Dylan com café, 71: Greil Marcus
Bob Dylan com café, dia 71: Robert Allen Zimmerman nasceu em 1941; Greil Marcus, 1945. A pouca diferença de idade permitiu ao jornalista acompanhar a carreira do músico in loco, atento das mudanças de comportamento à proliferação de bootlegs ainda nos anos 60 (quando escreveu na Rolling Stone o artigo “Bob Dylan: Breaking Down The Incomplete Discography”) e até os discos ruins (é dele a famosa abertura de resenha “Que merda é essa?” sobre “Self Portrait”, em 1970). Dylanólogo famoso, Greil já havia escrito “Invisible Republic” (1998), um mergulho nas “Basement Tapes” de Dylan & The Band, e retornou ao reportório do homem em 2005 quando lançou “Like a Rolling Stone: Bob Dylan na Encruzilhada”, editado no Brasil pela Companhia das Letras. A rigor, é isso que você está pensando, e um pouco mais: sim, é um livro de 250 páginas sobre uma canção pop, mas não qualquer canção, e sim aquela que, segundo Greil, mudou todas as demais canções. O jornalista mergulha na criação da música em 15 de junho de 1965 (ela lançada um mês depois como single e na sequencia no álbum “Highway 61 Revisited”), que nasceu de uma brincadeira com o hit “La Bamba”, de Ritchie Vallens, e foi ganhando contornos dramáticos com o uso de metáforas ao narrar a história de uma socialite que perdia tudo e ficava totalmente pobre.
O grande trunfo de Greil, porém, não é apenas a tentativa de desvendar a canção, mas de encaixa-la em um espaço / tempo e mostrar o quão importante ela foi para a época, o quão esse espaço / tempo influenciou a música e Dylan (e vice-versa) e o quão atual “Like a Rolling Stone” continua sendo hoje. Desta forma, Greil embarca numa máquina do tempo com o leitor a tiracolo para explicar como era o período sócio, cultural, politico e econômico nos EUA quando “Like a Rolling Stone” foi criada, e tudo que veio depois. Chegando ao número 2 da parada da Billboard (um feito para uma canção de seis minutos – Dylan se recusou a cortar a música e ela foi dividida em duas partes, uma em cada lado do compacto), “Like a Rolling Stone” é muito mais do que a canção que tirou Dylan do gueto folk e o apresentou ao mundo. Greil explica o motivo neste livro. Excelente.
Ps. De lá pra cá, “Like a Rolling Stone” foi regravada por centenas de artistas, e a lista inclui nomes como Jimi Hendrix, Rolling Stones, David Bowie, Sixto Rodriguez, The Wailers e Green Day, entre outros.
Ps2. Dica boa do Thiago Busse no Facebook: em 2010 foi lançada a compilação “Bob Dylan by Greil Marcus: Writings 1968-2010“, que reúne textos escritos pelo jornalista sobre Dylan por mais de 40 anos – inclusive os que citei nesse post!
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