100 Filmes e 100 Livros essenciais
A Bravo lançou neste ano duas edições especiais muito interessantes, e que merecem uma busca nas bancas: “100 Filmes Essenciais” e “100 Livros Essenciais”. Não sei se a primeira ainda esta à venda, mas a segunda esta nas ruas faz umas três semanas, e embora tenha esgotado em várias bancas, com uma boa procurada você encontra. A primeira ainda traz como atrativo a participação do chapa Jonas Lopes redigindo vários dos textos sobre os 100 filmes.
Particularmente parto do pensamento que se toda lista comete erros, melhor deixar o blá blá blá de lado e aproveitar o momento. Desta forma, o Top 100 da Bravo nas duas categorias chegou como referencia aqui em casa. Os editores dos dois especiais citam como base para as listas fontes confiáveis e importantes, e cânones do gênero marcam presença ao lado de “novatos”. Falta isso ou aquilo sim, como em qualquer lista, mas é bastante divertido folhear as edições e partir para um “quantos eu li e/ou assisti”.
Desta forma, entre os “100 Filmes Essenciais” da Bravo assisti a 41 e outros quatro estão a caminho (aguardando o devido momento na prateleira de DVDs de casa: “Butch Cassidy”, “Era Uma Vez no Oeste”, “Touro Indomável” e “Ladrões de Bicicleta”). Já em livros, o negócio é bem mais complicado. Dos “100 Livros Essenciais” eu só li… 14. Isso sem contar que estou na página 30 e pouco de “O Estrangeiro”, do Camus; que li só umas 20 páginas de “O Apanhador no Campo de Centeio”, do Salinger; e que li apenas o primeiro dos sete volumes do “Em Busca do Tempo Perdido”, do Proust.
Se não fosse Shakespeare, sei lá o que seria de mim. Dos 14 livros que li da lista de 100 da Bravo, três são do amigo William: “Hamlet”, “Otelo” e “Noite de Reis”. Se houvesse mais vinte do Shakespeare na lista, eu teria mais vinte livros lidos. E isso acontece porque eu nunca li títulos, mas sim autores. Sempre li por indicação ou referência de algum ídolo ou amigo. Li Hermann Hesse (”O Lobo da Estepe”, número 95 na lista de 100 da Bravo) quando tinha 13 anos após uma indicação de Cazuza em uma Capricho (!!!) qualquer que sei lá como caiu em meu colo.
Depois de “O Lobo da Estepe” (que veio a mudar a minha vida completamente na segunda leitura, aos 18 anos) vieram “Demian”, “O Jogo das Contas de Vidro”, “Narciso e Goldmund”, “Caminhada” (um dos meus livros mais queridos de todos os tempos) e “Sidarta”, que eu só consegui passar da página 20 na sétima ou oitava tentativa de leitura. O mesmo aconteceu com Aldous Huxley. Comecei com “As Portas da Perceção / Céu e Inferno” por causa de… The Doors. Em seguida vieram os sensacionais “Admirável Mundo Novo”, “O Macaco e a Essência” (meu livro preferido ever), “A Ilha”, “Contraponto” e, um pouco abaixo, “Os Demônios de Loudun” e “Sem Olhos Em Gaza”.
Comigo sempre foi assim: eu lia um livro de um escritor x e ia fuçar toda a obra dele. Dei uma tremenda sorte com o sr. William porque na Biblioteca Municipal de Taubaté havia uma coleção de mais de 30 volumes com coisas dele. E era uma edição caprichada, tipo a que eu vou querer ter quando envelhecer: além da fluente tradução, os apêndices traziam dezenas de informações sobre cada obra, localizando a história no tempo e espaço, mostrando de que lugar Shakespeare retirou tal parte da história e a colocou como sua narrativa (você sabe que o Shakespeare era um grande charlatão, né? Um sensacional charlatão, diga-se de passagem) e mais, mais e mais.
Certa vez escrevi que havia lido mais de 1000 livros, mas só me lembrava da história de uns 10 (e olhe lá). E é bem verdade isso. Na minha longa temporada em Taubaté (mais de 20 anos), os livros eram companheiros inseparáveis. Já em São Paulo, desde que comecei a dormir aqui todos os dias (a partir de 2000), a leitura virou algo raro. Não sei se é o barulho dessa cidade que não dorme; não sei se é a oferta constante de entretenimento; não sei. Só sei que faz uns dois anos que não leio um livro que não tenha relação com cultura pop. Com isso, alguns Salman Rushdie se acumulam na prateleira, e mesmo o obrigatório Phillip Roth (”O Complexo de Portnoy”, número 96 do listão) está encalhado por aqui, e só saiu da prateleira porque Lili se empolgou e começou a lê-lo.
E é exatamente ai que entram em cena estes especiais da Bravo: eles fazem acordar dentro da gente algo que está adormecido, no caso, a vontade de devorar cultura. Olho a lista de filmes e livros da Bravo e penso que preciso ver “Oito e Meio” do Fellini (Lili fala desse filme uma vez por semana desde que começamos a namorar, e lá se vão 20 meses), “Jules e Jim” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, e que preciso terminar de ler o Camus para começar o Faulkner (”O Som e a Fúria”), Beckett (”Esperando Godot”), Cortazar (”Jogo da Amarelinha”) e Dostoievski (”Crime e Castigo”). Não posso viver apenas com Woody Allen, Francis Coppola, Krystof Kiesloviski (ausente no listão da Bravo), Billy Wider, Ligia Fagundes Telles, William Blake, Rainer Maria Rilke, Oscar Wilde, Rimbaud e… Nick Hornby (risos), entre muitos outros. Espero que você também não.
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