Dylan com Café, dia 21: At Budokan
Bob Dylan com café, dia 21 – Não se engane, você já leu isso antes nestes cafés matutinos: Bob saiu em turnê (em 1978) com uma banda recém-formada sem que houvesse (novamente) um disco para divulgar. A turnê começou no Japão em fevereiro e o álbum referido – “Street Legal” – foi gravado numa pausa da turnê em abril, após mais de 20 shows, e lançado apenas em junho. No Japão, a banda ainda estava “fria”, os arranjos precisavam de lapidação e o show como um todo necessitava de confiança, mas nada disso demoveu a Sony nipônica de lançar um disco duplo de Bob Dylan gravado ao vivo no país. Com um repertório greatest hits e arranjos disco reggae extremamente descompromissados, “Bob Dylan at Budokan” fez muita gente rir em 1978. Um crítico escreveu sobre a roupagem “Vegas” da canção “Shelter From The Storm”: “Talvez o sujeito que gritou ‘Judas’ em Londres tenha feito 12 anos antes do que deveria”. No entanto, o crítico se corrige na terceira faixa do lado A do vinil duplo: “Depois que o choque inicial passa e você se dá conta de que o objetivo deste álbum é estritamente divertir, as canções adquirem um charme próprio”. Não chego a tanto, mas valem muito as versões de “Maggie’s Farm” (com um toque oriental, ainda que não supere a versão ao vivo de “Hard Rain”), “One More Cup of Coffee” (com um jeitinho cubano), “Blowin’ The Wind” (baita arranjo), “Simple Twist of Fate”, “Forever Young” e “I Want You”, que perdeu seu caráter festivo e virou um drama. Elas compensam “Mr. Tambourine Man” com uma flautinha e um arranjo irritantes. Recém-separado da mãe de seus quatro filhos, Dylan estava perdido. A banda também estava perdida, mas as coisas iriam se acertar pouco a pouco na estrada (o bootleg “Bob Dylan: The Best Of The 1978 World Tour” mostra isso na prática, com a banda muito mais afiada no final da tour em novembro / dezembro), mas o que ficou oficialmente foram esses registros iniciais da turnê, que trocam o caos e o apocalipse por festa e entretenimento. Dylan seguiu (perdido) com a turnê e em novembro, em San Diego, encontrou no palco uma cruz de prata arremessada por um fã. Dois dias depois, em Tucson, esgotado e perdido e com a cruz de prata no bolso, encontrou Jesus num quarto de hotel. E isso é tema para o café de amanhã…
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