio 5, 2013   No Comments

Top 5 do Festival LAB 2012

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Fotos por Liliane Callegari

Maceió, no último fim de semana de outubro, rendeu muita praia, sol, camarão e cerveja, e uma sequencia rara de shows de alto nível em um mesmo evento. Em sua quarta edição, o Festival LAB dividiu-se em três datas buscando exibir ao público alagoano apostas e novas referências da música brasileira e latino-americana destacando um line-up cuidadoso e muito bem selecionado. Entre os nomes, gente como Momo, Franny Glass, ruído/mm, Holger e Mellotrons além do Top 5 pessoal abaixo apenas do último fim de semana (que contou com uma noite em parceria com o Coletivo Popfuzz).

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01) Jair Naves
Jair Naves sempre foi um cara que se entrega no palco de uma maneira sem volta. Isso desde os tempos do Ludovic, quando cada show parecia ser o último. Em Maceió, sozinho com seu violão no palco do Teatro de Arena, um espaço minúsculo, aconchegante e perfeito – anexo ao imponente Teatro Deodoro –, Jair Naves se emocionou chegando as lágrimas, fez gente chorar e mostrou um repertório que, além de incluir canções do EP “Araguari” e do recém-lançado (e bastante elogiado) “E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas”, ainda trouxe versões improvisadas de uma canção do Bright Eyes e de “Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)”, famosa na voz de Doris Day. Um show para guardar na memória.

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02) Coutto Orchestra de Cabeça
À primeira vista, prostrados no palco, esse combo que vem do Sergipe lembra o Móveis Coloniais de Acajú. Um pouco pela formação extensa (neste caso, um sexteto que se multiplica no palco) e outro tanto pela metaleira (trombone e trompete, muito bem usados). Mas, felizmente (Móveis é muito legal, mas não precisa de cópias), os sergipanos apostam num instrumental que une beats com sertanismo, que eles mesmos apelidaram de eletrofanfarra (que será o nome do álbum que eles lançam no começo de 2013), e que convida à dança mesmo quem nunca os tinha ouvido – um mérito e tanto. No LAB não foi diferente. O público do festival caiu no forró, gesticulou o tango só faltando a rosa nos lábios, valsou, cumbiou, bailou, pulou e aplaudiu muito um grupo que merece animar muitas cidades Brasil (e, principalmente, mundo) afora. Fique de olho neles. Vale a pena.

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03) Tratak
Ali pelo finalzinho de seu show de estreia (abrindo para Jair Naves), Matheus Barsotti resumiu a apresentação (e o próprio álbum “Agora Eu Sou Silêncio”) como uma terapia pessoal. O show em Maceió marcava o lançamento de seu álbum de estreia (após anos de serviços prestados como baterista de bandas como Margot, Alfajor, Labirinto e Stella-Viva), e, enquanto contava histórias nos intervalos das canções, fazia o público rir, mas assim que começava a dedilhar o violão (eventualmente acompanhado por Heitor Dantas), levava os presentes para seu mundo pessoal, uma casa pintada com tintas depressivas e delicadamente sombrias. O resultado foi uma daqueles raros momentos em que o desnudamento artístico não só comove como se transforma em admiração. Um belo show.

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04) Gato Zarolho
Jogando em casa, o Gato Zarolho deu uma pausa na produção do segundo disco para ser recebido com louvação no Festival LAB. As músicas do primeiro álbum, “Olho Nu Fitando Átomo” (2010), foram cantadas em coro pela plateia, e Marcelo Marques, vocalista e violonista, aproveitou para mostrar várias canções do vindouro segundo álbum. A sonoridade é, perdoe a simplificação grosseira, MPB de faculdade: bem escrita, bem tocada (e cada vez mais musicalmente ampla) e com um q de intelligentsia que anda fazendo falta não só no mainstream nacional como também no cenário independente. Em homenagem aos Guarani-Kaiowás, o grupo sacou do baú uma composição grandiosa de Caetano para fechar a noite: “Um Índio”. Extremamente oportuno.

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05) Lise + Barulhista
Ainda no caminho para o festival, Daniel Nunes (o “Lise”, e também baterista da elogiada Constantina) falava sobre seu desapego com o formato canção propondo-se a compor trilhas-sonoras. Ao vivo, neste encontro com Davidson Soares (o “Barulhista”), o som que saia dos dois laptops, teclados e eventualmente da bateria (alternada pelos dois músicos) era algo em constante desenvolvimento, e poderia ser descrito como trilha sonora para provocar e ampliar os horizontes musicais de um público cada vez mais apegado a banalismos. Perfeitamente adequados ao LAB (e a seu público), Lise + Barulhista fizeram um show contemplativo, mesmo com as porradas de Daniel nos pratos da bateria, e serviram como uma excelente introdução para uma noite de música variada de alta qualidade.

Veja também:
– Download: baixe o CD do Festival LAB 2012 (aqui)
– Download: baixe “Agora Eu Sou o Silêncio”, do Tratak (aqui)
– Download: baixe o CD do Jair Naves (aqui)
– Ouça o EP “Aratu Milonga”, do Coutto Orchestra de Cabeça (aqui)
– Download: baixe os CDs do Lise (aqui) e do Barulhista (aqui)

novembro 7, 2012   No Comments