Dylan com café, dia 38: MTv Unplugged
Bob Dylan com café, dia 38: Após dois discos de covers de blues rurais, todos os fãs aguardavam um álbum de canções inéditas de Dylan, mas numa pausa da Turnê Sem Fim, Bob adentrou os estúdios da MTv em Nova York nos dias 17 e 18 de novembro de 1994 para gravar um programa Unplugged ao lado da banda que o escudava na estrada mais Brendan O’Brein (posteriormente multiplatinado produtor) no órgão Hammond, o que já entrega um acústico não tão acústico assim (quase praxe na série televisiva), ainda que Bob tenha sugerido apresentar-se solo ao violão – foi dissuadido pelos executivos da MTv. A versão em CD de “MTv Unplugged Bob Dylan” foi lançada em 1995 (o DVD só chegaria ao mercado em 2004), bateu na 23ª posição da Billboard e na 10ª no Reino Unido, e cativa em revisões que atualizam (e ás vezes até amaciam) o repertório do bardo para novas gerações (ao menos em versões oficiais, já que no próximo show ele poderia cantar e tocar tudo de uma forma diferente, novamente e novamente e novamente). Nos dois dias de gravação, Bob Dylan tocou 20 músicas sendo que 12 delas foram oficializadas em CD e DVD (entre outras, ficaram de fora “Everything Is Broken”, “I Want You” e ‘My Back Pages” – os bootlegs “Uncut Unplugged” e “Completely Unplugged” trazem os dois dias na integra).
“Tombstone Blues” (1965) abre o cortejo de forma mais animada e menos urgente do que a original. Na sequencia, “Shooting Star” (1989) mantém a beleza melancólica encontrada em “Oh Mercy”. Sem o impacto das guitarradas, e com o órgão brilhando, “All Along the Watchtower” (1968) ainda cativa. “The Times They Are A-Changin’” (1964) surge totalmente recriada: o que era ação na versão original tornou-se melancolia aqui. Primeira das boas novidade do programa, “John Brown” (1994), uma faixa de 1963 até então inédita, surpreende. “Desolation Row” (1965) soa menos desolada, “Rainy Day Women #12 & 35” (1966) mantém o arranjo original e “Love Minus Zero/No Limit” (1965) surge mais caipira (poderia até ter aparecido em alguns dos dois discos anteriores). Outra surpresa: “Dignity” (1994), sobra poderosa de “Oh Mercy”, ressurge vigorosa e acelerada. Já “Knockin’ on Heaven’s Door” (1973) soa ainda mais poeirenta do que a versão original enquanto “Like a Rolling Stone” (1965), inferior a versões anteriores, é jogada pra galera. Para encerrar, uma emocionante volta ao passado: “With God on Our Side” (1963), outra que troca a urgência de outrora por suavidade melancólica. Mudou o mundo ou mudou Bob? Na verdade, é natural: se com 20 anos queremos mudar o mundo, aos 40 apenas lamentamos melancolicamente o destino das coisas. Afinal, se viver é acumular tristezas, Bob “viveu” bastante e intensamente até aqui… Os dois próximos cafés ampliam o tema.
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