Dylan com café, dia 80: Fallen Angels
Aproveitando para dar uma pausa nos discos de material autoral (algo semelhante ao que fez no começo dos 90 com a dobradinha “Good as I Been to You”, de 1992, e “World Gone Wrong”, de 1993), Bob entrou com sua banda em estúdio em 2014 e registrou 23 canções de outros autores, a grande maioria delas gravada por Frank Sinatra na virada dos 50 para os 60, pinçando 10 delas para o seu novo álbum. “Shadows of Night” (2015), o disco em questão, foi o oitavo lançamento (em 36) de Bob a bater no número 1 da parada britânica (um feito que grandes álbuns como “Blonde on Blonde”, “Blood On The Tracks”, “Oh Mercy” e “Time Out of Mind” não alcançaram), posicionando-se ainda em sétimo no ranking da Billboard. Se ele havia tirado 10 de 23 para o álbum, restavam 13 no HD da gravadora, certo? O natural seria seguir o embalo e prensar essas “sobras” no acetato e lançar como um disco novo, mas ninguém pode chamar Dylan de preguiçoso, porque ele voltou ao estúdio durante 2015 e 2016 para registrar, novamente, uma leva de 12 canções, 11 delas gravadas por Sinatra (a única exceção: “Skylark”), para seu 37º disco, “Fallen Angels” (2016), lançado 13 meses depois de “Shadows of Night”.
A rigor, Bob (que assina novamente a produção do álbum com o codinome Jack Frost) enxugou o set up de gravação eliminando metais (trombone e trompete, mas mantendo a trompa) do disco anterior e concentrando-se na banda que o acompanha religiosamente na estrada (Charlie Sexton e Stu Kimball nas guitarras, Donnie Herron na steel guitar e na viola, Tony Garnier no baixo, George Recile na bateria) com o acréscimo especial de um terceiro guitarrista, Dean Parks. E só. A “mudança”, porém, como era de se esperar, não afeta o clima suave do disco, “uma espécie de livro de memórias sentimental” (como descreveu o crítico da revista Mojo), que soa uma sequencia direta do anterior. Ou seja, quem gostou de “Shadows”, ganhou “Fallen Angels”. Quem não gostou, teve uma segunda chance de revisão, com “Melancholy Mood”, “Young at Heart”, “It Had To Be You” e “On a Little Street in Singapore” colocando esse álbum em discreta vantagem, ainda que ambos soem um delicado passatempo nostálgico.
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