Plaza Mayor, Palacio Real e Museu do Prado
Aconteceu comigo em Madri o mesmo que havia acontecido em Glasgow. Eu nao estava indo nem um pouco com a cara da cidade escocesa (na verdade, nao fui mesmo), mas assim que adentrei a parte antiga e “descobri” a Catedral, me encantei e marejei os olhos. Em Madri foi um pouco diferente, pois eu já estava gostando da cidade, mas nao estava me encontrando nela. Bastou caminhar a esmo, ver uma porta em forma de arco, e pensar: “Praca Maior!”. Assim que coloquei os pés nela, me arrepiei. Nao só por sua grandeza (ela é bem maior que a Plaza Mayor de Barcelona), mas pelo clima de festa, sons e cheiros que ocupava o pátio da praca naquele momento. De nao se esquecer.
Sentei em um canto, peguei uma coca-cola e fiquei observando o vai e vem de turistas, os músicos em formacoes inusitadas (um senhor com um acordeao acompanhado de uma senhora com pandeiro de um lado; um quarteto de violinos de outro; um loiro de uns 40 anos tocando “copos”, um violeiro, um gaitista), as estátuas vivas (as melhores que vi até agora, batendo as famosas estátuas vivas das Ramblas de Barcelona) e o dancar das luzes na praca. Voltei pro quarto pos meia-noite, e quando chego lá, adivinha: nnguém. Uns dez minutos depois chega o casal da Califórnia, se arruma rapidinho e sai. Todo mundo na balada, imagino eu, mas que nada. Ali pela 1h chega todo mundo, menos o casal, seis americanos empolgados com a cidade. Conversam animadamente até as 3h, quando caem desmaiados.
Acordo às 9h para os planos do dia: ver o Palácio Real e ir a Museu do Prado. Chego rápido ao palácio, e me impressiono com sua grandeza: ele nao cabe na foto! Considerado um dos monumentos arquitetônicos mais importantes da Europa, o Palácio Real de Madri foi inspirado nos desenhos que Bernini fez para o Louvre, em Paris. E tem mais quartos que qualquer outro palácio europeu. Comeco o passeio pela sala de armas, e me impressiono com a riqueza de detalhes das armaduras. Na minha inocência, achava que armadura era só um pedaco de ferro projetado para proteger o corpo do cavaleiro. Que nada: eram roupas de metal com detalhes riquíssimos. E, olha, tinha que ser um animal selvagem para sustentar aquilo no corpo, e ainda segurar uma espada de sabe-se lá quantos quilos.
Na hora de entrar no Palácio, páro de respirar, e fico assim pelas próximas duas horas. A escadaria de entrada é um deslumbre. Conta a história que Napoleao, ao colocar seu irmao no trono da Espanha e ver a escadaria, disse: “José, você estará em melhor compania do que eu”. Fiquei uns quinze minutos embasbacado tentando absorver os detalhes da obra que impressionou Napoleao, mas fácil que poderia ter passado o dia todo ali, sentado, admirando os afrescos de Corrado Gianquinto. Cada sala que surge, na seqüência, é um desbunde. Nunca tinha visto tanto ouro junto. De todas as salas, curti mais o Salao Gasparini, que Carlos III usava para se vestir (dá, fácil, duas vezes o apartamento que eu moro), e o Salao de Gala, inaugurado em 1879 para o casamento de Alfonso XII. E, claro, o quarteto de violinos Stradivarius, inacrreditável.
Para relaxar, vou ao café do palácio fazer um desjejum. Peco um lanche de jamon, queso e huevo (presunto, queijo e ovo) com uma Pepsi, e peco a um senhor bem grisalho que está sentado em uma das mesas com janela para sentar com ele. Ele é da California (mais um), e assim que solto a palavrinha mágica (“Brazil”), sorri e diz: “Rio de Janeiro”. Comecamos um bom papo, em que ele pergunta se o Brasil é tao caro quanto a Espanha. Digo que nao. Paguei 6,50 Euros no meu café da manha (o lanche e a Pepsi), o que daria uns 17 reais no Brasil. Com esse dinheiro, lá, eu comeria esse desjejum duas vezes, ou mais. Em seguida chega sua senhora, de cadeira de rodas e sorriso largo. Ele diz que sou do Brasl, ela se anima e puxa papo.
Ela quer saber um pouco do Brasil, e vou tentando falar com meu inglês que nao existe. Em certo momento digo que meu inglês é muito ruim, mas ela gentilmente o elogia e, em seguida, apresenta o neto, que deve ter uns oito anos, e está com uma camisa do Real Madrid (comprei a vermelha um dia antes). “Você é do Brasil? Gosta de futebol?”. Respondo acertivamente, e pergunto se ele gosta mais do Real Madrid do que do Barcelona. Ele diz ambos, solta um “Ronaldinho” todo mastigado, e quando digo que o jogador foi vendido pelo Barca, ele emenda com um “tudo bem, agora chegou o Messi”. Comento que ele é argentino, o guri diz que gosta da Argentina, e antes que eu cause um incidente diplomático, deixo o café (e o Palácio) desejando a todos um ótimo dia (hehe).
No Museu do Prado compro o passe especial para os três principais museus da cidade: Prado, Reina Sofia e Thyssen-Bornemisza (14 euros o pacote). Uma multidao superlota a sala de exposicao com os mestres do renascimento. Olho “O Cardeal”, de Rafael (veja), acompanhado de mais cinco velhinhas, mas simpatizo com “Federico II”, de Tiziano (veja), cujo retrato traz o monarca ao lado de um cachorrinho fofo, “La Bella”, de Palma Vecchio (veja), “Paisaje con San Jerónimo” e o ótimo “Las Tentaciones de San Antonio”, de Joaquin Patinir. A superlotacao enche o saco, e saio da mostra especial para ir ao encontro do acervo da “casa”, que entre outras coisas possui Caravaggio, Velázquez e Goya.
Top 3 de obras do Museu do Prado: “La Maja Desnuda”, de Goya. Tanto Carlos III quanto Carlos IV quiseram destrui-la, sem sucesso. Enquanto ao lado dela, cinco pessoas observam a “Maja Vestida”, mais de vinte se amontoam para vê-la sem roupa. Pessoalmente, eu tinha receio dela tomar o lugar de Musa do Meu Coracao, posto ocupado pela La Toilette de Venus, de Boguereau (veja), exposta no lado esquerdo da entrada do Museu Nacional de Buenos Aires (estava lá nas três vezes que a vi), mas apesar de suas curvas bem alinhadas para uma dama do século XVII (ninguém sabe, ao certo, quando a obra foi feita), a Venus ainda reina.
No posto número 2, o sensacional quadro “Las Meninas” (1656), de Velázquez, em que o pintor flagra a infanta Margarita, e registra o momento em que ele mesmo a pinta (incluindo-se na obra) em um sublime exercício de perspectiva. Coisa de gênio. Liderando o ranking, com uma multidao superlotando a frente da enorme tela – nas três vezes que tentei vê-la com mais calma – tentando decifra-la, algo que divide especialistas a séculos, “O Jardim das Delícias” (1500), de Bosch. Segundo consta, é um quadro que buscava advertir sobre os prazeres terrenos, mas há mais sexo ali do que em “9 Semanas e Meia de Amor”. Fácil. O quadro é muito deslumbrante, e só nao comprei o quebra-cabecas de 1000 pecas (11 euros) por falta de grana (tinha também “Las Meninas”, lindo).
Caminhei cerca de três horas dentro do Museu, com paradas pruma coca-cola, depois uma água, e depois uma coca e um croissant. Passei uma meia hora dentro da lojinha e, Lili, quis levar tanta coisa pra você que vou deixar você escolher no ano qe vem, ok. Senao eu nao almoco o resto inteiro da viagem. Depois de muita escolha optei pelo básico: uma ima de geladeira de um quadro de Goya. Que eu anotei, gostei das diversas paisagens do francês Claudio de Lorena, de Davi com a cabeca de Golias (Caravagio) e, ainda, “Suzana e os Velhos”, de Guercino, além de um Rembrant e diversos Goya. No final, é uma overdose de arte que, em determinado momento, você fica completamente perdido. Depois de três horas no museu saí pra rua, para respirar, e fiquei olhando a estátua de Velázquez na frente do Prado. Foda.
Ainda estou decidindo se vou ao Thyssen-Bornemisza, que funciona até às 23h, hoje, ou deixo pra amanha, junto com o Reina Sofia (e o Guernica). Este sábado promete ser um dia daqueles. Meu vôo de Ryanair, para Paris, sai do Barajas, o Aeroporto Internacional de Madri, às 5h45 da manha do domingo. Ou seja, vou dormir no aeroporto. Pretendo sair do albergue por volta da meia-noite. O metrô, em Madri, funciona até às 1h30. Quero chegar no aeroporto lá pelas 1h, arranjar um lugar pra me acomodar, e passar a noite ouvindo Leonard Cohen e Lou Reed. Sao tantas emocoes se atropelando nessa viagem que quero manter viva a chama destes dois shows inesquecíveis, por mais que eu tenha comprado a camiseta de ambos e fotografado muito. Bem, acho que “La Maja Desnuda” merece um pint de cerveja. Vou ali, pois mesmo Madri nao sendo tao quente quanto Málaga e Barcelona, está calor pra dedéu. Eu volto… com fotos.
Fotos da viagem e dos shows: http://www.flickr.com/photos/maccosta
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