Coachella, Day 2
Os joelhos pediram as contas, mas tem como aceitar a demissão no meio de um festival como o Coachella? Não, e se o drama faz parte, bora comer pizza, beber limonada e camelar muito entre um palco e outro. Se no primeiro dia tudo tinha dado certo para nós, o segundo começou enrolado: @renato_moikano foi barrado por causa da lente de sua máquina (uma 75/300, profissional), e o imbróglio nos causou a perda dos shows do Foals e do Gogol Bordello.
Para situar as coisas: qualquer grande festival, Coachella incluso, aceita a entrada de câmeras não profissionais (e até semi-profissionais, como a minha), dessas que não trocam lente, mas câmeras profissionais apenas credenciados como imprensa. Renato precisou de muita esperteza e sorte, e o primeiro show do dia, pela confusão e pelo calor absurdo, acabou sendo o do Delta Spirit, por engano: a ideia era ver The Radio Dept., mas colamos no palco errado… e ficamos. E valeu, pois o show – sem novidades – foi bem bom.
Perdi também Jenny (Lewis) and Johnny (Rice), pois só descobri depois, na loja do Record Store Day, que Jenny and Johnny eram eles. Coisas que só o calor faz por você. O primeiro grande momento do dia aconteceu no palco Outdooor, com o The New Pornographers (Neko Case de um lado do palco; Kathryn Calder do outro <3) fazendo aquele bom show característico da banda. No palco principal, o Broken Social Scene repetia (com a mesma intensidade e despojamento) o belo show que vimos na quarta anterior, em São Francisco.
Ainda rolou ver duas músicas do Elbow, e desistir do show (arrastado), e se decepcionar com o Bright Eyes, que começou bem, mas fez todo mundo dormir no palco principal ao entardecer do deserto. Tudo bem: o Kills estava ali do lado para acordar e colocar em transe a audiência. Alison Mosshart é a dama que consegue transformar em sensual o simples ato de arrumar a altura do pedestal do microfone. Jamie Hince comanda a festa com guitarradas e bateria eletrônica. O show teve por base o bom disco novo, e contou com um trio de backings destilando o melhor da voz negra. Bonito.
No palco principal, o Mumford and Sons colhia os frutos do enorme sucesso com um show capenga, que ameaçava pegar fogo, mas ficava só na ameaça. Não aprenda com eles: como preencher 50 minutos de apresentação se você só tem um disco de 35 minutos? Entrando atrasado, fazendo longas pausas e tocando música nova. O público, no entanto, aprovou. Dali o destino foi Big Audio Dynamite, afinal não é todo dia que você pode ver um ex-integrante do Clash em atividade.
E Mick Jones não decepcionou. O som saia potente das caixas enquanto nos intervalos Mick Jones disparava pérolas de ironia britânica: “Eu era um Mumford and Sons 25 anos atrás”, mandou logo na primeira pausa. Depois, ao tirar o paletó, sarreou: “Posso usar um ‘casual day’, né. Afinal nós estamos no meio do deserto e vocês estão de biquíni e sunga”. O pequeno público (o que acontece: a molecada andou faltando nas aulas de história do rock?) dançou e cantou muito. Sai do show direto pra lojinha de CDs comprar a reedição de luxo do primeiro disco deles. Diz muito.
O dia já estava bem bacana, mas eis que surge Brett Anderson e compania para fazer um show explosivo na tenda Mojave. Nada de blá blá blá: um hit colado no outro e tocado com furia para deixar todo mundo sem voz até o final sensacional com “Beautiful Ones” (lágrimas escorriam em vários rostos). O show estava tão hipnotizante que não teve como sair antes do fim, o que custou duas músicas do Arcade Fire (“Month of May” e “Rebellion, Lies”). Chegamos no começo da terceira, “No Cars Go”, mas só fomos entrar realmente no clima do show (e esquecer o impacto do Suede) em “City With No Children”, uma das grandes canções do grande “The Suburbs”.
Atração principal do sábado, o Arcade Fire não frustrou as expectativas. Aliás, foi além. Comandados por um inspirado Win Butler, os canadenses fizeram um daqueles shows que as 100 mil pessoas presentes não vão esquecer tão cedo. Um clássico atrás do outro tocados com paixão e entrega. De “Crown of Love” a “Rococo”. De “Intervention” a “We Use To Wait”, “Keep The Car Running” e o final apoteótico com “Wake Up”, com dezenas de balões (que mudavam de cor sincronizados!) caindo sobre o público. “Ready to Start”, “Neighborhood #1 (Tunnels)” e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, no bis, foram responsáveis por encerrar uma noite inesquecível e um dos grandes shows do ano.
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